As calças verde-garrafa.

De manhã vesti as calças verde-garrafa. 

Novas.  As primeiras que comprei daquela cor e naquele modelo. 

Ficam-me bem, apertadinhas ao rabo, justas na cintura.

A melhor característica é que dão para enfiar dentro das botas curtas sem que pareça que tenho ali monte de tecido sobraçante, ou mesmo um folho gigante que desemboca nas canelas, ora pendido para um lado, ora pendido para o outro, como se fosse um molho de desperdício desses que os mecânicos usam para tirar o óleo das unhas.

Posso levantar-me e sentar-me vinte vezes de seguida que elas ficam ali sossegadas, imóveis, e sem necessidade de constantes agaixamentos para enfiar o desperdício outra vez para dentro do cano.

Muito por causa deste disparate, de tecido que me sobra nas canelas, ando numa fona com a máquina de costura  a ver se acabo definitivamente com os milhares de calças à boca-de-sino que comprei anos de seguida.

Usar os atacadores da míuda para enrolar aquilo às canelas já começa a ser demais. E nota-se um bocado.

Estou por isso felissísima com a compra que fiz.

As calças verde-garrafa, perfeitas, apertam-me as mini-meias aos gémeos. Uma característica tão especial que era capaz de ter pago mais vinte euros só para ter este extra.

Pois fiquem sabendo que meias moles e descaídas, pendonas, que escorregam pernas abaixo, que me fazem comichão, e me obrigam a desapertar o cinto, retirar a camisa de dentro da cueca, e puxá-las outra vez para cima, é das coisas que mais me irrita.

Chego a demorar dois minutos nestes preparos de puxar as meias para cima, e mais cedo ou mais tarde, quem é que eu quero enganar, tenho 4 elásticos de cada lado, daqueles que nos repuxam os pêlos, para salvar as meias de cair no precipício que fica entre as canelas e o inicio do cano das botas.

Isto parece estúpido, mas para mim, vestir uma porcaria qualquer, ainda vá que não vá, mas se for desconfortável, larga na cintura (ui!) ou que passe o dia a sair do lugar, como aquelas camisas muito curtas que teimam em desfraldar-se na zona das costas, é caso para me estragar um dia inteiro.

Isso e aqueles cintos fininhos que se deslocam constantemente para cima do botão da frente das calças, e que se cravam na barriga e nos ilíacos. Mas quando é que esta gente faz umas presilhas de jeito, hã? Se é para deixar escorregar o cinto e deixar as calças em modo selvagem, para que as fazem? 

É que às tantas, por força de andar sempre a ajeitar aquilo, e puxa para cima e tal, parece que é... bom.

Ainda para mais, e se não me tapo convenientemente com a blusa, há-de aparecer uma lambisgóia qualquer, dessas que se cruzam comigo no corredor, todas muito armadas dentro de uma saia de racha, para me envergonhar e martirizar. 

Oiça lá, não está muito apertada? Olhe lá para isto, toda mal enjorcada! Tem o cinto estrangulado na cintura!

Eu é que te estrangulo se não me tiras a racha da frente em 3,2,1....

No outro dia, ainda não tinha as calças verde-garrafa (e ainda hoje estou para perceber como é que consegui viver tantos anos sem elas), fui apanhada pelo chefe, sempre muito observador, a agrafar umas bainhas que se descoseram há cerca de cinco anos atrás. 

Mas que raio está a menina a fazer??? Dizia-me ele com os olhos muito esbugalhados. Dá cabo das calças.

Realy? 

Mal sabe ele que no inicio da estação fria, costumo trocar os agrafes das minhas calças clássicas, porque se enferrujam e dão-me cabo das meias, e parecendo que não é bem melhor do que usar outros métodos mais radicais, como aconteceu quando ainda era principiante nesta coisas das bainhas express, e estraguei um belo par de calcinhas com a super-cola3 porque aquela porcaria fez-me um buraco tão grande que cabía lá o agrafador.

E era nisto que estava a pensar, quando me lembrei-me subitamente do porquê de nunca comprar calças skiny.

Olhando bem para a minha figura, toda esticadinha, baínhas das calças arrumadinhas no cano das botas, apertadinhas ao rabo, justas na cintura... e ali no meio das pernas, como dois melões inchados, uns joelhos muito gordos, gritando muito, para me lembrar-me que nestas coisas da moda, há coisas que nunca mudam.

Sou estranha, sou terrivelmente estranha.