Até há bem pouco tempo a Hepatite C era uma roleta russa.
Mas já lá vamos.
Mas já lá vamos.
Inexorável,
silenciosa, e tantas vezes (vezes demais) fatal, seguia impune corroendo o fígado aos poucos, sem sintomas, dores
ou cuidados, sem sinais, sem mais.
Um cansaço
mais assumido, ou uma pequena e discreta intolerância ao álcool, nem sempre verificada, não são
sinais suficientes para a desconfiança de que algo não está bem, e que se está perante uma das doenças
mais mortíferas da modernidade.
Só
em Portugal estima-se que o número de portadores de VHC ultrapasse os 150.000,
mas este número (assustador) é só uma estimativa infantil, que poderá muito facilmente ultrapassar, ou mesmo dobrar o valor, se ao médico de família, ocupado que está em
'cumprir e despachar serviço' fosse permitido pedir com maior regularidade a análise específica.
O resultado deste protocolo economicamente austero nas análises clínicas resulta em despesas muito maiores a médio prazo, pois a
maior parte dos doentes a quem é detetado o vírus da Hepatite C, ou está numa
fase já bastante avançada da doença (cirrose, hepatocarcinoma), ou nas fileiras para
transplante de fígado.
Em duas palavras: VHC mata.
E mata muito.
Ainda
assim, apesar da conotação negativa da doença, normalmente apanágio de
toxicodependentes, alcoólicos e ex-combatentes, o VHC
espraia-se por uma franja muito significativa da população que foi sujeita a transfusões sanguíneas, a operações e a intervenções cirurgicas no sistema de saúde público ou privado, pois foi há poucos
anos que o rastreio universal de VHC se tornou obrigatório (Canadá em
1990 e nos Estados Unidos em 1992).
Em
Portugal basta lembrar o caso 'Leonor Beleza' com o sangue infetado com o vírus da SIDA, para perceber onde fica a Hepatite C no grau das
importâncias de rastreio.
Acresce o facto dos testes ao VHC serem caros. O protocolo dita que os testes só devem ser feitos à população de risco. Resta-nos alguns (poucos) bons médicos de família, que pedem a análise a mulheres que querem ser mães (por haver risco elevado de transmissão da doença ao feto) ou após verificação da elevação das transaminases, sintoma de fígado em sofrimento, que pode ter causas diversas.
Acresce o facto dos testes ao VHC serem caros. O protocolo dita que os testes só devem ser feitos à população de risco. Resta-nos alguns (poucos) bons médicos de família, que pedem a análise a mulheres que querem ser mães (por haver risco elevado de transmissão da doença ao feto) ou após verificação da elevação das transaminases, sintoma de fígado em sofrimento, que pode ter causas diversas.
Doentes
com VHC, para terem uma esperança de cura variável e indefinida, estavam sujeitos a um tratamento brutal de 6 meses a 1 ano, à base de
comprimidos (muitos) e sessões domésticas! de quimioterapia através de
injeções de veneno na barriga, com enormes efeitos secundários às costas, sem
apoio médico (além das consultas pontuais de folow up de mês a mês), o
cabelo a cair, as unhas a desfazerem-se, depressões galopantes, vindas
de lado algum senão pela medicação fortíssima, complicadíssimas de tratar, de
aturar, e de passar; efeitos transgénicos no fetos, a pele a
escamar qual psoríase, uma TPM constante na mulheres, perda total de
apetite e interesse sexual (recuperado lentamente, ao longo de mais de
4/5 anos, às vezes mais) et cetera, et cetera et cetera.
Eu às vezes penso que os Ministros não sabem o que é o tratamento da Hepatite C.
Não lhes passa pela cabeça o que é isso de fazer quimioterapia em casa, cabum! e umas horas depois ir trabalhar porque ninguém fica de baixa por fazer um tratamento deste tipo.
Eu às vezes penso que os Ministros não sabem o que é o tratamento da Hepatite C.
Não lhes passa pela cabeça o que é isso de fazer quimioterapia em casa, cabum! e umas horas depois ir trabalhar porque ninguém fica de baixa por fazer um tratamento deste tipo.
E esperam
pela cura milhares e milhares de portugueses e portuguesas, crianças pequenas,
miúdos, todos eles agonizando com um tratamento que pode não resultar,
outras ainda cujo tratamento não resultou, outras cujo resultado é mais
do mesmo. Internamentos, transplantes, imunodepressores, e com tudo
isto, um gasto absurdo para os hospitais e para o erário público, muito
acima do preço do atual medicamento.
Mas agora vem uma má boa notícia.
Se
até há uns (poucos) meses, a cura era uma roleta russa, como disse - já
que não o era para todos - fatores vários impediam o retroviral (ribavirina) e o
interferão de fazer efeito (idade, sexo, peso, raça, etc) hoje a cura é
garantida a 90% para TODOS.
Poderia ser uma alegria, esta nova descoberta dos cientistas, que passaram anos e anos a fio em frente a uma caixa de Petri, tentando driblar a Besta. Conseguiram finalmente descobrir a cura.
Poderia ser uma alegria, esta nova descoberta dos cientistas, que passaram anos e anos a fio em frente a uma caixa de Petri, tentando driblar a Besta. Conseguiram finalmente descobrir a cura.
Mas é aqui que a porca torce o rabo.
40 000,00 € (quarenta mil euros) é quanto custa o tratamento da Hepatite C que garante a vida a muito doentes em fase terminal.
Caramba!
Uma puta, um Ministro, um bêbado, um velho, um cirrótico, um agarrado, uma miúda gira, um médico, uma empregada doméstica, um advogado, xinapá, tudo metido no mesmo saco, é dose.
Uma puta, um Ministro, um bêbado, um velho, um cirrótico, um agarrado, uma miúda gira, um médico, uma empregada doméstica, um advogado, xinapá, tudo metido no mesmo saco, é dose.
Entre
pagar 2 BPN´s e 3 Submarinos, 4 reformas ao Catroga e mais 8 ao Mário
Soares, fazer uma piscina nova na casa do autarca de Santa Maria da
Feira, outra em Marco de Canavezes, molhar os beiços ao homem das
finanças, pagar AUDI´s novos numa base semanal, custa afinal mais que
tratar um ser humano da morte lenta.
E no entanto nenhum dinheiro salva a vida dos que já se foram... e nem a honra dos que ainda cá ficam a fazer contas à vida de um Ministério muitas das vezes CORRUPTO!
E no entanto nenhum dinheiro salva a vida dos que já se foram... e nem a honra dos que ainda cá ficam a fazer contas à vida de um Ministério muitas das vezes CORRUPTO!
Mas
como em tudo neste país, e assim o dita o povo em mais um estúpido
ditado, 'por morrer uma andorinha não acaba a primavera', o Governo
prepara-se para inventar mais uma desculpa para não pagar o tratamento,
esquivando-se mais uma vez com o PIB, os custos do Estado Providência,
os apoios sociais de desemprego, doença, cagança, e etc. e quem se
quiser tratar que vá trabalhar.
40 000,00€ não vale um português.
Queremos lá saber da vossa vida, do vosso voto. Já temos as vossas reformas.
Muita força a todos os infetados com esta estúpida doença.
Aqui fica o meu contributo: http://www.hepato.com/Este (des)Governo há de cair!
No Brasil é assim... cá não.
Entretanto, duas generosas empresas farmacêuticas já vieram dizer que oferecem uns quantos tratamentos. VERGONHOSO!
ResponderEliminarE entretanto já morreram uns quantos...
EliminarEu não sei que país é o meu, juro que não sei.
Infelizmente o mundo está virado do avesso!
ResponderEliminarA saúde vale milhões e todos querem um pedacinho, uns mais que os outros... a ganância devia ser punida!
Tudo se resolvia com uma coisa muito simples Maria: Responsabilidade Penal para Políticos.
EliminarSimples e eficaz.
A maioria das atrocidades não eram sequer cometidas e sabes porquê? Porque quem tem cu tem medo.
Subscrevo
ResponderEliminare darei o merecido relevo
E, tal como você
Je Suis Hepatite C
Obrigada Rogerio.
EliminarDevemos fazer o ma´ximo de pressão possível quanto a este caso.
Já lá tá
EliminarJá vi! Muito obrigada Rogério. É um previlégio e uma honra ser citada no teu (enorme) blog.
EliminarEstou aqui toda vaidosa das minhas palavras, é o que é.
Cada vez me arrepia mais ser portuguesa, eu que até sou bastante patriótica...
ResponderEliminarNão sou assim tão patriótica, no género chauvinista.
EliminarGosto, adoro, amo o meu país, como terra, chão, paisagem, mar.
As gentes são prazerosas quando temos sorte em encontrar gente prazerosa. No geral, como povo, e eu estou obviamente lá metida no meio, e não sou melhor e nem pior, deixamos muito a desejar sobretudo porque temos maus governos e os homens do leme são uns porcos desmedidos.
De resto somos muito bons em muita coisa. Em muita coisa mesmo.
E sou orgulhosa por isso.
boas causas, sempre! as tuas
ResponderEliminarforte abraço, meu caro Rgério
O que eu gostei de vir aqui ler este depoimento! Subscrevo cada palavra! Repesco duas expressões que me caíram no goto... «assim o dita o povo em mais um estúpido ditado» e mais ainda: «Este (des)Governo há de cair!»
ResponderEliminarBoa Uva!! Hei de voltar!!
Olá Graça Sampaio!
EliminarVolte sempre que quiser.
É uma honra muito grande ter aqui uma bloguer que tanto aprecio.