Diz-se por aí que não há nada de novo sob o sol da Literatura.
A teoria que vaticina o fim dos 'grandes escritores' é tão plausível como a teoria que fala do mesmo, em relação aos blogs.
Dizem que a escrita realista e consensual, pacífica e de consumo fácil, já não está a colocar questões, já não põe as pessoas a pensar, a questionar o sentido das coisas, e mais, está a enfadar de morte o leitor e a perder terreno.
Na literatura, como nos blogs, diz-se em atalho de foice, que os novos que vão aparecendo escrevem sem ter lido nada de significativo, o que está a deixar-nos a todos numa penúria literária e blogosférica nunca antes vista.
Na literatura, como nos blogs, diz-se em atalho de foice, que os novos que vão aparecendo escrevem sem ter lido nada de significativo, o que está a deixar-nos a todos numa penúria literária e blogosférica nunca antes vista.
Concordo que na literatura, como nos blogues, há uma repetição cansativa, e nem é tanto pela falta de criatividade dos seus autores, mas pela forma como é apresentado o conteúdo e o tema.
Parte-se do princípio que se resulta bem em Balzac, resulta igualmente bem em M. Rebelo Pinto, mas o erro, além de grosseiro, é crasso.
Talvez haja alguma infantilidade, sim, na forma como o escritor/blogger entende o leitor, subestimando a sua capacidade crítica e a sua perspicácia.
Talvez considerem, erradamente, que escrevem para um público todo ele igual, todo ele erva rasteira.
Talvez lhes falte a sensibilidade para perceberem uma coisa natural e que é esta: 'todos diferentes, todos diferentes'. A igualdade dá-se no género e mesmo neste âmbito, há já uma panóplia muito variada e interessante.
Talvez lhes falte a sensibilidade para perceberem uma coisa natural e que é esta: 'todos diferentes, todos diferentes'. A igualdade dá-se no género e mesmo neste âmbito, há já uma panóplia muito variada e interessante.
E vai-se agigantando uma falta de densidade e profundidade, uma mão para o light, para o alegrete, tão semelhante às monótonas cozinhas brancas ou aos sumos detox, horrorosos, que fazem os dentes verdes e dores de barriga, ou às fotografias no Paque da Nações, com meninas crescidas calçando sapatos agulha com os pezinhos metidos para dentro, como vemos às crianças.
Se dizemos ao escritor que a capa do seu livro é enganadora - que tem dois apaixonados a beijarem-se e um titulo sugestivo 'O Amor e Uma Cabana' mas que lá dentro fala-se é da dieta dos 31 dias com um link para uma conta offshore - revolta-se muito, escreve umas patranhices quaisquer para mostrar indignação e vitimização, mete os pezinhos outra vez para dentro, e arranca-nos o livro da mão.
Se dizemos ao escritor que a capa do seu livro é enganadora - que tem dois apaixonados a beijarem-se e um titulo sugestivo 'O Amor e Uma Cabana' mas que lá dentro fala-se é da dieta dos 31 dias com um link para uma conta offshore - revolta-se muito, escreve umas patranhices quaisquer para mostrar indignação e vitimização, mete os pezinhos outra vez para dentro, e arranca-nos o livro da mão.
A autocrítica, aquele cortar e colar, cortar e colar, que um escritor faz na sua obra até à insanidade, a penúria que é equilibrar uma frase, o encontrar a melhor imagem para uma cena, o 'show don't tell' dificílimo na literatura, desapareceu quase por completo da blogosfera e dos livros dos escaparates.
Já ninguém quer saber se os outros colocam questões ou não, se escrevem bem ou não, se se apresentam honestamente ou não.
Já ninguém quer saber se os outros colocam questões ou não, se escrevem bem ou não, se se apresentam honestamente ou não.
Parece que qualquer coisa serve para 'o povinho' porque a premissa é: tudo se vende e de qualquer maneira.
Só que não.
E no entanto, não é isso que verdadeiramente me preocupa.
O que realmente me preocupa é haver tão pouca gente que dê pela diferença.
Emparelhar blogs com literatura, parece-me um bocado como comparar cagalhões com nêsperas, mas enfim.
ResponderEliminarOlá, olá!
EliminarTeorias bizarras, delírios, é precisamente isso, o misturar nêsperas com cagalhões.
Se lhe falasse só de cagalhões talvez fosse aborrecido e repetitivo.
O tema do post é precisamente isso, a novidade vs. repetição.
Falar sempre de nêsperas talvez seja o problema, não lhe parece?
É da mistura improvável que se faz a boa gastronomia, já que batatas cozidas umas com as outras é capaz de saber só… a batatas.
E se reparar bem, e tiver sorte (e for do seu interesse), encontra na bloga (e na minha lateral) alguns blogs que só sendo blogs, são pura literatura.
Um abraço.
Não creio que haja tão pouca gente que dê pela diferença. O que acontece com um número significativo de leitores é que estes não se manifestam. Percebem a diferença mas não emitem a sua opinião, passam à frente, afinal isto são apenas blogues e na esmagadora maioria dos casos não se estão para chatear nem perder tempo com isso. Talvez o que se tenha passado nestes últimos dias, a propósito do PD, é que finalmente começaram a ecoar vozes, não porque fosse propriamente uma novidade, mas sim porque isto já começa a cansar e a fazer soltar muitos bocejos. E é um facto que a blogosfera anda chata e desinteressante, muito por culpa deste nivelamento por baixo, inerente à cada vez maior comercialização dos blogues. E isso afasta quem por aqui anda, já há algum tempo. Eu, pelo menos, que "frequento" a blogosfera há já bastante tempo (criei o meu primeiro blog em 2006), dou por mim a reduzir cada vez mais a linha lista de blogues. Serei a única? Por último, gostaria de pensar que esta história recente do PD sirva de "abre-olhos" para aqueles bloguers que alugam o seu espaço. A malta não é toda acéfala, e até sabe somar 2+2. Não ter isso em consideração demonstra incapacidade de adaptação a uma realidade que está a mudar. E desses costuma dizer-se que não reza a história. É certo que haverá sempre quem siga as dicas encapotadas, mas gostaria de pensar que esses irão diminuir ao longo do tempo. Mas isto sou eu, que por vezes ainda acredito no Pai Natal.
ResponderEliminarOlá Anna,
EliminarSim totalmente de acordo.
Mas têm de participar, tem de dizer que percebem, que não vale a pena andarem com paninhos quentes, que já entendemos que aquilo é assim.
Esconder para quê? Ainda ontem vi outra vez o truque. Ai que coiso e tal, mas o vestido, ai o vestido e cliquem lá aqui que o vestido ai o vestido. Bolas pá! Que coisa doentia. E que tal dizer que sim, que se trabalhou para ter um blog bom, um blog que atrai gente e que a partir daqui vamos lá aproveitar isto que a vida custa a todos? É assim tão difícil??? O blog passa a mau se fizer publicidade na lateral?? Acho que não.
Pessoal, a malta agora faz ali publicidade, não é a armas e nem a bombas, é a coisas que gosto ou que acho que são boas para vocês, importam-se? E ficava tudo resolvido.
Eu acho muito bem que digam.
Este 'nivelamento por baixo' é estúpido porque quem nivela é gente inteligente, que substima e se substima.
Não és a única. Também cá ando há anos (a ler) e na realidade há coisas que melhoraram muito e outras que estão muito piores.
Quando falei em “alugar o espaço” não me referia à publicidade lateral, para qual nem sequer olho e essa é a que menos me chateia, precisamente por ser às claras. Mais uma vez por mim falo. Dizer para quê? A consideração que lhes tenho nem merece o meu comentário, consideração que não sendo muita, ainda assim tem vindo a descer. Simplesmente deixo de visitar porque me aborrecem. Quanto ao resto também concordo contigo: fossem mais honestos, ou seja se assinalassem a publicidade, talvez eu ainda lhes concedesse o benefício da dúvida. Não o sendo, basta que falem num produto X, para eu automaticamente não considerar sequer a hipótese de o experimentar. Talvez quando a malta do marketing, bloguers e afins finalmente perceberem isso, se veja alguma melhoria.
EliminarPouca gente dá pela diferença, concordo mas há uns quantos a fazer a diferença!
ResponderEliminarBe, fazer a diferença é não andar a enganar os outros com a banha da cobra. ´É ser honesto.
EliminarUm grande abraço, Be.
Tu na tua vida fazes bem a diferença.
Eu prefiro focar-me naqueles que sim, que dão pela diferença. São os que (me) importam.
ResponderEliminar(já lhe disse que gosto de si?)
Olá Picante.
EliminarNão, nunca me tinhas dito. ;) É recíproco.
Sim, prefiro os que dão pela diferença e que sabem opinar sem chamar os outros de burros ou ofender com imbecilidades anónimas.
Ler faz-me pensar, faz-me tentar perceber um mundo de coisas novas, ler livros e ler blogs, bons livros e bons blogs, naturalmente.
ResponderEliminarNaturalmente que se te tenho a ler o meu blog, uma pessoa que lê como tu lês, que faz critica literária, que sabe da poda como tu sabes, obviamente que me derreto e fico totalmente aparvalhada.
EliminarNaturalmente...
Subscrevo inteiramente o que disse. Passamos a vida a papaguearmo-nos uns aos outros e, por vezes, no meio de tanto ruído nem notamos que estamos a ler, a escrever e a pensar o que os outros já leram, já escreveram e já pensaram. Na verdade, se queres ser original, prepara-te para seres copiado :)
ResponderEliminarNice coment!
EliminarExatamente.
Prefiro então ser copiada, mas farto-me (também eu que sou banal) de copiar.
Afinal aprendemos com os outros.
Uva, realmente os blogues são só blogues e como em tudo o resto há os bons, os maus, os que fazem rir, os que fazem chorar, os que fazem pensar, enfim, um pouco como na drogaria - há de tudo.
ResponderEliminarO que realmente me chateia, não ao ponto de comentar, mas ao deixar de ler, não é a publicidade mais ou menos explícita que para essa ainda tenho dois dedos de testa e algum discernimento para ver o que realmente é bom ou não é o que me pode eventualmente interessar, mas quando se criam aquilo que mais parece um encontro de porteiras ou mesmo um galinheiro. E é pena ver algumas pessoas que me distraiam, que até me faziam rir parecerem -se cada vez mais com uma paderia de bairro... valem os bons que vão ficando e os rookies que vão aparecendo. É tudo uma questão de escolha e há público para tudo. :)
As pessoas que a fizeram rir ainda a vão divertir muito, pois que está na sua natureza ser assim. Gostam de entreter, são alegres, mas às vezes não é possível estar sempre alegre e há desabafos que podem ser mal interpretados e geram polémica. Temos de ter capacidade para deitar essas porcarias para trás das costas, porque as pessoas que são honestas e verdadeiramente boas, não o deixam de ser de um dia para o outro.
EliminarAgora se ultrapassam o limite do bom senso e desatam nas patranhices gratuítas (acho que isso acontece poucas vezes, ou quase nenhumas e a maior parte é ironia pura e dura) então é pôr de lado se for de pôr de lado.
E é na verdade tudo uma questão de escolha.
Mas é quase tudo 'bons rapazes'.
Abraço.
Há pseudo literatura que mais parece um blogue de trazer por casa, tipo o meu. E há blogues que mais parecem obras literárias. É tudo metido na bimby e misturado a velocidade 10.
ResponderEliminarMas quem é que te disse que o teu blog era de trazer por caso Tim tim? Essa agora.
EliminarE o pezinho está melhor?
Sabes quem se senta como tu? A minha mãe. Sempre.
Penso que muita gente que por aqui anda dá pela diferença sim e nem tudo se vende, nem tudo se engole sem dar por isso, no entanto, os objectivos de andar nisto são muito diferentes de pessoa para pessoa. Os que procuram ler algo que tenha qualidade literária, ou que tenha graça, ou informação, opinião, etc, procuram e encontram e vão ficando, mas muitas vezes o que se pretende nisto dos blogues é ler algo que distraia e divirta, que aligeire o peso da rotina, algo não muito profundo, algo banal, algo que não seja demasiado sério, algo até que faça sonhar. Sendo conhecedores desta tendência, alguns bloggers acham que subtilmente conseguem "enganar" outros que os lêem. Se conseguem, penso ser apenas a uma pequena parte que mais tarde ou mais cedo vai perceber e se vai cansar. Por isso os seguidores e leitores rodam tanto e saltitam de blog em blog. As pessoas cansam-se. Pessoalmente gosto dos que me informam, dos que opinam, dos que são diferentes, dos que me podem ensinar algo, mas também gosto dos que me divertem, dos que mostram vidas e pensamentos banais e simples. Gosto de saber que muitas pessoas são como eu, simples e banais, não deixando por isso de ler os outros.
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