31 de março de 2015

São dentes meu Senhor, são dentes.

Vocês bem sabem como ando d(o)ente dos nervos.

Anónimas doidas assaltam-me o blog para me aborrecerem com questões que não interessam nem ao menino Jesus, esse ser tão empenhado em olhar por todos nós, que já não é menino nenhum, bem sabido, e talvez por isso mesmo já não tenha a mínima pachorra para certas e determinadas coisas, nomeadamente para a raivinha dos dentes.
Talvez por isso venham aqui, as anónimas, ao confessionário, dizer-me coisas, confessar-se.
E é aqui uma ladainha tão interessante que me chegam a passar umas coisas pela cabeça.
Deixo-as falar, sendo certo que a algumas apetece-me mesmo é partir-lhes os dentes, mas a minha misericórdia, louvado seja o menino, é um XS, vá, um S, e ainda me cabem mais alguns despropósitos na pachorra que comprei ali na mercearia do Américo.
E andava nisto do parto-lhes-os-dentes-ou-não (também ao Américo), mas logo me lembrei que uma moça sem dentes é a coisinha mais decadente que o menino botou no mundo, especialmente se for aquele ali de ladecos, tão raro e tão sensível, cuja ausência aparece tanto nas fotografias das pessoas felizes.
Bom.
Vou deixá-las por enquanto com a cremalheira toda, que entretanto a minha vida não é isto, mas dentes para frente e dentes para trás, que amanhã o meu também se vai, com a graça do Senhor, e não é que descubro que algumas anónimas foram chatear a Mariana Fantich e o Dominic Young, que, golpe de mestres, ainda tiraram lucro da ladainha?
Olha que espertinhos hum. Ahhhh os artistas.
E contratos de avença fazem?
Estava mesmo precisada de mudar umas solas.













Créditos da imagem e ARTISTA (Mariana Fantich and Dominic Young) aqui!

A Uva estar muito, muito doente, dos sonhos.

Acordei assarapantada.
Um sonho terrível, que se agarrou ao meu sono ali nos últimos cartuchos da manhã, já o despertador tinha tocado umas 5 vezes aos meus ouvidos, o sacaninha, e que me alagou o pescoço de água, coisa que não sentia desde o grande sarau no polidesportivo de Odivelas, nos idos de 1979, quando o base me agarrava os tornozelos, com os membros inferiores devidamente afastados, contraindo os músculos nadegueiros para evitar as perigosas oscilações da bacia.
Foi um pesadelo digno dos piores blogues que possam imaginar, ultrapassando mesmo aqueles que aborrecem muito as pessoas. Zzzzz Zzzzzz
Pois a Uva, e vejam só este delírio, andava de ténis conarósa, jasus!, de calções de licra daqueles que têm umas almofadas no rabo - o sonho já sabia que eu havia de me sentar umas 500 vezes durante o percurso e vai daí até foi querido - uma fita na testa que usava a tapar o orelhame, e por isso as pessoas falavam para mim e eu mouca que nem, e um rabo de cavalo, hahahahahahahahahah, um rabo-de-cavalo com três cabelos, que ridículo, sonho, que ridículo.
Bom, os sonhos conseguem ser caprichosos, e este completo anormal foi meter-me a correr, de ténis conárosa, à volta do meu prédio, onde assim de repente há umas 4 esplanadas cheias de marmanjos que fumam cigarros daqueles com pouquíssimo tabaco (que faz tão mal) e bebem bebidas muito alcoólicas nos intervalos das aulas.
Pois lá andava eu, feita maluquinha, a correr à roda de uma torre com 390 andares, tudo à janela a bater palmas,  e vai Uva e vai Uva, até que o sonho resolveu colocar uns obstáculos nos passeios, coisa inteligente da parte dele, sim senhora, e repentinamente - que isto nos sonhos é assim tudo muito repentino -  o que era um passeio com cocós normalíssimos, que todos estamos habituados a levar para casa agarrados aos stilettos, encheu-se de terra batida, cheia de pó e grandes calhaus, que eu tentava driblar feita anormal, a entortar os pés todos, ora para a direita ora para esquerda, a ver se não me esbardalhava ali ao comprido.
Daí a pouco, já eu corria há um ror de tempo, há anos julgo eu, e suava, suava, suava, apareceu o meu marido lá ao longe a acenar, todo nu, hã, todo nu, credo, com uma fita na cabeça igual à minha, todo contente.
E eu gritava para ele, aflitíssima, ´vai-te vestir rapaz, olha a tua figura, pah, estamos na NOSSA rua!', e ele sem ouvir nada, com aquela bodega enfiada pela cabeça abaixo, ria-se muito, ria-se imenso, e continuava a correr à volta do prédio como se fosse a coisa mais natural desta vida.
Ele e o seu pardal.

Nunca na vida ansiei tanto por acordar e vir esconder-me aqui no meu buraco.
Quando descemos no elevador e saímos para a rua, dois 'marmanjos' que estavam sentados no pial do prédio, fumando coisas muito perfumadas, é da primavera, calculo, levantaram-se repentinamente e estenderam ao Sr. nudista-corredor um voucher para participar na corrida da Páscoa da escola secundária.

Ó valha-me a Santa Teresa dos despidos!
Esse coisa de andarmos todos nos sonhos uns dos outros é treta não é?
Digam-me JÁ que é treta.
Isso ou chamo já o homem da imobiliária.

Todo nu, mas com uma faca na algibeira, que isto no subúrbio nunca se sabe!
(Esta imagem fui buscá-la ao meu sonho, ok? depois digitalizei-a para o meu PC.)


29 de março de 2015

E quando o teu filho nascer...

Tu desapareces.

Parece uma coisa um bocadinho mórbida, aquela que eu acabei de escrever, aliás, é absolutamente escandaloso que uma blogger com a minha notoriedade, lida e seguida por milhões de pessoas por esse mundo a fora, possa vir com tamanha leviandade, com total ausência de compaixão para com as mães que acabaram de parir, dizer uma coisa com este peso, com esta maldade, afirmando perante tão dedicada plateia, que tão logo lhes nasça o bebé, tão certo se eclipsa a mãe.
Atentai que este post demorou uns bons três segundos a ser gizado, não é uma porcaria qualquer, é uma coisa pensada, estudada, e sobre o qual há provas absolutamente irrefutáveis.
Vejamos o meu caso.

A Uva Passa teve o seu momento de glória, não durante a juventude - quando se passeava loira (verdadeira) e sem maquilhagem, com os seus 50 quilos mal pesados, na savana do recinto escolar - mas sim durante uns meses, em que redonda como uma lua, cheia de 'pano' e grossas coxas, rebentava pelas costuras, pelos bolsos e por tudo o que era roupa, conduzindo um carrinho-de-mão, onde depositava com fé, dois melões copa H.
O seu tempo de glória, onde chegou até, na loucura, a perder um dente, elevou-a a um nível nunca antes visto, nem mesmo ao nível bombástico verificado durante a festa do copo-de-água, quando se lembrou de fazer streaptease com a gravata do homem da banda, já depois de ter perdido os sapatos.
Nessa altura, a quem todos chamam 'esperanças', a Uva Passa era o centro da atenções. A sua barriga imensa, era uma cartão de visita onde quer que entrava. 
Um rodopio de gente, um galanteio cerrado, uma atenção desmedida para com a gorda mamalhuda, de perna aberta, cu grávido e descaído, tão marreca quanto descabelada.
Aquele momentozinho delicioso que já não tinha desde os 10 anos de idade, quando chegava a casa, já o sol desaparecera há muito, toda cagada e cheia de lama até aos dentes, e mesmo assim era beijada e abraçada pela mãe-lapa, que me procurava desde as 10 da manhã, regressava como que por magia nessa época tão feliz, e ai que estás tão bonita, e ai que linda barriguinha, e ai dá cá um abracinho, e ai a mãe limpa, e ai a mãe faz, e ai a mãe trata.
Ai ai, dizem bem. 
Ai, ai...que que logo que me rebentaram as águas, e põe um ai nisso, rebentaram comigo.
Eclipsei-me no exato momento em que expeli um ser careca, de nariz esborrachado, roxo, e que nem dentes tinha. Quando me foram visitar à maternidade julguei mesmo que tinha morrido, tal foi a sensação de ausência e de desprezo que aquelas pessoas, outrora minha família, a minha própria mãe, céus, me dedicaram. Eu ali toda escafiada, toda recosida, com umas mamas a rebentar, a precisar de fotografias tanto,  mas tanto, e nada. Desapareci repentinamente no firmamento da mães parideiras, e nunca mais nada foi o mesmo.
Ainda hoje quando ligo para a minha mãe, a primeira coisa que ela pergunta é da neta; se entro em casa a primeira coisa que faz é agarrar-se à neta; à mesa serve primeiro a neta; beija sempre primeiro a neta; dá presentes (e dinheiro) à neta.
E eu? E nós? 
Será preciso fazer um cartaz a dizer 'MÃE ESTOU AQUI', de cada vez que lá vou jantar a casa?

Querem acreditar que no primeiro álbum daquele ser careca, de nariz esborrachado, roxo, e que nem dentes tinha, a mãe, que sou eu, EU!, apareço SEMPRE de cabeça cortada, a servir de pedestal à menina?

Querem lá ver que tenho....
Ai, ai.

27 de março de 2015

A grande Joana Vasconcelos ou a Joana Vasconcelos grande?

Pois é, mes amis, será esta uma grande questão, ou uma questão grande?
Será a obra da nossa Joana Vasconcelos uma grande obra, ou fica-se por uma obra grande?
Muito se tem debatido o assunto, e claro está, que os 'críticos especializados' se dividem e se degladiam, como se dividem e degladiam as opiniões de qualquer comum mortal - às vezes não percebo que interesse tem, ouvir o que dizem os críticos de arte e da criação artísticas de cada um, mas enfim, parece que é chique a valer - e se há uns que dizem que o que a Joaninha faz é maravilhosa arte, coisa de grande mérito e de elevação artística inigualável, outros são os que vêm com pedras e pedrinhas, dizer que um candeeiro cheio de tampões, um Galo de Barcelos (coisa horrenda essa, o galo, mesmo em miniatura) com a altura da torre Eiffel, ou mesmo tudo o que ela faz enorme, gigante, que ocupa com uma só peça tanto espaço que só ela lá pode expor, espertinha, é horrendo, e é apenas uma derivação das costureiras de trazer por casa, que vestem bibelots com renda de bilros e fazem almofadas XL, muito parecidas com as que se vendem no Gato Preto.

A verdade é que uma artista que tem peças suas à venda na Christie’s, atinge em cheio os peitos de galo dos invejosos profissionais, que questionam, logo muito conhecedores da poda, se o facto de estar representada nesta empresa de leilões faz de Joana Vasconcelos uma artista de um valor artístico excepcional ou apenas de um excepcional valor comercial. O que a bem dizer não é a mesma coisa.
E se a Joaninha grande, ou a grande Joaninha, tiver apenas o poder de nos pôr a olhar para nós próprios, portugueses, com um sorriso amarelo?
 
Ela pode muito bem odiar o Galo de Barcelos tanto como eu, pensar ironicamente e agir em conformidade: 'deixa cá ampliar isto para todos verem como é horrível'.
E às vezes é preciso lentes de aumentar a realidade senão as coisas pequenas, horrendas, que se enleiam nos nosso pés, vão continuar por ali até alguém dizer: olhem estes leões tão horríveis ali à porta da Assembleia da República! E zás, espeta-nos com aquilo vestido com um naperon, ainda mais horrível, que nos faz lembrar aquele que nos jaz em cima do televisor desde o México' 96.


E como a nossa Joana não se fica por galináceos, nem sequer por sapos, cabeças de cavalo ou outros animais da quinta, foi logo re(pescar) a ideia que tem vendido milhares ao turismo, e vá de se dedicar à pesca.
E assim  anda a nossa Grande Joana, sempre na crista da onda, já pronta para mais um lançamento desta feita um magnífico centro de mesa, com lindas sardinhas e sapinhos, chamado Surf que promete fazer as delícias da estação.
Bordallo Pinheiro, como está bom de ver.


Ele há gente que tem muito olho para o negócio.
Mas espreitem lá a ARTISTA, Grande Artista ou só Grande.
Eu ainda não me decidi.

26 de março de 2015

Mães-Pai - verdade ou construção social

Ando há dias para falar nisto e ainda não tinha tido coragem.
Apeteceu-me novamente falar disto no dia do pai, onde li em tantos lados a frase 'fui mãe e pai', mas depois pensei, penso sempre, que poderia não me saber explicar, ou não me fazer entender, o que não é a mesma coisa, e deturpar algumas cabeças, sobretudo as que lêm tudo na diagonal, muitas das vezes só aquele pedacinho do início dos parágrafos, e me punha a jeito, ou armava mesmo uma qualquer confusão, coisa que não seria de todo aquilo que tinha em mente ao escrever este texto.
Para apresentar o tema aos leitores, e tendo como pano de fundo a plena consciência de que não posso albardar este burro à minha vontade, isto é, não posso fazer pender a minha opinião por ter lavado nessas águas as minhas mãos, ou ter quem as tivesse lavado aqui muito próximo, para dar à luz uma opinião razoável, tentarei não o fazer, porque isso já não seria albardar o burro à minha vontade/experiência, isso seria antes substituir-me a ele.
Mas, infelizmente, a croniqueta de opinião que aqui vou debitar é, apesar do meu esforço, baseada em apreensões que faço da vida, e conclusões que tiro dela, pelo que alertados para esse facto, os leitores depressa verificarão que as conclusões não são cientificas, ficando aliás a dever muito ao método experimental, tão difícil na área do comportamento animal

Refiro-me naturalmente às mães solteiras, às mães sozinhas, às mães que por escolha ou destino, fado ou enfado, criam sozinhas durante todo o tempo, ou a maior parte do tempo, os seus herdeiros sem a ajuda do pai.
Quero fazer desde já uma ressalva que pode ser importante, ainda não sei, pois que ainda agora comecei e ainda não sei bem onde me levará o texto: pai não é o mesmo que progenitor. Posso ser progenitora e não ser 'mãe', e posso ser mãe não sendo progenitora. As nossas antiquadas leis ainda não definiram isto, e é pena. Quero com isto dizer que a parentalidade atual, representa um novo modelo de atuação paterna no contexto familiar, deixando claro que tornar-se pai é muito mais do que definir-se biologicamente como pai.

Dizia eu, que pretendo discorrer sobre esta temática de ser pai e mãe - há falta do elemento masculino - que discordo em absoluto, com base em pensamentos meus que podem estar muito errados, e peço desde já a vossa ajuda nesta clarificação.
Posso afiançar, que afianço, que talvez as mães que criam sozinhas filhos, ainda não tenham parado para pensar bem nesta afirmação, e que por isso a repetem de forma algo impensada.
A natureza é clara neste ponto: o óvulo recebe o espermatozoite que o fecunda dando origem ao novo ser. Querer substituir, mesmo que simbolicamente, este espermatozoide, constitui, logo à partida, uma contra-natura, uma impossibilidade. A natureza está em nós desde o princípio dos tempos; não há como alterar isto.
Aqui, estou certa, de ter todas as opiniões a meu favor.
Passemos então para a construção da natureza genética, isto é, para a construção de uma natureza construída socialmente.

O pai e a mãe desempenham um papel especifico na construção da identidade da criança, e um pai, apesar de ser prescindível, é insubstituível, mesmo que estejamos perante uma mulher masculinizada.

Vejamos:
Uma mulher capaz, vá, uma Maria capaz, consegue desenvolver atividades masculinas, pode até em algumas situações ser melhor que o pai, 
Podemos mesmo dizer que a criança não necessita do seu pai pois pode ir buscá-lo facilmente à paternidade coletiva, ou seja, buscar na sociedade o papel que lhe está vedado pela ausência do seu pai.
Mas isto reforça a minha ideia de que o papel do pai é absolutamente necessário na construção da criança, que na falta do seu próprio pai o encontra em outros 'pais'. A categoria de 'pai' torna-se facilmente transferível a outras figuras, mas isto só acalenta que há uma necessidade absoluta de pai, caso contrário não havia necessidade desta transferência.
Podemos mesmo associar o desaparecimento da figura do 'pai' à evolução das sociedades modernas, onde pai significa austeridade, respeito, e submissão, coisa que agora, num mundo muito feminizado, se pode descartar e é até amplamente apoiado.
Não posso ir por aqui, isso seria sobrepor-me como mulher, ao homem, e não é isso que gera a igualdade, coisa que venho defendendo.

Então porque é que uma mãe nunca pode ser mãe e pai, baseando-se apenas no espaço temporal que ocupa em seu lugar?

A resposta, quanto a mim, radica na própria criança, que não consegue identificar uma mãe como sendo também pai, apesar de ser criada só por ela e reconhecer o esforço adicional de a criar sozinha.
A construção de ser mãe e pai é uma construção totalmente feminina, que tenta a todo o custo minimizar na criança, a falta, tentando minimizar o sofrimento da criança, mas que em nada coincide com a opinião desta.
O que as crianças anseiam não parece referir-se ao modelo nuclear de família mononuclear matriarcal, uma vez que relatam, em alguns casos, altos graus de satisfação nos seus relacionamentos familiares atuais. Procuram sim, serem reconhecidos enquanto seres valiosos e importantes, em especial, por aqueles que os conceberam. A ausência do pai é sentida, então, não apenas como a falta de uma figura de autoridade moral dentro do arranjo doméstico, mas, e principalmente, como omissão de um membro importante na constituição da história de vida destes sujeitos.
E a falta de um elemento insubstituível, embora prescindível socialmente, pode não ser visível aos olhos da sociedade, mas é amplamente sentida ao nível do eu, do ego, da segurança e do seu espaço na sociedade, sobretudo na afirmação tão necessária na adolescência, e nos traumas da abstinência tão visiveís na idade adulta.

A presença efetiva do pai, implica uma diferença significativa na sua trajetória de vida?
O que são estas mães além de todas as outras?

Good morning Vietnam!

Estamos em guerra.
Posto isto, resolvo começar o meu blogo-dia como o Adrian Cronauer, DJ recrutado para comandar o programa de rádio das forças armadas.
Os tempos são dramáticos em muitos sentidos, não há dia em que não ligue a televisão e não me encha de dó, de raiva ou de pena, não há dia em que as notícias não me façam electrificar as antenas ou tolher-me, muito quieta, no sofá.
Mas haja alguma comédia nas nossas vidas, caramba, haja tempo para rir, para gozar, para a perplexidade e para a loucura.
Antes louca que inerte, antes maluca que realista, pois que já não dou conta de tanta realidade.
Para o raio com a realidade. Chutos no rabo da realidade.

Falemos então em utopia. 
O mesmo será dizer, falemos então na comédia dramática do dia-a-dia. Exatamente como no filme de Barry Levinson.

As pessoas adoecem. 
Sim, isto não é utopia, é a realidade, pessoas adoecem e vão ao hospital.
Parece utópico as pessoas irem ao hospital, os governantes, doravante denominados 'eles', não querem as pessoas nos hospitais. Na realidade arranjam trinta por uma linha para se barricarem nas instalações assépticas, todas tecnológicas, todas artilhadas, protegidos por uma extensa cortina de fumo chamada 'falta de pessoal', e ainda se apresentam armados até aos queixos com linhas de atendimento médico, compostas por 3 enfermeiros para 10 milhões de habitantes, formadas através de cursos complexíssimos, para convencer as pessoas que 49º de febre, dores de cabeça e ranho, é avaria no termómetro, e que raras vezes dispõe de um helicóptero, direi antes raríssimas, por se encontrar o mesmo ao serviço dos meninos que vão de manhã para o colégio e não gostam de andar na carrinha que faz a volta.
Chego à conclusão que 'estar doente' é uma estúrdia colectiva, é uma doença mitológica, metafísica, não existe, foi inventada, as pessoas doentes seriam loucas, não fosse a loucura também doença.
Também eu enlouqueço. 
Especialmente quando abro a caixa do correio (qualquer uma das duas) e me deparo com uma fatura de 5,15€ de uma taxa moderadora dos idos de 2012, ora, 2012 deixa cá ver, foi há 3 anos atrás. E a doidivanas da fatura não se fez ao caminho sozinha, não, veio acompanhada de granada, ameaçadora de penhora de bens, polícia armada, PJ, Fisco, problemas vários e quem sabe, a temível insolvência.

Trabalhem caramba, nem que seja só duas horinhas por dia, já nem vos peço mais.
Querem gerir um negócio onde a fatura é emitida 3 anos após 'o episódio'?
E depois dizem que não têm dinheiro para apetrechar os hospitais, e deixam morrer as pessoas nas urgências?

Só tenho a dizer uma coisinha se me permitem: I-N-C-O-M-P-E-T-E-N-T-E-S!
Ah, outra coisinha, sabeis que sou doente crónica e não pago taxinhas não sabeis?
Ide ver, vá lá, ide ver isso nos vossos espetaculares computadores que não servem para nada, a não ser para ocupar os trabalhadores horas e horas e horas em formação, para aprenderem a trabalhar com a porcaria dos programas que vocês mudam a cada ano para (se) encherem o rabo aos amigos das empresas de informática, em vez de estarem nas linhas da frente a combater esta guerra que vocês teimam em travar nos hospitais, contra os maluquinhos dos doentes.



25 de março de 2015

Já me estás a irritar!

Daqui a nada digo-te tudo como os malucos, e depois vens para aqui chorar que a Uva é uma deslambida sem coração.
Tu põe-te fina!
É que vai com erros ortopédicos e tudo. 
Olha que tu ainda não me viste virada do avesso, caramba.
Irra!

24 de março de 2015

Das coisas serem como são e de como é tão difícil... a espera.

Quem é que não tem família emigrada, família longe de casa, penando a vida dura dos estrangeiros, agarrados ao Skype, pendurados nos pacotes das operadores, noites sem fim, conversando as mágoas, longe de verem calada a saudade?
Coube-me bem a minha parte. 
Também eu convivo, se é que se pode chamar a isto convivência, com a minha família emigrada, através de uma aplicação telefónica que cospe mensagens gratuitas e fotografias bonitas da nossa relação platónica.
Das coisas que mais recordo da minha infância é a espera.
Esperava tanto e tanto, contava minutos, contava passos, contava cabelos, sempre sedenta de os ver chegar.
'Quando chegar ao cabelo 79 eles aparecem no portão', mas ainda não, 'quando caminhar cem passos, sinto-lhes os abraços', mas ainda não é desta, 'vou esperá-los à estrada, aparecem não tarda nada', só que não vinham, e a miúda franzina que era eu, que infinitamente esperava aquela gente diferente, que fazia planos um ano inteiro, que treinava as falas, que vestia a rigor no dia da chegada, era sempre recompensada quando finalmente me pegavam ao colo, e me diziam perplexos como tinha crescido.
Durante muitos anos a família emigrada visitava a nossa casa, e era uma alegria. 
Ao longo dos meus 38 anos esperei-os, e contando minutos, mesmo que muitos, sempre os abracei. Contei muitos cabelos, dei muitos passos, caramba, mas sempre lhes senti os abraços.
A espera, bilateral, torna-se muito mais amarga para quem nunca alcança. Na verdade fomos sempre tão pobres, que ir visitar os primos à Alemanha era quase tão difícil como pagar a casa a pronto, sem empréstimo bancário. 
E nunca fomos.
Julgo que para eles, que esperaram sempre, já não há mais cabelos para contar, nem passos para dar.
De todos os caminhos que percorremos, nós cá e eles lá, nunca nenhum deles foi lá dar.
Mas não há mal que sempre dure, e apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, todos os dias desta vida, a oportunidade que se viu perdida, por tantas impossibilidades da vida, viu um fio na meada.
Havemos de lá ir.
Penso nisto, penso muito nisto ao mesmo tempo que hoje vejo nas notícias uma espera perdida, quem sabe se numa família igual à minha.
Não posso deixar de pensar que tal como eu, alguma menina pequena, contando os passos e os cabelos, não posso sequer voltar a vê-los.

Herberto Hélder 1930 - 2015

Fotografia © Alfredo Cunha / Porto Editora



O anónimo Herberto Heldér, que nunca vi na televisão, que nunca se assomou nas tantas das entrevistas que leio, que nunca, por mais tentativas que fizesse para o ler e reler, entendi, tal era a profundidade do seu delírio poético, morreu ontem aos 84 anos, na sua casa de Cascais.
Não me é simples falar sobre mortes, nenhuma tendência tenho para obituário, mas no caso, como em tantos casos na cultura portuguesa, que morre aos poucos no desconhecido, afastada do plateau da grande turba portuguesa, que parece ter lugar para tudo, menos para as letras e para os artistas que com elas trabalham, merece-me o apontamento.
Não sei o que é ser poeta e ter cá dentro um astro que flameja, mas sei o que é amar a língua, minha pátria, e sei o que é amar as letras, meu leito, prazer e puro desejo, e sei o que é dizê-lo cantando a toda a gente, anonimamente.
Um homem que nos deixa as palavras, é um homem que nos deixa tudo, e a ele próprio.
E isso é o melhor que podemos fazer pelo outros.
Dar-lhes, dar-nos.

23 de março de 2015

E o que não te derruba torna-te infinitamente mais forte

Convivo com Bullying quase desde que me conheço.
Primeiro porque era hiperativa e ninguém percebia muito bem que espécie de doença era a minha, que mal da cabeça era o meu, que bicho me mordia daquela seguinte maneira, à força toda, para me transformar num ser ausente, que nunca estava no sítio certo, que batia com as mãos no tampo da mesa, repetidamente, ao mesmo tempo que passava de bochecha para bochecha, sem nunca o engolir, o bolo alimentar constituído pela primeira e única garfada que conseguiam enfiar-me na boca.
Depois a magreza. Saco vazio não aguenta de pé, mas aí é que está, eu não era um saco, eu era um balão. Um balão cheio de ar, onde o peso não jogava a favor da gravidade. E isso dava-me a possibilidade de pairar, de trepar, de correr e desaparecer como que teletransportada, muito antes de inventarem essa coisa a que hoje chamamos 'futuro'.
De seguida, e sempre presente, o facto de ter as orelhitas um nadinha afastadas e um remoinho na franja. Depois porque não quis namorar com o anormal do Vitor e apanhava das boas se não lhe fugia à saída. Depois por não ter um quarto, e não ter onde deitar as amigas. Depois as queimaduras que me comeram a parca sanidade mental da adolescência, e iraram os mais sensíveis. 
Depois, bom, depois cresci e fui encontrando outras pessoas sofrendo de males comuns.
Na verdade o que supostamente me estaria reservado, que sofri de Bullying durante tantos anos, seria uma total descrença nos seres humanos, uma desconfiança, um desamor, mas sucede que em mim, como se calhar em muitas outras pessoas que 'comigo partilharam' esta experiência, o Bullying plantou-se-me no coração, mas de pernas para o ar, isto é, virei aquilo ao contrário e deixei a raiz de fora. A raiz do Bullying dá efetivamente para os dois lados, tal é a força com que se agarra a nós. Se estiver com a raiz para dentro, ramifica e apodera-se de tudo, mas se ficar com a raiz para fora, frutifica e dá-nos força, porque comestível.
Mas aquilo é um furúnculo que deixa a sua marca. A pele está livre da doença mas a cicatriz continua a sua saga, ainda que só quando para ela olhamos.
E eu vejo o Bullying muitas vezes, e vejo-o mais vivo que nunca a querer enterrar as suas raízes. Está-lhe na massa do sangue da mesma forma que está na massa do sangue o escaravelho dar balanço na bola de merda.
E não há nada mais malcheiroso do que um Bully a contorcer-se todo, a chafurdar, e a querer enterrar novamente as suas ridículas raízes nos nossos corações.

Vens por isso muito tarde, caro agricultor do mal.
Aqui já existe toda uma técnica que impede bullys de se entranharem, porque aqui só encontrarás redes e muros de compaixão, de pena, de compreensão, barreiras preparadas para as mais mesquinhas raízes. 
Entendi, lá muito atrás, quando teimava em usar bonés para esconder as orelhas, e usar as calças do pijama por dentro das outras calças, para esconder a magreza, que quem comete a falta, o erro, a fonte, o acento, que dá opinião travessa, diversa ou controversa, não é afinal quem está em falta, mas sim quem ataca.
E quanto mais me atacas mais eu gosto de ti, porque apesar de ser uma insignificante formiga, a sós com as minhas palavras, tu, qual escaravelho, não me abalas quando empurras a tua bola infeta em direção ao meu terreno arável, porque sabes, ainda te agradeço o estrume. 

Plantemos então, meu caro.
Cada qual o seu fruto.

22 de março de 2015

Perdida

Hoje, quando acordei, povoou-me abruptamente a conversa que tivemos ontem, durante o jantar.
Ficaste admirada por te dizer aquilo tudo, mas não era a ti que te dizia, não era a ti que me dirigia.
Às vezes povoam-me ignorâncias, e continuo ignorante por as dizer só a ti, a tal orelha gigante, o tal sentido aguçado, tão próprio dos amigos de longo curso.   
A minha boca inquieta, sempre sôfrega, debitando palavras que se soltam, fugidas como prisioneiras, que não me lembrei de calar, descuidada que fui, impavida que fiquei perante a fuga, disse-as a ti. 
Desculpa.
Fui sempre uma boca trôpega, soluçante, de meias palavras, de duplos sentidos, na hora de te convidar a escutar. Há anos que ando perdida em pensamentos sobre ti que ignoras, mas deixa-me agora dizer-te, que não me ouves, o que venho afinal pensando. 
Andas perdida.
Percebi há muito que não te interessa a nossa vida de ratinhos, todos na rodinha.
Há anos que andas perdida nessas partes de casa que ambas já habitámos, nos moços tempos de alegria e gargalhadas, em que nos sentávamos trincando fatias quentes de pão, numa fome química, das que se compram nas esquinas escuras a homens sem futuro. 
Passou-te a vida a correr, e eu sem te conseguir dizer, que a maneira como andas à toa pela vida, deambulando em partes de casa sem janelas, em que já nada - e nem ninguém - mora nelas, a não ser um passado virado a norte, sem luz para o caminho, é uma maneira macabra de viver, igual às galinhas degoladas, que correm só com pernas, e penas, descontroladas.
Onde terás tu deixado a cabeça?
Perdeste a cabeça e eu perdi as palavras.
Mas percebo que não te interessem cabeças povoadas, bancos corridos de cabeças repletas de vocabulário, de nomes intelectuais, verbos e ações, viagens e livros.
É que a vida dá muitas voltas e afinal, não és tu que estás aqui sentada, porque não queres ouvir mais nada.
Ouve o que não te digo.
Trinchaste a tua vida com o duro cutelo da surdez, arrancando de caminho a tua voz ao futuro, promissor, como promissora era a tua beleza especial, que soltavas nos longos cabelos da mocidade.
Não me ouves agora mas deixa-me que te diga: deixaste-te comer pela vida e agora perdeste a força nos dentes, mandíbulas vorazes, que eram as tuas.
Ficas a olhar para a rodinha, repleta de pequenos seres que engolem a vida, que ao contrário do que pensas, é mesmo para comer.
Anda lá, chega-te aqui a mim. Deixa para trás as gargalhadas químicas, os homens sem futuro, e vem correr na rodinha.
Verás que a minha boca inquieta, sempre sôfrega, cheia de vida mastigada, é muito mais saborosa do que permaneceres surda e quieta, numa casa desabitada.

Hoje, quando acordei, vi a casa a andar à roda.
Vens?



E o estranho caso da chave saltitona continua a saltar!

É um sucesso absoluto!
Nunca se viu nada assim na blogosfera!
É uma corrente absolutamente inquebrável que vai dar a volta ao mundo das palavras!

Não percam os novos episódios já em exibição num blog perto de si.
Xilre a deixar o aroma perfumado das mais belas palavras e Linda Porca a fazer um brilharete digno de aplauso e salamaleque.

Vinde conhecer a saga que já deu a volta ao mundo e apaixonou milhões.

A chave continua a saltitar.
O céu é o limite!

21 de março de 2015

O dia do pensamento



Se esta velha pedra ouvisse 
O que rimos aos vint'anos,
Ais d'Amor, sonhos, enganos...
- Talvez a rir se partisse.

Mas se tivesse olhos e olhasse
Os espectros que hoje somos,
Tão diferentes do que fomos...
- Talvez a chorar se quebrasse.



Hoje, no dia internacional da poesia, da diversidade do diálogo, da livre criação de ideias, do poder da linguagem e das habilidades criativas de cada um, celebro a minha paixão pelo pensamento escrito, e o poder de estarmos juntos, pelas palavras.
Não há pensamento sem palavra, e nem palavra sem língua. 
A língua é a minha casa. 
Bem vindos.

Uva Passa (emocionada).

20 de março de 2015

E o que faz uma Uva às 11 da noite?






A enfardar Pretzel da Baviera como se não houvesse amanhã...
Tou viciada.
Maldita cocaína.

Olha, eclipsou-se!


E pelo que vi, não foi bonito.
Há coisas que por mais que eu tente, fazem-me sempre muita confusão à vista. 
A ver se para a próxima compro uns óculos em condições.

19 de março de 2015

Ainda o dia do pai vai no adro...

Pois é.
Estive aqui a queimar a moleirinha uma boa parte da manhã -  que só eu sei a falta que me fazia para as minhas agulhas - a fazer um post para o Dia do Pai, todo catita, todo sentimental, e ai que o menino, coitadinho, tão pequenino, e já às ´tâncias de uma tia velhaca e de um punhado de perus mal-criados, e é isto que eu recebo?

- Bom dia pai! Então feliz dia!
- Obrigado minha filha, mas atão onde é a ida?
- Qual ida? Eu vou trabalhar, ora.
- Atão, mas com esses sapatinhos julguei que tínhamos tourada!


E já diziam os antigos, lá para as terras de Nisa:
- Queres touréda? Deixa vir o tê pai à nôte!

Pai

Relíquias, Alentejo, novembro de 1953

Maria, 

Espero que a minha carta te encontre boa. 
Nós cá vamos indo como podemos. O meu Manel, o mais velhinho, abalou em agosto para o Algarve com um moço amigo. Vejo-me aqui sem um homem e faz-me cá muita falta um gaiato para ajudar no monte. 
Os gémeos cuidam nos porcos, mas o que é que esperas, moços pequenos, só querem é fugir, não dou conta deles, e a minha Suzete, pois lá vai dando uma limpezinha à casa e ainda me ajuda a amassar, mas eu sozinha só com os pequenos não consigo dar conta de tudo. 
O Joaquim anda na estrada nova para Colos. Coitado, todo tisnado no meio do alcatrão, nem parece o meu homem, mas fazer o quê? A estrada sem os homens não se dá feita, então não é?
Escreveu-me umas palavrinhas, poucas, dizendo que tão prestes não vinha para baixo e calhando ainda ficava para a apanha da cortiça. Pois deixá-lo. É menos esse trabalho.
E tu Maria? Contou-me a nossa Catarina que já está quase, pois que venha com saúde é tudo o que eu desejo, mas ainda te quero comunicar o que ando cá remoendo. Então tu com outro gaiato pequeno e o teu Zé no pasto, calhando ficas aí muito aflita, ou não?
Não queres mandar o teu 'Tóino para me dar uma ajuda com os perus, Maria? 
Se quiseres mando a minha Suzete na carreta até à estação, se ele não der conta de vir sozinho, que isto parecendo que não ainda é um porradão de estrada, e nesta altura é só lamaçal, e está frio para o gaiato.
Olha Maria, eu cá me prontifico para ficar com o gaiato justo, pelo menos até o meu Joaquim acabar a estrada, ou até ele ter idade de ir para escola. 

Com muitas saudades de todos, aqui te mando um beijo, 
Luzia 


18 de março de 2015

O que estás a fazer neste momento Uva Passa?

Acabo de chegar a casa.
Ahhhhh, que saudades. Os impostos...
Se podia estar nas Maldivas, em Paris, na Conchichina Amarela?
Podia.
Mas depois, ao contrário do nosso PM, acabavam por me descobrir e tinha de pagar tudo na mesma.
Com juros.

Quereis ficar com muita inveja do meu marido?

Eu cá nasci no Hospital de Santa Maria, à força, porque lá no subúrbio onde tínhamos um T1 com quintal não havia parteiras e a minha mãe estava já farta de fumar às escondidas, caso contrário uma dessas mulheres de buço muito negro que puxa pela cabeça ou pelos pés dos gaiatos quando a hora aperta, ou a impaciência desperta, serviria muito bem para me arrancar das entranhas da minha mãe.
Ele não. 
Ele nasceu com hora marcada, numa clínica higienizada, com médicos especialistas, e máquinas alemãs de medir as contrações. Tudo programado ao mais infímo pormenor, meu rico menino, havia lá agora de nascer num pútrido hospital, cheio de empregadas fabris.
As mães, que eu saiba, têm muitas culpas no cartório no que toca aos ensinamentos que passam aos seus rebentos, em relação às outras mulheres e a elas próprias.
Há estudos que demonstram que mulheres que se dedicam em demasia aos filhos, e ao marido, desistindo de uma carreira profissional fora de casa, para se dedicar às infinitas lides domésticas, amiúde transportam para a inacabada cabeça do petiz uma visão misógina da vida doméstica que os transforma em autênticas bestas humanas, capazes de atos hediondos como largar pingos de mijo na sanita familiar ou chegar a casa, dar um valente apalpão no rabo da sua senhora, e segredar-lhe ao ouvido (já com a mini sagres na mão), 'eu hoje vou-lhe usar'.
Pois que não.
Terei eu casado com a exceção?

Estimada sogra parece que fez ali um bom trabalho, ou pelo menos parece que fez o petiz interessar-se pelas suas infinitas tarefas domésticas, de forma a que ele as soubesse reproduzir em caso de necessidade.
E o engenho ficou totalmente aguçado quando estimado marido se deparou com uma loira muito alta, mas muito simpática, a dormir-lhe na mesma cama, com a anilha enfiada no dedo.
A necessidade, doravante chamada Uva Passa, transformou aquilo que estava destinado a ser um inepto marido, num inefável (e a palavra é mesmo esta) e ultra-profissional dono de casa.
Pois é isso mesmo, e quem quer bons maridos que os procure em boas mães.
Acontece que apesar de sermos ambas loiras, eu e estimada sogra, eu não sou a mãezinha, e se há coisa que aprendi lá para as bandas do subúrbio, através da lenga-lenga faz o que eu digo não faças como eu faço, foi a evitar a todo o custo que os petizes com quem nos casamos nos confundam com as suas mãezinhas, infinitamente criadas e submissas, cheias de pena dos meninos, coitadinhos, sabem lá eles lavar o prato ou pendurar as cuecas.

Estimado homem não se acanha e lava muito bem a loiça.
Não pensem que vou cair na esparrela do 'ai, o meu marido ajuda-me imenso', não, não ajuda nada, porque ele faz o que tem de fazer, que é praticamente tudo, e eu faço o que tenho a fazer, que é praticamente tudo.
Não há cá divisão de tarefas, que isso está totalmente ultrapassado. Fazemos os dois tudo, sendo que há coisas que ele faz melhor, e nesse campo eu não o contrario.
Vá, não fiquem já tristes com os vossos petizes. Perguntem às vossas mães 'aquela tática-infalível-para-meter-maridos-a-trabalhar-em-casa' que elas logo vos elucidam...
Mas avante. Querem dicas não é verdade?
Estimado marido é o dono do avental lá em casa, porque diz que cozinhar o acalma. Ora e o que faço eu neste capítulo? Lana caprina: enervo-o muito para ele ter necessidade de se acalmar. E vói-lá, a parte das refeições fica totalmente controlada.
As camas também são tarefa masculina. Os cobertores são muito pesados para a minha fraca figura e estimado homem tem pena de mim. Se passarem a assumir uma postura ligeiramente inclinada e meterem as mãos nas cadeiras, de certeza que os convencem. É experimentar. Diz que resulta.
E por aí fora, sempre nesta ótica inteligente que é o amor incondicional deles.

Temos que analisar que três gatos pingados que saem às 8 da matina e chegam às 9 da noite pouco sujam, mas todas as coisinhas de somenos que todos temos que fazer, eu faço, ele faz e nem sequer é com má cara. Tudo sabe fazer, em tudo tem boa vontade, e eu não saberia viver de outra forma.
É que sobra-nos imenso tempo para as coisas realmente importantes!, como por exemplo dormir.
Ontem, numa festarola familiar, dizia-me a minha avó muito contente: 'já viste minha filha, já vais fazer 10 anos de casada' e eu fico a pensar que se o estimado marido fosse capaz de atos hediondos como largar pingos de mijo na sanita familiar, não estender ou apanhar roupa, não levantar mesas e fazer máquinas, não despejar lixos e todos essas coisas obrigatórias e aborrecidas do dia a dia, que niguém gosta de fazer, e ainda tivesse a distinta lata de chegar a casa, dar-me um valente apalpão no rabo e segredar-me ao ouvido que 'hoje à noite eu vou-lhe usar', eu era bem capaz de me encontrar por estes dias, muito sossegada, sentada na sala, casada com a minha empregada da limpeza.