3 de março de 2016

Ainda não falei do livro do Henrique Raposo

Mas vou falar.
Como decerto saberão, Henrique Raposo tem uma adoração espacial pelo Alentejo. E digo espacial porque volta e meia lança uns foguetes, como os alentejanos amandam uns pêdos, que metem toda a gente fora da órbita.
A mim também. Mas os meus motivos são outros.
O Henrique Raposo é um tipo com opinião. Oras, é um tipo igual a tantos outros, comentadores de algibeira, como eu, só que num plano mais alargado, como mais tempo de antena.
Por força da sua admiração pelo Alentejo, e a partir de experiências vagais da sua infância, Henrique Raposo escreveu muitas cartas de amor à terra do pão, coisas muito lindas, lá para ele, claro, mas muito incómodas.
Com esta vontade de se exprimir, teve a iluminada alembradura de escrever um livro para os pobrezinhos do Alentejo. E digo pobrezinhos porque o preço de capa [da obra mais divulgada do país] custa uns miseráveis 3 euros. Escreveu para os Alentejanos sobre alentejanos, escreveu lembrando tudo o que todos querem esquecer. E fê-lo simplesmente, ao sabor da pena e das penas, trazendo para as páginas do livro coisas proibidas, e pelos vistos censuráveis.
Por um lápis azul.
Como decerto saberão, tenho pelo meu Alentejo todo o amor do meu peito. Aquela terra vence-me em todas as frentes. Não lhe pertenço de berço, mas sou sua filha de colo, e por isso quero muito dizer isto:

A liberdade de expressão, a democracia, a LIBERDADE, nasceu e floresceu muito por força (e querer) dos muitos alentejanos que hoje se indignam com o livrinho do Raposo.
Perder tempo com pedidos totalmente contrários a isto, ter intenções de proibir a edição de um livro, é totalmente errado, e pérfido.
Nunca um povo deve calar um homem, como um homem não conseguirá nunca calar um povo.
Nunca, jamais, ou em tempo algum, um povo deixa de ter a sua honra, a sua dignidade, a sua força e a sua beleza porque um jornalista de opinião se arrogou no direito de o denegrir, de o escancarar.
E digam-me: denegriu?
Quantos foram os que já leram o livrinho do Raposo? Constataram mentiras? Nunca viram nada assim?

Lamento e tenho pena, que num país onde a Liberdade foi tão difícil de alcançar, se queira acabar com o alcance dessa liberdade.

Quem tem medo do Raposo mau?
Eu não.

15 comentários:

  1. Estava há um par de dias a aguardar a tua sentença sobre isto...

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    1. Querem acabar com o livrinho do rapaz. Não concordo nada e acho totalmente anti-democrata.
      Liberdade SEMPRE, menos para dizerem mal dos alentejanos?
      Quéláisso? Estão passados.
      Deixem lá o rapaz escrever à vontade, calem-se mazé com isso, só lhe fazem publicidade,e vamos mas é buber um medronho!
      Essa agora.

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    2. Qual medronho?
      Isso é algarvio
      Licor de poejo
      (serve-se frio)

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    3. No meu Alentejo também se faz medronho.

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  2. Pois olha, eu gosto muito do Henrique. E estou com curiosidade, vou ler o livro.

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  3. Ena o que vai par ai
    Tudo por causa do livro?
    Um alentejano ri-se disso
    ainda que ao autor, esse magano
    mesmo que não lhe queira qualquer dano
    lhe desejasse um sumiço

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    1. A mesma mosca indiferente
      Pousa com a mesma alegria
      na cabeça do Henrique Raposo
      como em qualquer porcaria

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  4. O pessoal não está furioso propriamente com o livro, mas sim com o que ele disse no programa Irritações. Andas desatenta, o HR já falou do facto e já se desculpou, coitadito, com o facto de que não se expressou lá muito bem ou lá o que foi. Vi o Irritações e o que ele diz entra-me a 100 e sai a 200, mas também não sou alentejana.
    Parece que fala/escreve ainda pior dos algarvios.

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    1. Não ando nada desatenta. Sigo o caso de perto há algum tempo, e vi, inclusive o programa em causa. Ele não se expressou mal, ele foi foi buscar o exemplo pelo abonatório para vender o livreco. Eu conheço especialmente bem a realidade alentejana, da minha avó que teve 7 filhos, do meu pai que começou a trabalhar aos 5 anos, justo numa quinta de perus. O que ele diz não é falso, mas a indignação só tem a ver com a forma estupida como se expressou, com ar autoritário, sobranceiro, de soberba. Isso é que irritou os alentejanos. SE tivesse dito: pobres coitadas daquelas mães com 12 ou mais filhos, que não tinham tempo para lhes darem atenção porque trabalhavam de sola a sol, teria sido mais inteligente. Assim foi só estúpido e cagou o pé todo. Mas o que escreve não são mentiras. Nem ele seria capaz de o fazer.

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  5. Válido para este (de que nunca tinha ouvido falar, confesso) como para todos, mas absolutamente todos os outros...

    Senão, mais valia não ter acabado o regime, porque ao fim ao cabo, se não for por isso, passados estes anos todos não se viu mais nada de jeito a vir da revolução...

    :)

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    1. Válido para tudo. Proibir a publicação de um livro?? Estamos na Coreia do Norte ou quê??

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    2. Já estivemos mais longe...

      ...muito mais...

      :)

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