- Este post tem aviso vermelho, vá, laranja;
- Este casamento foi
completamente diferente dos casamentos normais das pessoas normais;
- Este
casamento teve censura, mas os noivos não têm cura…
Começou então assim: “Eu não vou viver para tua casa; ou
casamos ou fico na casa dos meus pais. Queres casar ou
não?”
Ele aceitou.
Casei em maio, no mês
das noivas. Calhou ser o mês das noivas e foi uma sorte não ter chovido a
cântaros.
O dia do meu
casamento, sucedeu como é normal, ao dia da despedida de solteiros.
O meu noivo, seguindo uma tradição antiga, foi dar banho a uma moça nua muito
jeitosa, que dançava num bar de raparigas nuas muito jeitosas. Felizmente no
dia do casamento não se notava nada. Chegou enxuto e com o ar mais angelical
desta vida, fazendo jus ao dito popular: lavado e enxuto, é como novo!
A minha despedida de
solteira foi valente. Valente bezana, valente queda, valente susto, e no fim de
tudo uma valente nódoa negra, que foi comigo para a Republica Dominicana, 18
dias depois.
Uma amiga, fazendo gosto em me ofertar umas asas de borboleta para usar naquela noite, proporcionou-me um dos melhores
voos momentos da minha vida, já que ao descer a escada da sua casa, dei um
mortal encorpado à frente, e só não me matei estatelada no chão 56 degraus
depois, porque a minha mãezinha já tinha feito uma despesa brutal, e não ficava
bem a noiva não aparecer no casamento.
Resultado, na manhã do dia H, passei mais tempo a besuntar base Lancôme na nódoa negra que tinha no
braço, do que propriamente a fazer o penteado. Valeu-me o bom senso de ter
escolhido um vestido comprido. Calhasse a vestir uma coisinha mais moderna, e o
meu noivo iria pensar que eu tinha as pernas em gangrena.
Apesar de tudo, foi
uma noite divertida, mas ficou a léguas da diversão que foi o meu enlace.
Como é da praxe,
arranjei uma plateia de quase 300 pessoas para o meu número de circo, e houve,
como manda a lei do espetáculo, quem tivesse feito parte do número. E foram muitos. Quase todos.
Casei-me na Malveira num lindo dia de sol.
Havia
comida e bebida com fartura, mas como dizia Satre, “o inferno são os outros”, e
os outros eram tantos, mas tantos, que depois de me casar, demorei 2 horas a
tirar fotografias.
E foi exatamente aqui que me desgraçaram me desgracei.
A felicidade e a
alegria de todos os presentes, os brindes e a euforia do “aos noivos!”, foram
trazendo à vez, vários copitos disto e daquilo, tudo coisinhas de baixo grau.
Sempre a somar copinhos, e em virtude de muitos anos de treino, lá me fui aguentando nas canetas. Estava eufórica, feliz, beijava toda a gente e tudo correu
bem. Bem até à altura do bacalhau com broa.
Aos noivos ficou
reservado o ato heroico de beber shots
com todos os convivas (ena!) que num vaivém de copos de vinho branco “Terras do Pó” e à
vez, vinham brindar à felicidade da bêbada e do seu noivo.
Mesa 1, e pimbas, mesa
2, e pimbas… eram 300 convidados, 10 em casa mesa.
É só fazer as contas.
As lembranças difusas
que tenho do meu casamento, são isso mesmo, difusas.
Sei que fiz vários
pinos em honra da minha vida de ginasta, sei também que dei algumas cambalhotas
na pista, onde se descobriu o transparente a cor da lingerie
das núpcias, e que escondi diversos charutos alusivos à data no decote do meu vestido.
Recordo-me também vagamente
de percorrer as mesas de convidados, com alguém atrás de mim carregando o cesto
dos brindes, alarvejando: “o cheque? trouxeste o cheque?”, e de muita gente me
ter entregue o envelope-oferta diligentemente, alguns até assustados e com medo, mas rindo sempre,
não fosse a noiva roubar-lhes também a carteira.
A festarola continuou
efusiva e tudo dançava... e bebia. Às 16:00h já não tinha os meus sapatos, e nos dias que se seguiram ao
casamento, veio uma notícia a lume que dava conta de um senhor alto e magro,
que dançando distraído consigo próprio no meio da pista, falou longamente ao
telefone com um dos referidos sapatos, encostado à orelha.
A verdade é que nunca
mais os vi, e se descalça estava, descalça continuei.
Deu-se também o estranho caso
do desaparecimento das minhas meias de ligas.
Como é evidente,
dançar descalça todo um casamento com meias de vidro, acabou por as romper, e
as sacanas escapuliram-se pernas acima, e sem que
esperasse, já que delas não sentira a falta, fui encontrá-las já longa ia a
madrugada, ao cimo das longas pernas, uma de cada lado, muito enroladinhas.
O vestido branco, presente da
minha madrinha, era lindo. Escolhi-o com grande indecisão por uma
particularidade. Eu nunca uso nada que mostre os ombros. Quem me conhece sabe
o motivo, e o motivo acabou por me salvar dos olhares mais reprovadores, porque
ao comprar um vestido que me tapou os ombros e antebraços, acabei também por
conseguir disfarçar a gigante nódoa negra que gritava no meu braço: foi ela! a noiva grog!
Menos mal. Não me cair
o braço durante a boda já foi um grande feito.
Quando saí de casa dos
meus pais, o vestido não tinha um vinco e eu era a princesa mais linda da minha
terra. Tudo brilhava, tudo era cor e alegria.
Por oposição a este
idílico quadro e no fim do casamento, o meu vestido parecia uma peneira de
farinha, e a casaqueta que tão diligentemente me tapou os bracinhos acabou toda
embrulhada ao ombro, em jeito de saca de batatas, talvez ainda pior que as
meias de ligas.
No meio disto tudo, um
noivo.
Um noivo feliz, um
noivo companheiro, um noivo fantástico que me acompanhou sempre, no dia
mais feliz da minha vida. É ele a (minha) memória viva de que esse dia foi
especial.
Tomou conta de mim,
levou-me em braços para finalmente cortarmos o bolo, quando já ninguém fazia
fé, e foi um dançarino irrepreensível quando eu teimava em passar-lhe por baixo
das pernas ou escondê-lo debaixo do meu vestido.
O meu noivo nunca perdeu a tineta, e só por isso conseguimos finalmente consumar o ato de
aliança no dedo, já a madrugada ia alta, e só depois
caímos nos braços um do outro, exaustos para dentro um buraco que apareceu repentinamente no meio da nossa cama e que só
de manhã percebemos tratar-se da frincha natural entre duas camas de solteiros,
feita com um só lençol.
O nosso casamento
ficará para a história, fará história e foi histórico.
De entre os quase 300
convivas, amigos e familiares, apenas alguns guardam na memória (já que
nem só a noiva tem do casamento uma lembrança difusa…) um episódio de strip tease levado a cabo pela noiva
grog e pelo primo do noivo, em frente de toda uma plateia suada, em que saltou
gravata, saltou camisa, mas acabou tudo em bem, numa cantoria estereofónica de
uma banda qualquer de rock dos anos 80.
Destes alguns, só 2
ou 3 sabem verdadeiramente o sabor de um certo leitão que estava a assar lá
fora e que serviria para se fazer um final em grande, mas que desapareceu
misteriosamente deixando apenas o espeto e dois ou três paus queimados de
recordação.
Também não teve grande
importância o gamanço do leitão, pelo menos comeram-no, coisa que talvez não fizessem os
convivas enfrascados em vinho fartos de comer até à testa.
Mas a festa foi, para
mim e para todos, a melhor festa do ano, exceção feita ao meu pai (julgo que a
minha mãe também estava em grande), a quem peço muita desculpa pela vergonha
imensa que é ser pai de uma noiva grog, mas a quem aproveito para lembrar uma
velha máxima: diz-me quem são os teus pais, dir-te-ei quem és.
Não poderia terminar
este testemunho sem deixar umas palavras à minha herdeira, nascida da loucura
desta paixão improvável entre um exemplo de menino e de uma doida varrida.
Um dia, minha filha, a
mãe explica-te o tsunami que foi o nosso casamento. Depois logo pensamos numa
forma de recuperar o que restou do vestido. A liga não te posso emprestar, já que
não chegou à hora do leilão. Talvez tenha ficado esquecida, algures, em cima do
balcão onde serviram durante horas e horas, álcool que dava para 3 batalhões de
homens.
Houve uma certa
família que carregou 2 toneladas de gambas para fazer o resto da festa em casa.
E fizeram eles muito bem.
Eu é que já não provei essa açorda…
O casamento dos V.V.
Foi um granda casório!
acabo de descobrir, ao fim de todos estes anos, que afinal o tipo que estava em cima do palco, o da gravata, afinal é primo do Vagner. Estava convencidíssima que o homem tinha sido contratado para tocar e cantar - e aturar a noiva, pois claro :)
ResponderEliminarÉ verdade! A certa altura a minha mãe achava que eu ia despi-lo ou coisa que o valha... logo eu... que não parto um prato.
EliminarQuando bebo, não caso
ResponderEliminartambém resulta bem
Já eu, se não bebesse, não casava... hehehehehe
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