29 de maio de 2017

O EXERCÍCIO



Vamos todos imaginar que somos sapos.
Não é muito difícil. 
Peço-vos.

Se nos detivermos no ciclo de vida do sapo, facilmente encontramos elos de ligação dos quais nos podemos apropriar para este exercício.
Há machos e fêmeas envolvidos, há óvulos e espermatozóides, há fecundação, nascemos com duas perninhas e dois bracinhos, temos todos uma espécie de cérebro, alguns até são venenosos, e por aí vamos.
Agora vamos imaginar que por alguma coincidência aleatória do Universo, a nossa pessoa sapal vai parar, quer dizer, dá um salto, e cai numa situação absolutamente normal para a sua condição existencial de sapo. Dentro de água. 
É à partida uma situação que ninguém desconfia, e a maior parte das vezes é propositada. Há imensos sapos a saltar a toda a hora, de um local para o outro, e muitos dão-se bem, os sacanas. 
Não é o caso.
O sapo deste exercício caiu dentro de água, mas! a água estava dentro de um tacho. 
Na gíria sapal e ordinarona da espécie, o sapo fodeu-se, mas ainda não sabe disso, por isso ali está ele, como se vê, entre o feliz e o perplexo, olhando em volta as paredes baixas e reluzentes do tacho, achando sempre que um misero saltinho o salvará, achando sempre que é dono da esdrúxula situação. 

Agora vem a parte melhor:

Coloquem um sapo num recipiente com água e façam exatamente como se faz aos caracóis. 
Quando a temperatura da água começa a subir, o sapo começa a ajustar a sua temperatura corporal em conformidade. Tem uma paciência de chinês, está preparado para reagir quando os ânimos aquecem, dilata-se, troca de lugar, dá pequenos saltinhos para ver se mudando ligeiramente de posição as coisas arrefecem. 
Mas o sapo, que nasce com o livre arbítrio e a natureza de escolher ficar ou dar um salto, vê-se momentaneamente confuso com a situação. Está protegido num tacho com água e sente-se bem, e vai ficando. Acontece que quando a água chega quase ao ponto de ebulição e o sapo percebe que não pode mais ficar, que não aguenta mais ficar, que aquilo ali já está quente demais para ele, é que decide dar o salto. 
Mas é tarde. 
Sem se aperceber o sapo perdeu a sua capacidade de saltar. Por força de uma condição adversa que não soube afinal controlar, que foi paulatinamente aguentando, que foi a pouco e pouco absorvendo, perdeu a força anímica, a vontade e o propósito de saltar. 
E morreu, cozido num ambiente que lhe parecia tudo menos hostil, onde se sentia de certo modo protegido, de onde não quisera sair.

O que matou o sapo?
Aquilo que tantas vezes nos mata a nós.
Que me mata a mim.
A indecisão.

A água ferveu.
E eu estou morta.

26 de maio de 2017

OS COMPANHEIROS


A fotografia foi tirada ontem, em Bruxelas, durante a reunião dos líderes dos países da NATO.
Estão aqui reunidas as primeiras-damas e o Senhor Gauthier Destenay que é o marido do primeiro-ministro do Luxemburgo.
É efetivamente um homem entre Senhoras, que não sendo o primeiro - em 2009 o marido de Angela Merkel, Joachim Sauer, também posou para a fotografia - é um forte sinal que o mundo, mergulhado em terror e em cabeças rapadas (e tapadas) ainda pode ter esperança num futuro de igualdade.

Gostava muito de ter o email daquela funcionária homofóbica da escola secundária de Vagos.
Era bem capaz de lhe enviar esta fotografia.

24 de maio de 2017

O MEU FILHO CHUMBOU – E AGORA?

No final de mais um ano escolar, alunos, escola e famílias, experimentam aquele que é talvez o período do ano mais complexo e stressante de todos.

É na parte final do percurso escolar que uma fatia significativa de vidas se decide, ao mesmo tempo que os professores desesperam para tomar a ‘grande decisão’ que em primeira instância lhes altera os objectivos profissionais (e pessoais) e em última instância altera a vida e o futuro de todos os alunos. 
Reter ou não reter é um tema tabu entre a comunidade educativa, e não o é menos entre a comunidade de pais que enfrenta anualmente essa possibilidade, sem sequer poder intervir eficazmente para a pergunta que se impõe: a repetição de um ano é ou não benéfica para a aprendizagem do aluno, para a melhoria escolar do aluno, para o aumento do interesse do aluno?

Nos últimos anos, e devido às constantes alterações [políticas] no sistema de ensino português, temos assistido a uma corrente fortíssima que alardeia o facilitismo como causa da suposta diminuição da qualidade dos jovens que saem para o mercado de trabalho. Atribui-se, portanto, a degradação dos ‘standards’ intelectuais da comunidade escolar (e aqui se vê o quanto a escola permanece parada no tempo), ao facto de alguns professores defenderem e seguirem um caminho que traça (e bem) a ideia de que os alunos retidos - especialmente nos primeiros anos de escolaridade - não só não melhoram a disciplina ou o método de estudo, não melhoram os resultados após mais um ano o mesmo ano, como são também mais propensos a novas retenções, ficando mais exposto aos danos irreversíveis da desmotivação e do abandono escolar. 

No fundo, para aqueles que defendem que a escola deve ter uma atitude punitiva do mau resultado escolar, entende também que um professor que ‘facilita’ a não punição, que evita a emergência de alunos de idades superiores em classes etárias mais baixas (tendentes ao bullying e favorecendo a indisciplina), que impedem o prosseguimento do aluno na vida escolar e pessoal, na sua turma, com os seus pares, mas obviamente com redobrada atenção e apoio no ano seguinte - com um plano de recuperação digno do nome - é um professor altamente injusto para com os alunos que têm efetivo aproveitamento escolar, e enaltecedor dos alunos não cumpridores.

Custa-me muito a crer que um aluno que não consiga empinar - e este é o termo para a quantidade absurda de matéria que os alunos têm de verter em cada teste - uma caterva de datas que podem ir desde a Batalha de Cavadonga até D. Dinis, passando pela D. Urraca e os amores de perdição por um galego, de D. Teresa, possam ficar retidos, caso a coisa não corra igualmente bem a inglês e a matemática.

Quero com isto dizer que não é mais possível que um aluno que mostre dificuldades no percurso escolar durante o ano, ou que desde cedo denote uma parca consolidação dos conhecimentos transmitidos pelos professores, possa ser surpreendido pelo chumbo no final do ano, às vezes injustamente, quando o que interessa é pesar numa balança que benefícios trará ao aluno ficar retido mais um ano, por um lado, e se esses benefícios lhe trarão efetivamente vantagem notória na vida futura, se realmente faz toda a diferença na vida daquele ser humano saber aquela matéria específica, ou se por outro lado, poderemos tentar mais um ano, para ver se com mais maturidade, incutindo-lhe naturalmente essa responsabilidade, essa oportunidade para ele tentar de novo, na mesma turma, ele recupere, ele se regenere, ele aprenda com mais animo.  
Não podemos continuar a desenvolver as mesmíssimas técnicas que antigamente se encontravam nas sebentas escolares, porque obviamente a frase ‘os pensamentos voam e as palavras vão a pé’, é uma bela analogia para esta outra que inventei agora: as diversas formas de conhecimento voam, e o ensino tradicional vai a pé.

Enquadrando todos estes aspetos, verifica-se que a cultura de retenção, ou seja, a “crença comum de que a repetição de um ano é benéfica para a aprendizagem dos alunos”, está ainda muito patente na sociedade portuguesa, em particular na cultura escolar de primeiro e segundo ciclo. Com efeito, é recorrente a ideia da retenção como sinónimo de exigência, qualidade das aprendizagens em oposição a um sistema “facilitista”. No entanto, se bem que a transição responsável de alunos com baixo rendimento escolar possa acarretar uma maior exigência por parte do sistema escolar e mormente dos professores, pois que pressupõe, por parte de todos os intervenientes, um esforço acrescido no desenvolvimento de estratégias e medidas de apoio e reforço das aprendizagens, é, na minha opinião, e na grande maioria dos casos, preferível à retenção e ao trauma que isso trás para a criança imatura que é castigada pela sua própria ineficiência ou a ineficiência dos pais em casa, incapazes de ajudar a ultrapassar as dificuldades na matéria que os professores não conseguem transmitir em sala de aula.
E toda a componente social que daí advém, a tristeza de ser repetente, de ficar para trás, de perder os amigos com quem muitas das vezes tão dificilmente estabeceu uma ligação, e de assumir uma incapacidade que muitas vezes nem é de raciocínio, e somente de memória.
Custa horrores a um pai e a um filho, depois de ano horríbilis, o tempo que perdemos com eles, o dinheiro que gastamos, o que deixamos de viver para os acompanhar, o medo de que falhem, e depois chegar ao fim de tudo isto que é tão mais tão tanto! e ver um filho ficar retido, chumbar. 

Os justiceiros sociais, com soluções pessoais para os problemas do todo, têm um peso enorme na sociedade escolar (e na política) portuguesa, e tardará até que aquilo que individualmente se pensa de certo assunto, possa deixar de dominar sobre aquilo que é efetivamente correto. Enquanto alguns professores, pessoalmente, admitem encharcar as crianças de teoria cansativa, de testes imensos e complicados, de toneladas de TPC que os pais têm tempo de fazer - ou não, desmotivando a cada dia os alunos, retendo-os, muitas vezes por não serem capazes de criarem o interesse suficiente para que passem na sua disciplina, outros há que perceberam que não é por aí. O trabalho tão importante dos professores não pode ter como objetivo chegar ao fim do manual, à página 225 da sebenta.

Ainda ontem, eram já altas horas da madrugada, quando explicava à minha filha de que forma se colocavam espermatozóides numa lamela para se verem no microscópio, porque a professora esteve muito empenhada em explicar aos alunos a parte mecânica e a parte óptica do microscópio composto, os 12 ou 13 componentes da maravilhosa invenção - que todos têm de saber de cor, os pobrezinhos - mas esqueceu-se de explicar o mais importante.

E fui eu, com a minha pachorra de Jó, que expliquei à minha filha que para se colocarem espermatozóides numa lamela, não é só escrever no compêndio de 225 folhas que foi o Senhor A ou B quem os consegui ver primeiro. 

18 de maio de 2017

O PROBLEMA

Não conheço nenhuma resolução, nenhum acordo, nenhum cessar-fogo, que não tenha partido da premissa de que a humanidade vem primeiro, que as pessoas são afinal aquilo que interessa salvar, nem que sejam essas mesmas pessoas que a breve trecho serão as portadoras das contrapartidas, dos contactos, das finanças ou do poder.
Se é para salvar que se salvem os afetos.
A maior parte desses homenzarrões engravatados, dessas mães autoritárias, irmãos ingratos, colegas ratos, que varrem famílias, empresas, e vidas, tantas, com um vozeirão imenso, veementemente rudes, secos, e maus, desses que acham que tudo o que mexe lhes deve vassalagem, dinheiro ou favores, quebrarão o seu imenso ego contra a parede dos afetos dos outros, que na escuridão se unem, nem que seja para os abandonar.

Uma das minhas colegas contava-me que uma vez, era a filha ainda pequena, precisou de se ausentar com o marido durante duas semanas, e foi, naturalmente, pedir à sogra para lhe ficar com a menina. Que não, que não 'tomava conta de crianças'.
Foi uma sentença que ali ficou lida, julgava a sogra, a uma nora que poderia galgar e tomar-lhe outros dias com a pedinchice da miúda, se lhe abrisse o precedente.
Certo dia, que foi a semana passada, já a miúda se casa para o ano, veio a sogra pedir-lhe que ficasse lá em casa, a ajudá-la, que a senhora que lhe faz o levante e lhe troca a fraldeca precisava de ir à terra.
'Não tomo conta de velhos', assim, sem um afecto, sem necessitar de sentença, assim mesmo, devagarinho, doucement como dizem os francius.

Nesta nossa passagem para a outra margem, convém amar afetuosamente um barco, ou um remo, ou uma bóia, ou muitas bóias, ou muitos barcos.
Todas as pessoas a quem podermos lançar a mão, que lancemos, para lhes dar um abraço; a todos aqueles que de algum modo caminham, ou nadam, ou velejam junto a nós, na travessia, devemos nós prender a mão.
Que nunca nos larguem os amigos, os irmãos, os filhos.
Porque vede: as pessoas perdem-se.
O cavalo da vida, enorme, torna-se furioso, e consome-nos na solidão.
E é um grande problema quando só vemos o grande cavalo na velhice, quando o vozeirão se apaga e o ego esmorece.

'Não tomo conta de ti'.

Cuidai, enquanto é tempo.







No pavilhão argentino deste ano na Venice Biennale.


12 de maio de 2017

PAPA

Nasci em 1976.
É um evento que jamais voltarei a vivenciar.

Nascer traz-nos uma infinidade de possibilidades, experiências, e infelizmente, acidentes.
Até termos a capacidade de entender que há coisas que ficam para lá das nuvens, ou de alguém nos informar que pode haver uma vaga possibilidade de alguém nos proteger, de alguém olhar por nós, e de nos salvar de tudo o que é possível acontecer-nos de mal depois de nascermos - mediante uma espécie de pagamento que poderemos chamar de fé - estamos totalmente sozinhos.
Em 1976, e até perfazer a idade de 6 anos - altura em que a minha mãe resolveu ir a um enterro, levar-me de companhia e dizer-me que aquela Senhora que ali estava morta tinha ido para o céu - estive completamente no escuro no que à minha possível salvação dizia respeito.
Não pedi por isso nada a ninguém, ninguém superior me ajudou, ninguém veio proteger-me, e a verdade é que os acidentes acontecem, até aos que pagam a fatia maior.

Como ateia que sou, tenho esta característica de associar aquilo que aos outros é da esfera da religiosidade, a coisas práticas da vida, e uma delas é achar que com tanta gente religiosa no mundo, tanta gente que pede mil desejos, que ocupa todo o Céu com as suas preces, é natural que o Céu se detenha mais nesses que lhe pedem e suplicam, ao invés de atender a outros, mais calados, mais tímidos, mais ocupados, ou na ignorância do pedir. Por exemplo, os grandes devedores só se detém (e pagam) aqueles que não largam o telefone com o número da fatura no credo.
É uma teoria como outra qualquer, e se quererdes uma coisa mais nonsense, posso sempre recorrer à celebre frase: quem não chora não mama.

Foi um acidente.
Foi 'o' acidente.
Foi um mistério tão grande que nunca ninguém se predispôs a tentar percebê-lo.
Eu era uma criança balofa de 11 meses, e nessa mesma hora, na hora em que se deu o acidente, que ele há coisas do demónio, morria o Elvis Presley engasgado no seu próprio vómito.

É extraordinário como as coisas acontecem.

Em menos de nada, como é apanágio dos acidentes, uma miúda obesa de 11 meses, que dormia profundamente numa altíssima cama de grades, que nunca se tinha mexido para lado algum a não ser, claro, ao colo, galga as grades e cai no chão sem um choro, vai a gatinhar por ali fora, coisa que nunca antes tinha feito, gatinhar, e encaminha-se sorrateiramente para uma mesinha de cabeceira que ficava do lado oposto da sua cama.
O acidente, esse fatídico que havia de ditar toda uma personalidade, dá-se no instante em que a criança, que era obesa, não sei se já disse, puxa, talvez esfomeada, o naperon que servia de base a nada mais, nada menos, que um termo cheio de papa a ferver, que destaparam para arrefecer, e que seria o pequeno almoço de um adulto que ainda comia papa.
O que leva um adulto a comer papa é assaz estranho.
O que fazia um termo cheio de papa em cima de um naperon é ainda mais estranho, e o que fazia o termo em cima da mesa de cabeceira do quartinho onde dormia uma criança obesa sempre esganada de fome, é para lá de muitíssimo estranho.
Mas coisas estranhas acontecem, e esta calhou acontecer-me a mim, numa altura em que eu quase não sabia o que era papa, muito menos o que era o Papa ou os seus amigos para lá das nuvens.

É extraordinário como as coisas acontecem, mas a verdade é que naquele preciso momento, por distração dos senhores lá do Céu, que estavam porventura ocupadíssimos a tentar salvar o Elvis, esse outro obeso, que se engasgava no seu próprio vómito, não viram que uma criança, uma ingénua criancinha, se afogava, também ela, numa espécie de vómito fervente, que se derramava sobre ela, e a queimava ferozmente.

Não sei o que fazer com esta tricotomia.
A papa, o Papa e o Elvis.
Fico-me talvez por uma palavra parecida: miopia.
Porque apesar de já não ter 6 anos, e entender que talvez possa existir alguma coisa para além das nuvens... continuo sem ver nada.

11 de maio de 2017

DIZ QUE É UMA ESPÉCIE DE SANTO


MEDO

Estou a viver uma situação extrema.
Nunca na vida passei por isto, pelo menos a esta dimensão.
É uma catástrofe.

Quando escrevemos bonito para causar impacto e nos sai a frase muito batida: 'na vida a realidade ultrapassa quase sempre a ficção´, escrevemos à sorte. Sabemos que sim, porque conhecemos alguém que nos contou em tempos uma história inacreditável, mas verosímil, mas extrema, mas surreal porque autêntica, mas e nós, que ficção imaginada nos cai agora aos pés de verdade? Que coisas imaginamos nós que pudessem verdadeiramente acontecer?
Quase nada. 
Os sonhos visitam-nos na noite para que nunca os possamos confrontar acordados.

Foram muitas as vezes que imaginei o pior.
Quando a nossa cabeça gira, como louca, quando de repente num minuto tudo muda, quando a palavra é dita, a pedra lançada, a flecha atirada, nada será como antes e não são deuses, pensamentos, ou preces que podem alterar isso.  

Quando o Universo conspira e tu percebes que ele efetivamente conspira, quando se movimenta a olho nu e conseguimos ver as peças que ficaram soltas num redemoinho, cacos por todo o lado, os detritos que se descolaram de nós, e de outros como nós, as artérias da nossa vida escarafunchadas com um catéter rijo e implacável, que tenta à força abrir um caminho, um caminho obstruído, onde nada flui, onde tudo se acumula, os ressentimentos e os sentimentos, os olhos arregalados das pessoas, o medo estampado nos olhos que nunca se fecham, porque o espanto tomou conta deles, e nada restará senão a certeza de que sejam quais forem os caminhos que se abram agora, hão de abrir-se na verdade.

A ficção fica para já acocorada, a um canto, medrosa, espantada, com o tamanho gigante da verdade.
É uma catástrofe.
É uma catarse.

E de repente vem-me à cabeça a musica: "Entre pedras e pedrinhas, entre pedras e pedrinhas, alguma gota há de haver."

10 de maio de 2017

ECOSSEXUAIS

Um dos problemas de abandonar um blog à sua sorte, como eu fiz - e consequentemente deixar de seguir a atualidade da blogosfera - é vir falar tardiamente sobre um tema já amplamente depenado, e que, no máximo, soltará aos leitores um longo e sonolento bocejo.
Ainda assim acho importante o apontamento para considerações futuras porque, parece-me, vai haver guerra entre os vegans e os ecossexuais, já que andam ambos a 'comer' a mesma natureza.

Então é assim: hoje adentro-me numa temática pudenda - os ecossexuais. 

Não fazia a mais pálida ideia que pudessem existir pessoas "ferozmente apaixonadas pela natureza" no sentido literal, isto é, pessoas apaixonadas pela natureza - mas que não fossem filiadas no PAN. 
No fundo pessoas que se "rebolam na terra, enquanto têm um orgasmo coberto de substrato vegetal.”

Os ecossexuais têm relações sexuais potentíssimas com o caule de uma bromélia, mas isso não me soa nada extramuros, o que eu acho verdadeiramente excepcional é levarem o relacionamento amoroso com a biosfera tão a sério, que já existem empresas especializadas nas cerimónias matrimoniais, onde convidados e outras espécies em vasos, ou assim, assistem ao casamento entre pessoas ecossexuais e o Grand Canyon!
Há inclusive quem faça testamento a favor do grande desfiladeiro legando ao seu parceiro matrimonial os seus bens e a guarda das plantas que entretanto vieram a adotar, sobretudo as de pequeno porte, que já se sabe, são as que dão mais trabalho.

É extraordinário!
É que isto de andarem todos nus por essas florestas afora é uma coisa comum, enfim, o Homo Erectus já o fazia com alguma perícia, mas ao que consta, a origem do seu nome nada tinha a ver com o comportamento que o seu órgão sexual pudesse ter quando se via envolvido nas lianas ou nos grande matagais. 
E depois, vamos lá ver: o Homo Erectus apareceu depois do Homo Habilis, que ao que consta já sabia fazer algumas coisinhas com as mãos, mas parece que esta ramificação não deixou grande genética nesta gente..

Eu até posso preconizar que uma pessoa ecossexual, ao ver-se sozinha no meio do mato, não vislumbre outra alternativa para os seus desejos mais pudendos que não seja agarrar-se a uma árvore (ou a um cato gigante do Arizona, sei lá), e enfim, aliviar-se sexualmente ali mesmo, mas descobrir que há um movimento “pólen-amoroso” que casa pessoas com musgo, isso é que já é qualquer coisa que está para lá da minha compreensão, sobretudo por não saber onde é que o musgo mete a aliança.

Diz que aqui em Portugal o movimento ainda é esparso, e eu fico muito mais tranquila, sobretudo pelas alentejanas.
É que se calha a uma qualquer mocinha virgem apaixonar-se pelo Menir dos Almendres, é bem capaz da relação acabar numa maca de hospital.

9 de maio de 2017

OS LOBOS

"– A batalha é entre dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é mau, outro é bom.
 – Que lobo vence?
 – Aquele que tu alimentas!”


É ponto assente, é convicção, é promessa, é terapia, é trabalho, e é trabalho duro, que nunca mais, em tempo algum, a Uva Passa alimentará lobos incognoscíveis, porque inacessíveis à inteligência humana.
Não alimento os meus inúmeros lobos, e só eu sei o que isso me custa, por isso não vou alimentar os lobos dos outros. Lamento.
Bem sei, porque bem sinto, que estar ali a ler uma barbaridade qualquer, a ver uma injustiça qualquer, uma falta de educação, uma filha da putice, e ainda assim, caramba! esconder os dentes na boca para não sair mordendo em toda à gente, é coisa que requer muita perícia e muito sangue frio.
Entendo que há instintos maus que vêm cavalgando a humanidade desde os primórdios dos tempos e que às vezes não é fácil refrear. Uma espécie de instinto pittbull que não olha a nada e nem ninguém para desfigurar a inocente criança.
Mas é preciso ser como os castelos que outrora protegiam os Reis: altaneiros!

Serei a Uva altaneira, serei a Uva leoa.
Ide roer ossos.








 Beth Cavener Stichter - http://www.followtheblackrabbit.com/

8 de maio de 2017

CROCODILOS

Hoje em dia, conseguir boas notas na escola é uma arte.
A quantidade de matéria que os nossos filhos têm de empinar é tão tremenda, que a escola já não é mais aquele bichano afável, que empina o rabo à procura de uma festa... é antes um crocodilo que abocanha a família e destrói os laços com equações e poliedros.
Mas é talvez por isso, por ser uma arte tão difícil, que os pais se esforçam muito por mostrar a todos - e nas múltiplas redes sociais - o resultado desse trabalho, emoldurando testes e notas, enaltecendo o talento artístico dos seus pequenos artistas.
É só triste, e a imagem que acompanha o meu post, plasma na totalidade aquilo que é a minha opinião sobre o tema.
São afinal os pais que vivem desta arte, e não os seus filhos, para darem de comer aos crocodilos amigados nas redes sociais.

#nãoàpublicaçãodasnotasnasredessociais


7 de maio de 2017

CASAMENTO, MATERNIDADE E LÍNGUA

São 10 horas da manhã e o sol entra-me na sala como um  furacão.
Ao meu lado três livros: Amor Líquido de Zygmunt Bauman, para que tenha sempre presente a dificuldade do amor, e a certeza de que só amamos uma vez como só morremos uma vez; A Arte do Romance de Milan Kundera, onde leio, sempre que posso, que 'a ternura é criar um espaço artificial onde o outro deve ser tratado como uma criança' e onde, de resto, aprendi que o amor não é querer ter o corpo do homem nu, mas o rosto do homem iluminado pela nudez do corpo, e mais recentemente, desde ontem, a revista Egoísta, cujo tema é Pátria, mas que fala dos homens da política...

Há muito que não me rodeava de livros para escrever.
Tenho escrito pouco e isso tem-me causado desconforto. É como se tivesse comido (da vida) muito, bebido muito, e que, por algum motivo que é sempre alheio à minha vontade, a minha digestão tivesse parado a meio, e tudo o que consumi frenética, observadora, indignada ou feliz, se perdesse no vómito convulsivo da rotina.
Nada registei, nada conciliei, nada sedimentei, e os dias passaram sem história, indignos de serem lembrados.
Que triste.
João Gomes de Almeida [na Egoísta], por interposta pessoa, diz-nos no seu 'Manifesto contra a Irracionalidade', que 'se queres mostrar alguma coisa a alguém, escreve, estás sempre a ser seguido'.
Gostava muito de não me esquecer disto.

Que augúrios traz um dia de sol tão extraordinário como o de hoje?
Há um relacionamento, um envolvimento, uma correlação engraçada que julgo interessante registar.
Dá-se hoje uma espécie de triunvirato familiar.
É o dia da mãe e é, ao mesmo tempo, o dia de aniversário do meu casamento.
Aqui vão duas, e como não há duas sem três, e se vai aproximando o final do ano escolar, eis que nos aparecem, predadoras, duas provas de aferição que por entremeio dos testes regulares das disciplinas, vêm chamar à colação a matéria já dada - e com que esforço, senhores! - obrigando a esforçada e já escalavrada família ao derradeiro e inútil esforço de legar à escola uma boa colocação no ranking, legando para escanteio a festa de aniversário das alianças..

Blandícia, meus senhores, blandícia e ternura para com o Sistema nesta hora (e em todas as horas) de sonegação dos prazeres familiares em detrimento da merda dos números do PIB.
Isto ou um Manifesto à antiga, com descida na Avenida de lenço preto na lapela, porque vede, estamos mortos, estamos mortos e enterrados nos programas educativos, e isso, lembrei-me agora, faz muito mal ao casamento.

Casamento, maternidade e língua.
Hoje estudamos claudicantes, eu e ela, a difícil mas extraordinária disciplina de português. Ou de Pessoa. É só deixar a miúda acordar para lhe mandar os livros para cima.
Já não são 10 horas. Já são 11 horas, e uma hora já está perdida para os prazeres da escrita, que não sei já se alguém ainda segue.

Escreve. Alguém te seguirá...

Espero-a aqui na sala, onde o sol inclemente banha o ventre rotundo do felino, alheio às deambulações pseudo-literárias de uma Uva que Passa, e estremunhada, há de perguntar, pela enésima vez, para que servem os testes escritos se o que ela gosta mesmo é de pintar bigodes e tingir dentes de preto.

10 anos de maternidade, 12 anos de casamento, 40 anos de língua.
A história vai longa.
Só se ama uma vez e eu não sei o que amo mais que a própria vida.
Se ela, se ele, se este triunvirato familiar.
Amo de certeza este sol que me entra na sala como um furação.
Diz-me com quem escreves, dir-te-ei quem és.

5 de maio de 2017

FIM DE SEMANA


A MENINA PEDALA?

Diz que sim, que pedala, que pedala cada vez mais, sobretudo em Lisboa, à beira rio, e que gosta muito, e que lhe dá muito prazer.

É uma das minhas maiores alegrias desde que Lisboa mexe. 
E Lisboa tem mexido bastante, sobretudo com os Lisboetas. Mas já lá vamos.

Se descerem a Avenida da Liberdade num domingo de manhã, são capazes de encontrar um pombo estremunhado e dois ou três chineses indecisos, mas é sempre a descer pela ciclovia até uma Praça do Comércio quase vazia, com aquele sol que inunda tudo e todos, o rio a clamar brandura, e impondo uma única decisão na paragem obrigatória no Cais das Colunas: virar à esquerda para o Parque das Nações e pedalar pela zona industrial, passando pela Expo, e seguindo sempre pela margem de um rio que nos vai parecendo cada vez mais outro até chegar a Vila Franca de Xira, ou virar à direita e seguir sempre pela zona turística, fazendo das tripas coração para não passar nenhum estranja a ferro, mas que vale tudo a pena sobretudo quando chegamos à  Fundação Champalimaud e podemos apreciar uma arquitetura dessas que não é só de pedra mas que também salvam vidas, e nos orgulhamos de ser, por um lado, magníficos descobridores, magníficos profissionais, e magníficos artistas, e por outro, abençoados por tanta beleza. Mas não ficamos só por aqui porque Lisboa mexe, e mexe com tudo.


Há tempos que já vão longe, lembro-me de aqui escrever - porque é uma convicção que tenho - que a frente-ribeirinha da cidade deveria ser totalmente devolvida ao rio, com a anulação definitiva da linha do comboio (Linha de Cascais) no local onde se encontra, podendo talvez, quem sabe (arquitetos e engenheiros huuhuu!!) passar a subterrânea, criando a possibilidade da cidade se expandir e de se envolver total e completamente com o rio.
Mas se Maomé é teimoso como uma mula, houve quem conseguisse tirar-lhe as palas, e fezer uma incrível ciclovia que vai até Oeiras e que poderia ser um canhão da Nazaré se o rio tivesse ondas, porque pedalamos e sentimos a brisa marítima a entrar por todo o lado e digo-vos, é assim qualquer coisa de extraordinário. 

Mas tudo o que começa também acaba.
Acontece que aqui para a Uva todos os finais são felizes, e como 'saco vazio não se segura de pé', Lisboa oferece no regresso dos ciclistas, e agora todos os domingos, na Praça da Figueira, uma feira de enchidos, queijos, pães e tudo aquilo que engorda e que no fundo nos faz sair de casa com uma bicicleta às costas para pedal quase 60 km de frente-rio.




Meus amigos, não podemos pedir mais nada da derrama turística que enche os bolsos do Medina.
Aliás, podemos.
Mas tenho cá para mim que vou ter muito tempo para falar sobre isso...

4 de maio de 2017

UMA BALEIA NA SALA

Afinal não deixo passar a temática da Baleia Azul.

Não tanto pelo perigo que possa representar 'o jogo' em si - a somar aquela possibilidade sinistra de vermos entrar na nossa sala um filho esquartejado - sobretudo pela pressão do cyberbullying - , mas a forma perigosa e na maior parte das vezes ultrajante, para não dizer andrajosa, com que a (nossa) Comunicação Social, essa lesma pasmada e inerte da investigação noticiosa, decidiu usar para nos informar de como vai o mundo ao redor.
É de facto sinistro chegarmos ao fim de uma notícia do DN, e darmos de caras com uma fonte que sugere qualquer coisa como 'notícia avançada pela Flash através do CM', e zás, está feita a notícia da notícia da notícia, está enchido o chouriço, e agora vamos todos beber um copo ao Cais, que ninguém nos paga para investigar.

Ler o mundo na comunicação social portuguesa deixou de ser algo apaziguador dos espíritos curiosos, fonte onde crentes bebíamos cultura, diversidade e atualidade, onde facilmente chegávamos a conclusões e tertuliávamos sobre elas, avançando no pensamento, construindo novas teorias baseadas nos FACTOS que jornalistas de FACTO nos transmitiam, para ser uma atividade de desconfiança contínua, onde a cada noticia, quase sempre falsa (fake news) tertuliamos semanas inteiras, fazemos verdadeiros inimigos, chamamos nomes ao que teve o descaramento de comentar imediatamente antes, para ao fim e ao cabo se concluir que não, que afinal foi só mais uma estratégia de marketing para ganhar visualizações para publicidade, foi só mais uma parangona escarrapachada em cima de uma mula coxa, cega e doente, chamada 'página oficial de notícias' do Jornal A, B ou C.


Tenho seguido com muita atenção uma série de trabalhos, destacando a página Truques da Imprensa Portuguesa (https://pt-pt.facebook.com/ostruques/) que se tem destacado não só pela belíssima escrita, como pelo  notável, voluntário (e não pago) trabalho de investigação jornalística, um verdadeiro serviço público aos cibernautas que se sentem, e que se prezam,  como aderi com muita fé  - por força de me sentir constantemente enganada - à luta contra o descaradíssimo clickbait.

Pois parece que afinal a Baleia Azul é só um enorme e perturbador elefante no meio da sala virtual.

Foi veiculado pela jornalista Anne Collier do website NetFamilyNews.org (http://www.netfamilynews.org/blue-whale-game-fake-news-teens-spread-internationally), que «estes artigos não são fidedignos e tratam-se de uma manipulação».
Diz o site que «A Polícia Britânica acabou por emitir um aviso sobre o jogo, uma ação que foi replicada por autoridades noutros países, mas a iniciativa foi criticada por estar a dar visibilidade a um 'hoax', uma informação falsa para enganar um grupo de pessoas, fazendo-as acreditar numa informação que não é real.»

Estamos entregues à bicharada.
E o pior é que já nem sequer sabemos em quem confiar.

  

MORRO

Morro de medo de deixar alguém para trás.
Quando me zango muito com as coisas, afasto-me de tal maneira delas que quando me viro nem sequer os meus passos vislumbro.
Depois, apaziguada, ou esquecida, relembro as coisas que fiz por perder e que (agora) me fazem tanta falta.
Volta e meia ponho-me a olhar para o espelho caduco, e pergunto-lhe como fui capaz de deixar escapar as coisas mais básicas da vida.
Umas calças Levis com botões, um Bomber Jacket com um forro quentinho, os meus patins super-sónicos, a minha prancha de windsurf, o meu cabelo cheio de brilho e sem madeixas...
Mas a verdade é que nada disto me faz falta como a falta que me fazem os amigos.
Quando ultimamente me punha a escrever e parava de repente, sem jeito e nem maneira de continuar, lembrava-me sempre daquela vez em que me fui esconder na varanda a chorar, muito aflita, por não conseguir lembrar-me do nome de um único filósofo.
Isto nas vésperas do exame de filosofia.
Passei um verão inteiro sem sair de casa, apesar dos dedos que incessantemente tocavam na minha campainha opondo-se a tanto estudo.
- Deixa esses gajos da mão! Estão todos mortos...
- Tenho de estudar. O verão não acaba ainda...
Nesse verão, quem sabe a quantidade de gente que não conheci, de gente que ficou para trás?
Acordei a chorar numa varanda aberta, virada a sul, um calor infernal, porque deixei ficar para trás a vida de tantos filósofos.
Conhecia-os tão bem como a mim própria, e depois, assim, como que uma bola de sabão que se fina em mil gotas, chorei-os a todos.
Morro de medo de deixar alguém para trás.
Não estamos nunca suficientemente preparados esquecer aquilo que foi.
Às vezes é mesmo preciso voltar atrás.

Não quero abandonar ninguém.
Quero ser aquela miúda simples, de calças de ganga Levis, que voava nuns patins.
Quero ser filósofa mas veraneante, loira mas feliz.

Estou mudada.
Não quero ficar para trás.
O verão não acaba ainda...

Estou muito contente por vos ter chorado a todos, e de me lembrar novamente de todos.
Peço desculpa por ter deixado o tempo correr assim.

3 de maio de 2017

AMÉM




Deixei passar a temática das vacinas.
Da baleia azul.
Do Salvador Sobral.
Da menina mordida por um cão.
Da Coreia do Norte.
Das eleições em França.
Da fotografia de Portugal visto do espaço.
Do Pesadelo na Cozinha.
Da mãe de todas as bombas.
Da escultura de Fátima da Vista Alegre.
Do atropelamento na luz...

Mas isto?
Isto é assim uma espécie de estrondo cultural.
A obra grande de Joana Vasconcelos está para Fátima como Medina está para Lisboa.
É tudo à grande e fé em Deus.

Cultura e civilização: quem vos dá a mão?

2 de maio de 2017

AH, LÚCIO...

"Tu bem sabes. Estou coberto de cicatrizes: no corpo, do ferro dos bárbaros; na alma, das incompreensões e desconsiderações dos romanos; na fazenda, de gastos abundantes, generosos e, por vezes tão mal entendidos... estou triste, amigos, estou desiludido, caminho para a velhice."

Mário de Carvalho, "Um deus passeando sobre a brisa da tarde", pág 43.

Este é Pôncio. 
Não pensem vocês que Pôncio é um enjeitado qualquer, um velho de folha caduca, um caminhante tudo-nada indignado com a vida, pedinchão de misericórdia.  
Não.
Os Pôncios da vida, quando atormentados pelo tanto que fizeram, mal ou bem, tendem para a coitadice e para a pedinchice. Mas são ainda, além de tudo, escravos de si, das suas demandas, das suas decisões, e teimam, porque teimam, em perscrutar quem ainda lhes oiça as palavras. 
É preciso dar a volta ao espírito maligno da preguiça, para que Pôncio volte a ser Pôncio, para que Pôncio volte a subir as escadas erodidas e que, acenando e sorrindo, percorra novamente aquele que foi um caminho benfezejo, apesar da estrada escalavrada.

Pôncio saberá fazer tudo de novo como um bom calceteiro, porque Pôncio (agora) sabe que mesmo coberto de cicatrizes, é preciso deixar tudo escrito, antes que 'sobrevenha o esquecimento'.  

Este é Pôncio.
Esta sou eu.