27 de janeiro de 2016

Xilre


O (nosso) Xilre quer deixar-nos, mas está muito enganado!
Há todo um manifesto aqui!
Junta-te a nós!

Idiossincrasias



Olham em frente e esquecem-se do que ficou para trás.
Andam centenas de pessoas a tinir, os chamados 'lesados da banca', para conseguirem reaver o que estes pulhas lhes levaram no bolso, e agora, como se não se passasse nada, como se os que subitamente ficaram sem um tostão também nada importassem, seguem e somam, isto é, seguem e somam dividas para os totós dos depositantes pagarem.
O NOVO BANCO diz-se ferveroso apoiante dos bonecos da bola, os 'selecionados' desta vida, e continuam empenhado em jorrar dinheiro para o relvado, para o mar de gente que se agigante nas bancadas de lés a lés, deixando os lesados a ver navios.
Se isto não é ter visão, então não sei o que será.
A terra está à vista, mas não passa de um grande e apinhado buraco.

25 de janeiro de 2016

Anormal




Foste para comprar o último da Elena Ferrante, e deste com os burros na água, não foi?
Que leviandade!
Como só tinhas 14 livros na estante, novos, por ler, achaste lá na tua cabecinha de ventoinha que se tivesses 17 a coisa ficaria mais compostinha, não é?
Não estás boa da cabeça!
E vais por os livros onde? Em cima da minha cabeça, é?
Andas na penúria natural do mês de janeiro e mesmo assim metes-te por caminhos apertados, mormente aqueles que ficam entre estantes intermináveis de livros com preços astronómicos na lombada?
Se estás a ressacar Amiga Genial por todos os poros, porque é que vais comprar coisas de Pintos Coelhos? E Kafkas e merdas ilusórias e loucas de Boris Vian? Para quê, se ainda no Natal te ofereceram um livro com 800 páginas que te dava para o ano inteiro?
A-n-o-r-m-a-l.
És uma perfeita anormal.
Cura-te.

O Polvo

No dia 08 de agosto de 2015, há mais de 7 meses, portanto, desloquei-me a um Notário lisboeta com o intuito de dar inicio ao processo de criação de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) de apoio à criança e à família.
Há mais de 7 meses, não sei se já disse.
Quando alguém pretende criar uma IPSS, seja ela de que natureza for, decerto que não o faz para ficar rico - para isso bastaria comprar um franchising de hambúrgueres gourmet  - mas porque durante a sua actividade profissional, ou social, verificou que havia uma efetiva (e gritante) falta de apoio a um determinado núcleo comunitário, e que para ajudar e para obter ajuda extraordinária, era necessária a entrada de capital estatal, organizado e urgente.
E o Estado Social existe também para essa finalidade, e como não é per si a Grande Muralha da China, está organizado de forma a garantir, através de terceiros, que essa ajuda é efetiva, suficiente, atempada, justa e necessária, permitindo que a iniciativa privada possa também ela ser estendida à população carenciada, tornando-a semi-pública.
É exatamente o que se passa: há iniciativa privada que também interessa à restante comunidade, há vontade de abraçar projetos que a todos beneficiarão, há pessoas em condições de prosseguir com os objectivos, e há urgência absoluta em fazer chegar as iniciativas à população.
E há o polvo.
O Estado Social está para o polvo como os tentáculos estão para os organismos que o compõem, e as ventosas para os colaboradores que neles trabalham. Se este animal extraordinário agir como todos pensamos que deve agir, com astúcia, rapidez, e inteligência, então o Estado Social é um espécime a ter em conta no equilíbrio do ambiente.
Acontece que há tentáculos e tentáculos, há ventosas boas e ventosas frouxas, e até a grande cabeça do animal perde por vezes a tineta, ficando nós sem saber se aquela massa disforme e mole que por ali vemos ao sabor das correntes, enorme e bela, é afinal um polvo ou uma alforreca.
A mim, saíu-me a alforreca, um animal perigoso, que envenena quem lhe toca e que de resto não serve absolutamente para mais nada senão andar a esfregar-se pelas pessoas, causando-lhes uma espécie incurável de urticaria.
E isto a mim já me está a dar comichões.
Para quem não sabe, as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) são primeiramente aprovadas pelo Ministério Público (MP), depois de um longo caminho que compreende, entre outras coisas, a leitura e consequente aprovação dos Estatutos que irão reger a atividade da Instituição.
Os Estatutos, documento que redigi com especial atenção e dedicação, de acordo com os meus conhecimentos sobre a matéria e baseados na interpretação da lei em vigor, foram enviados para o MP ler há mais de 7 meses, não sei se já disse, depois de ter pago ao notário 308,81€ de honorários, mais 277,00€ de certificados, publicações e registos, a pronto pagamento e do meu bolso, isto tudo, atentai, só para as ventosas do polvo me verificarem se os Estatutos estão de acordo com o que pensam os tentáculos e com as minutas que decorrem da cabeça do animal.
7 meses.
Nunca é demais referir que há crianças que começam a andar com esta idade, mas, e há sempre um mas, há ventosas que têm mais de 40 anos disto, mas que ainda não aprenderam a ler.
Nomeadamente Estatutos.

24 de janeiro de 2016

Falando agora de coisas muito sérias

Entendo que ao domingo vós quererdes é palhaçada não é?
Mas não pode ser.
Este blog não vive só de palhaçada, fotografias de artistas, e textos ronhonhó sobre as tangas do costume.
Hoje, domingo, vamos falar de coisas muito sérias.
Na segunda feira logo voltamos à programação habitual.
Ora bem.
Convido-vos a ler com bastante atenção estes pequenos excertos que retirei do suplemento do Público de sexta-feira, e cujos temas torturantes, fraturantes, saturantes, e prosaicos, tive o apelo de me debruçar.
Isto sim, é coisa séria.
Brinquemos.






Bom resto de domingo e até amanhã.

23 de janeiro de 2016

A vida dos médicos privilegiados

Sou médica interna. Sou médica daquelas que demoram muito. Não entupo urgências, porque não trabalho lá, mas deve estar muita gente à minha espera, na sala onde se espera. De certeza que pensam que sou “estagiária”. Não tenho carro, vivo numa casa alugada, pago as contas (às vezes em atraso). Trabalho, estudo, vivo em constante preocupação porque tenho que estudar mais, tenho de fazer relatórios e posters e apresentações. Vivo entre exames, artigos científicos e isso sim, trabalho, muito trabalho. Ao meu lado estão outros médicos internos. Raramente adoecem.. estão lá, ganham o mesmo que eu. Estou motivada, mas menos motivada, estou lá, mas às vezes penso que devia estar noutro sítio. Às vezes chego ao fim do mês à justa. No talão diz 1800… acho…, mas chega bastante menos à conta na CGD. Não sou especialmente ambiciosa. Nem especialmente poupadora nem gastadora. Compro roupa na Zara e móveis no IKEA (dos baratos). Tenho o apartamento alugado meio vazio, mas não faz mal porque passo lá pouco tempo. Tenho uma secretária de 1,50m de largura no trabalho, que está sempre muito cheia. Tenho o novo corretor ortográfico no computador, mas irrita-me. Vou à pagina da Ryanair quando estou pensar em férias. Mas cada vez penso menos. Não tenho animais de estimação, mas gosto de animais de estimação. De manhã acordo mais tarde do que devia, mas chego a horas ao trabalho. Vou a pé, porque vivo na baixa (isso deve ser um luxo). Estou inscrita num ginásio ao qual raramente consigo ir. Cada vez que abro o facebook vejo salários de políticos aos quais não sei atribuir significado. Depois vejo salários de médicos que não conheço. Às vezes leio os comentários das pessoas revoltadas com o que ganham os médicos, com o bem que vivem. Eu devo ser da classe privilegiada, porque sou médica. Não tenho carro, não tenho casa própria, não tenho um iphone, porque me parece excessivamente caro. Ganho 1200 euros. Tenho 30 anos. Matei-me a estudar na faculdade, tenho o trabalho em dia, mas não sou lá muito inteligente porque me esqueci de pagar a conta da edp. Na sexta-feira cheguei às 21:00 a casa (devia ter saído às 18:00) e tinham-me cortado a luz. Tenho de me organizar melhor. Na televisão não falam dos sacrifícios, não dizem que fiquei horas a mais a fazer o trabalho que estava a menos, porque sou lenta talvez… Deve ser isso. Não fui para a night porque estava esgotada. Dormir é uma das minhas grandes prioridades. Não vou muito ao cinema, nem vou aos eventos culturais de que gostaria. Não viajo muito, nem vou jantar a restaurantes caros. Sou médica… é verdade. Médica interna, jovem inexperiente. Daqueles que entopem urgências e custam muito dinheiro ao estado porque estão em formação… Deve ser melhor para os recém-assistentes que estão à espera do contrato para a semana há um ano… Ao longo do internato que vejo passar… só vejo as coisas piorar. Mas estou muito motivada, amanhã vou trabalhar.

Ana Cátia Morais no seu mandrionices.

22 de janeiro de 2016

Para quem gosta de comer (em Lisboa)

Para quem gosta de apreciar um bom prato, num restaurante de excelência, com vários garfos atribuídos, deixo-vos os vencedores do Lisboa à Prova 2015 através do blog Só Entre Nós.

Como sou uma tipa do mais reles que há, conheço dois ou três, vá, quatro, nomeadamente um que se chama Tasca Urso, e do qual gostei muito.
E de resto, enfim, uma pobreza.

- Mãezinha?
- Diz meu amor.
- Quando é podemos ser ricos?
- Não sei, pergunta ao teu pai que eu vou cozer as batatas.
- Mãezinha?
- Diz meu amor.
- Cozidas com o quê?
- Umas com as outras.

E agora a novidade do dia (hoje tenho pouco que fazer...)

Já chegou aos escaparates o Vol IV da Amiga Genial da Elena Ferrante.
Tou que nem posso.
Porquê?
Porque custa 20,00€ e 20,00€ é muita massa, sobretudo para quem acaba de mudar de casa e já gastou 3 subsídios de Natal, assim, de seguidinha, em merdas completamente estúpidas, nomeadamente todas.

Disseste Acrylic Amsterdam ??


É que nem vale a pena dizer nada sobre os benefícios de tão espantoso produto!
O resultado fala por si.
Desde que comecei a dieta do Acrylic Amsterdam que o meu rabo parece 30 anos mais novo, como podemos ver na imagem que disponibilizo mais abaixo.
(Belo cu, minha senhora!)
Lá em casa não queremos outra coisa.

Compre Já! Antes que esgote.

Com Amsterdam Acrylic, o seu rabo ficará um Deliric!


21 de janeiro de 2016

Hahahahahahahahahahahahaha

Utentes não pagam consulta nem exames nas urgências se forem ao médico de família primeiro, diz o Observador.

Se aquelas pessoas que morrem à espera de serem atendidas nas urgências, tiverem a infeliz ideia de ir primeiro ao médico de família, podemos chamar o fenómeno de ... transladação?
Tipo: morrem a primeira parte à espera (uns 3 meses) do médico de família, e depois vão morrer o resto nas urgências?

E estas ideias peregrinas (como os utentes aliás, que andam para cá e para lá a gastar as solas e o dinheiro nas deslocações centro de saúde-urgência só para não pagarem as taxas), têm em conta que as pessoas se enfiam nas urgências para serem medicadas (ou arranjar receita) porque não têm médico de família?   
Ou que as pessoas vão às urgências porque têm assuntos urgentes para tratar que os médicos de família não sabem tratar ou só trabalham uma parte do dia?

Ahh, já sei, é para não acontecer como TODOS os impostos em Portugal em que nos obrigam a pagar tudo a duplicar.  Pagamos os impostos através dos descontos no vencimento e do IVA das faturas,  para pagar serviços à população, e depois pagamos outra vez os serviços que supostamente já pagamos através de impostos.
Se fores duas vezes ao médico no mesmo dia, só pagas três vezes em vez de quatro. Pagas os impostos no vencimento, pagas as taxas moderadora no CS, pagas os exames e assim já não pagas a urgência.

Líricos.

DIVULGAÇAO

MAAT – O NOVO MUSEU DE LISBOA




O novo edifício têm a assinatura do atelier londrino Amanda Levete Architects, e será incluído no campus da Fundação EDP, um espaço de 38.000m2 junto ao rio, do qual também faz parte o Museu da Eletricidade, escreve Mariana Magalhães no editorial de apresentação.

No seu programa inaugural, o MAAT irá apresentar Lightopia.
Para os apaixonados da iluminação, vai ser um fartote.
Estou que nem posso.

A ressaca

A genética é lixada.
Quis a vida dotar-me de um gosto especial por amigos e vinho tinto.
E mesas com cadeiras.
E pão.
E queijo.
E vinho.
E vinho.
E vinho.
Bom. Vinho bom.
Quis a vida dotar-me de amigos bondosos.
Amigos do peito e das costas.
Amigos-irmãos.
Bêbados como eu.
A genética é lixada.
Que horas são isto? Hic.

20 de janeiro de 2016

O senhor é soldado? Não, sou feito de uma peça só!

É uma piada antiga no seio dos magalas.
E agora, já mais velha e mais sensata, descubro que somos todos soldados, na luta, na guerra, porquanto nenhum de nós é feito de uma peça só.
Pedaços.
O mundo em pedaços, o amor aos pedaços, a vida despedaçada.
É mau?
Sim, é mau para quem é um teórico das letras e não se ocupa das artes.
Eu ocupo-me, sempre que posso, das artes, dos pedaços dos outros, das guerras alheias.
Às vezes passam por mim apenas as pernas das pessoas, sem o tronco, onde está o coração, e sem os ombros, onde jaz a cabeça. São pessoas, que são, mas incompletas, infelizes, teóricas e antipáticas.
E sou capaz de me entreter com essas pessoas que passam incompletas, só de lhes olhar para os sapatos.
Um pedaço de mim teima em ser de uma peça só, mas ainda assim não me importa de ser soldado, soldada.
Porque me desfaço de amor pela arte, e esses cacos, ohh, esses cacos, apanhai-os soltos do chão.
Só isso me trás inteira.











    http://federicouribe.com/

Escola boa / Escola má

Desde há muito que venho discutindo com os meus pares a diferença entre a escola pública e a escola privada.
A escola é o espelho das famílias. Não é preciso vasculhar nas gavetas ou ser-se mosca para perceber o que se passa nos lares portugueses. Basta estar com alguma atenção às notícias e à quantidade de vezes que os professores alegam problemas psicológicos para meter o velhinho 'atestado', para perceber o abalo que as famílias impõem à escola.
E se as famílias são alvo de massacre, austeridade e falta de apoio para sair da pobreza e da precariedade, e se as famílias experienciam a cada período escolar a mudança das regras do jogo, e se a cada dia há um problema novo para resolver em casa, e que passa também pela total falta de decência do Estado pela instituição família-escola, então a escola e todo o ambiente escolar vai ser isso mesmo: massacrante, austero, insuportável,  e cheio de pobrezas localizadas e generalizadas.
A escola passa a ser sobretudo o hospedeiro da doença má, que abala as famílias.

A minha opinião é muito objetiva embora totalmente quinada pela minha experiência profissional e pessoal: se a população escolar for fraca, se for maioritariamente delinquente, se provier de famílias desajustadas e de bairros problemáticos, se a família for de pouca ou fraca instrução, descrente das possibilidades  da frequência escolar, e patologicamente descrente no próprio futuro, então a escola torna-se um espelho disso mesmo, e por melhores intenções que tenham os professores, ou o sistema por eles, pois, limito-me a dizer: não há heróis.

Fui acérrima defensora, contra a minha mãe, de que uma criança educada no ensino particular teria mais oportunidades na vida, melhores exemplos, colegas mais educados, pais preocupados, corpo docente mais estabilizado e responsável, sobretudo por terem a possibilidade de construir dentro da escola uma verdadeira carreira profissional, ao invés de andarem a calcorrear o país à procura de uma qualquer colocação, sinistros profissionais da estrada, dos quartos alugados e das filas desamparadas do desemprego.

Não vou dizer de caras que mudei de opinião quanto a isto. Continuo a ter uma visão muito romântica do ensino privado, continuo a achar que há famílias que dão o tudo por tudo para colocar os filhos num ensino mais 'fiável', com mais mérito, com menos problemas ou 'outro tipo de problemas', só porque apostam a própria vida na formação dos filhos, que podem ou não vir a formar-se.
Mas isso é outro bico de obra.
Reconheço no entanto a máxima qualidade a algumas escolas do ensino público, reconheço até muita qualidade em algumas escolas públicas rarefeitas pela degradação familiar, porquanto muitas delas continuam a fazer um ótimo trabalho com uma população escolar quase incapaz de trabalhar.

Sou Assistente Social e [por isso] assisti durante anos à degradação das escolas públicas dos bairros sociais, sobretudo as escolas de intervenção prioritária (TEIP).
Mas aqui, é preciso dizê-lo, as escolas eram 99% problemas sociais, o que escamoteava, e muito, a restante população escolar que se ia safando com algum aproveitamento escolar, no meio da gravilha poeirenta e lamacenta do pátio.
Depois, quando abandonei a periferia composta por edifícios fabris abandonados, e muito absentismo anuído, sobretudo no seio de algumas comunidades, para regressar definitivamente ao meio urbano mais rico, deixei para trás uma população esfrangalhada pela reprodução social de pobreza, e tive acesso a uma noção intermédia de escola, ou seja, fui capaz de perceber aquilo que a minha mãe sempre defendeu.
A verdadeira 'escola pública', o local onde nos dão todas as ferramentas para a sobreviver às idiossincrasias da vida e dos outros, mesmo que essa ferramenta seja um imenso compêndio sobre 'Como escapar ileso à escola pública'.
E no fundo pouco mais há além disso, nesta escola pública de hoje. Um enorme livro cuja única história se repete, e repetirá: salve-se quem puder, a caminho do ensino privado.

Na linha final da minha aventura pelo Serviço Social de intervenção, fui destacada para uma escola de currículos alternativos, situada no meio de um dos bairros mais chiques de Lisboa, com o objectivo de reduzir o abandono escolar, detectar situações de risco familiar, e convencer as famílias que a frequentar a escola é a única luz tremeluzente no fundo do buraco.
Impressionante.
Vi de perto a multiplicidade, a heterogeneidade, as diferenças nítidas entre classes sociais dentro da sala de aula, agora como profissional. Foi uma espécie de afastamento do centro da batalha, onde me encontrava quando era aluna, para me posicionar acima dos conflitos, e ver mais nitidamente o 'cenário de guerra'.
Afasta-te se queres ver melhor.

A escola dividia-se no pátio em dois grupos distintos, numa espécie de segregação natural de classes, cada vez mais gritante nos dias de hoje: o gueto criado pelos alunos provindos dos bairros sociais da Liberdade e Serafina, barulhentos, quezilentos, andrajosos e velhos para a idade, e as meninas do bairro chique, muito betinhas, muito compostinhas, com roupas de marca e telemóveis topo de gama, que combinavam festas de aniversário em restaurantes nouvelle cuisine.
Tentava perceber se a 'técnica' muito em voga na altura - também a nível habitacional (veja-se por exemplo o caso do Bairro Padre Cruz onde casas de 300 000,00 € envolvem um bairro social paupérrimo) -, daria frutos positivos por osmose, isto é, se os bons meninos e meninas do bairro poderiam contaminar de bons exemplos os meninos de ranho na venta, filhos das mães que se ausentavam de casa, à noite, para trazer o sustento do Monsanto.

Nada.
Não havia qualquer espécie de contaminação positiva. Os meninos da Serafina continuavam nos currículos alternativos, abandonando a escola à primeira oportunidade, e os meninos do bairro continuavam progredindo com os seus estudos, muito incomodados, muito queixosos dos outros, barulhentos, quezilentos, andrajosos e velhos para a idade, que lhes detinham a matéria ininterruptamente e os faziam perder as oportunidades universitárias.
Diria que a única coisa que crescia naquela escola era a tensão entre os alunos, os assaltos ao portão, diários e instancáveis, e os problemas graves de autoridade dentro da sala de aula.
E muitas mães-leoas, gritando impropérios aos professores, com as mãos postas nas redes, sobre os maus resultados dos meninos pobres.
Isto é a escola pública.

Por um lado uma displicência, um azedume, uma raiva enorme perante a obrigatoriedade de convivência. Estou certa que se pudessem, a meninas do Bairro zarpavam no primeiro barco que lhe aparecesse à frente, e faziam-no amiúde, é certo, fugindo para o ECI, matando não as aulas mas os intervalos.
O oposto também é verdadeiro. Aqueles miúdos que nunca se identificaram com as regras do sistema de ensino, criavam laços de inimizade, arranjavam conflitos com quase todos os alunos de outras áreas de habitação de complexos de inferioridade e de desesperança.
A comparação era frenética e desoladora.
Na escola preparatória do meu bairro, e só no ano passado, tivemos notícia de dois casos de abuso sexual. Os marmanjos do bairro social atacaram as meninas do 5º ano, cheias de medo, com as barbies na mochila. 
Isto é a escola pública.
Isto é a vida privada.

A escola pública, atenta a este progresso negativo nos rankings escolares, esforça-se por afastar as famílias mais problemáticas, esforça-se por inventar delimitações urbanisticas que evitam que os meninos do Padre Cruz debotem a escola de Telheiras, ou que os meninos da Alta de Lisboa sujem de lama a Escola do Lumiar.
Esforça-se sobretudo em afastar os neons pisca-pisca que lhes pairam sobre a cabeça, qual espada.
Assistimos, por tudo isto, a uma cada vez maior formação de getos escolares, a situações onde o surrealismo e a demência vencem a humanidade, onde se fazem turmas só de ciganos, onde se identificam escolas TEIP onde só falta o neon a piscar dia e noite por cima do portão: ATENÇÃO! Escola faminta! Só se aceitam alunos precários. Obrigada.

E na verdade é isto que se pega por osmose no mercado de trabalho, onde um adulto inteligente é preterido a uma boazuda burra. Onde um profissional experiente com mais 20 anos é preterido a um miúdo que não sabe fazer uma cama, lavar uma loiça, fazer um relatório de 5 páginas sem dar 180 erros. Porque a imagem é tudo, e o que temos dentro de nós é nada.
Não há por onde escapar a esta segregação social, e é por aí que vamos: poluindo a família, a escola e por fim todo o ambiente.
Morreremos de aparências, dando de comer aos animais doentes.

A escola má é somente o resultado das más políticas de apoio às famílias e ao crescente esmero por parte do Estado em proteger cada vez mais os ricos, espezinhando os pobres.
Quisessem eles transformar todas as escolas más em escolas boas e o ensino privado não criava estas raízes falsas por todo o lado, dando uma noção errada de que só o que é privado é bom, fazendo-nos crer que as quimeras educacionais a que temos direito estão-nos vedadas para sempre.
A escola má existe porque as famílias estão completamente atulhadas em problemas, e é preciso notar que os professores também têm o mesmo tipo de famílias.
Quando alguém contrata um Ministro que foi um menino bem de uma escola privada, que raio vai ele perceber das importãncias da vida de uma família pobre?
As elites não sabem governar porque não conhecem a parte bolorenta do pão.
Esta vida não é só queijo.

Continuem a massacrar o ensino público com Ministros cegos e surdos aos problemas das famílias, meninos sem experiência de vida, bonitinhos, muito cultos, cheios de pós doutoramentos, mas totalmente incapazes, continuem a dar aulas em contentores para conseguirem pagar as mordomias da escola privada e dos colégios bem, e qualquer dia hão de vir dizer que voltámos ao tempo em que só estudava quem tinha dinheiro.
E eu vou-me rir muito de ver os ricos-estudados a trabalhar, quando os pobres que trabalham não souberem uma letra do tamanho de um comboio.

19 de janeiro de 2016

O meu blog é mais moderno que o teu #1

Parece que houve uma explosão de mulheres lavadeiras por essa bloga fora!
Que horror, se eu agora me punha para aí a lavar a roupa, a dar cabo das unhas!
Em primeiro lugar armei-me cavaleira, como fez a Filipa de Lencastre aos filhos, e decidi vender a minha máquina de lavar a roupa.


Aquele mono no meio da minha cozinha? A gata quase-quase a partir o pescoço de cada vez que aquilo fazia a centrifugação longa, com a cabeça à roda-à roda, cada vez mais maluca? Milhares de euros em energia, água e porcarias que matam o ambiente?
Quéláisso? Não estais boas da cabeça!

Vou comprar ISTO!



O que é?
É uma máquina de lavar portátil que lava a roupa através de ultra-som.
O dispositivo pode ser usado em qualquer recipiente com água e a utilização de detergente não é obrigatória, já que o ultra-som é capaz de limpar sozinho.
É silenciosa, custa 100 € e “consome 80 vezes menos energia do que a máquina de lavar vestuário tradicional”. E sabem quem teve esta ideia? Um português! Nem mais: André Fangueiro. 

Entretanto, enquanto o pau vai e volta, folgo as costas aqui, neste pedaço de céu mesmo à porta de casa!



Por mim podem chover navalhas até ao verão, que nunca mais!! hei de vir trabalhar com a porra da gola alta molhada...

DIVULGAÇÃO

Nos dias 30 e 31 de Janeiro, no Teatro São Luiz, vale a pena sair de casa para assistir a múltiplas e interessantes atividades para miúdos (e graúdos) do maravilhoso evento:

Estar Em Casa


Eu e a ML vamos lá estar, claro, no AULAS EM CASA, para ficar a saber o que é o amor, o que é a poesia, a maluquice, e o que significam as palavra, que deve ser maravilhoso, e no PINTAR PAREDES, onde poderá desenhar com dois dos melhores ilustradores portugueses, a Catarina Sobral e João Fazenda. Não vamos perder!

ATENÇÃO À LOTAÇÃO!!

Sinopse

30 E 31 JAN
EVENTO

Estar Em Casa
Anabela Mota Ribeiro e André e. Teodósio
Sábado e Domingo – Todo o Dia
Vários Locais do Teatro
Uma Produção São Luiz Teatro Municipal

PROGRAMA ‘ESTAR EM CASA’ - VER MAIS EM BAIXO!


15 de janeiro de 2016

Posso dizer?

- Das duas vezes que tentei ver a série Terapia, um must see da atualidade cá do burgo, adormeci.

- De todos os 5 para a meia noite que vi até hoje, só tive realmente prazer em ver aquilo quando introduziram no elenco a Filomena Cautela. Por mim, tiravam os outros 4, e ficava só ela para sempre.

- Não vou votar no Prof. Marcelo Rebelo de Sousa para Presidente, apesar de lhe ter a mesma estima que tenho pelo Hermán José. São os dois grandes artistas da televisão e da cassete pirata, e por isso mesmo não devemos tira-los do seu elemento natural. Como todos sabemos (quando vemos por exemplo o Hérman a cantar), dá merda.

- Já cá faltava, para dar inicio ao ano farmacêutico de 2016, uma notícia que arrasa com a Canabis, e de caminho calca mais um pouco toda e qualquer intenção de legalizar as drogas leves ou de as aceitar para fins terapêuticos à séria. Durante séculos pessoas fumaram, comeram e beberam toneladas de Canabis, e como podemos ver pelo exemplo do Mick Jagger ou do Slash (autênticas múmias embalsamadas em Canabis), está tudo legáu. Ou muito me engano ou o que fez mal às pessoas foi tudo menos a pobre planta.

- Enquanto o António Costa não introduzir as mesmas benesses para os funcionários do privado como as que se prepara para devolver aos funcionários públicos, não volto a ser de esquerda. Recuso-me a aceitar que as pessoas que trabalham para o Estado possam ter a possibilidade de ser ajudadas duas vezes e os outros nenhuma.

-  A protecção civil avisou vermelho forte para a zona do Açores. Fecharam todos os serviços públicos da região e a ninguém foi permitida a passagem para as zonas perto do mar. Menos à TVI que atracou o chaço praticamente em cima do olho do Alex para nos dar as notícias (em primeira mão) sobre chuva e vento ... (coisa tão interessante como os debates da Maria de Belém a dizer que 'foi tudo dentro da lei' durante 3 horas), colocando inclusive a vida dos jornalistas em perigo. 

- Não suporto mais ouvir os jornalistas a chamar Tino de Rans ao candidato Vitorino Silva. É estúpido, preconceituoso e demonstra bem a soberba da profissão.

E a ternura que os nossos animais domésticos nos concedem quando chegamos a casa?






Chega a ser enternecedor, aqueles olhos rasgados, as orelhas em posição .... é por isso que estou sempre numa grande ansiedade para chegar a casa e abraçar a minha gata.
E fico super feliz, porque só demonstra que ainda tenho os braços. 

Já cheguei ao Marquês

E vocês?


14 de janeiro de 2016

Cecília

Não estou boa da cabeça.
Andei o dia todo em conversações com inúmeras pessoas, agências de viagens, mails para trás e mails para a frente, preços disto, preços daquilo, para a marcação de uma viagem super importante a Itália - Cecília...
Oh pá (diz-me uma colega que passou de raspão pelo meu computador): quem é afinal essa Cecília? É da tua família?

Que horror!!!!

Mi pasion es el retrato

Poderia ser uma frase minha, se a fotografia não estivesse para mim depois da escultura, mas não é.
É a frase de abertura do site do fotógrafo Xavi Moya que decidiu fazer, também ele, uma sessão de fotografia com pó e corpos nus.
Chamou-lhe star dust, aliás chamou-nos a todos Star Dust, e julgo, apesar da minha deficiente capacidade de critica de arte, que está divinal.

Patrões podem ver a cor das cuecas dos funcionários

Decisão é do Tribunal dos Direitos do Homem, e foi motivada pelo caso de uma padeira romena despedida após a sua empresa ter descoberto que utilizava as cuecas amarelas da avó, e até aqui tudo bem, todas enfiadas no rego do cu, porque a avó era adepta da cueca-saco-de-pão, coisa totalmente apoiada pela empresa panificadora, mas a neta andava a desvirtuar a coisa.
O patrão, com diversos direitos sobre os seus funcionários, foi meter a mão na nalga da rapariga, tendo descoberto o sucedido. 
Foram logo chamados os advogados da panificadora e colocadas todas as padeiras em cuecas para determinar se se avançava para o despedimento coletivo ou se era apenas um caso isolado.
Felizmente era um caso coletivo e o patrão livrou-se da porra da panificadora de uma vez.
Um caso com final feliz, para gáudio do Tribunal dos Direitos do (fim do) Homem (em cuecas amarelas).

Toda a notícia aqui, neste monte de esterco vomitado pelo TDH.

13 de janeiro de 2016

Isto ainda agora começou

Ahhh, a tua mãe faz anos no próximo sábado não é? E onde é a festa?
Oras, lá em casa, que pergunta!

A festa de aniversário da minha mãe é no próximo sábado... ora, três vez sete vinte e um ... contam exatamente 17 dias depois de me ter mudado.
Não tenho candeeiros na sala, aliás, dos tectos pendem duas lâmpadas sinistras e tremuluzentes que volta e meia se desligam fazendo a gata ficar muito quieta e de pescoço esticado a olhar para elas.
Não tenho cortinados. Isto parece uma coisa muito estúpida para ser alvo de preocupação, pois que o que interessa é encher o bandulho de porcarias várias, e ninguém vai estar preocupado se as janelas estão vestidas ou não.
Não, não é.
Janelas sem cortinados numa sala sem candeeiros fazem lembrar aquelas garagens onde dão grandes sovas aos gangsters.
É tudo inóspito, frio e horrífico. 
Não tenho quadros nas paredes. Estou num desgaste imenso de me ver privada da minha arte há precisamente 17 dias. Os meus quadros são as minhas fugas, são o local para onde me ausento sempre que me sinto tolhida por conversas que não me gabam o cozinhado.
- Este arroz está péssimo Uva!
- Olha ali para aquele quadro, consegues ver a subtileza do artista quando traça aquele risco?
E é assim que me safo. Sem os meus quadros estou presa dentro da minha própria casa sem ter por onde escapar. Já há muito que deixei de caber nas tomadas eléctricas devido ao excesso de peso, e estou sem opções para me esquivar da minha sogra, que também vai lá estar, e que de resto não gosta de nada do que eu cozinho.
Onde estão os copos de pé alto? E o novo serviço de jantar que comprámos no OLX por 60,00€? Estará dentro da caixa das mercearias feito em fanicos? Estará com certeza, que oiço tilintar cacos quando passo por uma certa zona da casa.


Ahhh, a tua mãe faz anos no próximo sábado não é? E onde é a festa?
Qual festa?
Aliás, qual mãe?
Não sei de nada. Tratem vocês disso que eu estou cheiínha de dores de cabeça.

 Imagem daqui!

12 de janeiro de 2016

Ainda não temos os roupeiros

Tenho a impressão que enquanto não tiver a minha roupa toda arrumada, as peúgas fora da gaveta dos cintos, os cintos desenleados das escovas do cabelo, as cuecas na gaveta dos panos da loiça, vou-me sentir-me tão em casa como se estivesse temporariamente a viver num apartotel ranhoso do Algarve, numas ridículas férias de inverno.

Hoje em dia as minhas manhãs são uma autêntica caça ao ovo da Páscoa, só que o ovo são as meias pretas, a camisola verde de botões, o vestido azul-escuro de malha, os sapatos cinzentos com os berloques, ou o cinto prata da fivela quadrada.
Viste a minha, viste o meu, é a frase favorita do casal, sendo que hoje mudei de roupa duas vezes porque no primeiro outfit não consegui encontrar o casaquinho roxo de malhinha, e no segundo corri tudo à procura das camisolas interiores de decote em V, e nada.
Ora, tudo isto é triste e tudo isto é tempo perdido, e que eu saiba, o preço por metro quadrado de tempo está mais caro do que o barril de petróleo no tempo em que emigrou toda a gente para Angola.
Não fui ainda capaz, apesar de apregoar aos 7 ventos que me mudei quase para dentro do escritório, de me despachar a tempo e horas, por um lado para usufruir do prazer inigualável de ir trabalhar nas calmas, sem o coração a bater na boca, o telefone desalmado a tocar,  uma sala cheia de marmanjos à minha espera para a reunião inútil da praxe, e eu sempre a última a chegar; ainda não fui ainda capaz de ir caminhando calmamente, abanicando a mala de mão como uma alegre e despreocupada juvenil, parando aqui e ali ao longo da Avenida, ora para ver os transeuntes mal vestidos, as velhas a fumar cigarrilhas, ou os arrumadores a fazer carteiras.
Estou tão, mas tão desaustinada com o facto de ainda não ter os roupeiros prontos, para acabar de uma vez com estes nervos matinais por não encontrar metade da minha indumentária para ir trabalhar, que estou prestes a cometer uma loucura.
E por Deus!, acabar com aquele eco insuportável no quarto, que me faz parecer que tenho dois maridos em vez de um.
Help me, que eu estou capaz de mudar outra vez para o subúrbio. 

11 de janeiro de 2016

Passa a bola

A Bola de Ouro deveria ter sido entregue ao menino de Ouro.
Mas não foi.
E é pena e é estúpido, porque se o troféu é individual é para premiar um jogador, não entendo como é que foi atrubuída a um anão que passou grande parte da época coxo ou com cólicas renais, e claro está, sem jogar, já para não falar da época espetacular do Ronaldo, talvez a melhor de sempre.
Se é para premiar em condições e com idoneidade, então tenham bolas e entreguem os prémios a quem os merece vencer.
Isto assim é que não.
Estou mesmo a ver quem ganha o melhor jogador.

Tudo por causa da pila gigante do Ronaldo, (des)arrumadinha dentro dos calções, lá na estátua da Madeira.
Há homens que não podem ver nada pá.
Invejosos.

Camaleão



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