30 de dezembro de 2014

BOM ANO 2015 !!!!

Antes de começar, gostava muito que vissem este pequeníssimo, mas muito interessante vídeo. 
Não demora nada, nadinha, e é tão bonito. 



A essência que retiro destas imagens é exatamente a mensagem que gostava de deixar a todos vocês neste ano novo que aí vem, destemido, sem questões, prenhe de fulgor, como são sempre todas as coisas novas que nascem com a força natural da vida, sem mácula, sem defeitos.
Como o SOL.
Muitos de vós podem achar que a passagem do ano é apenas uma data, que é, mas por ser um início, abre-nos a espetacular oportunidade de começar de novo, fazer de novo, fazer uma pilha de coisas novas, um pé de feijão igual ao do João de coisas novas, para que o Universo nos retorne de igual forma, novas coisas, boas-novas. 
Gostava muito que vissem nascer este sol brasileiro, que desponta no mar, tão diferente do nosso que morre no mar, para que ele possa ser um estimulo para este novo recomeço, para que ele seja enfim a metáfora da esperança, da vontade e do acreditar, pois que o sol de nascer, e altear, ali e em qualquer lugar, com a ajuda de uma viola, de uma mãe, de um amigo, de uma viagem, de um livro, e de repente, sem que nada o faça prever, uma menina de vestidinho branco, um emprego, uma cura, um filho, nos surpreenda num abraço e dance connosco ao som da musica da vida.

A Uva Passou por vós.
Vocês passaram por mim.
Seguimos juntos mais um ano?

BOM ANO!!!!
e obrigada a todos.

29 de dezembro de 2014

Festival da Canção

Ando cá desconfiada que tudo o que é miúda, ou miúdo vá, já passou pela febre do 'Festival da Canção'.
E não é só o andar desconfiada; é que posso jurar, depois de aturadas pesquisas, que isto é efetivamente uma transmissão genética que se dá em certas células familiares. Da mesma forma que se transmite a cor do cabelo, assim se transmite a febre.  
E que febre.
Para que possam acompanhar e certificar as minhas últimas conclusões sobre a febre, lembrem-se lá das figurinhas que faziam em pequenos. Quem de vós não foi já uma Tina Turner em potência? Um Elvis em estado embrionário?
Quantos de vós não tiveram já um público nuclear constituído pelos pais e irmãos, ou tios, ou o que aparecesse lá em casa, que sentados na mesa da cozinha ou no sofá da sala, ao serão, escutavam com aquela cara embevecida de sobrancelhas derrubadinhas, o grande-artista, bailarino, contorcionista (às vezes com uma produção visual muito elaborada, outras vezes só de pijama) que agarrado ao bibelot, à caneta parker, à escova do cabelo ou à caixa de óculos do pai, cantava? furiosamente uma música dos Imagination ou de qualquer artista que a mãe ouvia ao sábado de manhã, num inglês sui géneris, muito apreciado, mas pouco entendível?
Todos não é? Pois... como eu.
Cantava amiúde na cozinha, onde primeiro apresentava a minha própria pessoa como fazem as apresentadoras, e depois entrava de rompante na sala ou em qualquer canto onde houvesse plateia. Toda a minha mini-carreia carreira artística culminou no dia do meu casamento, em cima do balcão do bar, agarrada à liga.
Bom.
Dizia eu que isto se transmitia, não é assim?
Desde que me enfiei numa loja de música, armada em erudita, em cultural, em diferente, em mãe que não atafulha a sua criança em brinquedos deficientes, para comprar o presente de Natal da M.L. gaiata pequena, que já não sei onde me esconder.
Agarrou-se-me a miúda à viola, encarnou numa tal de Violetta, e é o dia inteiro no pior Festival das Canção de que há memória na família cá do burgo.

Ele:
- Eu não te disse que o melhor era teres comprado o Hotel das Pinypon? Pelo menos no hotel as bonecas quando é de noite, dormem...


Mas é tãaaaaaaaoooooo lindinha.
Calhando ainda compro uma para mim, para fazermos um dueto.
Advogados para tratar do divórcio não me faltam....

28 de dezembro de 2014

Trabalhos de Casa ou uma Carga de Trabalhos?


Autor: Uva Passa Blog para UpToLisbonKids®
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 imagem capa@instituto reintegrar
  
SOLENE   
1. Feito com pompa e aparato; 
2. Que impõe respeito.

Há palavras que fazem mais sozinhas do que frases inteiras, todas juntas. 
É o caso. 
O adjetivo ‘solene’, por ter em si duas derivações opostas, é o que mais se assemelha à atualidade do nosso mundo escolar, isto é, duas formas de agir, e de reagir, dentro do mesmo conceito. 
Respeito e aparato. 
O mesmo significado, dois sentidos diferentes.

Assim vai a nossa escola, baralhando tudo. 
Pais e professores, dois grupos inseparáveis na formação das crianças enquanto indivíduos, duas pedras basilares que contribuem em pé de igualdade para o seu desenvolvimento, são muitas vezes a causa e o efeito que transforma aquilo que deveria ser importante, calmo e majestoso (solene) num aparato estridente e confuso que nos funde a todos, educadores e educandos, numa espécie de anel apertado de regras e deveres que a todos desgasta e consome, causando um atrito que faz separar os grupos que mais se deviam unir. Cresce a distância entre aquilo que é o papel da escola e aquilo que é o papel da família, sendo cada vez mais visível a mistura de papéis, e a confusão das crianças. 
Quero com isto dizer que, da mesma forma que os professores foram confrontados com um aumento da permanência das crianças na escola, também eu sou diariamente confrontada (para não dizer obrigada) a desenvolver tarefas escolares que apesar de serem da minha filha e pertencerem ao espaço da escola me são servidas por altura do jantar como se fizessem parte do meu menu diário. Na verdade sinto-me cada vez mais refém da vida escolar da minha filha, e posso mesmo afirmar que a nossa relação se vem deteriorando cada vez mais, por razões totalmente impostas pela escola.
Sinto-me verdadeiramente baralhada com este método impositivo e creio não ser a única.
Os trabalhos que os professores mandam para casa, imensos, diários e repetitivos, que não acrescentam em nada à aprendizagem ou à evolução escolar da minha filha - isto se pensarmos que está 8 horas dentro de uma escola com o professor, e não lhe chega! - vêm ocupar um tempo que é meu
Ora se a criança necessita dos dois grupos basilares (escola e família) para se fazer enquanto indivíduo, há aqui uma notória usurpação por um dos grupos nessa educação, e como a balança pende totalmente para a escola, o desequilíbrio surge naturalmente na família. 
A escola impõe-se à família através dos TPC´s, e isto é desrespeito, quando deveria ser solene.

Oiço dizer que as crianças são mal-educadas. Pois são. E serão. A razão radica tão-somente no tempo de qualidade que a criança tem com a família, que se vê tão diminuído, tão escasso  que é quase imperceptível na identidade da criança. O facto da criança ser obrigada a dar continuidade aos trabalhos escolares em família, é como se fosse também obrigada a trabalhar e a interiorizar os preceitos da escola, sem descanso, tornando-se prisioneira do seu próprio desenvolvimento, prisioneira do saber académico. 
A minha filha deveria ter o tempo que lhe resta, o final do seu dia, para absorver a educação filial, dos afetos, das brincadeiras, dos ensinamentos, das emoções, mas não, a minha filha chega a casa para continuar os ensinamentos da escola. Algumas, muitas, ainda se vêem confrontadas com mil atividades extra-curriculares, a ginástica, o judo, a música... a meu ver enganosas, porque são também elas escolas de atividades, escolas com regras, com professores.
Além de ser excessiva esta espécie de formatação académica, a escola está a cometer um grande e perigoso erro: rouba-me o tempo e enfada e satura a criança, que a curto prazo pode criar anticorpos contra a escola e vir sofrer de falta de criatividade, isto é, falta de liberdade para brincar, tempo para pensar, tempo para si enquanto indivíduo, impedida de estar sozinha, enfiada que está num meio coletivo, numa aprendizagem unilateral, pejada de números e letras, de regras e de secas monumentais. O meu tempo de mãe é-me assim roubado por três composições, quatro tabuadas e contas ambíguas de somar.

E é aqui que entra o aparato. 
Porque eu disparato!
E disparato com a miúda, que não sabe escrever como eu, que a cada palavra apaga, a cada conta erra, porque são dez e meia da noite e o texto ainda vai a meio. E eu tenho o saco cheio. E só me apetece é ralhar com a professora, coitadinha da senhora, que até é minha amiga. 
Como disse lá atrás, sinto que a escola está a educar a minha filha, mas não só. A escola com a sua 'diz-que-é-uma-mania' de mandar trabalhos para casa, especialmente desses travestidos de datas festivas que nos obrigam a verdadeiras noitadas de volta de postais, cartolinas, chapelinhos e abóboras, e com a sua rocambolesca teoria de que só assim se consegue que os (irresponsáveis) pais desenvolvam atividades em conjunto com os filhos, está no fundo a dar palpites e a impingir-me um tipo de relação que não quero ter com a minha filha, e vou mais longe, está a tentar ensinar-me como devo relacionar-me com ela. 
A escola, ao tentar unir os pais aos filhos, com cópias e ditados 'inocentes', está sim a separá-los, e ainda mais da escola. Desde que a minha filha começou o seu percurso escolar, há três anos portanto, que tenho escola por todo o lado. Escola em casa, escola no trabalho, escola no verão, escola na Páscoa, nas férias grandes e no Natal. É escola a mais. Eu não quero trazer o meu escritório para casa, como também não quero os trabalhos da escola em casa. Eu não quero composições ao fim de semana e tabuadas nas férias. Eu quero ter a minha filha só para mim, e tenho direito de a ter só para mim.
A escola, que tanto se queixa da falta de tempo para preparar aulas, deveria ter em conta que os pais também trabalham o dia inteiro, e vamos lá ver: se não compete à escola a educação parental, porque me há de caber a mim a educação e os ensinamentos escolares? 

Bem sei o que muitos vão dizer: que uma conversinha de pé de orelha deixava a professora nos eixos. Mas não, porque a professora segue as regras que aprendeu também ela, enquanto profissional. Os TPC´s muito embora estejam quanto a mim completamente desenquadrados da realidade familiar, e até da atualidade educacional, são parte integrante dos conteúdos programáticos e está totalmente (ou quase) enraizada na cultura do 1º ciclo. Além do mais, a professora pode não aceitar que uma mãe lhe imponha os seus métodos, como eu, que também não aceito que ela me imponha os dela. Não considero por isso o professor como sendo o único ator responsável por este mau teatro. Também ele, enquanto profissional foi motivado para fazer desta forma, ou o que aprendeu transformou-o desta forma.
Às vezes penso que os professores que mais se dedicam a este método, ou são mais velhos (daqueles dos primórdios em que todas crianças saíam às 13h e tinham a tarde tooooda livre) ou são solteiros e sem filhos e não entendem a difícil dinâmica familiar.

E os outros pais? Que dizem eles? 
Há pais que podem proporcionar aos filhos o tempo que eu não tenho? Uma minoria.
Mas há pais em casa o dia todo? Sem dúvida.
Há pais em casa às seis da tarde que podem fazer estes trabalhos? Há, mas não sou eu, e o mais engraçado é que a minha filha também não.
Então e não há nenhuma alminha que ponha cobro a isto?  Com tantas vozes que se levantam?
Já pensaram que há pais analfabetos que não sabem ler uma letra do tamanho de um palácio? A estes é-lhes 'perdoado' o trabalhinho pós-laboral?
Já pensaram que há avós velhotes, que muito já fazem eles, quanto mais ler intrincados enunciados e resolver contas e análises de textos.
E os métodos atuais tão diferentes dos nossos?

Da mesma maneira que não me faz qualquer sentido TPC´s até ao 4º ano de escolaridade, por não adicionar mais-valias significativas à aprendizagem da criança, menos sentido me faz nas férias (grandes ou pequenas) ou aos fins de semana. As crianças necessitam de brincar, dormir e descansar e até, pasme-se, de ver televisão e jogar computador. Se os professores não trabalham nas férias, não deviam impingir isso aos seus alunos e aos pais dos seus alunos.
 
Caros professores primários adeptos dos TPC, faço este apelo:
O momento é solene. 
Não façam mais aparato.

27 de dezembro de 2014

Histórias de Natal #2

Acabaram-se as filhós.
Agora mesmo. 
Não sei porque me torturo tanto. Sei perfeitamente que não tenho capacidade para intervir na luta que se trava entre mim e o prato onde pousam, e que fica abandonado por todos, num canto da mesa de Natal. 
Andei estes dias a passear pela casa, armada em distraída, e a deitar o olho ao prato. 
Tapei-o, como se tapam os mortos. 
Ninguém quer olhar para ali, basta-nos o vulto para saber o mal que para ali vai, o cheiro que aquilo deita, o gosto que aquilo tem.
Parecia uma doente psicopata com aqueles pensamentos estúpidos e binómios entre a gula e a culpa, ou então semelhantes aos que os tóxicos têm quando decidem deixar o vicio: 'só mais uma vez não faz mal, é a última.'
Mas a última, já se sabe, é só quando acaba, quando o prato fica vazio, os bolsos vazios, a culpa cheia e a gula esperneia...
Sei muito bem o que é isso de enfrentar a gula da comida, a gula do tabaco, a gula da leitura, da ginástica, do Bairro Alto, e de tudo o que levei até ao extremo.
Alargou-se o estômago, a cabeça só estava bem de pernas para o ar, e a boca não se cansava de fumar.
E dançar? Dançar até cair. Ainda não me levantei.
E agora estou para aqui a sofrer. 
De nada me vale ir beber um chá, ou meter os dedos à boca. 
Já não me sai o binómio da cabeça, já não me sai a culpa da pele, e já não voltam as filhós para o prato.
Não sei porque me tentam se tudo o que aprendi comigo foi: se é para cair, há de ser em tentação.

Acabaram-se as filhós.
Mas ainda há os sonhos....

O sexto sentido

Fogem-me sobretudo as palavras.
Fico aqui muito quieta a ver passar as linhas cheias de letras, cheias de significados.
Os livros trazem-me muito isso. O meu próprio silêncio. Calam-me as vozes da cabeça, que nunca se aquietam, e fico sossegada, e atenta, às vozes dos outros. 
As palavras nunca são silenciosas, poderão dizer. Há até palavras más que se unem com outras palavras, para nos gritarem muito alto. E picam, e são duras, como pedras.
Mas gritam, e picam e apedrejam... para dentro. 
Não se ouve nada, mas despertam sons.
Não cheiram a nada, as palavras, mas às vezes os odores que soltam são véus que nos envolvem como  especiarias... de muitas cores.
Saber ler é também saber escutar, cheirar e saborear. 
Ler é o sexto sentido.

A arte a sexta cor.
Não sou artista e talvez por isso tente fazer com as letras o que alguns (me) fazem com a arte.

Por isso leio livros, mas fogem-me as palavras, para escrever, criando.
Não me entristeço porquanto os livros são artistas e ler também é arte.
Mas gostava mais de ser artista, e por isso, a pouco e pouco, vou criando a minha obra.
Pode ser prima, mas será antes de tudo amiga, companheira... de luta.
Um dia ela há-de calar muitas vozes.
Um dia será arte aquilo que escrevo.












 Créditos da imagem e ARTISTA aqui!

24 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL MEUS AMIGOS!!!

 

 
Já tenho a mesa posta.
Arranjei duas sapateiras gordas e dispus os camarões pelas travessas.
Parti uma broa muito amarelinha e cozi 24 ovos que descasquei com uma proficuidade só ao alcance de algumas mulheres. Poucas.
Já descasquei os alhinhos e lavei as couves. Belas couves.
As filhós pelas quais esperei todo o ano já estão empilhadas. 
As minhas rabanadas estão escondidas na dispensa. Tenho medo que venha uma rabanada (de vento) e as leve misteriosamente. 
O Natal prepara-se e segue o seu curso.
O meu Natal deste ano tem rabanadas de pessoas.
O Natal são as minhas pessoas com rabanadas de conversas e rabanadas de risos. 
O Natal sou eu e vocês, e a Uva Passa.
A Uva Passa passa aqui para desejar a todos um Feliz Natal.
Um Natal grato e cheio, repleto de tudo o que o Natal tem de bom.
As rabanadas.
E a família.

Um grande, grande abraço.
Da Uva.
Meu.

23 de dezembro de 2014

Ronaldo-Erectus



Qual é a dúvida?
O algodão não engana.

Já a cera...

Filha no escritório 4# e fim!

Deu-se o caso de não ter trazido a marmita hoje, que a coisa tem de ser feita a preceito, e não é todos os dias que trazemos a filha para o Rule of Law.
O almoçarelos hoje foi a duas, num restaurante aqui da zona.

- Mamã, pliz, leva-me ao McDonald´s!! Vá lá, vá lá, vá lá!
- Perto do trabalho da mamã não há, mas levo-te ao Great American Disaster que é infernal mas servem hamburgas e peixinhos panados com batatas em linha. Pode ser?

É um orgulho sair do escritório com uma filhinha tão bonita pela mão. 
Não levava as pernocas enfiadas numas meias até ao joelho, porque constipa-se nas pernas (e não gosta lá muito de saias), mas levava uma camisola linda, cinzenta clara, com uma estrela de brilhantes no meio, muita gira, onde aflorava (na golinha) uma camisinha branca toda ela bordada à mão, por uma máquina nossa conhecida. 
Para pandant, umas jeans pretas bem justinhas e uns ténis-bota muito dos altamentes, que dão aquela impressão que os miúdos só têm pés... mas a filhinha é dona de uns olhos azuis do tamanho do mar e a coisa lá disfarça. Um ganchinho lateral em renda, oferta da avozinha, e os dedos todos tisnados de tinta verde e preta, fruto do trabalho no escritório, completavam o ramalhete.
E pés ao caminho, em direção ao restaurante.

Pepsi? Check!
Douradinhos? Check!
Batatas em linha? Check!
Boa disposição? Check!
Grande risota o almoço todo? Check!
Queres um geladinho? Check!
Com uma bola de chocolate? Check!

MLLLLL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Cuidado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Uma bola de chocolate inteirinha na camisa bordada à mão, a escorrer pela camisola cinzentinha, tão gira que dói, passa pela estrela de brilhantes e diz olá, despedaça-se toda nos jeans justinhos e cai toda esmolengada justo em cima dos ténis-camurça? Check!


Filhinha no escritório = The Great Rule of Law Disastre.
What else?

Para o ano há mais.

Filha no escritório #3

ML?????
MLLLLLLLLLLLLLLLLL????
Mas onde é que se enfiou agora a miúda?
- Olá, desculpe, viu a minha filha?
- Vi! Foi com a TJ distribuir o correio ao 1º andar.
- Sacana...

(...)

TJ entra-me no gabinete.

- (Muito alegre) Uva Passa????? Não sabia que tinhas um blog. É sobre quê? A minha cunhada também tem um, mas o dela é sobre costura! Que máximo! Mostra lá, é de receitas não é? Uva Passa, só pode!
- (Muito amarela) Ò filhinha, a mamã não tinha combinado contigo... hum?
- (Muito vermelha) Mas mamã, a TJ só perguntou se eu sabia escrever, e eu só lhe disse que tu é que eras a escritora........ também disse que o pai fazia desenhos... faz mal?


Não filhinha, faz agora mal, mas podes pedir ao pai para desenhar um buraco?
Dos grandes?

Filha no escritório #2

Já afiou, frenética, 15 lápis desses caríssimos que só servem a CEO´s e CEE´s em dias de closing.
Já carimbou, com o carimbo da data, praticamente uma resma de folhas que havia de lhe dar para todo o dia.
Já pôs o tablet com uma musica manhosa da Violeta a soar em altas berrarias que só ninguém ouviu porque estão todos de férias.
Já errou em duas contas de somar quando lhe perguntaram quantos éramos à mesa do Natal.
(...)

A chegada do Sr. Dr:

- Olá bom dia!!! Então tu é que és a ML? És muito bonita. Estás a gostar de estar aqui com a mamã?
- Não, isto é uma grande seca. Mamã, podemos ir embora?

Filha no escritório #1

Venho aqui dizer às escondidas, enquanto a pequena 'ajuda' a menina das fotocópias, que até agora, e contando que nos primeiros 45 minutos andámos a conhecer os colegas e as instalações, que ainda só disse à menina do departamento de contencioso que a mamã não era loira!! e que achava muito mal ter uma fotografia na Uva Passa com uma franja e um cabelo que nem era dela...

Criança no escritório no último dia de trabalho - 1
Mamã no escritório numa grande carga de trabalhos - 0

Mais novidades no decorrer da manhã.

22 de dezembro de 2014

Just another (special) day in the office.

Estou em pulgas. 
Mais do que ela, que fala no assunto desde que entrou de férias.
Ela é uma criança super descontraída, que vai ser ela própria, vai rir e sentar-se ao colo de toda a gente, vai dizer que a mãe tem um blog e desmontar o mais sinuoso e tortuoso segredo quer alguma vez tive de esconder. Vai dizer que a mãe aquece os pés num saco de água quente e que grita com o pai se ele deixa as migalhas na toalha. Vai dizer com o nariz colado no nariz do Sr. Dr. (que é assim que faz quando conta as coisas proibidas) que a mamã às vezes fala sobre ele mas que lhe pediu para não contar. Vai de certezinha deixar escapar que o cabelo da mamã é na verdade preto, igual às sobrancelhas, e que às vezes fica laranja quando se engana nas tintas. Com sorte ainda lhe conta que é o pai que lhe pinta as unhas dos pés e que lhe corta o cabelo, aos domingos, quando o Benfica não joga. Vai dizer que a avó nunca se penteia com a escova e que às vezes tem nódoas na camisola, e vai dizer que o avô já lhe deu uma palmada e que ela nunca, nunca! lhe fez nada e que só por isso é que toda a gente deve ficar a saber as maldades que ele faz, como por exemplo andar a apanhar ameijoas na Lagoa sem os polícias saberem. Isso e que passamos o verão todo a comer caracóis. Ahh, e que ela só come douradinhos e deita-se sempre muiiiitoooo tarde.
Ai que vergonha quando lhe perguntarem se já sabe ler e ela, muito depressa, a responder que já sabe ler desde a primeira classe e que a mãe, coitadinha, só aprendeu a ler na segunda. 
E vai perguntar ao Senhor Dr. porque é que ele não deixa a mamã sair a horas de a ir buscar, e se ele não sabe que as senhoras tem afazeres em casa. 
E vai espetar aquele dedinho, ó se vai, que eu bem a conheço, se descobre que matamos uma centena de árvores por dia para imprimir emails. 
Estou eu mais em pulgas do que ela.
Mas ela é uma criança super descontraída que vai adorar passar o dia com a mãe no escritório, a ver fazer as coisas que a mamã faz, muito complicadas e muito demoradas, que lá na imaginação dela são de suma importância para todos nós... só que não...
Mamã, o que é o teu trabalho? Hum.... Hum...
Só espero que não peça presentes de Natal a todo o departamento financeiro ou dinheiro para o mealheiro, que isso sim, seria o descalabro e a vergonha da minha cara.
Amanhã será um dia especial no escritório.

Amanhã pequena terrorista invadirá o Rule of Law!!!!
Cuidado!

O Natal é isto. Imaginação e Superação


Ele nas letras. (Fernando Pessoa)
Ela na voz. (Maria Bethania)

Não deixem de ouvir.
Vale muito a pena.



Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.


Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.


Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)