27 de fevereiro de 2015

Uva Passa a salvo do delírio do Blogger

Ahhh, que maravilha!

Google won't ban adult content on Blogger after all!


O Google afinal não vai banir blogs com conteúdos para adultos!
A Uva Passa está a salvo e pode continuar feliz e contente e mostrar maminhas, rabinhos e todo um ror de partes pudendas ao mundo, tudo em nome da Arte, e dos maus costumes!

Deixo o comunicado do Blogger:

Hello everyone,

This week, we announced a change to Blogger’s porn policy. We’ve had a ton of feedback, in particular about the introduction of a retroactive change (some people have had accounts for 10+ years), but also about the negative impact on individuals who post sexually explicit content to express their identities.
So rather than implement this change, we’ve decided to step up enforcement around our existing policy prohibiting commercial porn.
Blog owners should continue to mark any blogs containing sexually explicit content as “adult” so that they can be placed behind an “adult content” warning page.
Bloggers whose content is consistent with this and other policies do not need to make any changes to their blogs.
Thank you for your continued feedback.
The Blogger Team
 

Obrigada a esta menina (e a outro 'ente' anónimo) que me fizeram chegar esta maravilhosa notícia.
Estamos a salvo da CENSURA!
Weeeeeeeeee!!!!!!!

 (Linda, eu que já estava aqui a preparar-me para mais uma maluqueira campanha de luta das tuas, afinal fui salva pelo gongo!)

Matam a ARTE e levam-me a emoção.

E não estou nem um bocadinho deprimida, pelo contrário, a tristeza é ainda uma emoção.
Consigo sentir a tristeza como se ela estivesse fora de mim, plasmada, a olhar-me e a dizer-me que há pessoas que nos dão chapadas sem mãos, estalos ruidosos que não nos tocam fisicamente, mas que são murros num estômago vazio.
É.
Há muito que desisti das notícias ruins, guerras sangrentas entre canais, mas são os jornais que me entram pelos olhos, e é nesses que não me aguento, por não lhes saber resistir.
Os homens maus ocuparam-me os olhos. As estátuas caíram-me em cima. 
E lá vou eu novamente, sugada pela espiral do romantismo; empedernido amor pela Arte.
Fico pensando, ali, segurando a cabeça defronte a páginas abertas, que mesmo que escreva durante anos seguidos, neste blog ou em livros, numa prolixa e palavrosa prosa infinita, deixando, se preciso fosse,  a minha vida no papel, as minhas palavras haviam de ficar a dever muito à Arte. 
A Arte vale mais de mil palavras, a Arte são as palavras todas juntas, porque a Arte é entrega, a arte é uma profissão de generosidade, que toca o coração dos outros, emociona-os para o bem, e ao mesmo tempo traz-lhes a inquietação.
Inquieta-me que homens se matem por dentro, porque matar a Arte é matar a capacidade que os outros têm de nos emocionar.
Que triste, matar assim a martelo a emoção.
É a realidade, dirão alguns. 
Que direi eu? Que já não aguento tanta realidade? É verdade...
E agora? 
Vamos deixar o mundo engolir-nos? 
E a religião e a guerra, e o ódio e a terra? Não são os realismos medonhos?
Que gente é esta que mata a história?
São estátuas.
Porque há leitos onde o frio se demora.
E há noites que nunca mais acabam.

26 de fevereiro de 2015

Feminismo?

A frase é curta, e grossa.
Sem espaço para literatice.
Diz o que quer e não engonha, não deixa ponta solta.
Mais gráfica que filosófica, deixa-me absolutamente convicta que podia ser um pouco minha.

Palmier Encoberto, Blog


O mundo atual debate-se com a fina camada de areia que esconde a tendência ultra-feminista que se agiganta a Oriente.
A aldeia global alimentada pela fibra ótica da Internet e pelo cabo da TV, não tem tempo de antena para escamotear que as mulheres se encontram profundamente divididas, segregadas, abusadas e ultrajadas, por esse lado negro da espécie masculina, infantil e insegura, que confina a sua companheira de luta, a sua parceira de evolução, ao tapete do patamar que antecede a escada da igualdade, e dos direitos, onde se sentam no topo qual marajás, homens, debicando os miolos de outros tantos macacos.
Do outro lado, a Ocidente, passadeiras vermelhas.
Glamour, educação, paz, alegria, desejo, Liberdade.
A frase da Palmier coloca uma questão: serão os homens capazes, essa minoria assumida na frase, assumidamente feministas? Mais capazes do que aqueles que são apenas homens?
Não serão estes os 'especiais', os 'tais' que perceberam as qualidades invejáveis das mulheres como sócias para a vida?
Creio que sim. E é com esses que vamos caminhar no futuro. Os que foram capazes de entender, em toda a linha, a unicidade da espécie humana, e a absoluta impossibilidade de dividir por sexos as tarefas que aportam a evolução conjunta.
Mas a Oriente cresce a tensão, cresce uma força, cresce uma Luz.
Olhos que vêem, coração que sente.
Mas a luz é ainda ténue e não ilumina a palavra Mulher.
Porque esses homens que vivem no escuro e conquistam por partes, que se atêm em uma coisa de cada vez, não sabem que ser Mulher é dominar todo o mundo, porque ser Mulher é ser um planeta inteiro. A Mulher é tão complexa, tão inacessível e tão incontrolável, que ela é a verdadeira imagem de 'Deus'. A Mulher tem tudo em si, porque vede, ela tem a casa [ventre], ela pode repetir o 'Criador'.
Não é Deus o criador?
Não é a Mulher deusa, criadora?
Ela gera a vida, sabeis o que isso é? a humildade e o poder de ter alguém que nasce dentro dela?
E a humildade de fazer nascer e criar, com tanto amor, alguém que se vira contra ela?
Ninguém domina a Mulher, como ninguém domina Deus, natureza, ventre, casa, colo.
Precisamos de tempo, sim, tempo para evoluir e ensinar, porque se somos bichos, se repetimos como bichos, então basta que a Mulher, a nova mulher, a mulher livre, educada, a mulher capaz, absolutamente capaz e livre de arquétipos e modelos obsoletos, ensine o seu menino.

A última gaveta a ser aberta, é sempre aquela que contém o maior tesouro.
A Igualdade!
Não poderemos ser livres se não formos TODOS livres.





25 de fevereiro de 2015

Uva Passa para adultos - Comunicado

Caros todos,

A Uva Passa foi ontem notificada pelo Google de que a partir do dia 23 de março de 2015 deixará de permitir na sua plataforma blogs que partilham 'nudez e conteúdo sexualmente explícito, ou nudez gráfica susceptível de ser conotada com pornografia'.
Nem todos foram notificados.
Apenas os bloggers com páginas identificadas como 'conteúdo para adultos'.
Não sei muito bem o que pensar disto tudo, mas a ameaça é firme, e se não cumprir o prazo indicado para apagar o conteúdo que despertou a ira do Blogger, a Uva Passa passará automaticamente para “blog privado”, com acesso restrito a administradores e a leitores autorizados, o que significa a morte do blog.
Todos é dizer demais, mas alguns dos que por aqui passam, e especialmente os que acompanham a Uva Passa há mais tempo, decerto que já se depararam com conteúdos de 'nudez gráfica'. Nudez explícita não me recordo, mas é possível que exista um rabo ou outro, uma mama ou outra, e por isso tenho de verificar as quase 2 000 postagens que fiz ao longo de ano e quase meio de blog.
No meio do comunicado que me foi dirigido, leio de relance esta frase: 

Poderemos fazer exceções com base em considerações artísticas, educacionais, documentárias ou científicas ou quando existam outros benefícios consideráveis para o público se as ações não forem tomadas.

Franzo o meu olho e fico na dúvida.
A Uva Passa não é um blog para adultos, muito embora não seja provável que crianças acompanhem o conteúdo que partilha.
A Uva Passa é uma adulta, tem uma filha pequena que pontualmente passa os olhos pelo blog, e, não inocentemente, posta imagens que de resto concorda que possam estar na origem do comunicado.
Mas isto muda tudo.
E isto muda tudo porque a Uva Passa não passa sem a ARTE, e se até hoje foi possível encontrar por aqui tantas e tantas referências artísticas, processos de criação e obras finalizadas, esculturas, pinturas, fotografias, design, arquitetura, mil posts agarrados a imagens, textos com enlevo artístico, trabalhos mais ou menos inócuos, outros mais ousados, quase todos belos e de uma sensibilidade, criatividade e nudez explícita, porque o artista se desnuda constantemente para criar, então a Uva Passa é obrigada a abandonar aquilo que lhe dá mais prazer fazer, e que é partilhar a sua pequena arte, a arte das palavras, e a ARTE dos artistas que tanto admira.

Até ontem nunca me tinha visto condicionada na minha liberdade.
Não quero que o Uva Passa seja considerado um blog de estúrdia coletiva, mas também não o quero uma melopeia banal e ensonada.
Cônscia de que terei obrigatoriamente que mudar, ou pelo menos limitar a liberdade de mostrar através do Uva Passa a arte que se transmite na 'nudez artística' - e imagino que as meninas do leite do post de ontem não se coadunem com a nova política - vou verificar um a um, todos os posts da Uva Passa, e tomar uma decisão.
Não quero já assoar o nariz ao papel virtual onde o Blogger escreveu o seu comunicado, mas também não vou entrar tão depressa nesta noite escura.

Aos leitores, um pequeno pedido: 
A Uva Passa não se considera solipsista, e por isso, da Vossa experiência e assim de repente, lembram-se de algum post que possa ter causado a ira do Blogger?

'Do chão levantam-se as searas e as árvores, levantam-se os homens e as suas esperanças, também do chão pode levantar-se um livro', escreveu José Saramago. 

E um blog...

24 de fevereiro de 2015

Diz que é uma espécie de barbearia grooming

Parece que a barbearia que só aceita cães, foi invadida.
Os donos, da mesma espécie, não reconhecem às fêmeas o direito de entrar para depilar o buço ou rapar o caniche.
Cá dentro, invade-me uma espécie de dúvida:
Serão as mulheres, esse enigmático e teimoso ser, as que inefavelmente insistem em fazer parte de clubes que não as querem como membros?
E depois uma espécie de resposta:
Se as mulheres esperassem convites de “clubes” que não as querem como membros, talvez, digo eu, talvez, nunca tivessem saído da cozinha.

Dieta Paleolítica

Tenho andado muito entretida com a nova Dieta Paleo - Dieta do Paleolítico.
Por inóspitos motivos de saúde, muito por causa de uma bactéria hostil que decidiu fazer uma OPA à minha bexiga, que não vejo maneira de a convencer que esta minha empresa, que já leva mais de 38 anos de experiência, não pensa, por ora, em aumentos de capital ou em novas contratações - e pelos vistos a internacionalização também é capaz de estar comprometida - pelo que ando a ver se a distraio com outro tipo de negócios, nomeadamente os Vistos Gold em que ela compra cá casa, tudo bem, não me importo, mas que só meta cá os pés uma vez por ano, e no resto do tempo me desampare a loja.
Por este motivo tem a minha atenção afunilado para ali, desde sempre interessada em descobrir formas de comer (muito e tudo) sem engordar, e ao mesmo tempo (o multitasking aqui a funcionar) livrar-se de hostilidades abelhudas provocadas por colibacilos fecais. E nesta senda tenho eu passado alguns momentos de riso e boa disposição, ao menos isso, à medida que vou aprofundando os conhecimentos sobre esta nova dieta que nos remete para um tempo absurdamente antigo, mas que para os especialista da alimentação - e isto tem o seu interesse e alguma perplexidade - é ainda nesse tempo que vivem a maioria dos nosso genes.
Verdade. 
A comunidade de genes que nos habita e arrebita vai para mais de 200 mil anos, borrifou-se literalmente para a passagem do tempo, e diz que têm organizado, cada vez com mais aderência, enormes manisfestações de obesidade, alergias, diarreias e cancros, e que não reconhecem nada que seja obra sua, ou seja, tudo o que eles próprios levaram o homem a fazer, como por exemplo, adaptarem o meio ambiente através da modificação desse mesmo ambiente (coisa só vista nesta raça) e simultaneamente apetrecharem as alminhas que os carregam, nós, com tudo o que é forma e feitio para levar a humanidade a Marte, não passou de uma estratégia política para ganhar eleições, porque, e tal como referi ali em cima, o 'não reconhecerem nada que seja obra sua (...), e adaptarem o meio ambiente a eles próprios' só tem paralelo na classe política!
Bom.
Descobriu-se então que os nossos genes, malandros, andaram este tempo todo a enganar a malta, e que afinal esta porcaria toda da agricultura, da industria e dos serviços, que eles com a sua esperteza nos ajudaram a descobrir e a criar, não serve para nada, e ainda nos faz uma mal desgraçado à saúde, e que o melhor será apetrecharem-nos antes com unhas fortes e um bico, e deste forma, como simples galinholas que debicam o solo em busca de sementes, levarem a água ao seu moinho. 
E eu fico encanitada.
Então agora a moda é não consumir NADA do que seja produto do Homem?
Então andou aquela múmia paralítica do Aníbal Cavaco a fazer panelinha com os genes, e a dizer que o melhor era abandonarmos a agricultura e o país, e foi ali uma confusão, que iam matando o homem, e agora repentinamente fica tudo do lado dele??
Vá lá que ainda temos uma mulher no Governo a puxar pela sardinha e pelas pescas em geral, mas já os outros todos que lá andam, e de acordo com a nova dieta, anda tudo a pisar ovos.

E eu tenho andado muito entretida com a nova dieta do Paleolítico.
E vejo que há uma enorme regressão na maneira de estar de certas pessoas que nos governam, e ainda de outras que governam pessoas lá em casa.
E eu não sei se vale a pena andar tão para trás no tempo, e lançar modas antigas, para justificar os erros grotescos do presente.
Talvez a dieta mais certa para nós que aqui andamos no agora, seja a dieta do Bom-Senso e a dieta da JUSTIÇA!
A ver se deixamos de 'partir pedra', de uma vez por todas.

#somostodospaleolíticosóquenão

Cenas da vida doméstica

Estava a Uva a preparar-se para besuntar o betume a base-ultra-compacta no rosto, quando vê pelo canto do olho um vulto de 8 anos a aproximar-se, curioso.

- Mamã?
- Sim filhinha?
- Tens aí duas borbulhas enormes, já viste?
- Onde?? Não vejo aqui nada... (cof, cof)
- Pois mamã, mas estão aí bem grandes que eu bem as vejo. Olha aqui! 
(e pumbas! com o dedo mesmo em cima da que me dói mais.)
- Ahhh pois é... mas a mãe vai tapar com o creme, vês?
(e zuca, zuca, zuca, com a base em cima das malvadas)
- Sim mamã, tapa, tapa, que tens aí uma que já não tem tanto relevo, mas a outra está mesmo em 3D.


E uma mãe tem uma filha para isto! 
Para lhe relembrar, a cada manhã, que temos uma cara que é um filme!

23 de fevereiro de 2015

Do Paradoxo

A maior prova de que estamos velhos, é quando se referem a nós como alguém que 'está muito bom de cabeça', e a maior prova de que somos novos, é quando se referem a nós como alguém que 'não está muito bom da cabeça'.

Chego à conclusão que para estar bem, basta perder a cabeça. 
Só que não...

Sabem aquele 'mito' dos avós estragarem sempre tudo?

No feminino...
É que fazem tudo ao contrário.
Apre!

Dúvidas que me encanitam

a) 'O consumo de grandes quantidades de lactose aumenta as probabilidades de cancro no ovário; grandes quantidades de cálcio são um factor de risco para o cancro da próstata e também para a osteoporose (uma diminuição da massa óssea, que leva ao aumento do risco de fractura). Frequentemente, as investigações que apontam para resultados deste género fazem-no com base no consumo de três ou mais copos de leite por dia.'

b) 'Quem tem dificuldades de acesso a alimentos de qualidade não deveria prescindir do leite, que é um complexo vitamínico em forma de alimento”.

c) '(...) este é um dos grandes embustes do leite. A osteoporose pode ser combatida com exercício físico regular, vitamina D (através da exposição ao sol, por exemplo) vitamina K (vegetais verdes) e cálcio em quantidade suficiente.'

d) ´Há ainda uma questão importante: a proteína do leite é de grande qualidade. Tem todos os aminoácidos essenciais para o restabelecimento dos tecidos. Todos os dias, o nosso corpo se renova e as proteínas são fundamentais.'
In: Jornal Público de 22.02.2015 -  «O leite já não é uma vaca sagrada»
  
Afinal pessoas especialistas, em que ficamos? 
É que isto assim já não se aguenta... sobretudo se estiver tudo no mesmo artigo, cuja conclusão é ... nim.

(E depois há umas pessoas que fazem umas coisas, nomeadamente os artistas, que agarram no assunto e pimbas! fazem do leite aquilo que mais ninguém faz, e a isto, pois a isto ninguém se opõe.)















 Créditos da imagem e ARTISTA Aqui!

22 de fevereiro de 2015

O que estás a fazer tão caladinha enfiada na cozinha vai para mais de duas horas?


Quiche com elas!

Queres dizer, quiche de ovos?
Sim, leva ovos.
Quiche de frango?
Sim, leva frango.
Quiche de marisco?
Sim, leva marisco.
Quiche de queijo?
Sim, leva queijo.
Quiche de fiambre?
Sim, leva fiambre.
Quiche de cenoura?
Sim, leva cenoura.
Quiche de  bróculos?
Sim, leva bróculos.


Ó mãaeeeeee?  Viste os meus Pinypon?
Hum....

Ao jantar:
Cuidado a mastigar isso filha, pode ter ficado aí alguma pontinha dura.

Dúvidas que me encanitam

Se até o Kim Jon-un, um gajo do mais saloio e do mais azeiteiro que pode haver no mundo dos assuntos capilares, já mudou de penteado, porque é que a Mariza continua a usar aquela espécie de carapinha loira, lambida pela gata?


Ficavas muito mais gira assim, miúda, só com a carapinha.  Para quê meter a gata na equação?

Vê lá isso...

21 de fevereiro de 2015

Ser ou não ser...


... a minha vida é só questões.

1993


Em 1993, não sei precisar a estação, perdi-me de amores por um rapaz magrinho, muito moreno, de olhos grandes e sinceros, que se cruzava comigo no bar da escola, quando se dava o caso de me apetecer um salame, ou fumar um cigarrito.
Ele tinha um jeito que me encantava, castiço, risonho, sempre rodeado de amigos e amigas, tão diferente de mim, bicho do mato, o terror da escola, a gata assanhada.
Um dia, distraída a tapar o rabo com uma camisola que atava à cintura, atrasei-me para a aula de matemática; aula dormente, entorpecente, lecionada por uma senhora bicuda, sisuda e mal contente, que desdenhava de tudo o que eu fazia, sobretudo se fossem cábulas.
- Olá Uva!
Levantei a cabeça curiosa e dei de caras com o rapaz magrinho. A coisa foi um susto tão intenso que deixei cair a mochila que apertava no meio dos joelhos.
- Olá! Desculpa, assustei-te? És a Uva não és? A prima da Ema?
- Não, não assustas nada...sou. Porquê?
- Ela disse-me que tinhas uma coisa para ela.
- Ai disse? Tenho... fiz-lhes as cábulas de filosofia... dás-lhas?

Em 1993, tinha eu 21 anos, e aquele miúdo franzino, que dificilmente me ultrapassaria em altura, fez-me as delicias da natureza adolescente.
Furei matemática e furei todas as aulas desse dia. 
Dócil e inteligente, fazia-me festas no cabelo e ajeitava-me as camisolas, e no intervalo das dez, quando o encontrava risonho no meio dos amigos, chamava-me para me contar o sonho de ser 'hospedeira' e que por isso cursava inglês num centro de estudos ali perto.
Mas nem um beijo, só desejo.
- Mas gostas de mim ó quê? Perguntava eu, tristonha.
- Gosto, gosto muito de ti.
- Então e porque me foges a toda a hora?
- Não sei como te dizer, acho mesmo que não consigo dizer-te, mas escrevi uma coisa para ti.

Em 1993, um amor que 'nascia já condenado' não dizia grande coisa a uma miúda adolescente.
O rapazinho moreno, de olhos grandes e sinceros, escrevia num papel comum, frases simples mas difíceis, frases dúbias mas claras.
Ainda bem que as palavras me ajudaram a perceber o paradoxo do seu amor por mim.
O paradoxo do amor.
Ninguém morre por amar, mas morre-se muito de desamor.

Ama de qualquer maneira, mas ama só quem te queira.

(A. fiquei feliz por saber que não condenaste a tua vida aos golpes do destino, e que conseguiste ser livre na tua escolha. Espero que os teus voos sejam tão altos como os teus sonhos.)

20 de fevereiro de 2015

Violência Juvenil em casais de namorados - Bates forte cá dentro!

Autor: Uva Passa Blog para UpToLisbonKids®
Todos os direitos reservados.


«O que é isso de bater numa miúda à frente dos amigos? E na televisão?
O que leva um fedelho de 20 anos, que mal segura as calças nos ilíacos, a dar uma tareia na namorada, com instintos de macho alfa, entesuado por exemplos domésticos, quiçá inocentes, permitidos socialmente através das televisões e comentários na internet?
Que fraca parede foi esta, que inútil muro é este, que ao despontar da maturidade imberbe, como desponta a barba mal semeada, não é capaz de evitar o caminho funesto da violência fortuita, experimentativa, curiosa, como o é a adolescência, e que ocupa todo o espaço da relação, caindo desamparado e deixando entulho suficiente para enterrar uma família inteira?
Poderia esculpir aqui uma teoria baseada no aumento da miséria humana, da pobreza, nas raízes secas desta gente, sem eira e nem beira, sem chão. Delinquentes, perdidos nesses bairros sociais, repletos de problemas irresolúveis, engolfados pelo sistema vigente, pobres, também no espírito acomodado.
Mas cai-me por terra a parede que tento erguer entre a plebe cicatrizada e a classe menos vadia, entre o bairro social e a classe mediana do subúrbio nascido rente ao Centro Comercial, entre os mal formados e os pouco formados, entre os que se criam na rua sem muros e sem janelas, e os que se criam em casa, atrás de 'janelas', que partem muros e partem tudo.»




A minha crónica deste mês na UpToLisbonKids
é um pântano de águas paradas, que nunca me canso de agitar.

PARA LER na íntegra AQUI! 

Run Uva Run!

Estava a ler este post da Loira e a minha memória acendeu uma luzinha. 
Quando era miúda só corria, não andava. Nunca.
Todos os trajectos que fazia eram a correr.
Da sala para a cozinha, da cozinha para o quintal, do quintal para a rua, da rua para a escola, enfim, uma correria infernal que só parou quando me compraram uns patins, e depois a bicicleta.
Um dia a minha mãe perguntou a uma primita minha se eu já tinha namorado...
- Achas? Eles não a conseguem apanhar!
Ninguém entendia os motivos de tanta correria, mas a verdade é que eu não conseguia estar parada, nem sentada, nem em pé, nem com atenção em nada, e de tudo o que este mundo me podia dar naqueles dias de liberdade, nada se comparava à corrida.
E lembro-me e tenho muito presente ainda, depois de tantos anos passados, de me sentir livre, totalmente livre, quando corria. Corria tão rápido que quase não sentia os pés a tocar no chão.
- Uva, onde vais? 
- Vou correr mamã!
Obviamente que não me custava nada. 
Era uma amostra de gente, uma pluma, um sopro.
Julgo e penso que a sensação de liberdade, de fazer o que se quer com o corpo, sem limites aparentes, sobrepondo a pujança física a todas as outras coisas, é no fundo o que vicia os que agora em adultos correm. É essa sensação de liberdade que os faz continuar a correr, sempre mais, forçando os músculos, os pulmões e as pernas, aproveitando o trajeto para reconquistar a escassa oportunidade de pensar nas coisas da vida, e de estar a sós com o pensamento, oleando a velha e esquecida engrenagem, e com ela o método de viver por objetivos, de superar, de chegar, de conseguir.
No bater do coração.

Tenho saudades de correr.
Um dia corro com isto.
Um dia corro daqui para fora.
Um dia, talvez, quem sabe, volte a sentir a liberdade de ser menina.

19 de fevereiro de 2015

Cenas da vida doméstica

Ele, armado em filósofo carioca, manda-me esta pérola para o mail do trabalho...


Eu, armada em parva lisboeta, respondo: Estás a chamar-me atrofiada da cabeça???

Ele, numa resposta suave como um passarinho, chuta:

(Fim)

Serviço Público (para os noctívagos dos anos 90, mais conhecidos como: a malta da night)

Sou capaz de lá dar uma saltada.
Assim mesmo, já toda amarfanhada, já toda estrompicada, mas ainda assim... capaz de lá dar uma saltada...

(Richard, amigo, tu sabes que a malta da night dos anos 90 já está tudo a apitar nos 40 não sabes? Ok. Então e isso de fazeres o concerto ao domingo à noite é exatamente para quê? É para ficares na tua cabine de som e fingires que está a ver mais um episódio do The Walking Dead, ou é mesmo porque já não metes ninguém a saltar? Vê lá isso e depois manda-me um mail.)

Richard Dorfmeister, metade da dupla Kruder & Dorfmeister, e referência incontornável da electrónica dos anos 90 está de regresso a Lisboa.  No Music Box.

18 de fevereiro de 2015

Serviço Público

Uma mulher das letras embrenhada nos números, é coisa para lá de esdrúxula.
Mas dá-se o caso da mulher das letras, que sou eu (pois quem havéra de ser), ter assim um ror de gente agarrada às pernas por altura da entrega do IRS.
Oito famílias dependem diretamente da capacidade (sinistra) que uma mulher das letras tem de se colocar uma vez por ano e durante muitas horas, sentada no chão do escritório, de máquina calculadora em punho, e Excel a piscar numa qualquer célula terrorista, para fazer o gosto ao (des)Governo, que teima em lamber até o IVA do Chupa Chups da ML, que coitadinha, ainda ontem nasceu...
Pois que a saquilhada que se juntou num ano é assim uma coisa de meter medo ao susto, e diz quem sabe, que a partir de hoje a contabilidade verde obriga-me a pagar o próprio do saco, pelo que para o ano não sei adonde meter tanta papelada sem que me chupem isso também.
E andava eu muito entretida com o prazo, e deixa lá ver se não me atraso, quando repentinamente me deparo com um vagal 15 de Fevereiro ... olha lá, que hoje já são 16.... tu queres lá ver que meteste o pé na argola e agora tens 8 famílias à perna, mas desta vez sem a cara-de-taxa-arreganhada-de-quem-crava-IRS-há-mais-de-10-anos-sem-pagar-tusto?
Ahh não, afinal era só o prazo de registar faturas... registar faturas???? qué isso de registar faturas? Tu queres lá ver que meteste outra vez o pé na argola e agora tens 8 famílias à perna, famílias do bem, famílias que disseram SEMPRE o NIF à senhora do balcão, famílias que contam sempre com a bonomia do Estado...
Mas não. Afinal foi só um susto que o (des)Governo alargou o prazo. 
Então vamos lá, e toca de ver o que é isto de registar faturas, ahh, que lindo, que isto é tudo novo, que layout tão intuitivo, tão azulinho.
489 faturas pendentes????
Mas, mas, onde é que fui buscar tanto dinheiro para comprar merdas 489 vezes??
Ai querem ver que me roubaram a identidade?

Bom, vou então utilizar a minha hora do almoço, para tentar perceber - de entre milhares de faturas que não faço ideia do que sejam - se 'O Nosso Sonho Lda' foi para comprar o fato de carnaval da ML, ou se foi para pagar aquela noite no IBIS.... em que deixámos a chave dentro de casa...



Nota de rodapé: Governo prolonga prazo das faturas pendentes até 28 de fevereiro.

Para lá de tudo

Dava Newman, apareceu-me ontem no ecrã do Canal 2, quando me preparava para ler as últimas páginas da Pastoral Americana do Philip Roth, que se alapou à mesa de cabeceira vai para mais de 2 meses, com o prognóstico final (pelos vistos) bastante reservado.
Dava assumirá em breve a presidência da NASA. 
Dava, dois palmos de gente e pouco mais de 50 quilos, assumirá dentro de meses a presidência da NASA...
Uau!
O que os neurónios podem fazer por uma pessoa, aliás, o que os neurónios podem fazer por toda a humanidade.
Sentada na beirinha da minha cama, com o livro por abrir pousado no colo, fiquei pasmada no vazio.
Há pessoas extrordinárias...
Aflorou-me novamente à cabeça a imagem do universo infinito e larguei-me. Com os olhos da mente percorri o caminho para lá da atmosfera, olhei para trás para ver o imenso planeta azul, brilhante, espreitei um pouco mais além para ver um ou outro planeta, e vaguei por ali mais dois ou três segundos, no escuro-profundo, pontilhado de luzes minúsculas que não sei quem acendeu, e de súbito, como acontece sempre, retesei-me na cama, encostei os braços ao tronco, certificando-me que voltava a mim, e voltei ao meu quarto, à beirinha da minha cama, agarrada ao cordão umbilical que me impede de ficar perdida.
Não consigo ficar muito tempo lá fora.
É uma incapacidade que aprendi a reconhecer cedo na minha vida. Não consigo explicar isto. É mar que não consigo navegar.
Dava Newman não tem problemas destes, não se confina.
Não deixa por ler as últimas páginas do livro do espaço. Trabalha incessantemente e infinitamente para descobrir uma forma de nos movimentarmos melhor em Marte. Trabalha nos novos fatos que permitirão aos astronautas um total enfoque na missão, libertos física e mentalmente dos antigos e pesados fatos de 130kg.
É um grande projeto este que Dava prossegue.

Presume-se que em 2030, humanos entrem na órbita de Marte envergando fatos criados por Dava e pela sua equipa (onde portugueses dão cartas) e retornem 4 anos depois em segurança à Terra.
E eu espero muito estar por aqui para ver isso acontecer.
Não há maior mal que a ignorância.
Bem haja a todos os que vencem o (nosso) medo.

Mais sobre Dava, a sua equipa e os projetos aqui!

17 de fevereiro de 2015

E depois há umas pessoas que fazem umas coisas

Com a natureza que é a sua, a humana, a natureza criativa e imaginativa, o belo, o louco, o infinito, que ultrapassa (e muito) aquilo que eu faço com as letras.

Dizem que o sonho comanda a vida. 
Concordo.
Mas sonhar só não chega, sonhar só não basta.
É preciso fazer, avançar, enfrentar o medo de não conseguir, de falhar, de não ser reconhecido.
Sonhem sempre, mas não fiquem à espera que a materialização do sonho opere apenas na vossa imaginação.
Fazer é avançar. E eu, a cada sonho que nasce, deste e de muitos outros artistas com quem me cruzo, avanço e cresço.
E sou feliz, e fico contente de encontrar algo belo, algo louco. 
Como eu.
O espanto comanda a (minha) vida.
Porque não me cruzo apenas.
Procuro.


















Créditos da imagem e ARTISTA: Aqui!

16 de fevereiro de 2015

Chamada para Quiescente, Linda Porca, Claudia, Be, Princesa e Gaja Maria

Ora vamos lá saber quem é que ainda se mantém na barqueta para o Mosteiro Tibetano.
Fiz umas pesquisas, andei a ver os Low Costs, ainda me sobra algum do subsídio de Natal, vai daí que vou partir esta noite...... de surra.... alinham?
Já levo as contas do rosário para fazer as tranças tereré, fumamos só incenso, e bebemos uns shots de água benta... tudo na paz, no zen, no coll ....
Deixo imagem do local e o tipo de cogumelos que lá existem para a malta se divertir à grande e para se proteger das 'chuvas ácidas'.
As freiras não vão.
Dizem que não se misturam com carecas.
Vá-se lá saber porquê, mas suponho que lhes cause dores de barriga...


Aquilo ali ao fundo é um urso ó quê???
Bifinhos au champignon é no que dá...

Ó Marques Mendes, anda cá à mamã...

Escuta lá homem, há alguma possibilidade de saberes, lá onde tens as fontes, belas fontes tens tu meu menino, fontes grandes, cheias de água, certezas, premonições, adivinhas, segredos.... se por acaso lá nessas águas cristalinas do teu saber, há alguma possibilidade de descobrirem a minha (choruda) conta na Suíça?
É que estava aqui preocupada, que acho que os meus sogros andam a ligar lá para casa e...
Só para saber que avião apanhar, não vá apanhar o mesmo que o Sócrates apanhou e aterrar num pesadelo chamado Carlos Alexandre... e depois ter de ficar três meses na prisão até ele perceber que afinal eu nem sequer sou casada...


Cenas da vida doméstica


Nada melhor do que uma boa imagem para nos abrir os olhinhos...
E depois, nada melhor do que uma epifania matinal para associar a mesma imagem a uma coisa muito esdrúxula conhecida pelos seus efeitos... digamos que.... pesticídicos.
Estranho? 
Só se for a palavra que acabei de inventar, porque a imagem é mesmo isso, e se fosse eu a dar-lhe um nome havia de lhe chamar o 'Casamento à segunda-feira'.
Calma, que não quero assustar as meninas casadoiras, sobretudo as que se encheram de ilusões comprometidas por almofadas em formato coração e peluches ternurentos que ninguém sabe onde enfiar, neste que foi mais um Dia do Namorados, porque depois da segunda-feira, caras moçoilas, há tooooda uma semana por estrear...............
Mas agora o que interessa.
A imagem.
Está bem metida não está?
Assaltaram-me logo três ou quatro situações trágico-cómicas, no casamento, capazes de dizimar toda a população de borboletas, dentro e fora do estômago.

Ora prestem atenção aos pontos infra, detetados pela Uva Passa na sua vidinha conjugal muito animada (hoje então foi uma alegria, com a cozinha toda vomitada, e asas coloridas por todo o lado) e que podem muito bem ser o início do fim das saudáveis (e agradáveis) borboletas no estômago.

- Vestiste as calças e o pullover de andar a pintar a casa para irmos visitar a tua mãe, porque??
- Deixaste acabar o gel de banho e viraste aquela bodega ao contrário, como se três gotas de água fria que lá meteste dentro dessem para lavar 1.74m de gente, porque?
- A barba de 8 dias e o cabelo à Robisson Crusoé que vais levar hoje ao jantar dos meus amigos de infância, é para te afirmares enquanto Tarzan da metrópole ou é só mesmo para dares aquele irresistível ar de selvagem? É que eu não vou de Jane...
- Essa mania que tens de deixar o cesto da roupa suja no meio da casa de banho faz parte da nova decoração que não temos?
- A lâmpada que uso para a maquilhagem e que apontaste para o espelho para fazer ricochete e atingir em cheio a minha retina já eu tinha 'constatado', mas a piscar intermitentemente há três dias é que ainda não atingi...

E não menérves. Tu não menérves.
Não à segunda-feira.

14 de fevereiro de 2015

Um bom texto?

Estendo o pé e toco com o calcanhar numa bochecha de carne macia e morna; viro-me para o lado esquerdo, de costas para a luz do candeeiro; e bafeja-me um hálito calmo e suave; faço um gesto ao acaso no escuro e a mão, involuntária tenaz de dedos, pulso, sangue latejante, descai-me sobre um seio morno nu ou numa cabecita de bebé, com um tufo de penugem preta no cocuruto da careca, a moleirinha latejante; respiramos na boca uns dos outros, trocamos pernas e braços, bafos suor uns com os outros, uns pelos outros, tão conchegados, tão embrulhados e enleados num mesmo calor como se as nossas veias e artérias transportassem o mesmo sangue girando, palpitassem compassadamente silenciosamente duma igual vivificante seiva.

É um bicho poderoso, este, uma massa animal tentacular e voraz, adormecida agora, lançando em redor as suas pernas e braços, como um polvo, digo: um polvo excêntrico, sem cabeça central, sem ordenação certa; um grande corpo disforme, respirando por várias bocas, repousando (abandonado) e dormindo, suspirando, gemendo. Choramingando, às vezes. Não está todo à vista, mas metido nas roupas, ou furando aos bocados fora delas. Parece (acho eu, parece) uma explosão que atingiu um grupo de gente parada e, agora, o que está ali são restos de corpos mutilados: uma pernita de criança, um braço nu sozinho, um punho fechado (um adeus?... uma ameaça?...), um tronco mal coberto por uma camisa branca amarrotada.
Ou seria, então, talvez, um desabamento súbito, uma avalanche de neve, encardida, que nos cobriu a todos, ao acaso, aos bocados, e para ali ficámos, quietos e palpitando, à espera, quietos e confiantes, dum socorro improvável, cada vez mais improvável, incerto, aguardando a luz da manhã, que chega sempre, que acaba sempre por chegar, para vivos e mortos, calados ou palrantes, ladinos ou soterrados, os que já desistiram da madrugada e os que, ainda, contra qualquer lógica, contra qualquer quantidade de esperança confiam ainda e esperam.

Somos cinco numa cama. 
Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. 

Desde que estamos aqui, estudámos, experimentámos várias posições para nos ajeitarmos a dormir melhor: ora todos em fileira, ao lado uns dos outros, para a cabeceira da cama, ora distribuídos como agora, três para cima, dois para baixo, ou, então, com um dos miúdos (a Lina ou o Zé) atravessados a nossos pés. E havia, ainda, o problema da colocação ou das vizinhanças: eu e a Irene num lado e os miúdos noutro, ou nós no meio e eles um de cada lado, isto com insucessos, preferências, trambolhões cama abaixo, muitos pontapés, mijas, rixas, complicações de família, favoritismos e cìumeiras e choros e berraria às vezes, resolvidos em família entre risos e lágrimas, bofetões, beijos; descomposturas, carícias leves...

Continua aqui: (Comunidade, Luiz Pacheco)

 Nunca me farto disto... das letras.

Ana Cássia Rebelo

Virada para dentro, num depressão que ocupa a maior parte do seu tempo, a Ana de Amsterdam é a que melhor consegue mostrar-nos as coisas cá fora.
De uma capacidade absolutamente cristalina de expor as fraquezas humanas, destaco um texto, que me ficou na memória, e que diz assim:

Amor maternal

Há muitos lugares-comuns acerca da maternidade; a maior parte deles, por inércia ou simples cobardia, vai-se sedimentando até se tornar verdade absoluta. Nenhum desses equívocos é, por assim dizer, tão falso e absurdo como a imediata emergência do amor filial. É certo que muitas mulheres, com propensão para o drama, choram de emoção mal vislumbram o ser que lhes escorre das entranhas. Ainda os meninos, olhos inchados das conjuntivites neonatais, sonham com o aconchego nacarado do ventre materno, e já essas mulheres lhes chamam meu docinho, meu amorzinho, meu queridinho, amor da minha vida, como se, em vez de um filho, estivessem a chamar por um amante. Essas mulheres, apesar do ridículo a que se sujeitam, sossegam por cumprir o papel de mães dedicadas que lhes compete. A liberdade escapa-lhes, a lucidez também. Porque não se ama quem não se conhece. Um filho acabado de nascer, tal como o sentiu Maria, é um desconhecido. Ainda que uma excrescência solta do seu corpo, não deixa de ser um estranho que de repente invade a vida de uma mulher. Uma mãe precisa de tempo para se acostumar a um filho, mais tempo ainda para o amar. Muitas mulheres levam vários anos até finalmente sentirem amor a um filho. Outras nunca chegam a senti-lo.


A Ana editou recentemente um livro, e o prefácio de João Pedro George vale a pena ler.
Um espírito desassossegado.

Aqui!

13 de fevereiro de 2015

A Menina da Rádio

A última vez que a vi, jazia morta e fria.
Nem todo o calor de agosto, nem o rubor das minhas faces, nem mesmo aquela sala quente de cheiro adocicado e doente, onde vultos estranhos e curiosos se inclinavam para afastar o lenço branco do pudor, puderam convencê-la a ficar mais tempo.
Nesse dia não quis ver mais nada.
Nem quem vinha, nem quem estava.
Não se mexeu e nem me falou.
Estranhei. 
Escuta, o que se passa contigo que estás tão calada? Anda, não te preocupes agora, não te preocupes com mais nada. Anda, deixa as coisas da mão e levanta-te daí. Eu sento-me nesta cadeira e bebo depressa o leite. Juro que me porto bem, e não me ponho descalça, ou de cabeça para baixo a lamber a carcaça, se me deixares cantar desta vez.
Está bem, mas manda embora as pessoas, que me fazem tanto calor. Pergunta-lhes o que querem de mim que eu agora não posso.
E liga a telefonia!

Era o que ela me diria, se me tivesse visto chegar.
Mas naquele dia quente estava tudo calado, nem musica, nem dança, nem fado.
E eu tocando-lhe ao de leve, achei que chorava, que afinal sempre se levantava... mas não, que os mortos não choram, eram somente as minhas lágrimas, caindo sobre ela, já fria, gelada.
Nesse dia, eu não quis saber de nada.
Nem quem vinha, nem quem estava.
Que cabeça a minha, não me lembrar de levar a telefonia.
Não me lembrei de mais nada senão de lhe afagar a fronte fria.
E de a beijar, devagarinho.

Que diria a família, toda ali plantada, se me pusesse dançando como fazíamos no quintal?
Tu pegavas primeiro na saia e fazias a entrada, e na telefonia uma rapariga qualquer cantava, e eu, pequenina, saltitava atrás de ti, agarrada ao avental, e a musica lá seguia.
Tu assobiavas e eu ria.
Na sala quente e sem janelas, onde pessoas estranhas e curiosas comentavam entre elas... tudo quieto, nada abanava.
Está tão bonita.
Pois sim. Façam de conta como nas novelas, que a morte lhe fica bem.
Não percebem que vai vazia, que não leva a musica na telefonia?
Minha avó, que diriam elas se assobiasses uma moda?  

E hoje que toda a gente celebra a Rádio, já não tenho companhia.
E se não posso cantar-te, não te quero ver mais.
Não assim tão morta.
Não assim tão fria. 

A Uva também fala sobre as cinquenta sombras


Andássemos todos a fazer o amor lá em casa, com homens a sério, mulheres de fibra, todos os dias, às 6 vezes por noite...
Andássemos todos a produzir e a trabalhar com alegria, que isto do sexo já se sabe, faz um bem tremendo ao estado de espírito...
Andássemos todos contentes, e nestes preparos, a encher a blusa aos cofres do Estado, em horas extraordinárias, impostos e durezas várias...

E as estradas não estavam nesta miséria!

Legalize it?



A despenalização do consumo, ou a legalização do comércio das drogas em Portugal, é um assunto recorrente e muito debatido, sobretudo para quem (e por quem) se senta nas cadeiras quentes do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, ou para quem faz intervenção social direta, como o caso dos psicólogos dos CAT´s, das clínicas de desintoxicação, ou de quem anda no terreno a combater o tráfico e os crimes associados ao tráfico.

Não é fácil tomar uma posição radical sobre o que seria melhor para os portugueses e sobretudo para os nossos miúdos. Os exemplos de fora são tão diferentes da nossa lógica e do nosso tipo de intervenção, e até da nossa consciência social, que se de repente à minha filha de 15 anos (que ainda não tem, mas lá chegará) fosse permitido comprar um charro, ou a substância similar, na farmácia, para fumar no intervalo das 10.15h, eu se calhar não iria achar muito inteligente.
Mas se eu pensar que ela vai experimentar (que vai) e que para isso tem que se enfiar num bairro social muito feio para comprar o material, vou ficar com a cabeça enrolada e vou começar a medir os prós e os contras de legalizar o comércio e o consumo de drogas leves.
E já se sabe: utilizar o exemplo pessoal para definir ações e estabelecer posições, é bastante medíocre.
É analisando globalmente que se determina a intervenção local, caso contrário haveria uma lei para cada pessoa de acordo com as circunstâncias e vivências de cada um.
A isso chama-se anarquia.

O exemplo português relativo às drogas duras é um case study muito interessante, muito estudado e muito copiado.
As salas de chuto foram uma novidade belicosa e de difícil deglutição para quem criminalizava ferozmente o consumo. Substituir a prisão de um consumidor, por uma sala de chuto, nos idos de 2006, foi de longe a melhor iniciativa que Portugal teve no combate à criminalidade, e sobretudo no combate às doenças associadas ao consumo (VHC, Sida, DST).  Já para não falar do enorme contributo que é identificar os doentes, chegar a eles e salvar-lhes a vida.
Neste aspeto, é congratulante ver que Portugal teve a inteligência de descriminalizar (desde 1 Julho de 2001) a aquisição e a posse de drogas para consumo individual.
Ao invés de prender doentes, e passar esse ónus para as instituições prisionais, quem hoje for apanhado apenas com 'a quantidade necessária para o consumo médio individual de 10 dias', entra num processo onde lhe é dada a opção de se tratar.
Esta atitude tem salvado muitas vidas, e esta atitude, parecendo que não, foi uma espécie de legalização do comércio e do consumo, pois se o tóxico consome às claras o produto que lhe é dado pelo Estado, então basta querer consumir que há ali aquela porta aberta.

Mas voltando à vaca fria.
Legalizar a venda das drogas leves (e o seu consumo generalizado), passando-as para a esfera do Estado, seria roubar o comércio aos traficantes, ou vejo mal?
Sem tráfico não há crime, é isso?
Sabemos que mercado legal não afasta o Crime Organizado, temos por exemplo o caso dos bingos, (alguém ainda acredita que não existem manipulações de resultados?) e o caso do álcool e dos cigarros. Se o Estado não dá conta de fiscalizar as coisas legais (ASAE) e é uma confusão se um comerciante vende um chouriço mal-amanhado e carne de cavalo com nome de suíno, imaginem adicionar erva a esta equação...
Os traficantes iriam continuar a traficar, e o que se pretendia (a diminuição da criminalidade) iria continuar a acontecer.

Por outro lado verifica-se a diminuição do consumo em países onde o seu comércio e consumo são permitidos. Podemos transferir esse exemplo para Portugal, ou seria tapar o sol com uma peneira?
E um usuário de cocaína ou heroína que hoje pratique assaltos para consumir, vai deixar de fazê-lo porque a droga passou a ser legal? Será que a indústria legal das drogas daria emprego a este viciado para que pudesse pagar o seu consumo, ou ele iria continuar com a mesma fonte de renda anterior? 
A legalização acabaria por gerar a tarifação das drogas pelo Governo, que manteria o preço alto; não reduziria o problema da violência, já que vício é vício e o viciado quer consumir a qualquer custo.
Poderão, e bem, assumir quer eu estou a misturar hardcore com uma sinfonia de Ludwig van Beethoven e que erva nada tem a ver com heroína, mas a verdade é que a erva também vicia, e o vício paga-se bem.
E o cigarro, droga lícita, já desapareceu ou já diminuiu?
E o álcool, droga lícita, já desapareceu, já diminuiu?
E a violência doméstica e a miséria a quem chegam os sem abrigo, provocada pelo álcool?
Tão barato e tão caro...

Parece-me difícil a escolha.
Sobretudo porque entre os mais novos não existe essa de usar droga responsavelmente.
Um jovem é intrinsecamente irresponsável.
As drogas viciam e alteram, na sua maioria absoluta, o funcionamento do cérebro e das habilidades cognitivas do individuo.
É que vamos lá a ver, não há nada de bom nas drogas, só morte, tristeza e violência (por droga entenda-se a substância viciante, não a medicinal).
Vamos dar luzinha verde a isso?
Valerá a pena arriscar? 
Ou serão os contra mais significativos que os prós?
Legalize it?
Realy?