30 de dezembro de 2013

Na Rua das Pretas mora Olinda Estebeira

Olinda Estebeira, Linda, como era conhecida no Bairro de São José, era uma mulher pequena, de tez escura, que escondia por baixo de uns óculos garrafais, uns olhos pequeninos e encovados, perdidos no imenso carão sisudo.
Situada no início da Rua das Pretas, a Tabacaria Lelo era a casa e o local de trabalho de Olinda, havia mais de 40 anos.
Da porta da velha Tabacaria, bordejada por cascatas de jornais desportivos, presos a molas de escritório, podia ver-se ainda, contrastando, o fulgor e a modernidade da Av. da Liberdade.
Era uma loja antiga, o balcão corrido, que ocupava grande parte do pequeno espaço, estava forrado de jornais do dia e de revistas cor de rosa. No lado direito do balcão, encostado a um cabaz de Natal envolto num plástico amarelo transparente, estava um cartão com 3 números riscados, o 7, o 12 e o 23. O preço de cada aposta era simbólico, uma moeda de 1 euro habilitava o cliente apostador a ganhar um conjunto de bens mais ou menos essenciais, que incluíam entre outros, uma garrafa de Whisky novo Grants, uma garrafa de azeite Oliveira da Serra, uma caixa de 6 figos com nozes, uma lata de cavala A Portuguesa e ainda um pacote de amêndoas da Páscoa. Pelo tempo que ali se viu o cabaz, quase se poderia dizer que todos os brindes do seu interior tinham perdido a sua validade há mais de 3 anos.
Linda vendia de tudo, mas especialmente sonhos.
Por um lado, o sonho de um grande prémio dos que ali apostavam forte no Euromilhões, e por outro, o sonho das vidas vertidas nas páginas das revistas cor-de-rosa que lambia diariamente, e das quais sabia todos os pormenores.
A Tabacaria Lelo, toda ela enfeitada com livros velhos, cadernos de capa preta, conjuntos de copos de cristal, serviços de chá de 12 peças e faqueiros em inox da fábrica da Maia, possuía ainda um leve toque de antiquário, já que nas prateleiras empoeiradas dormitavam também diversas bonecas decadentes que encafuadas em caixas de papelão amarelado com janela plástica, faziam lembrar bibelots de casario nortenho. E tudo se amontoava sem organização, ora por cima do balcão, ora no chão, junto à janela.
Por detrás do balcão da loja pendia uma cortina castanha de tecido grosso que arrepanhada por um esticador ferrugento dava acesso direto à sala de estar do pequeno anexo, onde morava.
Era ali que descansava as agruras da vida, onde almoçava e jantava qualquer coisa “de jeito” e era ali que se entretinha a fazer as contas da Tabacaria, em cima de uma mesa de tampo redondo e pés de galo.
Não tinha grande conforto. A casa de banho era minúscula e o autoclismo ainda era dos antigos, que puxados por um cordel e sem força suficiente para lançar a água na sanita, a fazia carregar com baldes de água sempre que utilizava aquela divisão para trabalhos mais pesados.
Não haveria de sair dali tão cedo. A casa da Bobadela estava vazia, bem sabia, mas o que lá tinha a não ser três pés de laranjeira e um galinheiro vazio? Não, preferiu sempre Lisboa a um casarão de dois andares na zona saloia, mesmo que lhe entrasse um ou outro vagabundo loja adentro, desses que arrumavam carros na Avenida. Não lhe importava. Ali via-se acompanhada pelos clientes e pelo reboliço do centro.
Não tinha amigos e há muito que tinha desistido de os fazer. Apesar de viver pobremente naquele anexo sem janelas, algarviava, sempre que lhe aparecia algum cliente mais composto, que era mulher de grandes posses, casarios e haveres, e que só ali permanecia na tabacaria para cumprir uma promessa que tinha feito a N.ª Senhora da Conceição, por lhe ter salvo a velha cadelinha Ondina de um depravado que quase lhe matara a bichana, quando num acesso de raiva, o pobre animal lhe ferrara os dentes mesmo em cheio no cotovelo. 
Olinda Estebeira não tinha vida, quer dizer, vida normal como as pessoas normais.
Solteirona, nunca ninguém a tinha visto da cintura para baixo, escondida que estava pelo velho balcão, o que vinha suscitando as mais diversas teorias sobre o que escondia Linda debaixo das saias. A teoria mais consensual era a de que tinha uma perna de pau, que desatarraxava todas as noites antes das rezas à santinha da sua devoção.
Havia uma outra, esta de cariz mais intimo, defendida pelo Sr. Joaquim do talho, e que fazia saber que a pobre senhora possuía umas rubicundas e avantajadas partes genitais que lhe faziam levantar o avental, mas esta teoria, de difícil imaginação, especialmente para as senhoras mais finas do Bairro, estava completamente posta de parte, e sempre que a conversa descambava na risota dos senhores daquela exemplar e séria rua de Lisboa, as senhoras, como que atacadas por um enxame de vespas, zuniam dali para fora, ruborizadas.
Linda, que vivia alheada de toda esta comenda, ali continuava com o xaile preto pelos ombros, fumando cigarros, baforando teorias para cima dos clientes como quem achava, e achava deveras, que o fumo da sua boca era poesia na cara dos simplórios transeuntes.
Mas este quadro trágico-cómico, que emoldurava Linda em frente ao balcão de gavetas, na sua Tabacaria de fim de século, não ficaria completo se nele não fosse pintado o seu elemento principal. Não que Linda não fosse um elemento já de si bastante completo, mas, tal como nos grandes quadros impressionistas, também na Tabacaria, ao lado da máquina registadora que Linda manejava à custa de uma pesada e barulhenta manivela lateral, dormitava a pequena Margarida.
Margarida, uma pequena Chihuahua de cor castanha, foi a única sobrevivente da última ninhada da cadela Ondina, e apesar de arreganhar constantemente os dentes aos clientes que ali passavam a fazer as suas compras ou apostas, era tudo o que Linda tinha na vida. Amava-a acima de tudo.
Era muito comum ver a estranha senhora falar com o pequeno animal como se de gente se tratasse, e sempre que algum cliente entrava na Tabacaria, tratava logo de fazer as devidas apresentações.
Naquela tarde, tendo entrado um cliente habitual, Linda destapou a pequena cadela, que sentindo o gesto da dona, se levantou de súbito nas patinhas sacudiu frenética as orelhas, ao mesmo tempo que com pequenos movimentos do focinho, farejou no ar o odor conhecido do cliente.
- Olá Margarida! Disse o homem aproximando-se. Quantos anos é que já tem a Margarida?
- Treze. Disse Linda orgulhosa.
- Treze aninhos! Já está numa idade provecta!
- Linda, rindo-se, solta: provecta, essa é boa!
A cadelinha voltou a deitar-se e poisou complacente a cabeça sobre as patinhas cruzadas.
Neste instante, entra uma senhora. Trás um chapéu de feltro verde com uma pena na fita escura.
Aproxima-se do balcão com um talão de apostas em riste. Vem reclamar um prémio.
Nisto, a cadelinha, como que pressentindo um amigo intimo, salta da cestinha e põe-se a abanar o rabo com o focinho esticado em direcção à senhora.
- Ela conheceu a doutora, por cima dos outros a olhar para a doutora. É muito esperta. Eu sou muito esperta, sou, sou! Eu sou uma menina, não sou velhinha! 
Linda, passando a mão pela cabeça da cadela, assim dizia, distraída da clientela.
- Ai por favor, D. Olinda! A senhora se não se importa tire-me daqui a cadela! A bicha até mete medo!
Linda, enfurecida, fica de boca aberta, pasmada em frente à senhora, que continua com a mão esticada segurando o papel da aposta.
- Ora, ora, ora! Querem lá ver que temos conversa? Oiça cá: a minha Margarida não é nenhuma doutora, mas também não é nenhum animal raivoso. É uma menina muito educada, a mãe dela era uma senhora, percebeu? Uma senhora, a minha Ondina!
- Ai, desculpe, não leve a mal, mas a cadela até cheira mal! Ainda para mais, aqui em cima do balcão. É muito pouco higiénico, convenhamos!
Linda, arreganhando o cenho, cegando de raiva pelas palavras da senhora, agarrou no malho de ferro que usava para fazer peso nos jornais, e com toda a força, arremessou-o contra a cabeça da pobre senhora, que caiu no chão, inanimada.
- Aqui tem o seu prémio! Grita Linda.
- Já não se perde tudo, não se perde tudo!


 
N.A.
Conto baseado numa gravação, feita numa tabacaria da Rua das Pretas.
As passagens a bold são falas verdadeiras e foram propositadamente deixadas no texto, como mote para a história.
O local existe, Linda e Margarida existem, mas toda a história foi inventada.
Existe igualmente a Senhora doutora de quem sou especial admiradora, sobretudo depois de a conhecer no seu lado mais criativo, e sem a qual me era de todo impossível inventar esta história. Foi ela que fez a gravação que deu origem ao conto. 
Resta-me apenas dizer, que a minha caríssima G. que acaba inanimada no chão da Tabacaria, sobreviveu. Ficou-lhe apenas um grande galo como recordação.
Dedico-lhe este conto.

13 de dezembro de 2013

Looping

Estava aqui a pensar, a propósito de uma certa pessoa que saíu de uma certa empresa:
A vida é um looping e é preciso saber cair nas voltas que a vida dá.

"Ugly Models"


 
Agora já sei, exatamente, de onde desencataram a minha vizinha do lado. Credo!



Sucateiro até a mortos passava faturas ...

E hoje no DN, temos um Estado perplexo com mais uma fraude de vários milhões.
Frederico Ligeiro, para fazer jus ao nome, fez a respetiva limpeza a seco das notas provindas do seu negócio de sucatas. Foi ligeiro... até agora.
Diz que passava faturas a mortos...
E não é isso que o Estado passa a vida a fazer?
Dente por dente ...

12 de dezembro de 2013

E agora que já vomitei um rio sobre o amigo oculto ...

Já sei o que vou oferecer à desgraçada que me calhou na rifa....
É um amigo oculto que querem? É um amigo oculto que vão ter...


 

5 de dezembro de 2013

Quando é que estes ventos, deixam de voar assim?

O que me dá nos nervos, caramba, é esta coisa nojenta e pidesca, de andarem em cima dos negócios das pessoas, na precisa altura em que elas mais precisam que as deixem em paz.
Assim que cheiram o leve aroma da melhoria do negócio dos coitados que ainda se vão mantendo à tona, é vê-los de bloco na mão a cheirar tudo o que é castanha assada, circos, promoções para grupos, lojas de brinquedos, pré-saldos e o camandro!
O que eu gostava mesmo de ver, era uns marmelos iguaizinhos a vocês, aparecerem lá no Hotel onde passam as férias, para interditar a sauna… por cheirar a mijo!
Bolas! Larguem as pessoas.



 

LOST OU PERDIDA NO MEU PRÓPRIO QI?

Serei só eu (extraordinariamente inteligente) ou mais alguém percebeu de caras, logo na alvorada dos primeiros episódios, que na série LOST estavam todos mortos, zombies, fantasmas, 5º dimensão, draconianos???
É que, ao que parece, houve gente que só percebeu isso no último episódio... no último episódio?

29 de novembro de 2013

DA INCONTINÊNCIA

Uma vez, era eu uma criança, fui com uma malta muita chungosa a um concerto dos Thievery Corporation, e como já tinha bebido umas 80 jolas e umas outras coisas, deu-me ali uma arrepianço e tive de ir fazer pipi.
Logo ali perto, um pinheiro pareceu-me o local ideal, e fui nessa.
Estava eu muito entretida debaixo das pernadas da árvore, quando oiço alguém a dizer: Esses morcegos? Ó pah, esses morcegos já devem ter uns 100 anos!
Escusado será dizer o que aconteceu de seguida…. tinha morcegos idosos mesmo em cima da cabeça.
Uma imagem, vale mil palavras.
 
 

AFOGAM-NOS, COMO FAZEM AOS GATOS...

 
Sou uma rapariga versada em praia. Sim praia, praia mesmo. Na praia houve sempre coisas de que gostei muito e outras que sempre odiei. Destas que odiava, destaco uma, a mais temida, e outra, igualmente má, mas menos radical. A pior era a es...túpida amona. Cabeça dentro de água, cortada a respiração, a vida em suspenso, totalmente dependente da vontade alheia. Um momento a mais, um pânico repentino, e era a morte do artista. A outra, menos mortífera mas igualmente estúpida e desconcertante, era a brincadeira dos maços de cigarros cheios de areia, atirados zunindo para o campo inimigo. A guerra de areia, areia no ar e, claro está, areia para os olhos.
Caros todos: Isto que aqui vos apresento é tão somente, estas duas coisas numa só. Afogam-nos os sonhos, cortam-nos a respiração, atiram-nos areia para os olhos. Querem acabar com a nossa praia, no fundo, e metaforicamente falando, acabar com a maior alegria dos portugueses. Penso, e logo sei que ainda existo, que estes imbecis, ainda não perceberam que aquele sítio onde descansam as suas espreguiçadeiras, não é, de tido, a sua praia. É preciso mete-los ao largo. Sem boia de salvação. Ai Portugal, Portugal, do que é que tu estás à espera?

 

ARREBENTA COM ELES MANEL PARVO!

Quando eu era muito miúda, a minha avó Maria contava-me muitas vezes que havia um senhor lá na terra, no antigo e profundo Alentejo, que comeu até rebentar. O nome dele era Manel, Manel Parvo.
Da minha cabeça pequenina, nasceram, em simultâneo, ondas de comicidade e de terror, ora imaginando o Manel Parvo a comer sôfrego, com os dedos gordos nas mãos besuntadas, e com a grande barriga a crescer logo abaixo dos sovacos, ora imaginando (como a minha avó gostava) que ele rebentava mesmo no meio de uma festa, deixando os comensais todos alagados numa papa de torresmos, vinho e mioleira. O Manel Parvo povoou o meu imaginário durante anos, de tal maneira que a minha expressão "Olha, aquele é como o Manuel Parvo!" é recorrente no meu discurso e é aplicada sempre que noto alguém, como a minha avó notava em mim, agarrado ao prato, ao pote, ao tacho ou ao poder! É no fundo o que este coelho me lembra. O Manel Parvo! Parece-me no entanto (e tenho pena) que o tacho deste coelho (parvo das orelhas), não tem fundo - coisa que não acontecia no Alentejo do Manel, onde o prato era raso - e parece-me que toda esta comida que come sôfrego sem parar (para pensar) é-lhe dada de bandeja, e ele vai comendo, comendo, e espero eu, que seja até rebentar, caso contrário quem rebenta somos nós. Eu por exemplo, não consigo engolir mais nada!

 
 
 

22 de novembro de 2013

O SISTEMA ou a VIDA!

 
 Faz hoje 50 anos que morreu Aldous Huxley, e não queria deixar passar este dia sem umas palavras sobre a sua obra.
Para quem não sabe, e muitos não saberão, este visionário escritor, (apesar de uma doença quase lhe roubar definitivamente a visão - e talvez por isso mesmo) escreveu uma obra-prima denominada “Admirável Mundo Novo”, que publicou em 1932, de impressionante realismo e atualidade, sobre
um hipotético futuro, que está hoje tão presente e é tão fazível.
Esgrimindo diversos ambientes com inexcedível criatividade, dá-nos a provar uma Humanidade vivente numa sociedade condicionada, por um lado e à nascença, através de mecanismos bio-psico-químicos, o que lhes dá diversos graus de inteligência (os Alfas para médicos, professores etecetera, e os Gama para tarefeiros e classes serventes), e por outro lado, uma droga chamada soma (que eu identifico muito com o MDMA ou com o Excstasy ou mesmo com as seitas proliferantes e extremistas), que lhes devolve uma serenidade e um bem estar absolutamente deliciosos, se analisarmos ao que são levados a fazer e em que condições.
Neste livro Huxley descreve-nos uma sociedade totalmente desprovida de valores culturais, sem religião, onde impera a poligamia e a alta corrupção entre os Alfas. Totalmente desaparecido está também o conceito de família e a própria família, o amor e os sentimentos “primários”, cultivando-se o lema "cada um pertence a todos e todos pertencem ao SISTEMA".
Este tema que grita no livro do Aldous Huxley, e a que eu chamo de Progresso Científico = Humanidade Zero, está hoje aqui à porta, bastando ver a degradação da sociedade, do consumo imediato, do prazer do momento, da falta de valores fraternos, da vitória absoluta do material sobre o intelectual e a cultura, a forma como tratamos os animais, a corupção no desporto, e ainda, como andamos todos muito contentes numa ditadura completamente mascarada de democracia, onde quem mais ordena são três ou quarto imbecis, que nos vão corroendo as entranhas e acabarão, no fim, por nos tragar de dentro para fora, qual alimento energético, para terem o que eles acham ser aquilo que ELES merecem.
Vou aproveitar a excelente ideia do escritor, e só peço a esta gente uma coisinha muito mínima, uma minudência mesmo, e que é esta: ou nos bombardeiam de soma, muito soma, imenso soma, camiões e resmas e ondas da Nazaré de soma, ou então este nojo que aqui nos apresentam como sociedade por estes dias, não vai dar resto zero, venham de lá os “secos” que vierem. Basta ler o final do livro e perceber.
O SISTEMA ou a VIDA!

21 de novembro de 2013

COINCIDÊNCIAS

Chego a casa.
Penduro o casaco onde calha e deposito a carteira na secretária do escritório.
Descalço os sapatos e fico obviamente descalça.
Sigo para a cozinha, e pelo caminho acendendo as luzes que encontro por ali.
Ligo a TV. Está outra vez no Panda. A série animada mostra uma espécie de ratazana que diz para outra: " temos de fugir daqui, segue-me!"
Pego no comando que está em cima da
mesa. Carrego aleatoriamente num canal de noticias. Grande confusão no écran, e no rodapé, baila a palavra do momento: MANIFESTAÇÃO! Penso distraída quem será desta vez. Detetives da PJ. Os infiltrados da sociedade. Os ratos da urbe, que nos defendem da podridão, na obscuridade, na emboscada. Naturalmente, franzo o cenho e penso alto: mas por Deus!, que fazem ali os detetives, os infiltrados, os que não podem aparecer e que nem à família dizem o que fazem? No Rossio? Na televisão, dando entrevistas? Ao mesmo tempo, entra atrasado, o V. Diz-me em tom irónico e vagamente: temos de fugir daqui! Invadiram a escadaria do parlamento. Conclusão: vivendo num pais do faz de conta, onde o Canal Panda adivinha os cenários do dia a dia e os detetives e policias atacam a Ordem que defendem e para a qual trabalham, só faltava perguntar-lhe: fugir? Fugir para onde, se estou descalça?
E é no fundo muito isto.

18 de novembro de 2013

SUSHI TIME! OU UMA SEITA DO PIOR...

- Uva, não gostas de Sushi?
- Opá, haa, não é bem isso, quer dizer, é quase isso, mas nem é por isso.
- Isso o quê?
- Isso de comer peixe cru, enrolado em arroz trinca, frio, com sabor a baixa maré, besuntado em mercúrio...

Versa a história antiga, que apareceu um senhor, desses que usam um barrete na cabeça armados em cientistas, que tendo investigado, feito parvo e durante imenso tempo, a estonteante vida do Atum, veio a descobrir que o peixinho era uma besta a comer mercúrio.
Ora eu, incansável pesquisadora e naturalmente curiosa, fui descobrir que toda eu estou, tal como o sushi e o atum, envolta no elemento do terror.
Para começar, tive a grande ajuda da minha mãe. Fã n.º 1 do elemento vermelho. Besuntou-me aquilo nas feridas das pernas e dos joelhos durante anos, e por isso, impediu deliberadamente que os pêlos das minhas pernas - que todas as raparigas têm e adoram tirar em sessões interessantíssimas de depilação, de onde chegam a nascer borboletas e outros animais - nunca me chegaram a nascer, privando-me desse convívio tão importante para o desenvolvimento da minha massa cinzenta.
E por isso sou assim, loira.
Acresce o facto de ter nascido em setembro, regida por Mercúrio. Se os meus pais estivessem mais atentos na hora em que me conceberam, talvez evitassem mais esta parvoíce, mas não. Mais tarde, quando alguém falava do rebento, era sempre nestes termos: esta rapariga parece que tem azougue! Ora não! Se pensar na quantidade de vezes que me obrigaram, ainda menor, a comer arroz com atum, não é difícil prever que toda eu sou azougue, palavra que, pasme-se, é sinónimo de mercúrio.
Voltando ao Sushi.
Eu, rapariga de ascensos gostos e profícuos saberes culinários, provei sushi uma única vez na minha vida – para não parecer saloia – e segundo me lembro, fiquei com uma pasta branca agarrada aos dentes de baixo e uma alga verde aos de cima, que foi comigo para o bairro alto, onde fiquei até às 5 da manhã, a rir-me para toda a gente….
Ontem, tendo merecido em minha humilde casa a prazenteira companhia dos comensais e amigos, fui surpreendida com um jantar de….. Sushi!
Ao fim de alguns minutos de animada preparação, já eu estava em pânico. Só conseguia ver o arroz unidos-venceremos, o peixe morto e cru que jazia inerte na bancada fria, as algas do Pacífico que pareciam estar vivas como enguias, as sementes da Turquia que chegaram provavelmente em vagões de galinhas nitrofurânicas, a faca branca e aguçada de porcelana de geração Ming, e a fruta colhida por indígenas nus e sem dentes…
…. na loucura do delírio, bebo de um trago uma copada de Planalto e fico logo mais calma.
Continuei a vê-los com os olhos esgazeados. Já nada podia fazer contra a seita: um agarrava-se à faca, o outro ao arroz, o outro às algas, e quando dei por isso, tinha a mesa coberta de pauzinhos chineses, origamis e toda uma panóplia de travessas cheias de rolos pretos (sim, parecidos com aquilo) cortados às rodelas, que fui obrigada a consumir, depois me atarem à cadeira com uma corda, qual Atum drogado, que se contorce na ressaca, por mais uma dose do terrível elemento.
Sei que uma seita se agiganta. Os agarrados ao Sushi-Mercúrio, da qual o meu próprio marido é (ou planeia ser – já que viu e fez tudo com muita atenção) faz parte.
Eles andam aí, a espalhar o terror vermelho. Tenham medo, muito medo.

Caros amigos, foi um belo jantar! O Sushi estava divinal. Cof, cof. Obrigada.

PS: O nosso jantar foi feito com Salmão. O elemento Atum foi colocado na história para surtir mais e maior efeito, no entanto, soube há pouco que outro cientista tem vindo a investigar o Salmão….


 

 
 

16 de novembro de 2013

DESPERDÍCIO CULTURAL... OU ESTAMOS EM GRANDE

Dois amigos falando sobre Museus:
- Desculpa se te aborreço com esta temática dos Museus. É uma maçada, eu sei. Quase não interessa, quase não vem à lembrança, passa ao lado, e na realidade é cousa tão importante. Sabes tu?
- Importante? Nunca me interessei por museus, tenho pouco tempo. Oiço dizer que são caros.
- Caros?
- Ó sim, caríssimos. Olha agora por exemplo, o novíssimo Museu N...acional dos Coches (MNC). 35 milhões de euros pousam naquelas paredes ribeirinhas. Não tinha noção que o país ainda tivesse esse dinheiro para gastar em cultura. E que peça de arte.
- Ó não, não me referia a isso. Pensei que falavas nas entradas.
- Pois não achas que são caras?
- Ò não! Não acho mesmo nada. E em boa verdade te digo; estou muito contente com esta preocupação em fazer museus, grandes museus, enormes museus, grandiosos museus. Estou em crer que vamos ficando mais cultos, pois não sabes, mais interessados na nossa história, e agora que falas nisso, posso garantir-te que é de grande valor patrimonial e histórico o nosso Museu Nacional dos Coches (MNC).
- Ai sim? Tenho vaga ideia de ser um dos mais visitados do país, com 200 mil visitas por ano, bem localizado, respirando a plenos pulmões. Funciona muitíssimo bem, dizem. Nunca lá fui.
- Sim, verdade. Ainda vamos tendo cousas boas, mas escuta: quer-me cá parecer que descobriram algo de grande importância, e que está relacionado com esse Museu.
- O quê? Não me digas que encontraram mais coches? Foi assim?
- Sim, fala baixo. Acho que foram aos milhares. Imagina que foram tantos e são de tão grande importância, que foi necessário fazer o novo edifício (quase tão grande como o CCB, mas não chega a ser, e é pena), para os comportar a todos. Sabes tu que um coche não é cousa pouca. Quatro rodas, um arreio....
- De facto, uma grande descoberta. Mas, dizias tu, quanto cobram para entrar?
- Não vai além dos 5,00€.
- Ora fazendo as contas, é grande lucro, não achas tu?
- Ó, sim, sim. Os portugueses estão cada vez mais interessados em Museus.

Desculpem maçar-vos com esta temática dos “museus”.
Pergunto-me a mim própria, sempre com a mesma indignação e em crescendo, quem terá sido o iluminado que projetou e fez nascer um edifício de 35 milhões de euros para lá colocar três restaurantes fast food, a importantíssima área comercial – que precisamos como do pão para a boca – e, vá lá, 15 coches que ao que sei estão p-e-r-f-e-i-t-o-s no sítio onde se encontram? Quem terá sido o luminoso-instruído que roubou 35 milhões à CULTURA para fazer um edifício vazio desde 2012, para lá comportar três tarecos e meia dúzia de caricas, na ideia insana [quiçá se não foi isso que lhe passou pela cabeça], de para lá atrair 8,5 milhões de visitantes como tem por exemplo o Louvre?
E vêm-me, então, outras perguntas à cabeça. Porque não existe responsabilidade penal para estes governantes? Porque se enchem primos, amigos, vizinhos, cunhados e irmãos, com tão grandes repastos de sapateiras e vinho verde, ora fazendo Museus, ora fazendo túneis, ora bailando, sempre, o bailinho da Madeira?
Que interesse tem um museu?
Que interesse temos todos nós?
Calhando, têm ambos cousas que já não existem.
Vida.
Respiremos então senhores, muito fundo. Haummmmmm haummmmmm haummmmm.

15 de novembro de 2013

DÉRIZ NOU LOUVE LAIKE DE FIRSZT...

O meu primeiro post.
Faltam 46 dias para acabar o ano. O que me diz o número 46? Nada.

Talvez a data me traga alguma inspiração para o começo.

Vou ver: 15 de novembro. É uma data com interesse. Encontro uma lista. Ora vejamos o que daqui posso aproveitar:
Yasser Arafat, no exílio, proclama o Estado da Palestina (1988).
Grande dica. Sobre este enigmático tema versava o meu primeiro livro a sério. Êxodos – Leon Uris. Não vamos mal. Sigo o rol.
Um grande número de futebolistas nasceu neste dia; temos pois, este 15 de novembro, rico em dar à luz craques da bola.
Outra dica. Hoje temos seleção. Não vou por aqui. É terreno pantanoso para Uva.
Oiço de raspão no Canal Memória, o José Hermano Saraiva dizer que os portugueses, se há coisa de que se podem gabar, é de ter mãos e pés; mãos para o artesanato, pintura e tecelagem, os pés para o futebol. Não deixava de ter razão. Pontuais no 28 e chutos no rabo da democracia, é o que mais se vê por estes dias. E que belíssimos jogadores.
Não queria despir-me já de preconceitos políticos, afinal de contas a uva tem uma imagem a manter, logo agora que as exportações de vinho sobem em flecha e até parece, pelo alarde dos Sinistros Ministros, que são eles que apanham e levam trôpegas à cabeça, as cestas das vindimas, carregadas de boa uva, para venderem o vinho nas reuniões do Comité. Até parece que os estou a ver. Boina alentejana na mão, camisa de xadrez e um punhado de cabelos hirtos: - V. Exas, temos um vinho ótimo, não o quereis provar?
E o braço que estende o copo, pede logo de seguida um 2º resgate, um aperto de mão, que sim, que se faz o negócio.
Não me detenho mais no tema.
Sigo na busca de um assunto verdadeiramente interessante para desenvolver no meu primogénito. Nada. Tudo coisas sem interesse. Sobe o preço da gasolina, Durão Barroso prepara o regresso. Temos pena.
Fico pensativa com o cursor o piscar na folha branca. 
Tinha gizado todo um plano; ainda ontem me bailava uma história ótima na cabeça. Semicerro os olhos. Tento levar a memória onde ela já não consegue ir sozinha. Não escrevinhei nada, perdeu-se a epifania.
A uva passa dá os ares da sua graça. A memória mirrada, corpo de bacalhau.
Quem me dera ter sempre à mão os homenzinhos do meu banner, enchendo-me a cabeça de coisas cómicas para dizer, sobretudo parvoíces. Precisamos urgentemente de rir da vida, e não o contrário.
No fundo é isto que quero fazer com esta Uva-Passa. Tê-la sempre cheia de coisas parvas e inúteis e espreme-la aqui, para me rir com ela. Para me rir dela. Para me rir de mim.
Nada vi que me prendesse a atenção neste 15 de novembro. 
Só este blogue, agora pela primeira vez publicado. Xiiiinapá!
Voltarei, é certo.
A Uva voltará sempre, mesmo sem nada para espremer...
Ou talvez por isso mesmo.
Cá beijinho.