29 de fevereiro de 2016

Da descoberta

Estive a matutar.

Acontece-me amiúde, especialmente quando estou a ler um livro, colocar-me nos pés dos personagens e tentar imaginar o que sentiria eu se estivesse naquela situação.
Ontem, na voraz leitura que tenho dedicado a este livro, um livro excepcional - não fosse ele sobre o meu tema dilecto -, a protagonista, uma jovem professora de Literatura, tenta a sorte num colégio interno, elitista e de grande prestígio, para fugir de um tio abusador que lhe deixou a vida em cacos.
A certa altura, e nos dias que antecederam o início das aulas, nas deambulações que fez para conhecer o colégio, entrou finalmente na sala dos professores.
Ali chegada, senta-se numa pequena mesa, calada.
Está só, apesar da sala cheia de gente.

Subitamente, a jovem professora de Literatura é descoberta por outra professora, Miranda, que resolve dirigir-se a ela, e cumprimentá-la.
Esta descoberta, este interesse que Miranda teve por ela, naquele dia, e depois nos outros todos em que estiveram juntas, foi para mim o único momento de felicidade que encontrei no livro.

E pus-me a matutar.
Há muito tempo que ninguém me descobre.

Da tradição

Pessoas tradicionais que me lêem, e outras ligadas ao culto da virgindade e do pecado: reparem bem naquilo que a modernidade vos vem dizendo há séculos.
Não é possível um homem aceitar casar-se com uma mulher que vá virgem para o casamento.
Porquê?
Oras.



Deve ser muito triste (e tremendamente esdrúxulo) acordar de manhã no leito do amor, com uma terrível ressaca, e ainda descobrir que se casou com uma gaja que tem uma mama no pescoço.

Catálogo VERITAS Março 2016

27 de fevereiro de 2016

Pay attention


Já vou atrasada, mas nunca é tarde para amar


Amo todas.
Todas me embalam, todas me envolvem, todas me sofrem.
Poderia ter na gaveta mil textos para elas, se não fosse já tão tarde para escrever.
Costumava escrever só de as olhar.
Da imagem surgiam mil palavras.
Mil palavras que não chegam.
Silêncio! que se vai fotografar o fado.












26 de fevereiro de 2016

Outra vez


Os livros são livros, 
São tristes martírios,
Que as saudades dão.

Apanhada de copo na mão (outra vez), enfiada numa livraria de Lisboa (outra vez), para depois ir chorar que nem uma Madalena perdida (outra vez), a ver o filme 'O Filho de Saul' do realizador húngaro Lazslo Nemez, que estreou ontem no Cinema Ideal.

25 de fevereiro de 2016

Eu nunca disse asneiras peludas no meu blog


Mas foda-se, isto é demais!
Eu imagino a quantidade de vezes que aquelas pessoas da província (e o que me lixa a cabecinha toda chamarem provincianas às pessoas), que aguardam desde as 4 horas da madrugada, coitadas, ao frio. à geada, velhos, novos, crianças, que se foda, não sou eu que lá estou, para serem atendidas por uma porra de um médico do mais merdoso que há, daqueles que nem por 250 mil nem por 500 mil levantam o cagueiro da cama antes das 11h da manhã, mesmo que as consultas comecem às 8h, para depois conseguirem uma senha, ou lá o que lhes dão para a mão (para as calar) até o sol nascer, e de repente a porta do Centro de Saúde abrir-se e parir uma coisa qualquer, deste tipo:

- Bom dia. O Senhor Dr. não vai dar consulta hoje. Acabámos de receber uma informação por escrito, um atestado médico para sermos mais exactos, passado pelo próprio médico, a dizer que ele próprio está muito doente, mas que acabou de auto-enfiar um supositório no cu, o que lhe custou um bocado porque o seu olho do cu é cego, e enfim, fica difícil até para um médico experiente como ele, e que vai receitar-se um antibiótico fortíssimo para o vírus da gripe, e mandar-se ficar na cama por 3 semanas, para recuperar bem até o médico, que é ele mesmo, lhe dar alta. Espera regressar antes que alguém da terra morra por falta de assistência médica, mas não confia em mais ninguém a não ser nele próprio para se substituir, e como está doente, enfim, fica difícil contrariar-se a ele próprio, modos que, é o que temos... Aproveita para informar, num outro comunicado que também assina, uma assinatura magnífica, de médico, que vai ficar de licença por assistência à sua própria pessoa, coisa para uns 30 dias, máximo, e que para tanto já foi tudo aprovado por ele, num outro comunicado que também envia em anexo, assinado por ele. 
Uma salva de palmas, por favor. Obrigada. 



É o que eu digo sempre à minha pequena:

Filha, escuta bem o que a mãe te diz, não há nada melhor do que ser-se independente. Porque é que não vais para médica, hum?

** tudo no jornal Público de hoje

É pá eu aguento tudo

Mas por amor de Deus, rapazes que me lêem, e mulheres também: não há nada mais deprimente do que ver um rapagão a caminho do seu emprego, por esses transportes públicos a fora, transportando uma lancheira com o almoço.
Hoje vi um (coitadinho), com um saco da Zara já todo carcomido, um outro com uma lancheira verde daquelas do Continente, e outro com uma lancheira com motivos infantis, nitidamente sonegada aos filhos.
É que não dá. Homens de fato e gravata, a transpirar sedução, perfume caro por todos os lados, cachecol ronhónhó, cabelinho pipipi, e depois, aquilo interessa-te, lanças um olhinho mais atento ao conjunto, suspiras uma vez, e zás! a lancheira a dar a dar.
Carambas! Raios os partam!
Comprem uma mochila pá!
Comprem uma mala à tiracolo.
Um saco desportivo.
Mas por amor de Deus, não sejam azeiteiros. 

24 de fevereiro de 2016

Aquilo que me estranha e não se entranha

Aquilo que me estranha, não é a obrigatoriedade de uma consulta médica para que as mulheres que usam contraceptivos possam obter a respectiva receita. O que não entranho é que para comprar a pílula do dia seguinte não são necessárias nem farmácias e nem médicos.

Aquilo que me estranha, não é esgotarem medicamentos na Madeira para os portadores do VIH obrigando-os a vários dias de abstenção medicamentosa. O que não entranho é o Governo Regional da Madeira gastar anualmente mais de 3,3 milhões de euros com as três festividades maiores: Natal, Passagem de Ano e Carnaval.

Aquilo que me estranha, não é vir agora! uma empresa francesa dizer que usei durante 27 anos pensos higiénicos e tampões que contém dioxinas e agro-químicos que podem provocar-me o cancro. O que não entranho é porque é que a MARS, que teve de retirar do mercado milhões e milhões de chocolates por ter encontrado numa única embalagem uma porcaria de plástico vermelha, e as marcas de pensos e tampões visadas pelo estudo francês continuarem, alegres e contentes, a vender o seu produto.

Aquilo que me estranha, não é o Vice-presidente de Angola ser suspeito de crimes de corrupção. O que não entranho é como é que o gajo, podendo fazê-lo com tantas coisas, consegue ter coragem de gastar 4 milhões de euros, hã, num apartamento! no Estoril-Sol, que é o maior mamarracho que já construiriam em Portugal.

Aquilo que me estranha, não é as pessoas do escritório usarem as ferramentas e os locais próprios do escritório para fazerem as suas refeições. Aquilo que não entranho é o motivo pelo qual depois de tão profícua utilização, acharem que existe uma empregada à disposição para levantar a mesa e lavar a loiça.


22 de fevereiro de 2016

A alegoria da caverna



A cultura do medo. A ridicularidade a tomar conta de tudo.
Escondam as crianças, guardem as mulheres, porque 'quadrilhas' de pedófilos andam à caça de mulheres com filhos que postam no Facebook.
Que mais nos vais acontecer? Seremos uma humanidade de totós, responsáveis por criar filhos ermitas, fechados em casa a apodrecer os neurónios com imagens da vida em vez da vida real. Voltámos a Platão e aos homens das cavernas, presos e obrigados a olhar para as sombras alegóricas que decidimos impor a nós mesmos. 
Pedófilos? 
Os pedófilos estão quase sempre dentro das nossas casas, das nossas cavernas, na família e nos amigos. Saiam de casa com os vossos filhos, fotografem-nos bastante, e metam TUDO no Facebook. De certeza que os pedófilos terão muito poucas oportunidades de abusar deles, porque verão, no mínimo, que as crianças que vêem agarradas às sua mães em fotografias numa rede social, estão muito bem acompanhadas por elas, felizes a tirar fotografias.

19 de fevereiro de 2016

Sol na eira? Antes chuva no nabal!

A conversa na hora do jantar escapou-se para a temática das salas de chuto em Lisboa. Tantos anos depois, já viste pai, e decidiram relançar o projecto do consumo assistido. Sim, disse ele, lembro-me da primeira sala ali na Avenida de Ceuta, pois lembras, disse eu, um projecto audaz e pioneiro que salvou a vida a muita gente, era a monte a quantidade de pessoas que ali se deslocavam por causa da matadona. Mas desta vez abrem na Alta de Lisboa, nada ver com os bairros onde a droga mais arreigou. Sim, Musgueira, Curraleira, Urmeira, Picheleira, Funcheira... Chiça, tanta eira! Antes chuva no nabal.
Oh pai, mas nabal rima com Funchal.

Sobre aquela coisa de ter ficado ontem sem blog

Parece uma brincadeira de crianças, mas não é.
Parece uma simplicidade da vida, uma tarefa rotineira, um momento do dia. Mas não é.
Quem publica frequentemente como eu, sabe.
Quem publica para outros, quem escreve com a única pretensão de se dar ao outro, ao leitor, ao amigo, ao passante, sabe. Sabe que uma parte da vida das coisas, das coisas da vida, e da nossa imaginação, está aqui, dentro, das muitas frases que alinhei, das muitas palavras novas que procurei,  das horas que aqui passei, os pensamentos que tive e apontei, na preocupação dos vos fazer chegar.
As imagens e os sites de arte que visitei, que descobri para mim e para todos, que partilhei e divulguei, os amigos que fiz, o que me ri, sorri e chorei.
E rimei, porque afinal isto dos blogs também é poesia. Não é Maria?
Depois a arte, os livros, os locais cá dentro do peito que dei a conhecer, que escondi.
As muitas histórias que inventei.

Estava tudo aqui e de um momento para outro deixou de estar.
É uma sensação muito estúpida esta, mas é a prova cabal de que só nos damos conta do quão importantes são para nós algumas coisas, depois de as perdermos.
E afianço-vos: não foram nem uma nem duas, as vezes que me exasperei e decidi que manter um blog como o Uva, não (me) fazia sentido nenhum.

Pouca vergonha estes artistas pá!










@ Fotos da autora Uva Passa 
(que tem sempre um cuidado extremo em captar os pormenores mais importantes da peça)


Andava eu muito contentinha a passear num museu super snob-chic, um quadro ali, um quadro acoli, um silencio de fazer medo aos mortos, visitantes soturnos, paredes brancas, alemães sóbrios.
De repente, oiço um remoinho de vozes e um miúdo a por-se muito vermelho.
Já está! Pensei eu. Já levou com um rabo branco de uma qualquer Valquíria.
Afinal não.
Era uma cena ordinarona, plantada no centro da sala mais requisitada do museu.
Já nem na arte há decência?

18 de fevereiro de 2016

A FAMÍLIA NÃO É UMA DEMOCRACIA

Construir a mais pequena democracia no coração da sociedade" – a família (1) foi o mote que deu início a um pioneiro e audaz projeto, nascido na Alemanha - o coração do humanismo, para dotar a “célula primeira e vital da sociedade” de ferramentas capazes de ser o fermento e o motor da libertação da forma “autoritária, fechada, e repressiva” verificada até então, na grande maioria das famílias.
Corria o ano de 1994 e hoje, a esta distância - com os exemplos que temos em nossas casas, e nos compêndios que debitam teorias tantas sobre a matéria - estou convencida que mais do que construir uma pequena democracia no seio da família, o que temos efetivamente erguido, é uma grande ditadura no coração dos nossos infantes.


A família, ao contrário do que se pensa, não é um órgão democrático onde as decisões do dia-a-dia e do futuro se votam por maioria dos seus membros. Pelo contrário. Deve possuir de forma bem definida a hierarquia de cada elemento, com as várias e complexas ligações emocionais e materiais que se estabelecem entre si, impondo também hierarquicamente regras claras e leis-raiz que devem ser cumpridas e entendidas, desde sempre por toda a comunidade familiar, como o limite após o qual a família se torna disfuncional.
A fórmula austera que defendo aqui hoje, está muito longe do preceito ditador, de posse, de mando, de submissão [ou enaltecimento] dependente do sexo, que outrora os filhos deviam e significavam para os pais, no entanto uma educação mais severa, menos condescendente, menos infantilizada e mais arreigada, trará maiores proveitos para todos.
Obviamente há quem defenda que a criança deve tomar desde cedo o pulso às rédeas da sua vida, receber o máximo de mimo e inclusão, ser chamada a participar nas decisões, sentir-se responsabilizada e responsável, mas nem tanto ao mar nem tanto à terra, ou como diria a letra da canção: to too much love i will kill you.
Amar uma criança é também saber mostrar a autoridade sem condições, mostrar de forma firme que há galhos onde não deve pendurar-se, que há caminhos proibidos, que não há mas nem meio mas, que o não existe, é saudável e deve ser usado sem renitências. Sem uma figura de respeito, de autoridade, capaz de transmitir à criança, com verticalidade, justiça e, claro, ajustamento etário, as regras mais básicas do coração da sociedade [e que se espelha depois na própria sociedade], como sejam: cumprimentar, agradecer, não agredir, partilhar, dar, retribuir, sorrir, respeitar, pedir desculpa e desculpar, podem colocar em causa todo o processo educativo da criança.

A família é uma unidade de produção
A Família são tantas coisas que é difícil vê-la como uma unidade. Mas é assim que a entendo simplisticamente. A minha ideia de família não é um conceito abstracto, é algo que funciona, com peças e regras, limites e buracos negros, falhas na tesouraria, mal entendidos, lucros e despesas. É como uma grande unidade de produção, uma fábrica que produz diversos produtos, todos eles dependentes uns dos outros e utilizados uns pelos outros. Se a fábrica produzir uma discussão logo de manhã porque uma regra foi abatida a tiro, então a produção para esse dia fica contaminada e tudo o que se produzir depois disso fica irremediavelmente comprometido.
É que a família, como a fábrica, também armazena detritos, lixo, porcarias, e são esses exemplos maus que as esponjinhas - ou estagiários, gostam mais de absorver.
Se os pais são o fermento e o motor da família, gastando todas as suas energias para que nada falhe, nada resulte em paragens ou em perdas, se conseguem ter um emprego, arrumar, cozinhar, lavar e limpar, e ainda amar incondicionalmente os seus filhos, proporcionando-lhes com o resultado da produção muitos dos seus desejos e ambições, então os filhos, pequenos e grandes, devem aprender desde logo que este mecanismo necessita de ser oleado e de ser estimado, e que para isso não podem ser pedras na engrenagem já de si tão delicada. Mas quem lhes ensina a ser óleo e não pedra são os pais, porque nenhuma criança sabe, porque não tem de saber, como funcionam as grandes fábricas que produzem os grandes homens. Se as regras e as leis de funcionamento desta grande unidade não passarem de geração em geração, deixarão de haver famílias-escola, passando a haver apenas famílias-circo, onde só há palhaçada, desorganização, um monte de cocós de cavalo espalhados no meio da arena, um apresentador aos gritos, e eles, os equilibrista, tentando não cair na rede.
O que vemos hoje é o total desequilíbrio nessa unidade de produção. A tendência é cada vez mais para pais que assumem o papel de trabalhadores sem remuneração afetiva, que produzem unicamente em função dos filhos-patrões. E a verdade é que se antes havia uma produção de afetos misturados com a porção exata de regras e leis, o que existe agora é uma produção mecânica, artificial, que debita gadjets, champô para caracóis perfeitos, vernizes, bonecas que falam, fumam e bebem, roupas de marca, passatempos, e pré-fabricados.
É uma fábrica de produção material, da qual os filhos-clientes exigem cada vez mais perfeição.
Os filhos saíram da linha de produção para se sentarem lá em cima, nos escritórios (como antes a religião), pesando-lhes nos ombros com as suas carências, imposições e manias sociais. Esta situação levará ao ultimato da família enquanto célula primeira e vital da sociedade, porque o conceito simplesmente deixará de existir, isto é, existirá apenas um ou vários seres humanos, que tendo a chave da mesma casa, se agridem continuamente, perdidos nos galhos uns dos outros, usurpando continuamente a felicidade comum, fechados em escritórios com janelas virtuais, onde o amor é feito de plástico.
A democracia instalada na família, de forma errada, como aliás o é na política, criou famílias onde todos decidem sobre todos. Um filho de 4 anos, sem ter ainda consciência racional disso, decide um fim-de-semana de uma família inteira. Parque infantil depois do almoço, cinema ao lanche, e festinha do pijama em casa do colega, pela noite. E porque a família sofre muito por considerar que as crianças são massacradas e sofrem muito por falta de estímulo, e que é praticamente impossível submete-las ao ócio e ao tédio, bombardeiam-nas de estímulos, de festas e de actividades que lhes preenchem o tempo, mas lhes roubam aquilo que nos trouxe a todos aqui com tanto sucesso.
A imaginação.

A ansiedade tomou conta dos meninos.
Nada lhes interessa que não tenha pixels e acenos afirmativos com a cabeça. A ideia utópica [e perigosa] de que todos dentro da unidade familiar podem votar com o mesmo peso, ou ter o mesmo peso numa decisão familiar, é o que podemos chamar de família desajustada.
O que é desajustado é evitar que a criança sinta a responsabilidade de ter mesmo de realizar uma tarefa imposta pelos pais, de ser mesmo castigada, de enfrentar uma tarde inteira sem estímulos, a hora certa para chegar a casa, o ‘não’ para as 27 festas anuais dos colegas da turma, o ‘não’ para ter um cão que ninguém vai conseguir passear, um ‘não’ para uns ténis que são 1/5 do orçamento familiar. O que é desajustado é criar filhinhos-totós, que não sabem limpar o rabo, que não colocam as peúgas no cesto, que não levantam um prato da mesa, que não sabem limpar o pó, o areão do gato, despejar o lixo, fazer a cama, dizer obrigado. Desajustado e ter pais totalmente condescendentes sobre estas e outras anormalidades dos filhos, quando sabem perfeitamente que com aquela idade, notem bem, alguns já trabalhavam, e no duro. Desajustado é não saber mandar e impor regras firmes, sem um pingo de hesitação, a um miúdo de 5 anos, de 6, de 7 ou de 11, e depois, aos 16, vir pedir ajuda aos profissionais para lhes educar os meninos.

O afastamento da criança da posição central da família é na verdade o que se impõe.
A criança deve crescer sabendo que há prioridades, pessoas prioritárias e situações prioritárias.
Não há democracia possível quando se cria um filho, porque simplesmente a criança não sabe o que fazer com o seu voto, tornando-o nulo ou inválido para a sua idade.
Obviamente que a criança pode decidir das pequenas coisas da sua vida, brincar de democracia também é possível e desejável, mas na hora de votar a decisão, na hora das grandes (e pequenas) questões da educação, das regras, dos deveres e das leis da família, quem vota são os pais, quem decide se a roda gira para a esquerda, para a direita ou se fica parada é quem tem maturidade suficiente para perceber se é possível inverter, ou parar a produção, para fazer a vontade do cliente.

Também nos castigos a democracia não funciona.
Aposto que ninguém pensou em dar a escolher aos filhos que castigo lhes apetece cumprir. Queres ficar três dias sem ver televisão ou três semanas sem ir visitar a avó ao lar? Obviamente que aqui a ‘ditadura parental’ deve trilhar o seu caminho e instituir um castigo sem escolha.
Ter mão firme na criançada não é bater, torturar, deixar de abraçar, de mimar, de dar, dar muito; tudo isso deverá ser feito ao máximo, mas de acordo com o comportamento da criança. Confundir o carácter da criança com o comportamento da criança é o grande erro dos pais. O comportamento das crianças em crianças não lhes define o carácter em adulto, o comportamento dos pais é que provoca alterações no carácter dos filhos. Um miúdo mal comportado, irrequieto, mas devidamente educado, balizado naquilo que devem ser as regras do bom comportamento, não é um mau-caracter. A personalidade de cada um constrói-se em cima das reacções que os nossos comportamentos geram nos outros. Se a minha atitude perante o mau comportamento da minha filha for de submissão e banalização, a personalidade dela irá desenvolver-se sobre a premissa de que o seu comportamento (mau ou bom) gera submissão, e quando isso não acontecer numa qualquer altura da sua vida, o seu caracter revolta-se e forma situações que podem custar-lhe até a liberdade.
Com a ânsia de proteger os nossos infantes, não os deixamos crescer ou deixamo-los crescer depressa demais, pelo menos no que respeita às decisões que nós adultos lhes permitimos em nome da democracia familiar. A família atual aceita trabalhar para aquele ser que ali está prostrado com a única finalidade de receber, e decidir o que quer receber, e é este o exemplo que retira da vida, da sociedade, equivocando-se totalmente no seu papel, tomando-o por outra coisa completamente diferente: o recebimento sem dádiva, o merecimento sem mérito. Eu também mando, eu decido, eu respiro, logo mereço.

E é isto mesmo que se procura num pequeno ditador.
Mas não era de democracia que falávamos?

A crónica que faltava na UPTOKIDS deste mês.
By me.


Legenda da imagem: Cronicas da Uva Passa em http://uptokids.pt/author/uva-passa/

17 de fevereiro de 2016

DIVULGAÇÃO

Um Salão Ideal para ler um livro, comer uma Tiborna, e depois descer as escadas e ver um bom filme.
Estive na inauguração do espaço e adorei.
Vale a pena espreitar.
Tem uma luz f-a-b-u-l-o-s-a e fica no piso superior do Cinema Ideal, mesmo juntinho ao Largo de Camões.



O Estado (das coisas) mata


"Espero que as pessoas que tinham este caso em mãos consigam dormir descansadas."

A frase é do Presidente da Junta de Freguesia de Santo António, em Lisboa: Vasco Morgado.
O Vasco é um velho conhecido meu e um acérrimo defensor dos direitos humanos e das causas sociais. Tem feito mais Lisboa do que o Marquês de Pombal, e na verdade têm os dois a mesma profissão: especialistas em terramotos sociais.
Espaço Júlia – RIAV (Resposta Integrada de Apoio à Vítima), para as vítimas de violência doméstica, foi idealizado por ele e está a funcionar. 
É de longe o meu político preferido, e não é por ser meu amigo.

Mas desta vez permitam-me discordar.
As pessoas que tinham este caso em mãos, representantes funcionais das políticas sociais do Estado, da inércia e inépcia do Estado, da burocracia que engole o Estado, dormem todos os dias com casos destes debaixo da almofada, descansadas, cansadas.
Não podemos levianamente atribuir as culpas pelas inúmeras mortes que acontecem todos os dias aos profissionais que tentam [todos os dias] salvar as pessoas da morte. Isso seria uma injustiça profunda.
Não é possível acusar os psicólogos, os assistentes sociais, os centros de saúde que não têm psicólogos, o Estado-Providência nos serviços mínimos, e todos aqueles que se debatem diariamente com a falta de meios para agir, que são eles os responsáveis por haver uma mãe, que num desespero invivível, mata duas as filhas, como o mal menor para os seus problemas maiores.

O Estado somos afinal todos nós, e eu não me considero culpada.
O que mata não somos nós, mas sim o estado em que deixámos chegar as coisas do Estado.

Da vizinhança

Dizem que daquilo que somos, naquilo que nos tornámos, muito fomos beber à vizinhança.
Acredito muito nisso, e estou convicta, absolutamente convicta, que as minhas parcas e esdrúxulas maneiras me ficaram sobretudo disso mesmo: da má vizinhança.
Ahh, mas isso é tão natural como a tua sede. Não, não é. Ter má vizinhança não é cliché, e posso provar. Olhem com atenção para a malta que vive ali no Padrão dos Descobrimentos: a Inclita Geração.
No meu prédio não fomos inclitos, fomos proscritos.
Do primeiro ao último andar.
Mas a culpa nunca foi minha.

Sem maneiras.
Quando os meus pais levantaram a cabeça e pudemos desenlodar a vida, fomos morar para um prédio de 8 andares, com inquilinos selecionados. Juízes, Veterinários, Professores, Advogados e Engenheiros, e o meu pai, com letra pequena na profissão, mas com um olhar tão sexy que arrasou com a gaja da imobiliária, que entretanto também se mudou lá para o prédio...
Bom.
Um monte de estudantes acabadinhos de chegar à faculdade, os filhos inclitos desta geração de letrados, cheios de testosterona na veia, alugavam os quartos a estudantes e faziam, nos tempos áureos do meu bairro, festas diárias de endoidecer qualquer condómino.
De tudo se fazia a festa, tudo servia para brindar. E estudar?
Naqueles tempos ninguém diria que um chegaria a padre, um outro se tornasse um psicólogo melhor que o Quintino Aires, e o mais barulhento deles todos a cirurgião. Eu própria estava convencida que qualquer um deles iria bater mais cedo ou mais tarde com os costados à choldra, não por serem criminosos ou andarem à chinchada, mas por excesso de denuncias (muito pouco) caluniosas, motivadas pelos distúrbios sui géneris que os estudantes inclitos, tanto no interior da "habitação" como nos arrabaldes do edifício, faziam sem parar.
Para terem, caros leitores, uma (vaga) ideia da confusão que lá amanhavam, faziam acontecer coisas como nenhum prédio ainda viu: incendiavam a cozinha, inundavam a casa de banho, faziam cair os armários apinhados de loiçaria da sala, partiam o aquário, inundavam o hall, partiam a sanita. 
E dizia-se que desta geração proscrita: nenhum chegará a doutor.
Sem maneiras.
Arranjando um jeito.
E eu lá dentro, vivendo aquilo tudo.

Era assim que se estudava em Lisboa, diriam os mais liberais.
Era assim que se vivia Lisboa, diria eu.
Por isso, quando na passada 6ª feira me reencontrei com um dos protagonistas desta casa, um ilustre cidadão do mundo, amigo maior e dos quatro costados desta Uva que Passa, brindámos muitos e muitos copos, porque na dúvida sobre o que nos espera o futuro, na inclita incerteza dos passos que tomamos, uma coisa é certa: bebamos à vizinhança, bebamos a vizinhança, e seremos sempre felizes.

Foi um enorme prazer voltar a ver-te e beber-te.
Somos Uvas no cacho dos dias.  
Somos 100 maneiras, proscritos ou inclitos.
Somos AMIGOS.
Somos vizinhos.


Restaurante-Bar 100 Maneiras -Lisboa

Foi o melhor que nos aconteceu naqueles dias, querido D. 
Caíram-nos os livros na cabeça, sem jeito nem maneira, mas sempre aprendemos alguma coisa...

15 de fevereiro de 2016

Só fumo quando me apetece












Que leviandade! a do artista máximo, FRIEKE JANSSENS, fotografar crianças a fumar, não acheis vós?
Não, eu sei que não, eu sei que à arte tudo se perdoa.
Só não se perdoa quem não tem arte para deixar definitivamente de fumar.

12 de fevereiro de 2016

Estou em casa, e resolvi escrever isto

Um dos maiores terrores das mães é o número da escola a tocar no telemóvel.
Por não ser suposto ligarem da escola, é certo e sabido que das duas três: ou andou à pancada com um colega qualquer, ou partiu uma janela, ou partiu os óculos, ou partiu os dentes ou outra parte do corpo, ou tem febre e vomitou.
A minha pincas, que anda num chove não molha com a febre e os vómitos desde Sábado passado, e sem razão aparente (pelo menos de acordo com os profissionais do Saúde 24 e dos médicos da urgência do Centro de Saúde), encheu-se de febre, vomitou, e o número da escola apareceu no visor do meu telemóvel.
Stress.
A correria para ir buscar a miúda à escola, arrancando dois pais completamente enterrados nos escritórios situados no centro de Lisboa, leva mais de 40 minutos, isto se tudo correr bem e seja só levantar o rabo da cadeira e zás, porta fora. Nunca é. Juntamos a isto várias vomitadelas durante a semana, cor pálida, quebranto, enjoo e tudo o que se pode atribuir ás misteriosas 'viroses' - que ninguém sabe e ninguém viu, mas que são o melhor álibi do SNS para poupar uns trocos em análises e exames -, e temos um quadro de esquizofrenia parental a conduzir um automóvel no eixo N-S.

Está na hora de fazer aquilo que toda a gente faz, que se lixem as estatísticas, não passo nem mais um dia com este diagnóstico de merda sem consistência de virose-que-anda-por-aí, e que aliás nem personalidade jurídica tem para me justificar as inúmeras faltas ao trabalho.Quero lá saber de taxas e taxinhas, caguei para o saúde 24, e planto-me de armas e bagagens no Hospital Beatriz Ângelo, o mais perto da escola.

O Hospital Beatriz Ângelo é praticamente a estrear. Tudo novo. Tudo brilha. A urgência pediátrica é igual às outras só que os adultos têm crianças ao colo, no chão, nas cadeiras, a correr, a gritar, enfim, um cenário de guerra onde as armas são o ranho, a tosse, e algum queixo aberto.
Lá estamos nós, os três, com a miúda a gemer de dores na barriga, eu a fazer mil conjecturas se é apendicite, esquisitite, ou outra coisa mais séria.

A triagem revelou uma pulseira verde, a pulseira da virose-que-anda-aí. Tudo bem, mas curem-me a miúda. E lá fui desfiando ao médico de cara patusca um novelo de sintomas, de sins e nãos, até que ao sim à pergunta de ardor ao fazer chichi, lhe apitou qualquer coisa lá nos megafones dos entretelhos, e vai de fazer análises ao sangue e à urina da criança, à procura de uma infeção urinária.
Fazer chichi para um copo não é assim tão difícil, agora tirar sangue com recurso a uma agulha parece-me missão de 007. E foi. Ficou-me a criança 4 horas sentada nas cadeirinhas que brilham da urgência, com o ranho, a tosse e os queixos partidos, uma agulha espetada na veia, e uma recordação sinistra de como é que ela lá entrou.

O diagnóstico não podia ser pior. Pielonefrite aguda com afetação do rim. As análises são contundentes, a menina precisa de iniciar terapêutica de imediato.
Pânico. Infecção generalizada provocada por bactéria misteriosa no trato urinário, e que por ter sido deixada à solta pelos senhores da Saúde 24 e pelos médicos do CS, durante vários dias, subiu e foi instalar-se num rim. Bonito serviço. Atacou-me a culpa e o desespero. Depois atacou-me a conta da farmácia. 10 dias de um antibiótico fortíssimo, montes de merdas para isto e para aquilo: é um rim comprometido, não é um dente de leite, e toca para casa para o respectivo consumo da matéria tóxica. A primeira toma do antibiótico veio fazer uma visita ao tapete do quarto. Cabum! Tudo no chão. Uma infecção num rim + antibiótico vomitado = Estefânia. Não aceito que um hospital não me dê soluções imediatas para o caso da terapêutica não funcionar. Muda-se de Hospital. Isto já passava da 1.30 da manhã.

Entrada na Estefânia com um quadro de pielonefrite aguda sem medicação, vómitos, dor de barriga, palidez, quebranto, febre, e eu já não sabia bem para onde deveria voltar os pensamentos.
A triagem foi uma constante de sobrancelhas franzidas. Hum... mas... pois... e a pulseira, a custo, lá saiu amarela. As análises do Hospital Beatriz Ângelo andaram de mão em mão como se fossem uma nova descoberta cientifica, sóquenão. Pielonefrite aguda? Com uma PCR nestes níveis? Desculpe mãe, mas fique contente por a ML (providência divina?) ter vomitado a bomba antibiótica que lhe receitaram.

Não me alongo mais. Deitei-me na cama da ML às 4.30 da manhã depois de esperar horas sem sentido pelo resultado de mais análises, de mais picas, de mais consensos.
A ML está aqui em casa com uma terapêutica de chá e torradas, para uma virose-que-anda-por-ai.
Eu tirei o peso do rim da consciência, e voltei a faltar ao trabalho, a uma sexta feira. A ML não fez o teste de matemática para o qual se preparou 2 semanas seguidas. A conta da farmácia que vai para IRS de 2016 cairá no esquecimento de todos, porque enfim, é só mais uma despesa, mas o que realmente me pesa é eu ter estado a discutir no café que todos os médicos deveriam ser pagos a peso de ouro, que é miserável pagarem 12 euros à hora a quem salva vidas, e o homem do balcão me estar a dizer: menina, há médicos que não valem um peido quanto mais 12 euros... e eu agora ter de lhe dar razão.

11 de fevereiro de 2016

Eu hoje vou ao cinema

Ai que estoy tan contenta!

Já não ponho o nalguedo num cinema vai para mais de 8 décadas, pelo que hoje é dia!
Uva, mas que raio de blogger és tu, que não vês séries, nem filmes, nem concertos, nem porra nenhuma?!
Mas... mas..

The Hateful Eight por Quentin Tarantino.

Parece que a bomba é o filme ser rodado com o formato 70mm, que eu na minha nobre ignorância cinéfila, não sei se vi, ou se vendo, sei identificar, pelo que vou na expetativa de encontrar um Tarantino completamente sedutor no que respeita à qualidade da imagem, e terrivelmente macabro no que respeita ao argumento.


Já viram? Vale a pena?
Ou hei de ir para casa fazer as ervilhas com os ovos escalfados que tinha programado?
Contem-me tudo.

Sinceramente

Esta merda já cheira mal.
É óbvio que se é merda, cheira mal, mas há umas merdas que cheiram pior que outras.
Sinceramente pessoas, que absurdo é este em torno da requalificação da 2ª circular?
Mas está tudo doido? Desde quando é que os tripulantes da TAP se arrogam no direito de fazer uma providência cautelar para impedir a humanização daquela via? Mas esses senhores julgam-se exatamente quem para impedirem que este país se desenvolva ecologicamente? Não lhes basta ter o céu só para eles? Também querem a terra? Querem a terra e os céus? Devem julgar que são Deus, ou lá quem manda aqui na bola.
Passada da bola estou eu, com tanto disparate que tenho ouvido sobre este tema, caramba!
Quando no ano passado cheguei de avião a Colónia-Alemanha, até pensava que ia aterrar no meio da zona rural lá do sítio, tal foi a quantidade de arvoredo que vi em redor do aeroporto e por toda a cidade, aliás, arvoredo no meio e nas laterais das vias rápidas onde carros super potentes aceleram como aviões, e digo-vos, não vi um único passarinho a meter-se à minha frente.
Nunca tinha pensado neste assunto dos passarinhos, porque enfim, a pessoa não consegue estar a par de tudo o que se passa neste planeta, até ao dia em que desses iluminados falou na TSF, ia eu com o V. precisamente a passar na 2ª circular em direção ao aeroporto. Enquanto ele ia dizendo umas bacoradas sobre pássaros e aviões, como se repentinamente avestruzes gigantes voassem das árvores e fossem chocar com os motores da passarada aérea, o V. disse-me que ali nunca tinha visto nenhum pássaro porque o aeroporto tinha uma brigada de aves de rapina (falcões e gaviões) para caçar os tontinhos dos piriquitos e pardalitos que fossem enfiar o bico onde não deviam.
Sinceramente.
Ninguém se preocupa com os cavalos abandonados nas bermas e que por se aventurarem nas estradas já levaram a vida a famílias inteiras, ninguém se preocupa em atravessar zonas rurais de uma ponta a outra com estradas que só servem às vacas, e onde animais domésticos e autóctones morrem como tordos provocando de caminho outros tantos acidentes, mas um pardalito que voe em direção a um avião, depois de ultrapassada a frente de defesa de 100 aves de rapina que trabalham para a TAP, qual Ronaldo na grande área, ui ui, que não se pode, que aquilo é capaz de cair com o enoooooorme impacto do passarinho.
E agora também temos, vejam bem, o ACP amuado, a fazer a birrinha da providência cautelar. Então a melhoria duma estrada super caótica, a alteração do pavimento para uma coisa mais emborrachada, com mais atrito, alteração na velocidade, a via da direita só para movimentos de entrada e saída, a melhoria substancial do ar para as pessoas que ali moram e para a cidade, é mau para o ACP?
Sinceramente.

10 de fevereiro de 2016

A Uva já está no Instagram!

Que coisa tão azeiteira...
Mas que querem? Gosto mesmo, aliás adoro tirar fotografias, e depois tenho outro senão que é chegar aquela altura em que tenho de enfiar tudo num disco externo [porque o PC fica completamente impraticável) e ter de ficar sem acesso imediato às fotos, sabe-se lá até quando...
Bom. Deixa cá ver como é que corre.
Se não for fixe, mando tudo às urtigas.
Prometo!
Só tirei uma dúzia de fotos, mas prometo massacrar-vos com inúmeros pratos gourmet, nomeadamente os que faço na minha cozinha nova, super branca e luminosa.
No outro dia fiz um chocos à algarvia que ficaram a saber a detergente da loiça, que já lá estão, prontinhos para abrir o apetite de toda a minha gente!
Penso que os meus outfits diários, especialmente os da gola alta de lã, com calças pretas elásticas da H&M, vão deixar muita menina doidinha.

Vinde!


DIVULGAÇÃO (O FILHO DE SAUL)



A Midas Filmes vai estrear a 25 de Fevereiro em todo o país O Filho de Saul de László Nemes, filme nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O Filho de Saul ganhou já o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e foi o grande acontecimento do festival de Cannes, onde ganhou o Grande Prémio e o Prémio da Crítica Internacional. Venceu ainda o prémio da CST (Comissão Superior Técnica) francesa, atribuído a Tamas Zanyi responsável pelo som do filme, sendo que o som é um dos elementos mais avassaladores neste retrato de dois dias da vida de um Sonderkommando no campo de concentração de Auschwitz/Birkenau.



RESUMO:
"Outubro de 1944, Auschwitz-Birkenau.
Saul Ausländer é um membro húngaro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus isolados do campo de concentração e forçados a dar apoio aos Nazis no processo de exterminação em larga escala. Durante os trabalhos num dos crematórios, Saul descobre o corpo de um rapaz que ele reconhece como sendo o seu filho. Enquanto os Sonderkommando planeiam uma revolta, Saul fica obcecado com uma missão impossível: salvar o corpo do rapaz de uma autopsia e encontrar um rabino para lhe recitar as orações Kaddish e realizar o funeral."

5 de fevereiro de 2016

Envenenamento por cloro

Parece que o tema do post 60% suscitou algumas dúvidas, sobretudo no que toca ao envenenamento por cloro.
O envenenamento por cloro é altamente perigoso e pode levar à morte, caso os sintomas não sejam detectados a tempo. Acontece mais vezes do que seria expectável, e na maior parte das vezes assume uma perigosidade alarmante porque se confunde com uma mera intoxicação alimentar, gastroenterite, insolação, ou tosse passageira.
Mas não é, e pode matar, sobretudo as crianças que engolem grandes pirolitos na água da piscina acabada de tratar. O que é aconselhável é não mergulhar as crianças na piscina às primeiras horas da manhã, horário em que normalmente se faz o tratamento com cloro, e ter muita atenção perguntando sempre se a criança engoliu muita água. O cloro é um veneno e como está presente em toda a água de consumo, imaginamos que seja inofensivo.
Mas não é.
Segundo o site da Toxipedia, 2,5 mg por litro de cloro terá efeitos fatais sobre o corpo, mas 0,15 mg por litro também pode ser fatal.
Actualmente, para evitar o erro humano, as piscinas usam o método do difusor de cloro. No entanto os acidentes acontecem e se durante uma aula de natação a energia acabar, pode acontecer que ao voltar a energia o difusor avarie e liberte uma quantidade da substância superior à prevista, o que acabará por atingir quem está na piscina.

Os primeiros sintomas

Depois de sair da piscina, o criança pode não apresentar sintomas imediatamente. Pode demorar algumas horas (ou até 72 por afogamento secundário ).
Nesses momentos iniciais, os sintomas são:
- dor de estômago
- vómitos
- tosse persistente
- dificuldade em respirar e /ou fadiga

Os sintomas mais tarde 

Quando os primeiros sintomas são muito leves e passam despercebidos ou não ocorrerem de todo, mais tarde os sintomas acabarão por ocorrer. Nas 24 a 72 horas depois de sair da piscina, uma criança com intoxicação por cloro terá problemas de:
- visão
- inchaço e /ou ardor nos olhos, garganta, nariz e orelhas do excesso de cloro .

Vítimas de afogamento secundário terão maior dificuldade em respirar, sintoma que se verifica juntamente com tremores incontroláveis, calor e ondas de frio, e tosses persistentes.

Todo o cuidado é pouco.
Pirolitos sim, mas no mar!

Tenho em mim todos os padres do mundo

A lógica da sexta-feira é que seja um dia agradável, luminoso e desprendido, vivido com aquele sentimento de dever cumprido, em que a canseira da semana se abate de forma leve e até complacente nos ombros derrubados pelo peso dos braços.
A sexta-feira é o dia em que se descansa das muitas mais de 35 horas que o Estado-bom impõe aos seus trabalhadores-bons.
A sexta-feira serve, essencialmente, para dar um saltinho ao escritório, tirar o bold dos emails, ir comer qualquer coisa à rua (numa manifesta greve! à marmita), esticar as pernas, levantar os braços, suspirando muito fundo, como se acabássemos de chegar a casa.
A sexta feira não é um just another day at the office, but, simplesmente, mais um dia no kindergarten do escritório-mau.
Só que não.
A minha cara sorte não aparece para o chá, às sextas-feiras.
Não, as minhas sextas-feiras são frenéticas, cinzentas, frias, cheias de papelada para tratar, pessoas para falar, telefones a tocar, pessoas amarelas, pessoas que fumam, pessoas que chateiam, pessoas que falam alto, pessoas que cantam, pessoas que devem dinheiro a outras pessoas, pessoas que beijam só de um lado, pessoas, pessoas, pessoas.
Não é, posto isto, uma brincadeira de crianças.
À sexta-feira, todo um céu desaba na minha cabeça. Ele é a colega a que vem disparada escada abaixo rebolando a grande bilha para me entregar a notícia que temos um fora-de-prazo, ele é o motorista que adormece num quarto escuro dos subúrbios pela 8º vez esta semana, ele é o quadro elétrico que já não lhe apetece dar energia ao meu departamento e desliga-se repentinamente...
Ei?! Alguém com um isqueiro por aí?
Para mim a sexta-feira é somente o dia onde tudo, invariavelmente tudo, se embrulha para se desembrulhar na segunda-feira seguinte, depois de um fim se semana extenuante a lavar roupa, a estender roupa, a passar a ferro, e vupt vapt, 3 miseras horas depois chegar a segunda feira, e em frente ao espelho onde se desenramelam os olhos esta pessoa se aperceber que devia ter pintado as raízes em vez de estar agarrada à Elena Ferrante.
E é isto a minha vida.
Sou uma perdida das sextas-feiras, sou um padre onde os problemas se me enfiam por baixo das saias, qual confessionário de beatas tesudas.

Boa sexta-feira para todos que eu agora vou ali ter com eletricista que veio ver o quadro elétrico, mesmo em cima da hora… de eu ir almoçar…

4 de fevereiro de 2016

60%

Ontem, quando lhe fui levar o chá, o chá da manhã, com teína, disse-lhe que tinha a miúda doente.
Largou os papéis que tinha na mão, rodou a cadeira na minha direção, apertou com um gesto muito rápido que o define, os óculos ao nariz, e disse muito sério, doente? como assim doente?, sim doente, e tenho andado muito preocupada porque disse-me que tinha engolido muita água da piscina, e de repente, depois de várias chamadas para a saúde 24, lembrou-se o meu marido, que eu não tenho cabeça para tanto, que poderia ser envenenamento por cloro. A cara de estranheza que também o define fez-me entrar na convulsão da explicação. Sim, envenenamento por cloro, não faça já essa cara, é que veja, disse-lhe eu, focando-lhe as hastes castanhas procurando como sempre uma reposta sábia a um  presumível problema, o cloro pode provocar o coma, ou a morte se for um caso grave, e sabe como são as mães, fabricam logo mil hipóteses para desvendar o indesvendável. E os sintomas que andei a pesquisar fazem-me ... Sim, os sintomas, conte-me, de que se queixa a menina, pergunta-me de olho franzido mas já preparado para se revirar na cadeira para alcançar um dos muitos frascos que guarda numa prateleira, dores de barriga, digo eu, calcando a minha própria barriga, mesmo aqui, por baixo do umbigo, ah e tem uma febrícola e um cansaço que não estou habituada a ver nela. E vomitou, e tem náuseas. Está assim desde sexta feira, precisamente depois da aula de natação, e hoje de manhã voltou a vomitar. É preciso avisar os senhores da piscina que quando colocam o cloro na água as pessoas não a podem utilizar, disse ele enquanto procurava a hipótese mais calculista para a doença da miúda. Avisou os senhores da piscina? Não, ainda não tive oportunidade de o fazer, mas sendo uma piscina municipal talvez o saibam. Não sabem nada, esquecem-se, e depois tudo passa. Baixei a cabeça em direcção à mão que continuava agarrada à barriga. Tirei-a e ajeitei o tabuleiro do chá que pousava perclitante em cima de um molho de coisas pequenas. Tem de lhe dar água oxigenada a 10º , disse subitamente. Dilua 120 gotas num litro e meio de água e dê-lhe para que o organismo oxigene. Só o oxigénio pode tratar. O oxigénio puro trata de tudo, mas as pessoas não sabem. Sabe o que é uma câmara hiperbárica? Sei, disse eu, contente por saber pelo menos alguma coisa no meio daquela conversa, fiz mergulho, e lembro-me de haver uma no Portinho da Arrábida; serve para quando os mergulhadores ficam sem oxigénio nas garrafas e passam muito tempo sem respirar. Sim, serve para isso, mas foi criada para ser usada na Marinha, para salvar os marinheiros que pegavam fogo na guerra e ardiam e se queimavam na zona que não estava submersa dentro de água. Aquilo pegava tudo fogo, os barcos, aquilo tudo, e eles em chamas saltavam para dentro de água, mas era uma água cheia de combustível a arder, na superfície. Eram salvos queimados do tronco para cima e a Marinha tinha essas câmaras para os oxigenarem, para os salvarem. Sim, eu própria fui submetida a uma câmara hiperbárica quando me queimei. Fui oxigenada e não morri. E para conseguir respirar tiraram-me a pele. O oxigénio é uma coisa boa, talvez lhe dê a água oxigenada para ver se a salvo desta indisposição. Sim, faça isso, mas o que é queimou para ter sido tão fortemente oxigenada?
60% do corpo.
Nesse caso, disse-me com o olhar pedido algures, com um único frasco de água oxigenada a 10º que aqui tenho, não a poderia salvar.

Chiado 'Editora´?

Toma lá que já almoçaste!

Grande C.N. Gil!!

3 de fevereiro de 2016

Paneleirices


Lina

Quando eu nasci, os meus pais alugavam por dois contos e setecentos uma cave com quintal num prédio cheio de casais novos.
Todos os casais que lá moravam tinham filhos, e à exceção do Alexandre e do Leandro, os últimos a nascer, eu era a miúda mais velha e a miúda mais nova do condomínio, isto é, eu era a única rapariga nascida no meio de onze rapazes.
Esta pequena-grande particularidade teve consequências várias na minha infância.
Por ser a única miúda do prédio, franzina mas muito machorra, habituei-me às brincadeiras masculinas e acalentei durante muitos anos uma espécie de raiveta mal contida às brincadeiras das miúdas.
Por isso é que, quando aos sete anos me ofereceram a primeira boneca, a Lina, eu a despedacei com a tesoura do jardim, cortando-lhe irremediavelmente os cabelos, os dedos das mãos e depois, como quem lava a alma, as duas pernas.
Não sei onde jazem os despojos de tão maltratada boneca, mas asseguro que mesmo enterrada no quintal, à mercê da implacável erosão dos solos, está mais segura agora do que nas minhas mãos pequeninas.
Ontem, quando liguei para a Dierre, para dar conta que uma porta ultra-mega-blindada tinha ficado desalinhada depois de uma tentativa de assalto, atendeu-me uma Lina encrespada, e eu fui tão longe quanto isto: contei-lhe a história-falsa da boneca da minha infância dizendo-lhe que era a minha preferida, e fazendo o truque da simpatia-sentimental, o grande trunfo das super-secretárias, alinhei uma data da minha preferência para a resolução do meu problema.

2 de fevereiro de 2016

Comprei umas caixas surpresa e olhem só!!!










Apareceram-me estas mulheres desnudas, visivelmente perturbadas, coitadas, contorcidas dentro do espaço exíguo das caixas, notoriamente pequenas para tanta... perna.
Acho inadmissível que o negócio on-line das caixas surpresa tenha chegado a este ponto, e que nem sequer tenham enviado amostras dos produtos que usaram para ter as mulheres neste estado corporal digamos que... lastimável.
E magras, que horror, não suporto mulheres magras!
Venho fazer aqui uma reclamação muito séria: eu comprei caixas surpresa de produtos, não comprei as gajas que usam os produtos.
Pessoas que vendem caixas-surpresa, por favor, vejam lá isto, que eu não posso levar esta gente toda lá para casa, porque o meu marido, pois o meu marido anda muito atrapalhado com trabalho e não tem tempo de fazer a normal conferência das compras que faço on-line.
Obrigada.