30 de setembro de 2015

Se eu fosse 1º Ministro

Antes de me adentrar nas opções que faria propriamente ditas, antes de colocar quem quer que seja em alvoroço, provocar a estranheza, a indignação e o espanto, digo já que estou profundamente ancorada na ideia do povo unido jamais será vencido, apesar de saber que quem nos governa não foi sempre governante, e que esse lado pagão que ainda vai subsistindo em alguns - que deixaram de ser povo mas que ainda erguem bem alto os valores da igualdade e da fraternidade -, é onde tenho a minha maior fé.
Não existem 'os incorruptíveis'.
Basta pensar que qualquer pessoa se deixaria corromper se isso significasse a salvação da sua vida ou da vida de um filho, pelo que assente nestes primados, discorro sobre aquilo que faria se me visse no lugar do 1º Ministro, avisando de antemão que dentre os que atualmente co-exercem sobre nós o poder, poucos iriam à (minha) colação.
Sou uma pessoa simples. Tenho uma agonia e um sofrimento muito dilatado pelo estado burocrático em que vivemos.
Já por diversas vezes fui obrigada a pedir declarações de não dívida ao Estado (S.S e AT) para comprovar ao Estado (S.S. e AT) que não tenho dívidas. É o mesmo que pedir a mim própria que assine um contrato de trabalho onde a empregada sou eu, coisa que também já aconteceu, nomeadamente quando fui sócia de uma empresa e era Directora Técnica ao mesmo tempo. Fartei-me de ter relações profissionais com a minha própria pessoa e estive quase a fazer queixa de mim própria numa altura em que me obrigava a trabalhar fora do meu horário de trabalho.
Acabava com esta masmorrice que só serve para atrasar a vida das pessoas e que se resume à batalha infinita e decrépita entre órgãos públicos para saber afinal quem é que manda mais, e quem é na verdade o dono disto tudo (eu sei quem é e um dia juro que vos digo).
Na minha terra construíram recentemente um mamarracho monumental, que virá a ser um ginásio desportivo all-in-one. Construiriam tudo de raiz, uma coisa gigantesca. Tiveram alvarás da autarquia para tudo, claro, mas ainda está fechado. Carece da licença da autarquia que aprovou todos os projectos, aprovou a construção, aprovou as especialidades, a localização, a venda do terreno, mas ainda não se decidiu quanto à sua abertura. Estranho? Não, dramático, se pensarmos no dinheiro que estão a perder aquelas pessoas que ali investiram e no igualmente monumental desnorte e borrifanço da Câmara para os projectos dos empreendedores.
Estes exemplos são banais em face de muitos outros que me passam à frente dos olhos todos os dias.
Estado que é Estado tem de investir na desburocratização. Como é que isto se faz?
Pedindo ajuda às universidades que estão a abarrotar de miúdos altamente especializados em programação informática e que abalam sem dó nem piedade para Silicon Valley, com contratos milionários. Uma tristeza sobretudo para os pais que ficam órfãos de filhos vivos.
Queremos um programa informático que abarque tudo. O colesterol, a massa muscular, as dívidas do selo do carro, das portagens, os delitos, tudo. Quero poder aceder às informações sobre as empresas e sobre os particulares de forma a desencravar as pessoas de assuntos de merda obstaculizados pelo Estado.
A minha avó que recebe uma porra de 350,00€ de reforma está a ficar cega devido às cataratas. Aguarda há 4 anos a chamada do hospital público. A situação agravou-se de tal forma que tem de ser operada de imediato ou fica cega. Vai ter de pagar do seu bolso roto 4 800,00€ no particular.
Entretanto a vizinha dela, que morreu o ano passado, recebeu finalmente a chamada para a operação das cataratas.  Quem é o responsável por esta cegueira?
Depois atacava inclementemente a esterqueira que é o sistema judicial, fazendo tudo o que estivesse ao meu alcance para diminuir os estilhaços que o sistema crava na pele, nos ossos, na alma dos inocentes ou nos não provados culpados.
Como na Inglaterra, imporia um sistema de julgamento que consistisse na fórmula simples e eficaz: quando alguém é acusado de alguma coisa, essa pessoa seria julgada perante a comunidade e pela comunidade.
Se a comunidade serve para votar, também serve para julgar.
12 pessoas escolhidas aleatoriamente decidem por unanimidade quem é culpado ou quem é inocente.
Instituía o sistema de júri e acabava-se a tirania dos juízes.
Acabava-se com as prisões preventivas (e o acesso aos processos unicamente pela acusação) sem que o acusado (como o Sócrates) só dele tivesse conhecimento quase 6 meses depois de estar preso. Prendem-se pessoas que nem sabem o motivo de terem sido presas e que por isso não têm como se defender! E só as mandam para casa com pulseira electrónica se se assumirem como culpadas, caso contrário poderão ficar na prisão até algum juiz declarar que a defesa pode ter acesso ao processo. Que ridículo. Que injusto.
Limitar o poder do Estado é urgente.
Não são os nossos vizinhos que tememos. Tememos o Estado, o mesmo Estado que deveria ser o nosso porto de abrigo, a nossa ultima esperança, o nosso ultimo reduto, é quem afinal nos ataca. Ferozmente. Dependemos daqueles que detêm o poder e que estando na posse dele, abusam dele, abusando de nós.
Lembro-me muito da mãe da Joana. Onde está a Joana? Viram-na morta? Quem a matou? Como foi morta? Como se prende para a vida uma pessoa com base em suspeitas, presunções?  A única presunção que é aceitável é a presunção constitucional de inocência. Mais nenhuma.
Qual quê! As pessoas deste país são julgadas quantas vezes o recurso for permitido. E pela mesma coisa. Julgam ad eternum a mesma pessoa pelo mesmo crime, duas três vezes, ilibando numas absolvendo noutras dependendo do estado do tempo, desconfiando dos juízes e do trabalho dos que chegaram primeiro, como se descascassem as camadas podres de uma cebola até nos fazerem chorar de cansaço, de despesas, e de incompreensão. Quem ri por último ri melhor. Não se entende. 
E logo de seguida achava-se uma maneira de qualquer cidadão poder ser deputado. Eu quero ser deputada. Quem são aquelas abéculas que dormem no Parlamento a vida inteira? Eu quero ser eleita para deputada, quero ter listas de assinaturas para poder fazer parte das decisões do meu país. Quem sou eu? Sou a que vota e a que julga, logo sou também a que decide.
Decido sozinha? Não. Decido em conjunto com todos. Referendos? Sim. Quero o poder da palavra em questões cruciais. Quero decidir se a minha filha pode ou não alugar uma barriga para me dar uma neta, quero decidir se vendem a TAP, a EDP; as águas, o país. Não quero que seja político qualquer a decidir se a minha filha pode ou não ser mãe, quer ou não casar com a melhor amiga. Não quero. Ele não sabe e nem nunca saberá o desespero que é não poder ser mãe e o desespero que é não poder casar com quem se ama.
E quero que o meu país imponha definitivamente a regra sacrosanta de que nenhum político eleito poderá jamais governar sem que para isso assuma penalmente e criminalmente as decisões que atualmente toma em favor de amigos e compadrios.
Em vez de vermos as ridículas arruadas (quem é que inventou esta parvoíce?) o que víamos era gente a escolher de entre os melhores CV's, aqueles que apesar de corruptíveis (porque ainda existem muitos sargos para distribuir) ainda erguem bem alto os valores da igualdade e da fraternidade.
E por último haveria de fazer a lei mais pesada que as leis mais pesadas para as mães e para os pais que fazem dos filhos menores a sua principal unidade de produção familiar, expondo-os em blogs e eventos Barral, com as cuecas à mostra só para receber de volta uma filha da puta de uma Planta com sabor a marmelada.


(Obrigada a todos os que chegaram a esta pequenina palavra.)

A Ponte 25 de Abril é a nova Torre Eiffel não é?

Já todos devem saber disto.
Tanto faz.
Para já a ideia consiste em tornar a ponte sobre o Tejo um monumento visitável.
Um sorvedouro de turistas.
Far-se-á um elevador que nos levará lá acima, far-se-á a divisão por dois níveis (tabuleiro e torres) -  com a respetiva diferença de preços - e os lucros prometem render mais que as portagens.  

Para já decorrem os preparativos para a primeira leva de duros e destemidos que se aventurarão em alturas épicas.
A oportunidade está limitada a 18 pessoas por visita, sendo que uma decorre pela manhã, às 9h30 de dia 10 e outra às 14h30 do mesmo dia. As inscrições abrem no site dia 2 de Outubro e incluem uma explicação ao pormenor sobre a história e engenharia da ponte.

Estamos tão parisienses não estamos?




29 de setembro de 2015

Dúvidas

Porque é que o boneco de hoje da Google está a beber água por uma palhinha se o que descobriram em Marte foi água salgada?

Meanwhile


De acordo com o All Africa, a lei traz esperança de que os nigerianos "comecem a aceitar que práticas culturais e religiosas também devam sujeitar-se aos direitos humanos".
De acordo com dados divulgados pela Unicef em fevereiro, há cerca de 130 milhões de mulheres e meninas vítimas da prática, vivas atualmente.
Jonathan Goodluc, antes de sair do Governo, faz jus ao nome e transfere para as mulheres nigerianas a boa sorte que todas elas necessitam para ultrapassar aquela que é a maior barbárie aos direitos humanos das mulheres.
Resta apenas que as mães destas meninas, no segredo das suas casas, não se furtem a esta espetacular medida.
Tudo dependerá delas.
As usual.

"Escrever num blog é, tem que ser, um tremendo exercício de liberdade."

Se me perguntarem qual é o dia que retenho com mais simpatia nisto dos blogs, posso dizer sem sombra de dúvida que foi o dia em que todos mostraram, sem medos, os seus sapatos.
Nesse dia calçava naturalmente os meus mocassins de homem, uma imagem de marca muito minha - porque os uso exatamente como os usava o Michael Jackson, com calça à meia canela, com ou sem peúga, não granjeando (por isso?) a simpatia do formal (antiquado?) Rule of Law.
É um certo stand up que faço questão de impor aos cenhos franzidos de alguns, e ao riso trocista de outros.
Exerço no entanto a liberdade de os usar sempre que quero, gosto imenso deles, e não sobreponho o meu gosto por sapatos de homem, que compro amiúde, às senhoras que só usam o salto alto agulha.
Não me sinto posta de parte por usar sapatos de homem, apesar de ver os olhares sinistros na direção dos meus pés, mas compreendo que na apresentação de um  novo cliente devo usar, como todos, uns sapatos que não me inferiorizem e não os inferiorize também a eles.
É o dress code. Sem tirar nem por.
Não está no Regulamento Interno do Rule of Law, mas está no bom senso das cabeças em geral.

Entretanto, e derivado de estar apaixonada pelas bicicletas e disso me fazer feliz, estou com pouco tempo para me abotoar aos meus problemas existenciais, que granjeiam, já se sabe, um maior número de compadecidos, porque todos os temos [os problemas], e é reconfortante saber que não estamos sozinhos quando algum mal nos apoquenta, e por outro lado, estou também com pouco tempo para dançar com a blogosfera, que segue o seu bailado próprio, e eu às vezes não tenho, lá está, os sapatos adequados à dança. Mas não deixo de ouvir a musica que me chega da vizinhança, e às vezes, por a música não ser música para os meus ouvidos, gosto de, sem grandes alaridos, sem magoar ninguém (que isto não são só blogs) exercer a minha liberdade para opinar sobre a opinião um vizinho.

Foi o caso.

A frase que encabeça o post de hoje não é minha.
Nem poderia ser.
Não acredito na Liberdade, nem imagino o que seria da blogosfera, ou das relações sociais em geral, se todos os que nela escrevem fizessem esse tremendo exercício de liberdade.
Seria talvez apoteótico, e nesse caso desinteressante, anárquico, malcriado, e possidónio.
Em primeira instância, para provar que isto de sermos tremendamente livres nos nossos blogs é utópico, começo logo por afirmar que uma pessoa que escreve num blog público, dá-se ao outro, mostra-se ao outro, mas com reservas; explana de forma mais ou menos verídica aquilo que pensa de si e dos outros, daquilo que faz, mas em todos os casos fá-lo de forma filtrada.
Até a mentira se encontra filtrada, para que quando desagua no texto não seja absolutamente ridícula.
Escrever num blog é e tem de ser exatamente o quê?
É e tem de ser um exercício? É e tem de ser tremendo? É e tem de ser absolutamente real?
Nada mais falso.
Um blog é e tem de ser somente aquilo que eu quero que ele seja. No meu caso um delírio, no caso de outros um desvario, e de alguns, poesia.
Mas deve ser coerente, e não andar a patinhar a casa com os sapatos sujos de opiniões que tanto pendem para a direita como, de repente, pendem para esquerda.
Vejamos o que nos diz a certa altura o autor do texto:
 A ideia-chave é exactamente essa: as pessoas não têm obrigação de ser simpáticas connosco. Têm, isso sim, o dever de ser cordiais.

Mas então se há um dever de cordialidade, onde fica o tremendo exercício de liberdade? 
Não fico tolhida pelo dress code da cordialidade? 
Que liberdade é essa que me impede de arrancar definitivamente um blog da minha vizinhança?
Não faz isto lembrar aquela anedota do pai que diz ao filho: podes ser tudo o que quiseres, desde que sejas médico!
Sou livre, devo ser tremendamente livre, mas tenho de ser cordial para não irromper pela liberdade dos outros?
Não é justamente a propósito do despropósito de certos bloggers que se zangam as comadres?
Despropósito, vulgo, liberdades, bem entendido.

O que foi aquilo?

É que escrever num blog, é além de tudo um exercício de self control.
O tremendo exercício é precisamente o contrário ao exercício da liberdade que o autor defende, porque é um exercício de ponderar e aceitar que as opiniões divergem, e que mesmo num dia mau, daqueles dias que nos apetece dizer 'que coisa parva que escreveste hoje' há que clicar e sair dali o mais rápido possível para não haver problemas de maior, onde todos saem magoados.
Eu sei que haverá pessoas que discordarão do meu parecer, que devemos dizer tudo como os malucos e que todos temos o direito de ser loucos no matter what.
Sim, loucos... mas nesse caso nem todos têm o direito (ou querem) ser livres.
Por isso somos todos diferentes.
Por isto somos tão iguais. 

28 de setembro de 2015

Tudo sobre sondagens


A minha teoria é esta:

As pessoas que estão contra o atual Governo, são as que foram mais implacavelmente destruídas pela sua política.
A crise entranhou-se-lhe definitiva e brutalmente nos ossos, o IVA a 23% irrompeu-lhe pela pele qual chaga putrefacta, o desemprego fechou-as numa caixa que para caixão só lhe faltam os 7 palmos de terra. 
Encontram-se em estado apático, catatónico, sem saber o que fazer da vida, descrentes, totalmente desiludidas com o rumo da sua vida, e do seu país.
São estas pessoas que em última instãncia não votarão no dia 4 de outubro.
Parece-lhes, à luz dos últimos acontecimentos políticos, sociais e pessoais, que nada mudará, que tudo ficará como antes.
Continuam sem médico de família, os filhos continuam a emigrar à custa de lhes faltar o emprego e o futuro, as escolas segregam alunos e professores, os hospitais investem cada vez menos empurrando famílias sem um tostão para os hospitais particulares (que mais do que duplicaram o lucro em 2014), as mães continuam sem o ser, o interior é devolvido ao seu estado selvagem e as cidades sem rei nem roque amontoam-se de tuk-tuks para inglês ver.  
Enganam-se. É a sua descrença que os engana.
Nada mais nos resta senão a mudança, mesmo que a merda seja invariavelmente a mesma.

Quando foi a última vez que ... ?

Quando foi a última vez que deixaste passar o eclipse total da lua, em branco?
Quando foi a última vez que foste mordida por 18 bichos diferentes sem ser daquela vez que os teus pais te arrastaram para um campismo na Comporta?
Quando foi a ultima vez que fizeste uma saída só com homens?
Quando foi a última vez que atravessaste um rio sem ser de carro?
Quando foi a última vez que tiveste de esperar porque um gajo estava demasiado cansado para te acompanhar?
Quando foi a última vez que mudaste um pneu?

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VESTISTE UM 36???

Eu sei que esta última dói um bocadinho, sobretudo nas pernas e no nalguedo, mas quero aqui deixar esta marca importantíssima, assinalar esta data, e fazer um feriado pessoal.
Eu SOU capaz!




51 km.
Nada mau para uma encravadinha como eu.
Nada mau.

25 de setembro de 2015

Nunca é tarde para amar

Ando a seguir a primeira série televisiva da minha vida, depois do Miami Vice, e o segundo“reality show” desde que o Marco deu um pontapé à Sónia.
Sou uma saloia do pior, eu sei.
Mas nunca é tarde para amar.
E eu estou completamente apaixonada.



BE BIKE
http://aetv.pt/microsites/be-bike/

O primeiro “reality” sobre restauro e personalização de bicicletas, é o primeiro “reality” que acompanha o dia-a-dia de uma oficina de bicicletas.

Em pleno coração do bairro de Barceloneta, um dos mais carismáticos de Barcelona, situa-se Barceloneta Bikes, uma loja oficina com muita personalidade. Tony, Xavi, Pablo e Gibril formam a sua equipa. São quatro apaixonados por bicicletas que, desde sempre, dedicaram a vida às duas rodas. Gostam de concretizar os sonhos de cada cliente no que toca às bicicletas, mesmo que seja uma tarefa muito complicada.
Em “Be Bike” assistiremos a montagens personalizadas feitas de raiz, reparações e restauros soberbos em bicicletas “fixies”, de estrada, de montanha, de carga ou até de bicicletas clássicas, além de ficarmos a par das histórias dos seus proprietários. Os utilizadores e adeptos das bicicletas são aos milhares e, agora, vão ter um programa com que se sentirão identificados, mas também servirá para despertar a curiosidade dos que ainda não foram cativados por este fenómeno.

A nossa última esperança num futuro melhor


Há coisas engraçadas em mim.
Em tempos tive uma colega de trabalho absolutamente dedicada aos animais abandonados, tendo criado uma associação para os ajudar - e quero já esclarecer que dos projetos mais difíceis de levar a cabo (por razões óbvias) este é um deles - e à qual se dedicava diáriamente de corpo e alma, várias horas por dia.
Lembro-me de a ouvir ao telefone, esbracejando, tentanto organizar as turmas de voluntários para as diversas ações de recolha de comida e donativos, a via-a suar as estopinhas para arranjar gente para limpar as boxes (um trabalho muito sujo), para tratar dos animais doentes, ficar com eles à noite, dar-lhes medicação, atender aos abandonos à porta da associação, enfim, uma panóplia de coisas que a mim me pareciam sempre herculeas, além de desesperantes.
"O pior é a esterilização das gatas. Temos veterinários que são nossos parceiros, mas mesmo assim a cirurgia é cara."
Sim, a campanha de esterilização das gatas era de todas a que funcionava melhor. Impedia-se a reprodução dos animais na rua, e podia-se devolver os animais à cidade, o seu lar.
Pensei muitas vezes que se as pessoas mantivessem os animais em casa, mormente as gatas, não havia necessidade de as esterilizar. Os miados são fáceis de suportar, e aqueles rabinhos no ar, e o olhar sedutor de uma gatinha de 6 meses, não mete medo a ninguém.
Sujeitar um animal a uma cirurgia só para não o ouvir miar e rabiar, seria uma estupidez.
Mas depois veio a Meca e tudo mudou.
"Elas sofrem imenso."
"Elas acalmam imenso."
"Vais ver que depois de esterilizada ela fica gorda, apática e dengosa, e já podes voltar a pendurar os cortinados da sala."

Estava aqui com o coração nas mãos a pensar se lhe corria bem a cirurgia de hoje. Correu.
Já acordou e já deu uma dentada na assistente.
Mas ainda me sinto ansiosa por não saber, afinal, se esterilizar uma gata a torna mais ternurenta, mais calma, e se a liberta dos ginetes que a fariam safar-se novamente na cidade de onde a tirei, se fosse novamente libertada.
Julgo que o que acabei de fazer é só mais um bengala psicológica para a esperança num futuro melhor, sobretudo para as nossas pernas, braços e cortinados.
Por outro lado tenho a certeza que uma mulher/gata sem útero, é capaz de ficar exatamente igual ao que era antes de perder a capacidade reprodutiva.
Mas isto é uma coisa que ainda vou ter de descobrir.
É a minha, e sobretudo a vossa (defensores que a esterilização acalma as feras) prova dos nove.
Vamos falando.
Abraço.

24 de setembro de 2015

A imaginação humana não conhece limites

Sob o título 'A aparência dos alimentos é igual aos órgãos que eles curam', um ser humano muito imaginativo criou este boneco:


E depois criou muito outros, igualmente imaginativos, que lançou numa publicação da especialidade, e que teve milhões de visualizações e um incremento substancial na venda dos produtos assinalados.
Que maravilhosa tirada de marketing!
Vejamos a sua destreza em fazer o velhinho exercício do tempo da PGA [Prova Geral de Acesso].

A chique-espertice humana está para a batatinha-doce, como a batatinha-doce está para o .... pâncreas!

Não são igualinhos???
São pois.


 







Daqui.

Da inépcia

Não sei de quem é a culpa.
Não quero saber de culpados e nem de inocentes; não é isso que me interessa.
A melhor frase do mês via-a eu numa daquelas molduras feitas num programa de computador que alguém com tempo suficiente, e alguma paciência, se lembrou de partilhar com os amigos virtuais, sem revelar o autor.
É uma frase bela e vou aqui deixá-la no meu blog. Várias vezes.

"A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."

E é isto:

Na turma da ML, e já no ano passado (3º ano), caiu-lhes uma andorinha de um ano anterior, no meio da sala. A andorinha do 2º ano teve aulas com uma turma de 3º ano, o ano inteiro. Havia mais 2 turmas de 2º ano disponíveis para a receber, mas não cabia lá nem mais uma palhinha quanto mais uma andorinha. A professora, sem nunca perceber como lhe caíra o passarinho na sala,  revezou-se como pode entre a menina do 2º ano e os restantes elementos da turma de 3º ano. Imagino a confusão na cabeça das crianças. Mas as crianças adaptam-se e a menina transitou. "A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."
O ano passado, uma das alunas de 3º ano, colega da ML, chumbou. É este ano repetente no 3º ano, pelo que deveria integrar uma turma de 3º ano, sendo talvez deslocada com a primeira andorinha para outra turma. Os meninos de 4º deixavam de ter uma aluna de 3º ano, a menina repetente saía também, e a professora poderia dedicar-se a um só ano letivo dentro da mesma sala.
Não aconteceu.  "A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."
A menina repetente de 3º ano transitou com a mesma turma que já tinha, para o 4º ano, mas vai levar com a matéria de 3º ano, enquanto os restantes avançam na matéria; talvez  a sentem na mesma mesa da primeira andorinha perdida, mas têm idades diferentes e não são lá muito amigas.
Talvez a professora ache assim mais simples (para ela) separar as matérias do 3º ano da restante turma já no 4º ano, mesmo sabendo que é um entroncho o que ali vai criar.
Mas, não se ficou por aqui a inépcia escolar. "A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."
Lá na escola da ML também há a professora-má, a professora que bate nos alunos, que os divide entre 'o grupo dos palermas' e 'o grupo dos espertos' e lhes dá puxões de orelhas e lambadas. A professora-má era a diretora da escola, mas depois de uma queixa concertada dos pais no respectivo agrupamento viu-se afastada da direção.
Mas manteve-se a lecionar!! "A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."
Para não tomar as crianças de ponta, os pais queixosos impediram as crianças de prosseguir para o 4º ano com a professora-má, impelindo-as a repetir o 3º.
Duas dessas andorinhas chumbadas por decisão dos pais foram transferidas para a turma da ML, porque a professora já lá tinha um mini núcleo de 3º ano caído no meio da sala - a primeira andorinha perdida e a repetente.
As crianças cujos pais se impuseram contra a professora-má, poderiam ter transitado para o 4º ano (mesmo sendo palermas) mudando simplesmente de turma.
Mas não. "A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."
Para mudarem de turma tiveram de as chumbar, passando a culpa que deveria ser toda ela assumida pela professora-má, diretamente para os meninos agredidos. "A vida é feita de fases. Ou fazes ou não fazes."

O 4º ano da ML vai ser o mais difícil da vida dela até agora. A professora que deveria estar totalmente dedicada aos seus alunos de 4º ano, preparando-os para os exames, deverá despender de igual maneira e em igual número de horas a sua atenção para os dois anos diferentes que tem dentro da mesma sala, e ainda mais, porque 3 das andorinhas são repetentes e têm necessidades educativas mais complicadas.
Afinal uma é tontinha e perdeu-se, e os outros dois são palermas.

A minha pergunta é só esta:
Quem, por Deus, quem é que definitivamente toma conta desta porra?


23 de setembro de 2015

39

Eu e a minha mãe - Lagoa de Albufeira - 1981


Não posso deixar de confessar que ontem, enquanto lia as páginas finais de um belíssimo livro da Elena Ferrante, me surpreendi de olhos presos no tecto a pensar na minha idade.
Tomei consciência do meu corpo ali deitado, levemente coberto pelo edredon fresco de verão, e mexi-me levemente; não sei se para confirmar a existência de movimentos ainda jovens, se para confirmar artroses e artrites crescentes, ou se para verificar que estava definitivamente a envelhecer, incapaz de me levantar de um sopro e correr, e que dentro de um ano teria mesmo 40 anos.
Suspirei e convenci-me que sim, que entraria numa fase confusa do meu eu, possivelmente alavancada (mas não totalmente convencida) pelos dogmas sociais dessas mulheres maduras que evocam os 40 como se só depois dessa idade começássemos a viver a vida em pleno, e enfim, como se no dia a seguir ao aniversário transpuséssemos uma parede muito alta que até ali nos impedia de sermos felizes plenamente.
Desculpas. Desculpas?
Não posso deixar de confessar que apesar de sentir com todas as minhas forças que estou bem, que o melhor está para vir, e que ainda tenho sex appeal suficiente para me rebolar em frente ao espelho, a verdade é que ontem me senti inquieta.
O tempo passou, isso é certo, mas não é menos certo que eu fiquei presa a uma certa juventude psicológica que me custa largar. Cá dentro sou ainda uma miúda, e como tal, permito-me por vezes comportar-me com condescendência, desculpando-me a certas infantilidades que ainda tenho.
Por exemplo: aos 39 anos sou ainda capaz de subir para cima de um balcão e entrar numa brincadeira imberbe com os meus amigos estupefactos na pista de dança, e ainda voo em cima de uma bicicleta como se tivesse 9. Sou na verdade inconsequente, porque me desculpo a atos perigosos, ridículos?, e inconsciente porquanto, assim, me liberto também da minha idade.
E tenho uma filha para criar. Não posso partir as duas pernas ou ficar deformada dos braços se por acaso me estatelar no asfalto, ou cair redonda no meio da rapaziada que dança.
Pensando bem, o facto de me ter deitado antes da minha filha, ontem à noite, é possivelmente um resquício da saudade que tenho de ser nova, miúda de verdade.
Soube-me bem ser beijada ao invés de beijar, no intimo beijo de boa noite.
Não posso deixar de confessar que por vezes me surpreendo no papel de mulher. De mãe.
Pergunto-me como foi que aqui cheguei e se é realmente verdade que transpus a barreira que me separa da protegida para o lado da a proteger.  
Eu também quero que me descasquem as frutas, e mas entreguem em gomos suculentos, e ainda não sei se gosto mais de aninhar uma cabeça no meu colo se de aninhar a minha cabeça num colo.
Ali deitada, com o livro aberto em cima do peito, fiquei indecisa sobre que idade teria eu.
Tenho 39, lembrei-me, e dentro de fugazes meses farei 40.
Repentinamente senti que nada poderia consolar-me e que ficaria para sempre presa à convenção de ser velha, de estar a ficar velha, e de ser ao mesmo tempo uma miúda, ou pelo menos imaginar-me demasiado miúda para a minha condição de velha.
O que será que vai acontecer quando a minha filha crescer e com ela arborescerem amigos, rapazes, miúdas, que virão visitar-la cá a casa? Serei capaz de aceitar que na vida tudo passa, e que até a Uva passa? Que não poderei, nem ela quererá, como eu também não quis, levar-me nas asas da sua juventude temendo que lhas corte?
Talvez. Nunca tive vontade de ser uma mãe 'jovem' que acompanha a sua filha nas discotecas ou em saídas com amigos. Quero sim, ter amigos 'jovens' que me acompanhem na velhice dos meus dias.
Gostava muito de transportar os meus amigos ainda jovens para esse tempo futuro, razão pela qual ainda hoje teimo em fazer novos amigos, amigos novos, e por isso jovens e por descobrir.
Conseguirei eu, no inexorável passar dos anos, acatar, como um cão batido que se agacha depois da violência do dono, que a juventude desaparece do corpo e depois nos deixa secos como um carapau ao sol?
Talvez me torne numa velhinha cheia de genica, de rabo de cavalo no alto da cabeça, calças de cos alto por cima da camisola fina de algodão, mangas arregaçadas e sapatilhas de corda.
Ou talvez não. 
Gosto muito quando me dizem hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Penso muito nisso, ali deitada.

O resto da minha vida suplantará, em tudo, os restos da minha vida. Poderei recomeçar a partir daqui, desabridamente,  sem o lixo nas costuras da algibeira a lamberem-me as pontas dos dedos, aglomerado de pedras pequeninas, que se enfiam nas unhas e nos magoam.
Tiro mentalmente os bolsos para fora, sacudindo-os, e começo de novo. Sem lixo, sem pedras e sem nada.
Não posso deixar de confessar que por vezes me surpreendo no papel de menina.
Como a minha mãe, ali, ainda tão jovem, vivia também o primeiro dia do resto da sua vida.

22 de setembro de 2015

Da desconsideração

Apesar do crescente desprezo, raiva, engulhos, e sobretudo aquele quebranto estranho que nasce pela manhã e que nos mata a motivação para as tarefas no respetivo local de trabalho, a verdade é que se nos desligarmos totalmente daquilo que lá vamos fazer, da tarefa em si, do trabalhinho ordinário e sensaborão que conseguimos conquistar ao fim de tantos anos de sonhos elevadíssimos sobre onde deveríamos estar na pirâmide profissional (e onde quase nunca estamos), a verdade, dizia eu, é que se tivermos um bom ambiente de trabalho, se tivermos quem nos venha acompanhar no café da manhã, se tivermos alguém que passe no nosso gabinete (mesmo que não nos suporte o resto do dia) e nos diga um rasgado bom dia, um olá, um merda qualquer, nem que seja um cuspo na porta, é certo e sabido que a pessoa fica mais animada, enganada mas animada, e tudo se vai compondo nas restantes horas do dia.
Mas não.
Insistem nas portas fechadas, nas bocas fechadas, nos braços fechados.
E nós, cansados de dar tudo por tudo, mesmo quando não nos apetece nada de nada, acabamos por culpabilizar a nossa pouca vontade, que se calhar até é miúda para ficar ali plasmada na nossa cara matinal, de que os nossos colegas de trabalho são todos uma masmorrice do pior, uns malcriados de primeira apanha, e que azar, com tanta empresa para vir cair, havia logo de me espalhar ao comprido nesta.
Conto-vos aqui uma passagem desta minha interessante vida, e que por poucas palavras se consubstancia nisto: uma pessoa trabalha há vários anos numa empresa e tem há vários anos os mesmos colegas, com ligeiras alterações, poucas.
Uma pessoa compartilha, partilha, trilha, coisas e caminhos, opiniões e almoços, assuntos e problemas, vidas e razões, uns dias melhor, outros dias pior, mas sempre consciencializada de que alguma coisa ali se cria e nasce, mesmo torta, mesmo azeda, mas que é alguma coisa, e de um dia para outro vê-se confrontada com uma coisa deste género:
- Olá, hoje é o meu último dia aqui!!

Olá, hoje é o meu último dia aqui??
E sabes isso desde quando? Soubeste hoje? Ontem? Na sexta feira passada? Ganhaste na lotaria?

Que pessoas são estas que partilham uma vida connosco e de repente nos desconsideram assim?
Quando foi que nos partirmos?
Quando foi que deixamos de construir, de nos enganar?
Sinto pena.
Sinto pena quando penso que também eu, seguindo o desprezo, a raiva, os engulhos e a desconsideração crescente que todos vamos alimentando uns pelos outros, possa morrer assim de um dia para outro, sem sequer permitir que me façam o enterro.

21 de setembro de 2015

1ª cena fixe que fiz com 39 anos



Acordei às 7 da manhã, equipei-me, comi uma torrada, engoli uma caneca de café, enchi o cantil de água fresca, meti a mochila às costas, e rumei a Setúbal - Palmela para fazer aquele que foi (até hoje) o mais difícil percurso da minha vida em cima de uma bicicleta.
Elas, todas equipadas comme il faut, alegres e de pernas muito rijas, tiravam fotografias, abraçavam-se, riam alto e olhavam de esguelha para a única loira que não usava ténis de encaixe, que não se muniu de barritas de banana ou de gel energético, que insistiu na mochila com os comprimidos para a dor de cabeça, na máquina fotográfica, no telemóvel e noutras porcarias sem interesse nenhum, que apesar dos 30º à sombra não tinha calor nas pernas, e que nunca, NUNCA, tinha subido 3 km sem parar, por uma estrada de terra batida chamada Estrada da Cobra, velhaca da cobra, má como as cobras, e muito menos se tinha aventurado em coisas como o fio dental, que nunca tinha descido uma serra tão íngreme que a bicicleta no máximo dos travões continuava a deslizar por ali a baixo como se de repente tivesse vontade própria, e que nunca tinha despejado um cantil cheio de água no pescoço, por virtudes de estar tão afogueada, mas tão afogueada, que quase pegava fogo à serra.
Estou que não me aguento.
Levei a maior tareia da minha vida num percurso que foi identificado como fácil/médio, e onde percebi o que é ser uma velha jarreta, com quase 40 anos no rabo, e de ter estado tantos anos numa inércia física tão profunda.
Nem quando pari a ML fiz tanta força!!

Mas cheguei ao fim, cheguei com a certeza de que sou capaz, cheguei ao fim cansada, estoirada, mas acompanhada da mais absoluta certeza que na alvorada dos 39 anos, sou uma nova pessoa.
E estou muito feliz por mim.
Boa Uva!

13º encontro feminino de BTT?
Done!!

17 de setembro de 2015

Dúvidas que me assolam neste novo ano escolar

Estava aqui a recordar de como me senti tããããão entusiasmada quando soube que às escolas do 1º ciclo regressariam as saudosas (e úteis?) disciplinas de grego e latim.
A Associação de Professores de Grego e Latim está em pulgas; o desemprego nesta área do ensino é praticamente de 100%, segundo dizem as estatísticas do INE, e é natural que vejam finalmente uma luzinha a piscar intermitente e frouxa, lá no fundo... do poço.
Eu compreendo que na Alemanha a disciplina de Latim tenha imenso sucesso, sendo o terceiro idioma estrangeiro mais estudado nas escolas, mas em Portugal? onde nem o português granjeia adeptos, será viável entronchar os alunos com mais este pedragulho nas mochilas, já de si a abarrotar de merdas sem interesse nenhum, nomeadamente as merdas que estão integradas nos programas escolares obrigatórios?
Estou já a imaginar aqueles meninos com problemas de peso, ou pouco seduzidos pelo desporto em estreita relação com a inércia doméstica em frente ao computador, a fazerem birra para ir para latim ou grego, em vez de mexeram o rabo em corridas à volta do pavilhão da cantina.
É tudo opcional. É um país à trouxe-mouxe.
Esta medida, quanto a mim - que sou totalmente suspeita porquanto o meu interesse é sempre crescente no que toca às origens da língua - é mais um flop do inenarrável Crato, e eu, que não mando aqui nada, acharia por bem que o Ministro da Educação antes de lançar medidas peregrinas e esdrúxulas para o ar, como quem manda um balde de água barrenta pela janela, podia por exemplo ser um nadinha mais iluminado, e ao invés introduzir os clássicos, línguas que na minha opinião têm imenso interesse mas não para alunos com 5 ou 6 anos (talvez introduzir no 5º ano fosse mais inteligente), se dedicasse à séria a introduzir nas escolas o ensino da agricultura e da jardinagem - com professores (ou agricultores) à altura desse ensino - das ciência do mar e das suas imensas possibilidades, e quiçá, uma revolução na forma como vem tratando os alunos do ensino especial, o demérito que demonstra com os psicólogos e os assistentes sociais nas escolas, dando-se ao respeito e respeitando (além de tudo) o FUTURO das novas gerações.

Mas infelizmente temos aqui um intrincado quid pro quo.
Vemos-nos gregos para ensinar alguma coisa a esta gente que nos governa.
Para eles é tudo latim.


 

Descontrolada


16 de setembro de 2015

Palmier!!! O Canis sabe alguma coisa de trabalhos domésticos??


É que eu acho que a minha querida M., que se ocupa da nossa casa vai para mais de 10 anos sem uma queixa, se prepara para nos abandonar....

(O que é que eu faço a esta gata louca que hoje de manhã me partiu MAIS um vaso lindo e ainda ficou toda tufada, em pontas, com as orelhas a adejar no cangote, como se a culpa fosse minha???? )

As coisas que a Uva descobre inusitadamente

Eu sei que há coisas que não se devem escrever em blogs.
Coisas íntimas, como doenças vaginais envolvendo infeções pútridas, ou mesmo as comichões que aparecem inusitadamente, como as coisas que eu descubro, quando rapamos demasiado os pêlos da púbis, ou ainda submeter ao escrutínio público os segredos guardados dos nossos filhos, nas páginas de um diário.
Decidi decidir que não haverá filtros no meu blog porquanto as pessoas que o comentam, concretamente os anónimos - e outros que se julgam anonimamente escondidos mas que são tão nítidos como o ecrã onde pisca o meu cursor -, também se arvoam e empinam e levantam como bandeiras, que se desfraldam em desdém e presunções.
O que é a intimidade? O que é ser íntimo? O que é o pudor se todos somos feitos da mesma massa sanguínea, ossos, pele, pulmões, coração?
Não quero ser intima de ninguém senão de mim mesma.
A minha intimidade está cerrada entre os meus dentes, pressionada por músculos mentais tão fortes como mandíbulas caninas.

Mas, deixemos-mos de literatices.
Não foi para isto que cá vim.
Venho para expor a intimidade que não é minha, sendo.
Porque vede: há sempre naquele que escreve, apontamentos de si próprio.
Só não vê quem não quer.

Conto-vos hoje de uma intimidade totalmente exposta.
Basta abraçar-vos a todos com uns braços que pendem de umas mangas de camisa, e em estando calor, estou ali despida, de axilas molhadas, de camisa molhada, enfraquecida, sofrendo um ataque auto-imune que na prática significa o mesmo que uma luta contra mim própria.
O suor.
Haverá algo mais intimo que o suor? Escondido debaixo da pele, como um sentimento mau, um filho mau?
Eu não suo.
Não vim equipada com esse despudor de grande vergonha social.
Não tenho cabelo mas também não tenho pelo. Sou um ser estranho, que se adaptou a um clima frio só com a pele em cima do corpo.
Alguém me disse que haveria de chegar uma altura em que já ninguém nascia com os sisos. O mesmo com o apêndice e a vesícula, talvez o mesmo com o mindinho e o pequenino do pé. "Estão em remissão", dizia-me de olhar astuto olhando para o meu cabelo no mesmo estado.
"Acredito" disse eu, "nunca tive pelos nas axilas e por isso não tenho problemas com o suor".
Acabo de contar uma intimidade e no entanto não me sinto invadida. É apenas uma parte do meu corpo que não faz o que é suposto. Quão intimo pode isso ser?
Conheço pessoas que não funcionam da cabeça, que não funcionam dos sentimentos e mesmo assim despem-se assim como são, sem vergonhas.

Mas vim aqui hoje para vos dizer que descobri um produto que vos transforma em pequenas Uvas pequeninas.
Um pouco deste líquido (bula traduzida aqui) que faz milagres na Hiperidrose, e que se usado de 2 em 2 semanas, transforma o suor naquilo que deve ser. Um insecto esmagado no meio das sovacas.
Não sei se provoca o cancro nas axilas, ou se provoca a queda do cabelo.
Parece-me tão inofensivo como comer um churro.
Resulta a 100% e quase toda a gente que conheço com este problema o usa.
Ahh, afinal sempre vieste expor as coisas íntimas.
Talvez não. Lá em casa a intimidade não passa por baixo dos braços.
Aliás, passa, quando ele me encosta à parede.

O Driclor vem do Reino Unido, e é fabricado pelo laboratório Stiefel. Procurem mais informações sobre o produto. O post não é patrocinado. Obrigada.


15 de setembro de 2015

Perdoa-lhes que eles não sabem o que querem

Faltam dois dias para ser lançado aquele que será o primeiro jornal impresso de boas notícias.
O parceiro, o Instituto Luís de Camões, fala em exemplos positivos, ligados à educação e à agricultura, entre outras áreas, que farão as delicias do povo acabrunhado e imerso no lodo da sub-vida da comunicação social.
É no fundo uma lufada de ar fresco nesta cave escura e bafienta para onde viemos todos morar. A mesma cave onde circulam a toda a hora as misérias que todos queremos esquecer.

Tudo muito bem, tudo muito bonito, claro, ninguém duvida que é pela positiva e pelo esgrimir de argumentos válidos e sólidos, que ainda para mais provam que os resultados de determinada experiência (que pode ser a nossa) são efectivamente bons resultados, mas dizia eu, é afinal uma boa notícia para quem está farto de tanta desgraça, mas adivinhem lá quais foram os primeiros comentários on-line à noticia?

Milagroso jornal, que nos vai dar a sensação, de que tudo está muito lindo. O pior é quando descermos desse céu jornalistico, e cairmos na realidade. Vai ser de morrer de susto.

Claro que sim... Aparecem só noticias boas, esconder o resto, argumentar o desconhecimento da porcaria que ha.. So pode ser para rir. Noticias censuradas tal como ha uns anos.

Assim nem o padre morre, e nem a gente almoça...

Esta sexta-feira é lançado um jornal onde só se leem notícias positivas. O World Best news é uma iniciativa no âmbito do Ano europeu para o Desenvolvimento. - See more at: http://www.rtp.pt/noticias/pais/e-lancado-esta-sexta-feira-um-jornal-so-com-noticias-positivas_v857625#sthash.uUErN8e3.sZ0KUOQj.dpuf
Esta sexta-feira é lançado um jornal onde só se leem notícias positivas. O World Best news é uma iniciativa no âmbito do Ano europeu para o Desenvolvimento. - See more at: http://www.rtp.pt/noticias/pais/e-lancado-esta-sexta-feira-um-jornal-so-com-noticias-positivas_v857625#sthash.uUErN8e3.sZ0KUOQj.dpuf
Esta sexta-feira é lançado um jornal onde só se leem notícias positivas. O World Best news é uma iniciativa no âmbito do Ano europeu para o Desenvolvimento. - See more at: http://www.rtp.pt/noticias/pais/e-lancado-esta-sexta-feira-um-jornal-so-com-noticias-positivas_v857625#sthash.uUErN8e3.sZ0KUOQj.dpuf

Je suis absolument Charlie Hebdo - #sóquenão

Intitulado “The Proof that Europe is Christian,” o cartoon mostra uma criança a afogar-se na água. Do lado esquerdo, um homem, supostamente Jesus, caminha sobre as águas enquanto diz: "Os cristãos caminham na água, os miúdos muçulmanos afundam-se."


Lá vamos nós outra vez...

Levar ou não levar nalgadas. Eis a questão.


Entretanto, há adultos que em vez de respeito, só merecem mesmo é levar nos cornos apanhar umas palmadas bem dadas no rabiosque!

14 de setembro de 2015

Da praxe

Legenda: Aluna Caloira - 'Jaula T2' 

Em 1996, entrei para a faculdade com um enorme nó no estômago.
Em 2001, sai da faculdade com montes de nós na cabeça.
Nunca me tinha debruçado à séria sobre a minha praxe, e de que forma (ou porquê), terá sido apreendida por outras colegas, cheias de sonhos sobre o Espírito Académico, como a 'verdadeira e única aproximação à Instituição e integração no meio escolar superior'.
A minha praxe foi o pináculo da Lei de Murphy, aplicada à minha vida académica.
Fui, naturalmente, apanhada de surpresa. 
Estava tão longe da praxe quanto da PGA, e lutei mais conta a PGA, que não cheguei a fazer, do que contra a praxe contra a qual ninguém lutou, pelo menos da forma como o fizemos em relação à PGA, no infernal fevereiro de 1992.  
Para mim, o início de um novo ciclo académico seria tudo menos ser surpreendida e engolfada por uma caterva de veteranas em praxes, justo no dia da minha melhor roupa, que gesticulavam patranhices, alardeando e gritando ordens militares esganiçadas, enquanto nos alinhavam toscamente, umas ao lado das outras, em frente ao enorme edifício da Universidade.
Achei aquilo engraçado. 
Um paradoxo entre o rigor militar, frio e calculista, e o Serviço Social, quente e sensível.
Julgava que era uma Universidade. Mas era a guerra.
O ritmo das raparigas era frenético; muito idêntico a um estúdio de pintor que prepara e ultima a grande exposição. A parafernália de tintas, pincéis, batons, instrumentos rurais, cordas, latas, cartolinas, marcadores e outros materiais, era tanta, que julgava que tinha ido parar a Arquitetura. 
Mas sim, arquitetas na arte da humilhação.
Recordo com alegria uma colega, certamente mais madura que eu, e mais esperta, que deu um passo decidido em frente, ficando totalmente exposta na frente da tosca fileira: recusava-se a ser praxada por ser contra produtos testados em animais!
Atarantou a cambada que se entre-olhava perplexa, e questionou sem complacências  as mais velhas sobre a proveniência dos produtos.  
Declarou-se anti-praxe e saiu do alinhamento.
Foi uma risada.
E que elegância. E que tresmalho!
E que preço pagámos todas por isso e ela, que preço terá pagado?

- Vê lá como te comportas. É preciso integrares-te de forma positiva na Universidade, e que de início tudo te corra bem. É um grande passo. A ver se o levas a direito...
- Sim. Vai correr bem.
- ... para teres o apoio dos colegas mais experientes que te podem ajudar com as bibliografias e com os trabalhos das cadeiras mais difíceis. Não empines logo o nariz.
- Sim. Não te preocupes.
- Boa sorte! E não te esqueças: pé direito!
- Obrigada, mãe.

Lembro-me de dizer que participaria na praxe, desde que não me despejassem uma merda nojenta que tinham em mente para o meu cabelo, e não me obrigassem a colocar os slips e o soutien por cima da roupa exterior. Fui imediatamente acusada de não cumprir com as regras e recebi, já não me lembro onde, uma notificação para comparecer no Tribunal de Praxe.
Não compareci e não voltei à universidade senão passadas duas semanas. 14 anos depois, jaz na minha memória a praxe, como a coisa mais humilhante a que fui submetida, depois de andar aos tombos sobre a decisão de me atribuírem ou não uma madrinha. 

- Este é o cartão de acesso à piscina. São 500 escudos. Amanhã pagas o cartão da biblioteca.
- Ó caloira! Paga aqui a minha ginja!
- Vá, caloira, eu sei que tens cigarros. Toma lá um e passa para cá o maço!

Sim.
Aquilo que ali vedes sou eu.
Aquilo que ali vedes, sou eu, com orelhas de burro, com um penico na mão, com um badalo de bovino ao pescoço, atada com uma corda pela cintura a outras tantas colegas, minutos antes da partida para o Rossio - chocalhando latas vazias atadas aos tornozelos - onde fiz peditórios de penico em riste aos transeuntes, e onde, algumas horas depois, me vi obrigada a descalçar os sapatos, e a encontrá-los de olhos vendados no meio dum monte imenso de outros sapatos, apenas pelo cheiro.
É.
Aquilo que ali vedes, sou eu.
Depois de totalmente descaracterizada, depois de completamente besuntada com uma mistela de borras de café e vinagre, tal e qual como estava quando tudo acabou, tal e qual como estava quando me encontrei sozinha no metro, rodeada de olhos furtivos e ligeiramente cínicos, que sorriam perante a perplexidade do meu próprio olhar, tentando segurar-me em cima da imensa vergonha.
Eu própria teria tido pena de mim se me visse em tal figura.

Não te sentes absolutamente ridícula? E deixaste que isso te acontecesse porquê?

Porque a ignorância tem um preço.
Em 1996 eu era uma ignorante em praxes (e em muitas coisas) e ignorava que fazer um curso superior é o mesmo que ter um emprego.
Estamos lá para trabalhar, e não para fazer amigos. Esta é a dura realidade.
Espero que sirva de exemplo aos muitos que planeiam andar de joelhos pela calçada, açoitados por uma cambada de frustrados educacionais que julgam que um ano de avanço num universidade lhes dá o direito à tirania pidesca.

Acho que quem hoje vai para a praxe, já sabe para o que vai.
Espero que no reacender da temática, tenham isso em consideração.


11 de setembro de 2015

As (torres) gémeas

A infância, a minha infância, foi um paradoxo entre a falta e a abundância, entre o pouco e a fartura, entre a casa e a rua, entre o esforço e a liberdade.
Na minha casinha de duas assoalhadas, com quintal e baloiço, onde vivi as maiores aventuras da minha vida, sem comparação, faltava muita coisa e não faltava nada, havia falta de muito e fartura de tudo, e nem sequer se poderia dizer que aquilo que me faltava em bens materiais, coisa que só tomei consciência do que era mais tarde na vida, era compensado pela presença filial.
Com certeza que não estava abandonada à minha sorte, e que ali por perto, nos outros quintais, não houvessem mil olhos vigilantes das tropelias da russa de má-pêlo.
Pelo contrário, na minha solidão de filha única tive sempre muitos irmãos.
Também eu fui filha de pais trabalhadores a tempo inteiro, com pouco tempo para puzzles e para vestir e despir bonecas depois do trabalho.
Tendo em conta que nunca tive um puzzle, e a boneca era eu, restava pouca ou nenhuma atividade parental para estruturar e preparar a miúda rabina para uma vida adulta de sucesso.
Hoje, uma menina pobre e sem os pais por perto, acabará certamente num centro de detenção juvenil.
Não foi o caso.

Hoje celebra-se mais um 11 de setembro, e eu não posso deixar de pensar nas torres que ruíram na minha vida.
As minhas torres gémeas, altas, próximas, e tão iguais a mim, caíram por terra e, tal como o Groundzero, também as minhas [torres] lá deixaram um buraco imenso que verte lágrimas incessantes, depois de anos e anos a remoer e a remover entulho.
Fiquei eu, e os que ali viviam, impregnados de um fino pó tóxico, que se entranhou na pele e nos ossos e nos provocou a todos - e persiste, um certo desconforto e uma imensa tristeza.
As torres eram às vezes coisas estranhas, áridas, duras, inclementes quando nos devolviam a luz intensa do sol e nos magoavam os olhos e os ouvidos e a esperança, mas por outro lado, se nos aproximássemos mais do imenso prédio a fervilhar de gente, que no caso representa os vários membros da família, poderia proteger-nos de tudo.
Um dia corria para casa da minha mãe e era bom, no outro corria para a casa da minha avó, e era bom, no outro corria para casa das minhas primas, e era bom, no outro corria dali para fora porque a minha avó me dava uma nalgada e era mau, a minha mãe dava-me muitas nalgadas e era mau, e assim sucessivamente, correndo de um lado para outro, procurando saber e aprender o que me fazia mais feliz.
Era muito mais livre então, com as minhas torres áridas, de apartamentos simples e de gente pobre, do que sou agora quando entro no meu apartamento mobilado, o escritório aquecido, o emprego fixo, e julgo, para não me afundar mais, ter o futuro do amanhã nas mãos.
Já não tenho para onde correr, porque a minha avó partiu de casa, e depois a torre ruiu.
Já não tenho para onde fugir porque a minha mãe se enfiou em casa, e depois a torre ruiu.
As minhas torres primas ruíram. As minhas torres tias desabaram. O buraco é imenso.
A minha infância plasma-se numa fotografia antiga e eu penso, agora, que se calhar a coisa mais difícil de fazer, ainda que sejam necessários anos e anos de preparações, projectos, definições, dois aviões, mentiras e enganos, não é deitar as torres abaixo.
É conseguir mantê-las de pé.


Movimento UP Miky

Olá! O meu nome Miky.
UP Miky .






Nasceu ontem, com 13.5kg, na maternidade Specialized, e a mãe está bem e muito contente.
Foi um parto difícil, sobretudo nos momentos finais aquando da emissão da fatura, mas depois, ainda em delirium tremens mas em visível alegria, deu-se o sempre maçador pagamento e a mãe pode finalmente registar a criança em seu nome.
Chama-se UP Miky, tem olhos azuis da cor do mar, e pernas altas como a mãe. 
Depois de ser vista pelo Sr. mecânico e pelo seu assistente, chegou-se à conclusão que não valia a pena ficar mais tempo internada, e ontem, pelas 23.45h deram-lhe finalmente alta.
Houve ainda uma tentativa de fuga pelo sinistro parque de estacionamento, totalmente vazio aquela hora, com a mãe a galgar frenética todos os obstáculos com as altíssimas rodas 29 (uau!!) da sua filha acabada de nascer, mas tudo acabou bem quando conseguiram finalmente enfiar a Miky na carrinha, depois de uma pequena birrinha de ciúmes do pai...................................................................................

Digam lá se não é a bike mais linda da blogosfera???


10 de setembro de 2015

Uma certa maneira de ser


Dia 20, domingo, espero que esteja um lindo dia de sol, sem vento, temperatura ali a rondar os 25º/27º para que eu possa ir, calmamente, alegremente e pujantemente, fazer uns quantos quilómetros na minha bina nova, na companhia das minhas velhas amigas, e depois, cansada mas feliz, possa comer 2 tortas de Azeitão, ou mesmo 3.
Estar com os meus amigos, a fazer as coisas que gosto, é a melhor manifestação que posso fazer em prol dos refugiados.
Estar com amigos, no meu país, a usufruir do bom tempo que ele me proporciona e da vida que ainda consigo suportar economicamente é um exercício que me trará mais um dia de felicidade e eu gosto de coleccionar esses dias, infinitamente.
Deixaremos os problemas de lado, os nossos e os dos outros, e sobretudo dos que ainda não existem, e discutiremos freneticamente coisas banais como por exemplo: qual o melhor local para se petiscar um choco frito, ou ainda, onde se degustará o tal famoso rodízio de peixe na doca de Setúbal.
Estou-me positivamente lixando para manifestações de xenofobia aguda que passam aqui na estafada Avenida, e além disso não estou em condições absolutamente nenhumas para perder um dia sequer do meu precioso verão, que definha a cada dia, para me enfiar no meio dum careiro de formigas descontroladas que quando souberam que meninas africanas ali num bairro de Loures eram submetidas à mutilação sexual, encolheram os ombros e continuaram nas suas vidas, muito longe da calçada que desce até ao Tejo, e onde eu e parcos transeuntes acenávamos bandeiras.
Os refugiados virão para Portugal à procura de um refúgio, de calma e de paz.
Deveríamos conceder-lhes essa possibilidade sem alarmismos, sem manifestações e de forma o mais solidária que conseguíssemos.
Sem barulho e sem gritarias.
Assim só estamos a criar inimizades desnecessárias, atenções dispensáveis e a fazer um alarido totalmente estúpido sobre uma acontecimento que no fundo é totalmente banal, já que qualquer pessoa sempre foi livre de entrar em Portugal, islâmico, judeu, ateu, cristão ou outra fé qualquer.
Portugal (eu e outros amigos portugueses) estaremos unidos no dia 20 de setembro para fazer um brinde a vida (e às boas pedaladas) e também à infinita sorte e misericórdia de podermos viver num país que se pode dar ao luxo de receber refugiados de guerra.
O espírito de Aristides Sousa Mendes é uma certa maneira de ser ... português!
Pensem nisso.

O que (não) vês da tua janela

Ele há coisas que a pessoa por mais que tente não consegue entender.
De um dia para o outro, sem que nada o faça prever, cai o Carmo e a Trindade, cai a Alexandre Herculano e a Castilho, e só por mero acaso da sorte, não me caiu tudo em cima!!

Ontem saí do escritório com uma vista sobre um dos melhores terraços de Lisboa, ainda que num rés do chão acabrunhado, e quando chego, tão contente e alegre que eu chego, credo,  e tenho uma massa disforme e confusa de entulho, um homem pendurado numa corda com uma espécie de fralda no meio das pernas, que eu suponho ser um marsupio da construção civil, e todo um soalho de tábua corrida (que eu adorava ter na minha própria casa) todo destruido à minha frente.
O dia hoje promete.
E eu prometo que se não me tiram esta lixarada toda do 'quintal', chamo a Proteção Civil e a Cristas, e digo que rebentaram com não sei quantos pinheiros para fazer um soalho de pinho que agora jaz morto com tiros de pregos, e que ali debaixo daquilo tudo, está uma azeitona toda pisada, o que é uma imensa afronta para todos os produtores de azeite que ainda ontem se queixavam que não há uma única azeitonhinha para este ano.

(Esta imagem está muito parecida com aquela que ontem tinha o Passos Coelho depois do debate com o António Costa. É que ficou feito em fanicos!)

(Obras... fartinha das obras....)


9 de setembro de 2015

Eu também tenho um amigo taxista

O N. é taxista, mas não era.
O N. foi em primeiro lugar amigo dos meus pais, quando ainda usavam todos tacão e calças à boca de sino, e depois meu, quando o conheci pessoalmente muitos anos depois.
O N. era a pessoa mais feliz que conheci. Pançudo, muito moreno, uns olhos muito doces e uns lábios carnudos que escondia com a sua pêra cerrada mas muito bem alinhada nas bochechas gordas, espalhava saúde, brincadeira e carinho.
Não podia ver um menino ou uma menina na rua que não lhe abrisse imediatamente os braços e os lançasse pelo ar, rodopiando.
Era o Senhor N., o amigo de todas as crianças do bairro, o mais apaziguador de todos os seres, a alegria da festa.
Perdi a conta às vezes que me apanhava à porta do prédio para irmos petiscar marisco, comer caracoletas assadas, ir à Nazaré ou a Sesimbra, sempre com a sua carrinha de estofador cheia de gente, miúdos, miúdas, a minha querida L. sua mulher e uma parte indissociável dele.
Julgava que os braços do N. nunca se esgotariam em abraços e boa disposição, e que assim seria para sempre.
Mas não foi.
N. perdeu o único filho. E com ele apagou-se a luz que sempre o acompanhou.
Perdeu tudo. Foi como se de repente um vento gélido o tivesse trespassado e lhe fixasse para sempre aquela estranha expressão apagada.
Os braços gordos e alegres fecharam-se sobre ele próprio e o vazio do colo seco espalhou-se como vento na palha por todos nós, deixando-nos tão gelados quanto ele.
O N. foi sacudido por uma dor tão forte e tão intensa que ainda hoje se vê, e se sente.
Na esteira de tão dolorosa experiência, apagou-se também a força para o trabalho, tão promissor e belo como outrora o seu sorriso.
Estofava meia Lisboa, vestia as janelas do palacetes mais bonitos de Sintra, cerzia, debruava, e enchia de penas leves e muito perfumadas as grandes almofadas dos hotéis da Lapa.
Mas a vida é madrasta e cadela.
O N. lutou com todas as forças, que nós bem o víamos, magro, encurvado, escondido e de rosto fechado, calcorreando Lisboa, procurando dentro dele a réstia de força que julgava ter; mas fracassou.
E a vida não se compadeceu e matou-lhe a arte, depois de lhe matar o filho.
Mas num golpe de sorte o N. agarrou aquilo que pode e podia para salvar o que ainda restava dele. A casa vazia. Uma mãe orfã de filho.
Foi para taxista.
O N. é o meu amigo taxista.
Nunca ousou deixar-se ficar sentado ao volante à entrada de um passageiro.
Nunca ousou não trocar de roupa, de sapatos, de pele, depois de um vigoroso banho quando  o sol ainda não pestaneja.
Nunca foi rude, mal educado ou se meteu em pancadaria, mesmo quando o iam matando ali para os lados da Sarafina e lhe roubaram o anel do filho que usava empedernido no dedo mindinho da mão esquerda.
O N. é taxista e transporta meia Lisboa. Passa nas janelas dos palacetes mais bonitos de Sintra, acena às princesas e diz que está pronto. Leva diariamente um fardo pesado de penas leves mas muito perfumadas, agora transformadas em memórias.
O N. é taxista.
É um GRANDE taxista, porque o que define o N. não é a sua profissão.

Sobre aquilo do Uber

Lisboa hoje parecia um  grande churrasco americano.
A ver pela quantidade de fogareiros em brasa.

8 de setembro de 2015

Parem o mundo!! que eu vejo tudo a andar à roda #2

Como é que se deixa acontecer uma coisa destas??
Como é que anda um país, se organiza um país, as leis desse país, para acontecer uma coisa destas?
Como é que se queimam florestas e gatos em penicos, como se fosse uma tradição secular à qual todos encolhem os ombros?
Como é que se espetam forquilhas em toiros, balas em miúdos, e se abandonam animais à beira da estrada?
Como é que se faz isto com uma limpeza do camandro, pah? 

O passadiço do Rio Paiva em Arouca ardeu!
Como é que aquilo arde mãe de Deus?? Uma coisa linda daquelas, num sitio daqueles?
Como é que, não esperem, quando é que vamos acabar definitivamente com este país? Fogo nisto tudo!
Força aí pah, seus canalhas! Queimem esta merda toda!
Acabem com esta porcaria de uma vez, pah, seus abutres, nojentos, peçonhentos.
Que gente de merda é esta que este país anda a criar, pah?!
Mais 130 000,00€ para a porra do passadiço novo e mais não sei quantos sistemas do cagalhão para vigiar não sei que merda que não puderam vigiar antes, para quê? E andaram lá os pobres dos bombeiros, mais de 240 alminhas a tentar salvar aquilo e sem conseguir salvar nada porque tudo o que têm está PODRE! 72 veículos terrestres que não valem um caracol ranhoso!!
Para quê??
O mesmo número de almas com as bilhas espalmadas nas cadeiras do poder para atear fogos em vez de os apagar!! Ineptos, inúteis, não sabem fazer nada que jeito tenha, credo!
 
E os incendiários? Grandes jumentos sois caraita! Havia de vos cair um pinheiro a arder no meio dos cornos, pah!
Querem ver a floresta a arder, tudo a arder, o país a arder a vossa mãe a arder?, vão mas é para o INFERNO!

Farta desta merda toda, eu!

Terminei de ler o Stoner de John Edward Williams



Não tenho jeito nenhum para isto. Só venho falar do livro porque me pediram muito.
E porque sou um amor de pessoa, muito sensível a pedidos desesperados ;)

O livro é bom, que é, mas, ao contrário do que dizem não é propriamente o melhor romance do século XX, e está longe, muito longe disso, apesar das partes comoventes e muito bem escritas.
Sobretudo a última parte sobre a sua morte. Muito bom.
Como sempre aconteceu, um mau tradutor pode despedaçar uma obra, e no caso de Stoner, pelo que me deu a entender, a tradutora trocou demasiadas vezes a palavra instantes (que devia usar) pela palavra minutos, o que fez com que os personagens perdessem imenso tempo (em minutos) a fitar-se, quando toda a gente percebe que se transferíssemos isso para a vida real, de cada vez, por exemplo, que Stoner ia visitar amante e a fitava durante vários minutos à porta, isso seria no mínimo estúpido, porque se ela era sua amante, ele deveria entrar na casa o quanto antes, porque ou era apanhado, ou morria de frio.
E Stoner fitava imenso as pessoas, durante longuíssimos minutos.
A posições dos personagens nas cadeiras ficaram estafadíssimas. Mãos entrelaçadas e ossudas são às pazadas, mas talvez seja normal as pessoas sentarem-se todas da mesma maneira.
E teria preferido uma Grace sentadinha com as pernas muito juntas para dar mais ênfase ali ao escândalo, ao invés de estar de pernas cruzadas para da 'a' notícia, mas entendo o ponto de vista do autor. A gaja estava-se totalmente a borrifar para ele.
Depois achei que o autor tinha ali conflitos do foro capilar e gostei de saber que nenhum personagem, e pela primeira vez num romance, possuía uma farta cabeleira cacheada de longos e brilhantes fios de ouro. Todos os personagens têm o cabelo fino, ora acachapado à cabeça (o termo acachapado é delicioso), ora enrolado sobre o crânio redondo.
E quase todos os homens tinham o crânio redondo e as mãos ossudas, no entanto teria gostado de ver o Lomax com uma ´cabeça de ovo' em vez da cara bonita. Afinal o gajo lixou-lhe a vida toda e merecia ser mais mal tratado além do termo aleijado que fica a pairar durante todo o romance em cima dele.
Querem conhecer a verdadeira megera, a verdadeira mulherzinha num casamento infinito? Leiam o Stoner. Até a mim me dava ganas de a estraçalhar, e depois a ele, por ser um fraco inepto na mão da bruxa.
Havia de ser comigo que eu contava-lhe uma historia assim:

Num dia quente de outono, Katherine esparramada em cima do sofá a fazer o seu inútil ponto de cruz, foi surpreendida por um som diabólico que se desprendia alguras por cima da sua cabeça. Morreu esmaga pelo piano que o marido tinha pendurado na noite anterior, no teto da sala, cuidadosamente, pacientemente, e com a ajuda da sua filha Grace, enquanto ela dormia profundamente no quarto do primeiro andar.

A consistência de algumas personagens não me seduziu por aí além, mas interessou-me e prendeu-me bastante a história (muito certinha com as datas e tal) e estive praticamente o livro todo com ganas de apertar o pescoço a toda a gente, ora a Stoner, ora à maluquinha, a todos, todos.
Deliciosas foram as cenas da lua de mel e da primeira relação sexual.
Vale a pena ler porque acredito que terá sido assim, durante milhares de anos, em muitos casamentos.

Aconselho.
Boa oferta para o Natal.