O mais recente livro da Tânia
Pais, e depois a Febre dos Fenos com um post
absolutamente incisivo sobre a maldade e a agressividade gratuita e
prepotente que grassa silenciosa e subversiva, trouxe-me à memória tempos
antigos.
Os meus tempos.
Fui uma privilegiada nas andanças do crescimento,
aliás, gozei sempre de confortável popularidade durante o meu percurso
enquanto jovem, pelo que raramente estive do lado da minoria, do
escolhido, do tonhó, do gordo, do caixa de óculos ou do maricas.
Estive quase sempre naquela margem onde nos é possível
encher o peito de ar, e virar as costas ao agressor.
Mas o "quase" é
vulgar. Todos nós, numa ou noutra altura da nossa vida, sofremos de
bullying, e eu, não sendo exceção, sei bem o que isso é.
Mas isso agora pouco importa, porque o que gostava de
transmitir, foi a forma que encontrei para me defender dos maus.
Sou filha única, habituei-me cedo a entrosar-me
com a maltosa da rua, os malandros, os machorros. Não tinha o irmão mais velho
para me proteger e também não tinha o mais novo para amparar.
Fui uma criança hiperativa até muito tarde, talvez por
isso a minha facilidade em comunicar, desencantasse amigos (e
inimigos) em todo o lado.
Isso e uma grande família de loucos.
As regras da "rua" são caminhos
escuros. Naquele tempo podias ser popular por vários razões: ou eras
bera e malcriado, ou eras bonito e fala-barato, ou eras
rico e tinhas a bola. Não tendo nenhuma das acima referidas, tinhas de
pertencer ao grupo, qualquer grupo, nem que fossem só 2 pessoas.
Foi
assim com muitos, foi assim comigo.
Os miúdos de agora sofrem horrores na socialização,
não sabem "ir brincar com os meninos", não sabem jogar jogos de
pares, não sabem fazer quase nada que implique uma equipa. Fechados em casa,
com uma família muitas vezes monoparental, não sabem
conversar, não sabem fazer um amigo e é-lhes difícil compreender as
regras. Basta assistir a uma aula de um qualquer ciclo, para perceber a
dificuldade que os miúdos têm em estar em grupo. Eu já vi miúdos
ficaram estáticos frente a um grupo de outros miúdos, e voltarem para
trás para se agarrarem de novo aos pais. Isso aflige-me
imenso.
Quando um miúdo não conhece as regras de grupo, fica
de fora, agacha-se, encolhe-se, e os miúdos pouco sociáveis,
individualistas e mais frágeis, são os escravos do futuro.
Um miúdo tímido fica sempre a perder.
A timidez
é lixada, quiçá umas das características humanas que mais prejudica
o desenvolvimento de uma criança. Se não consegue
expressar-se ou tem vergonha de o fazer, não partilha, é olhado de lado e
fica à margem.
A fórmula para vencer esta característica pode parecer
difícil, mas não é assim tanto, se os pais se aperceberem dela atempadamente.
O GRUPO
O grupo é um escudo muito vantajoso,
poderoso.
Uma das melhores formas de proteger um filho tímido,
um filho único, ou uma criança sensível, é incentivá-la desde cedo a atividades
em grupo - fora do ambiente escolar. Ensiná-la a vencer a timidez é um grande
passo para o sucesso. Não há necessidade de ir para o karaté para se defender do perigo; pode ir para o teatro, para a natação, pode fazer
workshops de artes plásticas ou de culinária. Ensinar a uma criança tímida
as regras do grupo é meio caminho andado para a proteger do terrível bullying.
Muitos pais acham que os seus filhos tímidos devem
receber acompanhamento psicológico. Nada disso. O que eles precisam
mesmo é de conviver com outras crianças.
Aprender e viver com/em grupo é o segredo da evolução
humana.
O trabalho de equipa rende muito mais se soubermos desde cedo o papel
de cada um.
A solidão só traz problemas, o autodidata nunca colocou o seu saber à prova e o self made man é normalmente uma
grande besta.
O grupo é um forte ensinamento.
O grupo é um gigante intransponível.
Não te isoles!