26 de janeiro de 2018

OS CINCO

Para o fim de semana sombrio e frio, deixo a minha selecção de livros juvenis que poderão ser um trampolim para a formação de leitores de verdade.
Os primeiros livros da juventude são essenciais à nossa vida, deixam marcas, e não conheço ninguém que não se recorde do primeiro livro (a sério) que leu.
Se os pais estiverem desesperados porque "Os Maias" não convencem, então que se aventurem por outras possibilidades, insistindo sempre.








O meu primeiro livro a sério foi este (o que explica muita coisa):

Abraços!

25 de janeiro de 2018

EU SEI QUE É UM TEMA REQUENTADO

Pois se já tem dois dias, já tem o bolor à perna.
Mas apetece-me dizer umas coisas giras aqui sobre aquela coisa bizarra (dizem uns), para não dizer jactante (dizem outros), da Segurança Social se pôr em bicos dos pés para pagar as creches dos infantes herdeiros de todo um pessoal autoeuropeu.

É que eu acho que o pessoal se abespinhou porque não sabia de nada.

Quer-se dizer: então mas só agora é que eu sei, pah, com o filho quase criado, pah, que a Segurança Social dá esses complementos a quem trabalha ao sábado?
Mas, mas... como assim? Então mas esses gajos da Autoeuropa, pah, que ganham chorudos ordenados, pah, que até já ficaram 4 dias em casa, pah, 4 dias hã, só para não irem todos bater com os costados no desemprego, é que têm essas benesses? CHULOS!!! Não querem turnos dêem o trabalho a outros!

Ah pois é, que a malta está piurça e eu temo o pior.

Ora se a Segurança Social é uma pessoa (coletiva) tão boazinha para com os infantes herdeiros dos autoeuropeus, fazia ou não sentido que fosse também para os herdeiros infantes, sei lá, de toda uma sociedade portuguesa?


E se a Segurança Social inovasse um bocadinho nos apoios e pagasse também o canil do meu cão quando eu venho 'trabalhar' ao sábado?
E se a Segurança Social fizesse a fineza de contratar alguém para ir por mim visitar familiares internados, amigos, família, enquanto eu faço uma perninha no escritório?
E se a Segurança Social fosse tão benevolente com o facto de eu ter de trabalhar ao sábado e me pagasse uma pessoa de confiança para ir passar a ferro e dar um jeito nos tapetes?

E que tipo de apoio recebem as mães que têm de trabalhar ao sábado nas creches, para tomar conta dos filhos das mães que trabalham ao sábado?


Dúvidas.
A minha vida é isto. 
Dúvidas.

PREGO NO PÃO

Lisboa está a tornar-se num antro de psicopatas.
Inescrutável e doente, é só o que me apraz dizer da criatura que fez um trabalhinho destes para resolver a [sua] questão com os cães dos vizinhos.
Talvez faça o mesmo numa festa de crianças, acaso tenha por elas o mesmíssimo desprezo.
Nunca saberemos e ninguém poderá prever, de que buraco saíram certos homens e, quando os encontrarmos, que trincheira nos pode salvar.









24 de janeiro de 2018

DA PLATEIA

Fui sempre uma criança com problemas comportamentais.
Não é segredo para ninguém [eu também não quero que seja] que desde cedo desenvolvi uma personalidade baseada numa certa incapacidade para reconhecer a autoridade, o sistema, a hierarquia, e depois, os despojos disso tudo transformados numa forma muito enviesada de perceber os outros e as suas intenções.
Às vezes penso que a verdadeira génese deste meu infante problema foi de ter sido filha única e neta única, sem irmãos para partilhar as tantas regras e regrinhas que os adultos sempre tentam impingir às crianças, condicionando-as desde sempre a serem iguais a elas, ou a servi-las.
Era muito comum eu desobedecer, e desobedeci até bastante tarde, sobretudo se a regra era imposta com plateia.
Acontece bastante, sobretudo em famílias alargadas, existir uma espécie de teatrinho, em que o todo poderoso - chamemos-lhe assim -  aproveita a grande plateia presente e numa tentativa de 'já agora aprendem todos ao mesmo tempo', lança os castigos à criança [por vezes físicos] em público, para que todos possam ver até onde pode ir uma autoridade.
Aplicam o castigo e semeiam a vergonha e a insegurança, claro está, e se tudo correr como planeado ainda somos capazes de experimentar as réplicas desse tsunami da educação (que é enxovalhar a dignidade da criança em público) na boca de outro alguém que vem dizer: estás a ver, não tens vergonha, olha lá toda a gente a olhar para ti'.
Sim, estou a ver toda a gente a olhar para mim, sim, estou em cacos, sim, os outros são todos muito melhores que eu, sim, não sirvo para nada, sim, sou uma merda.

É triste.
E deixa marcas.

Eu sei que as crianças não são vidrinhos, mas não gosto de ver crianças a ser repreendidas à frente de outras pessoas, como não gosto de ver uma criança a chorar e a ser rebaixada em frente de um público que se regozija com isso. É aí que a criança sente pela primeira ver o desamparo porque mesmo no meio de uma multidão não há ninguém que a possa salvar. Ela chora para aprender que falhou, que fez mal e não conseguiu chegar lá. Mas chora para um público que não a compreende, que ela não conhece, que não quer saber dela senão para a usar durante o tempo que dura um programa de televisão, ou durante o tempo em que uma qualquer autoridade resolveu exercê-la.
E chora sozinha, no banquinho amarelo dos pensamentos, virada para a parede, no quarto sem jantar.
No fundo, onde eu quero chegar, é aqui, a esta espécie de exposição que hoje vemos na televisão, nos blogues, e em todas as esferas da nossa vida social.
Quando uma criança se sente e chora, está extremamente vulnerável. Eu quando choro será quase de certeza por não ter outra saída senão aquela, tendo esgotado todas as minhas forças para a resolução de um problema que me vi incapaz de resolver.
Um progenitor, cuidador, ou canal, não pode pôr-se em bicos de pés para apanhar numa fotografia ou num vídeo - que depois replica por milhares de outras pessoas - o estado fragilizado de uma criança que chora, que está totalmente vencida pela vergonha, que antes de tudo precisa de colo e de se sentir segura.
Eu creio que as pessoas não evoluíram muito relativamente às crianças. Usam-nas como troféus ou extensões de si próprias, usam-nas para se evidenciarem, usam-nas de todas as maneiras e feitios. Usam-nas autoritariamente, usam-nas mal.

Só eu sei de que maneira é que essa realidade me agrediu, me foi hostil, me transformou.
Custa-me horrores pensar nas tantas vezes em que fui exposta e castigada pelo meu comportamento na escola, sobretudo na escola, em casa, sobretudo em casa, em família, sobretudo em família, e no facto de ser constantemente repreendida com uma plateia imensa de olhos e de juízos, nas palmadas que levava em qualquer sítio, porque uma palmada na altura certa é que é, um videozinho na altura certa é que é, um programazinho na altura certa é que é, e depois é o que se vê.

O único direito que temos é o de amar as nossas crianças. Nada mais nos é permitido. Dentro desse absoluto amor, virá uma educação, virá a transmissão de valores, virá até um ou outro ralhete muito intimo, mas o que não pode vir, e sobrevir, é esta usura que se faz de um capital que muitos pensam ser as suas crianças, fazendo recair sobre elas os juros altíssimos que se irão repercutir para a vida toda.

É triste.
Viver com marcas.

23 de janeiro de 2018

A LISTA DA (IN)FELICIDADE

Entretanto tenho tido conversas muito lindas sobre esta coisa da alimentação.
Sou alentejana de clara (porque de gema são os meus pais), e por isso tenho um historial gastronómico de sopas e açordas, de enchidos e gaspacho, de tibornas com azeite e alho, de entremeadas e saladas, com tomate, atum e bacalhau desfiado.
Mas também sou da Lagoa de Albufeira, de Sesimbra e de Setúbal, dos mariscos e moluscos, da cerveja e do tremoço, do vinho e dos caracóis, do queijinho de Nisa e dos 4 cantos do mundo, dos rodízios de peixes e da salada de agrião, da paiola e da alheira, e de comidas de toda a maneira.
[Menos favas].
E sou absolutamente de Lisboa, onde a vida de estudante, e a muita falta de tempo, me empurrou (e não precisa de empurrar muito) para as belas hamburguerias gourmet, para as pizzarias de massas finas e grossas, para os ceviches e para o sushi, para o pica-pau e o molho das ameijoas, para os cachorros muito quentes e milhares de gelados.

Pus-me então a matutar no que ficaria em cima da mesa, entre os vários alimentos disponíveis no mundo, e numa escala de 0 a 10, se acaso me impusessem a escolha.
É um exercício extraordinariamente complicado (e desonesto) porque dez coisas são muito poucas, e eu sou moça de muito alimento; mas vamos lá a ver: se retirar a siricaia e o salame, se retirar a carne picada e a paiola, se retirar a alface e o agrião, e ainda o vinho de Estremoz (ou da Granja) sobram-me aqui dez coisitas de monta.

A ver:

1 - Pão
2 - Tomate
3 - Azeitonas
4 - Diospiros
5 - Bacalhau
6 - Sapateira
7 - Arroz
8 - Imperial
9 - Sardinhas
10 - Caracóis

Tenho um longo caminho a percorrer para ser vegana................................... autch!
Numa lista de 10 alimentos, mato logo 3 animais grandes e milhares de pequeninos.
Estou perdida não estou?
Estou.

22 de janeiro de 2018

SUPERNANNY [Comunicado da CDHQSAN]

A Comissão dos Direitos Humanos, Questões Sociais e Assuntos da Natureza da Ordem dos Advogados Portugueses tomou conhecimento do programa televisivo Supernanny, transmitido pela SIC, bem como das reacções que o mesmo suscitou junto da sociedade civil.

Entende a CDHQSAN ser seu dever assumir publicamente uma tomada de posição acerca do conteúdo do mencionado programa.

Sem prejuízo da necessidade de intervenção externa de um profissional nos contextos familiares apresentados e da eventual adequação e/ou eficácia dos procedimentos adoptados, sobre os quais não pretende a Comissão pronunciar-se, a verdade é que a exposição mediática a que o programa sujeita os menores visados se revela, do nosso ponto de vista, inadmissível e, quiçá, contraproducente.

Por um lado, considera-se inadmissível na medida em que a transmissão televisiva da privacidade familiar para demonstração vívida dos comportamentos desadequados dos menores, ainda que consentida por quem exerce legitimamente as responsabilidades parentais, representa uma violação desproporcionada dos direitos de personalidade dos menores, em especial, do seu direito à reserva da intimidade da vida privada.

Por outro lado, a Comissão acalenta as maiores dúvidas acerca do efeito útil da intervenção profissional naqueles contextos quando associada à respectiva exibição pública e disseminada através de um conteúdo televisivo transmitido em horário nobre e, como tal, com elevada audiência e largo espectro de espectadores. Na verdade, o receio evidente é que a restrição desmedida dos direitos daqueles menores, através da divulgação televisiva dos seus comportamentos, venha ainda a transformar as crianças em vítimas de incompreensão e segregação social nos seus ambientes sociais de eleição.

Em face do exposto, a CDHQSAN espera que os direitos dos menores venham a ser devidamente sopesados, por forma a que a sua imagem e identidade não possam ser publicamente divulgadas pela comunicação social em conteúdos informativos ou de entretenimento semelhantes ao programa em causa.

A Comissão dos Direitos Humanos, Questões Sociais e Assuntos da Natureza da Ordem dos Advogados Portugueses

Lisboa, 22 de Janeiro de 2018

https://portal.oa.pt/ordem/comissoes-e-institutos/comissao-dos-direitos-humanos-questoes-sociais-e-assuntos-da-natureza/comunicados/comunicado-da-cdhqsan/

STAY STILL


21 de janeiro de 2018

O LEITE, O QUEIJO E AS VACAS


Pode parecer muito estranho [para a maioria das pessoas], como é que uma doença do trato urinário pode estar co-relacionada com o [mau] funcionamento dos intestinos. 
Esta estranheza, que eu considero desinformação e ignorância [também médica], foi em última instância o que me levou a um estado de pura loucura, derrotismo e imenso cansaço, porquanto nenhum urologista foi capaz de me curar, interessando-se legitimamente pelo meu estado lastimável, apesar de ter percorrido todos os corredores medicamentosos protocolados para a minha doença, incluindo vacinas, análises semanais de urina, muitos antibióticos na carteira, higiene extrema, diversas complicações relacionadas com a alimentação, com a vida sexual, com o emprego, com a família e com tudo o que estava à minha volta.
Quando acordei para a vida, dei por mim transformada numa idosa pré-incontinente, que saía de reuniões a correr, com ameaças de operações radicais, extrações da bexiga, pielonefrites crónicas e outras coisas medonhas que não deveriam aparecer no filme da vida de uma miúda na florzinha da idade.
Estava um caco. 
Vejo isso muito nitidamente agora.

Faz  dois anos que abandonei o consumo de leite. 
Estou muito arrependida, estupefacta até, de não me ter apercebido antes do tanto mal que me fazia.
Simplesmente estava a ir na direção errada, insistindo numa qualquer malformação da bexiga, cortando em diversos alimentos e bebendo cada dia mais leite, contando que bactérias se combatem unicamente e definitivamente com potentes antibióticos.
Fui, no limite das minhas forças, a um médico proctologista, no fim da linha daquilo que me parecia ser uma doença sem cura, a IUR [infeção urinária recorrente], uma doença que ameaçava deixar-me incontinente aos 39 anos, para perceber que o que me estava a fazer tanto mal era o leite de vaca.

Com a causa da IUR totalmente descoberta, virei-me para o estudo dos intestinos (https://a-uva-passa.blogspot.pt/2017/06/a-vida-secreta.html), mergulhei a atenção na industria leiteira, nos maus tratos dos animais e na forma de erradicar o leite da minha casa.
É muito difícil convencer um adulto a deixar de beber leite.
Existem profissões e instituições altamente especializadas nas mais diversas dependências, sobretudo nas dependências tabágicas, alcoólicas e de estupefacientes, e não consta que sejam perfeitas ou definitivas. Um tóxico (e toda a sociedade) sabe e re-sabe tudo sobre as consequências nefastas do consumo destas substâncias para a sua saúde e ainda assim há milhões de fumadores, de gente informada e inteligente que consome álcool numa base diária e que não dispensa uma subida às nuvens de quando em vez.
Deixar o leite é limpar anos e anos de publicidade e de conselhos maternais. 
É preciso ter muita força para desenraizar hábitos alimentares tidos toda a vida como saudáveis.
O leite é de longe a dependência alimentar mais complicada de suprimir, assim como os ovos e o peixe.

Decidi abolir definitivamente o consumo de leite e derivados da minha casa, sabendo no entanto que retirar estes produtos da nossa dieta, especialmente do dia a dia da minha filha de 11 anos, será o mais difícil de conseguir.
Irei durante os próximos dias e semanas dedicar-me ao estudo dos alimentos de substituição, como sejam o queijo de origem vegetal, e outros.

Haverá com certeza alguém desse lado que não entende o porquê de não ser saudável, de ter milhares e borbulhas na cara, não ter intestinos funcionais com rotinas diárias, sentir-se cansado e com dores de cabeça.
Pode haver uma explicação para isso: intolerância alimentar.

Conto muito que percam um bocadinho do vosso tempo para ver este magnífico documentário.
É absolutamente completo [não fala só do leite], vai a fundo em todas as questões, e deixa um longo caminho a percorrer para quem como eu se preocupa com a saúde e com o futuro da humanidade.






20 de janeiro de 2018

A ARTE NO LIMITE

As pessoas de agora, as pós modernas, que escrevem freneticamente qualquer coisa que lhes vem à cabeça, que se recusam a qualquer tipo de debate [também interior], comunicam ultrajando, como uma espécie de desejo sexual ancestral e desvairado, não querendo saber nada do objecto do desejo [os leitores], querendo apenas rasgar as feridas e servir-lhes o sangue tanto quanto possam.
Querem sobretudo tirar proveito da escrita, ganhar dinheiro, vender produto.
Vejo a nova forma que adquiriram as pessoas que vivem disto [da escrita em blogs] e encolho-me.
É tudo por tudo. É tudo ou nada. É no fundo nada de nada, mas eu percebo.
A conversa mole de um escritor nunca lhe trouxe a fortuna e é bem sabido que a técnica mais agressiva, a de guerrilha, é a que no final vence mais batalhas - e traz mais lucro.
As pessoas já não narram acontecimentos da vida, as pessoas rasgam a vida e deitam tudo cá para fora, como se os outros, os leitores, fossem animais famintos, vorazes, incapazes de perceber o belo, a calma ou a sedução de um texto superlativo (e verdadeiro).
As pessoas expõem-se demasiado e amiúde de forma bárbara.
Erram muito na forma como comunicam através da escrita e fracassam quase sempre todos os relacionamentos que granjeiam dessa forma.
Não entendem que escrever é uma arte.
No limite, a arte no geral, pode ser grosseira e medonha, e ainda assim ser arte, mas a escrita não, a escrita é uma arte cava, é o verbo, é nela que radica toda a compreensão que temos do mundo e dos outros, os nomes, os sinónimos, as explicações.

Expressa-te através da arte, a arte no limite, brutalmente, sofregamente, aí sim, tu, virada do avesso, dando carne a cães famintos, e terás um reconhecimento infinito.
Escreve como se estivesses em guerra, apedrejando inteligências, enganado as emoções, e demorarás muito tempo a ser livre.










Go to: http://www.monicacookart.com - Paintings by Monica Cook

18 de janeiro de 2018

DA CAPITALIZAÇÃO [da desgraça dos outros]

One pair of boots, One pair of trees!

E cá está! Uma campanha absolutamente 'inofensiva', que pretende agarrar pelo coração um tipo muito específico de mercado: o mercado que é constituído por aqueles que já não confiam em nada nem ninguém no que à gestão dos seus donativos diz respeito, mas que também não têm tempo, vontade ou razão para arrancar à papo-seco para as zonas sinistradas para ajudar as populações em desgraça.

A mente humana é qualquer coisa de extraordinário e, na minha opinião, é na publicidade e nas vendas que a imaginação de certas agências se destaca das demais.
É óbvio que é uma excelente campanha. É óbvio que vai resultar.
Mas não é com todos.

Quem vê de repente um grupo de pessoas 'muito boazinhas' que se propõem plantar uma árvore por cada bota vendida, não dirá mais nada senão: espetacular! devia haver mais empresas assim.
Não comparto da mesma opinião.
Para mim, a marca Walkest arranjou uma maneira superlativa de vender botas de couro, que assim de repente são só umas botas estupidamente banais e exatamente iguais a todas as outras botas de couro existentes no mercado, com a contrapartida de pelo preço de um par de botas, a pessoa ainda ter direito a uma esponjinha muito especial que lava a culpa daqueles que perante a desgraça dos outros não mexeram nem o dedo mindinho.

Eu cá iria mais longe, mas só porque eu sou ainda mais imaginativa.
Se o objectivo era capitalizar, então que plantassem CANNABIS.
Capitalizavam muito mais.


 https://walkest.pt/


Nota:
Este post era para ser feito em parceria, mas não foi.
Os donos das botas já não fumam ganzas.

17 de janeiro de 2018

DA EXPOSIÇÃO [dos filhos nos blogs]

Todos os crimes têm uma moldura penal.
Se for cometido um crime de homicídio, por exemplo, ele pode ser punido como homicídio simples, culposo, qualificado ou privilegiado, de acordo com o modus operandi do criminoso e com as suas intenções. Mas o homicídio também pode ser um aborto, a eutanásia ou uma legítima defesa.
Apesar de em todos eles haver sempre um alegado criminoso, o que mata, estas últimas espécies de homicídio, como a eutanásia, são tratadas diferentemente pela sociedade, e julgo, e espero, que a maioria dos leitores saberá porquê.

Quando uma mãe decide iniciar um blog-negócio tendo por base a exposição e a devassa da sua vida privada e a dos seus filhos menores, como por exemplo, mostrar as crianças a tomar um bom banhinho, a saltitar em bonitos biquínis numa praia paradisíaca, a mostrar os novos óculos da mais nova que [maçada] é míope, as notas do filho do meio que apesar de ser muito lindo tem também [que maçada]  dislexia ou autismo, que as meninas ainda usam as fraldas, apesar de terem 5 anos [que maçada], mas são fraldas maravilhosas e elas sentem-se super limpas, e toda uma série de coisas que são efetivamente da vida privada dessas crianças e, que por isso mesmo, não podem ser expostas em blogs, ela não deixa de ser uma criminosa, não deixa de ser culpada pelo crime de usurpação da privacidade dos filhos, muito embora a moldura penal dela possa ser atenuada, socialmente falando.

É curioso verificar a forma diversa e [para mim] inocente até, como são atribuídas pela opinião pública as 'molduras penais' para os casos das blogers-negócio que vivem da exposição familiar.
Há-as de vários tipos, estamos todos de acordo, mas a opinião generalizada é que umas são mais culpadas que outras, porque [e pasme-se] algumas fazem menos que outras, algumas só postam de dois em dois dias, outras só mostram as crianças vestidas, outras ainda só contam os episódios da vida privada, e outras ainda porque são simpáticas e 'nós até gostamos de lá ir espreitar ideias para roupinhas para casamentos em dezembro'.

Errado.
São todas criminosas e são todas culpadas. Todas elas ganham dinheiro expondo a vida privada dos filhos como se eles fossem objectos numa montra global.
O crime de que são acusadas não beneficia de um modus operandi mais ou menos gravoso que lhes possa diminuir a pena. Neste crime não existe menos exposição ou mais exposição, existe exposição ponto final.
A exposição e a devassa da privacidade de uma criança não é por exemplo um caso de legítima defesa, mesmo que a mãe seja uma perfeita deficiente mental, não consiga bastar-se economicamente sozinha, e que por isso 'defenda' os filhos usando-os.
Nesse caso seria o mesmo que usar os filhos para se proteger de uma bala.
Não faz sentido.

Assim sendo, além de não entender com que propriedade podem algumas pessoas defender uma acusação de menor moldura penal para estes casos gritantes de mães-vampiro, também não consigo entender o porquê da PJ, das CPCJ e outras entidades deste tipo não colarem imediatamente estes casos ao programa da SIC, quando um grande número de blogers deste universo já foi à televisão e até às tribunas do Parlamento Europeu.

É só isto que me faz confusão.
E cada vez acredito menos na justiça divina.

16 de janeiro de 2018

UMA PALAVRA NOVA POR DIA [Perpetradores]

Obviamente que me estão presas na garganta muitas e muitas palavras feias.
Em 2017 decidi eleger a palavra "hostil" como sendo a palavra mais presente na minha vida.
É uma palavra feia mas ao mesmo tempo superlativa porque não se basta nas poucas letras que a compõem, extrapolando-se antes a si própria e abrangendo um vasto leque de significados.
É uma palavra medonha, e no entanto vivo com ela.
É tão enorme que me engoliu toda, e julgo mesmo que, acaso fosse possível assim -  uma palavra estar por dentro e também por fora - poderia dizer que a palavra hostil 'hostil' me engoliu toda [vivo dentro dela] e ao mesmo tempo vive dentro de mim.
Mas hostil fica para trás. Como um elefante que pára quando vê o perigo afastar-se.

Perpetradores parece ser a palavra de 2018.
A nuvem negra por cima das nossas cabeças, a rebentar de palavras feias, entre elas a conhecidíssima e já banal - é preciso dizê-lo com frontalidade - 'assédio', promete um dilúvio dos grandes.
Os acontecimentos do passado, rompendo as barreiras todas do tempo, vêm instalar-se no meio da casa, como que dizendo: 'eu sou este elefante enorme e já não é possível que me deixes confinado à sala'. É efetivamente disto que se trata: elefantes atrás uns dos outros, que ficaram escondidos como pulgas atrás das orelhas.
Os mais conhecidos perpetradores da humanidade foram os 'Perpetradores do Holocausto'. Adolf Eichmann, Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich, Josef Mengele e Otto Georg Thierack.
Foram eles os maiores agressores, não só da palavra Humanidade, como da própria humanidade em si.

Em sentido contrário àquele que foi no passado, dando a volta à palavra e conferindo-lhe estética e beleza - como se os novos perpetradores brandissem agora a mesma espada do terror, mas desta vez contra os seus próprios agressores - surjo eu, a justiceira.

Oiçam bem - com orelhas de elefante - aquilo que vos digo.
Um dia, quando alguém quiser fazer Justiça! e justiça não houver, surgirão em catadupa mulheres e homens capazes de destruir tudo e todos com as suas palavras.

Eu falarei!
Porque o silêncio também é crime!
E não posso permitir senão que, dentro e fora de mim, haja outra palavra que não seja Humanidade.

UM LIVRO NOVO POR DIA [A Trégua - Primo Levi]

Sou muito suspeita quanto à obra literária do Primo Levi, porquanto sou desde há muito apaixonada pela temática do Holocausto.
"Se Isto é Um Homem" afigurou-se-me como o melhor livro jamais escrito sobre o tema, e o mais duro também, mais vivido, mais real, mais profundo e por isso mais conspurcador. Um livro que deveria constar das estantes de todas as famílias e, em algum momento das suas vidas, discutido à mesa, sem reservas, sem pejo, somente para se fazer o necessário dégradé entre aquilo que foi e aquilo que é hoje a vida, tão superlativamente diferente em tudo, até no sofrimento.
Relativamente a este que hoje apresento "A Trégua", ainda não o acabei mas já percebi que o Primo Levi não teve sorte nenhuma com o tradutor português para a Teorema: José Colaço Barreiros.
Um livro que poderia ser uma obra prima, perde-se numa tradução bastante sofrível, sem substância, sem que o leitor se sinta envolvido pelas palavras, e isso deixa-me muito mal disposta, porque se havia um escritor que sabia o que fazer com as palavras, esse escritor era o Primo Levi.
É pena.


15 de janeiro de 2018

SUPERNANNY

Parece que o primeiro episódio do novo programa da SIC "SuperNanny", já abalou Portugal mais do que o sismo de Arraiolos.
Não vi o programa senão num trailer através do meu telefone, e já deu para perceber exatamente o que aquilo é.
É então a mesmíssima coisa que vemos todos os dias nesses blogs virulentos e pestilentos das stay-home-moms, mas com a discreta nuance de que neste caso as crianças não usam lacinhos e camisinha de xadrez e não estão sossegadinhas a olhar para os fotógrafos [que a mãe paga com o dinheiro que recebe por vende-las nos seus blogs, em milhentas 'parcerias' publicitarias].

«A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) considerou hoje "existir um elevado risco" de o programa da SIC 'Supernanny' "violar os direitos das crianças", nomeadamente o direito à reserva da vida privada.» , veicula o DN de hoje.

  
Enlouqueço, juro que enlouqueço e fico transviada com estas aventesmas da Comunicação Social, com estas ineptas da CPCJ.
Há quantos anos andamos nós a falar destas mães-tiranas que obrigam as crianças a trabalhar como se estivessem no Bangladesh, horas a fio em frente às câmaras ou em vídeos caseiros, onde aparecem a maior parte das vezes desnudas, com as cuecas à mostra, sentadas em sanitas ou a chorar em igrejas? Quantos posts, rios de tinta, correram para denunciar Cacos, Princesas, Minies e outras coisas mal cheirosas? 
Quantas mães vivem  atualmente em Portugal, dependentes dos filhos pequenos, tratando-os como unidades de produção?
Quantas mães é que procriam aos três e quatro filhos só para não se lhes acabar o filão da infância, quando o mais velho já se cansou de ser usado para os fins recreativos nascidos dos devaneios da matriarca?
Quantas?
E os homens, credo? A aplacarem aquela miséria toda, sem os terem no sítio, eles que viris se rendem a folhos e lacinhos, ridiculamente usados em raparigas de 11 anos, tal qual uma criança, para as fotografias em família? 
É agora o "SuperNanny" que vem mudar tudo? Só porque as crianças são birrentas e parece mal a vizinha do lado saber que a criança dá dentadas à mãe?
É aqui que se afinam as guitarras? Temos faducho?
Querem convencer-me que o direito à reserva da vida privada destas crianças só é tida em conta se foram mal comportadas, totalmente sem regras, e com mães incapazes de definir o que é ser CRIANÇA?
A mim parece-me bastante lógico que o que temos neste programa é exatamente o mesmo que vemos há anos nos blogues das rosinhas.

Abuso, devassa da vida privada, exposição, assédio e trabalho infantil.
Alguém com dois dedos de testa que me venha dizer o contrário, que me convença que não, que as bloggers do pedaço não fazem nada disto, que as crianças adoram, pedem para fazer mais e mais e vivem felizes como anjos neste tipo de famílias-vampiro que bebem o sangue do seu sangue.
Nojo.
Nojo.
Nojo.

14 de janeiro de 2018

MANIQUEÍSTA FORMA DE VIDA

Dei por mim a fazer tréguas ao pensamento limitativo e maniqueísta que me tem martirizado o pensamento.
Assim ou sopas, és boa ou és má, fizeste bem ou fizeste mal, foste a causa deste efeito, ou ficas ou vais.
Então e aquelas frases belíssimas onde se pode ler que a vida são também as pequeninas coisas que acontecem no meio das maiores desgraças? A florzinha que desponta no pinhal carbonizado? A muito portuguesa forma de vida onde a teoria do 'vai-se andando' parece ser a trégua necessária aos arranques de coração que a vida teima em fazer?
Eu sou uma rapariga simples, que deu por si parada porque penso que não estou andando.
Para crescer é preciso que a somatotrofina se manifeste positivamente, e que a hipófise diga que sim.
Se uma das duas diz que não, a outra fica atrofiada e não faz aquilo que deveria fazer.
Se o leitor não for imediatamente verificar o que faz a proteína somatotrofina, e o que tem a mesma a ver com o crescimento, fica parado sem avançar no conhecimento.
O desconhecimento (a ignorância) é de todas as coisas a mais perversa.
O meu pensamento tem sido muito maniqueísta porque [o medo] me faz pensar que se não fizer as coisas da forma certa é óbvio que as vou fazer de uma forma errada. Se sair de uma espécie de emprego que me parece certo, é óbvio que vou passar para um emprego que me vai parecer errado.
Como é que podemos avançar no conhecimento, progredir, se ficamos agarrados às coisas que já conhecemos?
Sabemos lá nós, os paradinhos, que paisagens se espraiam nas janelas se decidirmos fechar certas portas?
Sabemos lá nós [se não seremos mais felizes], os especialistas em puré de batata, se não fizermos uma experimentação na área da apicultura?

Falo em apicultura porque me lembrei que as abelhas estão em declínio, e no entanto, eu, que não sou abelha, tenho experimentado uma grande vontade de dar uma ferroada nesta estranha forma de vida.
E quero sobretudo inovar e diferenciar-me.
É fácil perceber que ser igual à paisagem, tingida da mesma cor, não tem dado um certo resultado.
Se é para crescer, que seja de todas as cores.

Já não me interessa o sistema.
Já não me interessa a integração.









By: http://josephford.net/


11 de janeiro de 2018

KRAMER CONTRA KRAMER

Não é exatamente com os mesmos personagens do titulo, mas é também um grande filme.
Eu peço desculpa por estar sempre a falar de Lisboa, mas é essencial que alguém fale de Lisboa como eu falo.
Decentemente.

Então o que é que temos hoje na temática da indignação virtual?
Pombos.
Ora já cá faltava a temática dos pombos, e como não quero que vos falte nada, resolvo discorrer decentemente sobre a superlativa temática relacionada com a bicheza mais odiada em Lisboa depois dos turistas-de-paquete.

Parece que resolveram tratar dos pombos como tratam dos lisboetas que não conseguem acompanhar a pressão do mercado imobiliário. A gentrificação foi finalmente aplicada à temática das inúmeras famílias de pombos que habitam há séculos a nossa querida Luz-boa e, vai daí que a CML resolveu contratar uma espécie de capangas dos proprietários de AL [Alojamento Local] - os falcões - para espantar dos ninhos pombalinos essa espécie que nos é tão cara - as ratazanas com asas - para que as aves inglesas, francesas, chinesas e outras raças não-autóctones, possam nidificar à vontade.
Se fossem só os lisboetas a sofrer com a merda que os pombos fazem [há séculos] decerto que não valeria a pena gastar 18 000k em falcões. 

É assim uma espécie de espanta-espíritos, mas para pombos, ou ainda, uma coisa mais à PGR [Prova Geral de Acesso]:

Os falcões estão para os pombos como a EMEL está para ___________.
a) os lisboetas
b) os não-lisboetas
c) os portugueses em geral
e) todas as anteriores

"Uma solução arrojada para um problema persistente", diz "O Corvo" sobre a esperada contratação de falcões para espantar os pombos da cidade.
O corvo veicula que foram contratados falcões para acabar com os pombos.
É muita passarada numa frase só.
Aaaaaaaaaatchim!

Com muita passarada, e muita merda de pássaro, vão ficar também as zonas suburbanas da cidade, porque está mais do que visto para onde é que esta passarada toda vai.
A falta de ninhos nestas zonas vai acabar por afetar também os pombos escorraçados, como afetou os lisboetas-pobres que foram desalojados pelos falcões do AL e da especulação imobiliária.
Um ninho em Odivelas está pela hora da morte, e em breve, não haverá nem pombos e nem pessoas numa área que pode chegar ao Minho.

Julgo mesmo que a longo prazo, esta manobra de diversão dos grandes galifões da industria do turismo pode ser uma belíssima ideia para devolver várias gerações ao interior do país, deixando para o litoral as aves raras e de bonitas penas que vêm em voos-charter aterrar no aeroporto de Lisboa.

POMBOS CONTRA FALCÕES
Um filme Hollywoodesco numa cidade perto de si.

E no meio disto tudo o que mais me preocupa é: sem pombos em Lisboa que raio de nome vamos dar ao Marquês?!



Daqui:
http://ocorvo.pt/lisboa-experimenta-uso-de-falcoes-para-espantar-bandos-de-pombos-no-centro/

VARICELA




10 de janeiro de 2018

IMUNOALERGOLOGIA

Ontem é que foram elas!
A ML passou pela situação mais dramática dos últimos tempos: foi submetida à agulha gigantesca da analista.
Coisa para medir uns 5 metros de comprimento, quase que ia do braço até ao nariz, disse-me ela, a olhar para mim com os olhos transidos de terror e o bracinho muito magrinho a gritar 'acudam' pelo buraquinho deixado pela minúscula agulha.
Fizemos as análises a contragosto. É um dó ver a miúda espernear na cadeira, eu própria fico numa tensão horrível, não sou capaz de ver, nem sei como andei a perder tanto tempo nos pré-requisitos para entrar em Enfermagem se para mim um profissional de saúde é pior que o Freddy Krueger com as navalhas transformadas em agulhas, apontadas à minha jugular.

Este filme surreal de gritaria e terror pode, no caso da ML, durar [na boa] uma hora - se a analista for uma alforreca gelatinosa. Se a analista tiver verruga e bigode e lhe abrir muito os olhos e disser: 'esteja quieta menina!' a coisa dura menos de 20 minutos.

Já os resultados das análises podem durar uma vida.

O pediatra que segue a ML, que é ao mesmo tempo o Diretor do Hospital D. Estefânia, não podia ser melhor pediatra - pese embora os 90,00€ das consultas sem convenção.
Estamos muito sossegados no que à saúde da miúda diz respeito. Já passámos por alguns sustos, e sempre que a coisa merece atenção, e é de cuidado, o Senhor Dr. não se coíbe de fazer a natural bateria de testes.
Desta vez, na consulta dos 11 anos, disse-nos que estava tudo bem, mas nós, as galinhas, não ficamos descansadas enquanto não penicarmos as crianças todas por dentro só para nos certificarmos que não há nenhuma lagarta afoita a provocar estragos desnecessários nas nossas florzinhas de estufa.

Phadiatop Inalante --------- Positivo

Epitélio de gato, Rabo de gato-Phleum pratense, Caspa de cão....
Mau!

Está a Meca em maus lençóis.
Querem ver que tenho de agarrar no meu Smart, vestir o meu casaco da Nike com gorro, e ir ali ao canil mandar a gata pela vedação?

9 de janeiro de 2018

BRAVO OPRAH, BRAVO [e outro tipo de assédio]

É praticamente impossível ficar indiferente ao discurso da Oprah nos Globos de Ouro.
Foi perfeito, e no entanto, quantos discursos antes deste tomaram também a forma da perfeição e foram aplaudidos por tantas outras personagens, conhecidas ou desconhecidas, com igual comoção? 
Muitos. 

Posso imaginar-me ali, fazendo o meu próprio discurso, com um globo de ouro na mão, daqueles que se dão aos trabalhadores pelo bom desempenho na peça teatral que é a [minha] vida de todos os dias.
Todos sofremos o assédio, uns mais que outros, outros mais que todos, alguns, asseguro, é só o que recebem.
Mas eu não sou a Oprah.
Não trabalho discursos.

Cada um de nós recebe o assédio de igual maneira, processando-o diferentemente.
Ao meu grande amigo ZC, que por esta altura está sentado numa secretária vazia, virado para uma parede negra, no fundo de um armazém onde trabalhou durante 10 anos, frenética e arduamente, o meu aplauso e a minha comoção. Ergue o seu globo de ouro, pesado como chumbo, com braço de ferro, cuidando de si, porque a dignidade de um Homem não se abala com minudências. E não é uma minudência ter um homem assediado. 
Não tem ninguém que o aplauda.
Mas ele não está na mira da Oprah.
Ninguém o molestou sexualmente.

Passos muito claudicantes neste grande tópico que é o 'assédio', que todos têm por sexual (e abro aqui um parêntesis para me rir desbragadamente) quando há muito mais marés que marinheiros. 

Não digo coisa com coisa.
O meu propósito era outro.

Queria eu dizer, mas já gastei as palavras, que quem foi aplaudido não foram as mulheres que denunciaram o assédio. Quem recebeu o aplauso foi a Oprah, o discurso da Oprah, a representação social da Oprah.

Em que medida pode este perfeito discurso ser uma jogada?
Estamos a aplaudir alguma medida tomada contra o assédio? Que medida foi essa?
É a Oprah uma verdadeira activista contra o assédio? 
Ou é uma controladora das massas?
Não sei, mas a mira dela é outra.



8 de janeiro de 2018

MANUAIS ESCOLARES GRATUITOS (2017/2018)

À ATENÇÃO DOS PAIS COM FILHOS A ESTUDAR EM LISBOA

Foi aprovada em reunião da Câmara Municipal de Lisboa de 20 de dezembro de 2017 a proposta para que, a partir de janeiro de 2018, todas as crianças do 2º e 3º ciclo (do 5.º ao 9.º ano) das escolas públicas de Lisboa tenham direito a manuais escolares gratuitos. Esta medida irá beneficiar cerca de 22 mil crianças, sendo que será alargada ao ensino secundário no próximo ano letivo. No entanto, uma vez que para o presente ano escolar os manuais já foram comprados, o auxílio económico terá a forma de reembolso das despesas já efetuadas.
Os Encarregados de Educação interessados devem solicitar, até 28 de fevereiro de 2018, o reembolso do valor gasto na aquisição dos manuais escolares junto do estabelecimento escolar do aluno, através do preenchimento do formulário que deverão apresentar com a respetiva fatura de aquisição dos manuais, com o número de identificação fiscal do aluno ou do encarregado de educação. Após preenchimento, os Encarregados de Educação devem devolver a documentação na secretaria da Escola, que irá dar andamento ao processo de reembolso. Os interessados devem assim entrar em contacto com a Escola frequentada pelo aluno de forma a obter mais informações.


O link da notícia na Câmara Municipal de Lisboa é este:
http://www.cm-lisboa.pt/viver/educacao/manuais-escolares-gratuitos


Assim é que eu gosto!

UM LIVRO NOVO POR DIA [Dois Irmãos - Milton Hatoum]

2017 acabou por ser também o ano em que li menos.
Comprei bastante, sem conseguir intuir uma única vez que comprar livros não é sinónimo de ter tempo para os ler, ou capacidade intelectual para estar sossegada a correr linhas e entender o que elas me querem dizer.
Comecei pelo Philip Roth «Quando Ela era Boa», o meu autor preferido - e aquele que eu achava que poderia abrir as hostes do "annus horribilis" - mas que afinal foi tramado pelo vazio que se apoderou de mim quase todas as noites e que me impediu de preencher a cabeça com substâncias palpáveis; secundei com o gigantesco «O Labirinto dos Espíritos» do Carlos Ruiz Zafón, outro dos melhores e um dos que me deu mais prazeres nisto da leitura durante aquele outro ano, igualmente horribilis, em que perdi a tineta e decidi que queria trabalhar num sítio diferente e descobri que afinal são todos iguais; passei os olhos pelo [acho que] magnífico «Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato» da Ana Margarida de Carvalho,e é mais um que lá está a azedar ao lado da máquina de costura, outra que sofre de abandono maternal mas que pelo menos ainda enfeita muito bem o móvel; o coitado do Mário de Carvalho, o pai da Margarida de Carvalho, também não teve sorte com o livro de capa amarela que fala sobre Romanos; o Diário de Anne Frank, que comprei para a minha filha mas que resolvi reler, também lá está com a badana a marcar uma página qualquer algures no mês de setembro quando ela percebe que os vestidos já não lhe servem, os sapatos não lhe cabem e o anexo é afinal todo o mundo que lhe resta - ele há coincidências; e tantos outros que sinceramente não me lembro porque escolhi-os, comprei-os, e depois abandonei-os.

Mas houve um que li.
Em dois dias.
E para ser muito sincera, há muito que não lia assim um romance tão bom.
É do Milton Hatoum, um autor que venceu três vezes o Prémio Jabuti [o mais importante galardão literário do Brasil], e para mim, uma estreia em livros do Brasil depois de Machado de Assis e Jorge Amado.
Larguem tudo o que estão a fazer e mergulhem nesta história extraordinária.
Posso cair muitas vezes do meu cavalo, mas este livro não é um tombo!


7 de janeiro de 2018

DA MAIORIDADE

Pareceu-me bem achegar-me a vós para deixar algumas palavras.
Poucas, que não quero maçar-vos.
Poucas porque na verdade não tenho muitas.
Tenho no entanto algumas que gostava de deixar aqui plasmadas e que surgiram neste hiato de tempo em que vivi um bocadinho à margem de mim.

Prefácio:

Gosto muito de estrear coisas, de começar de novo. O fim inevitável e sombrio pode ser de repente alegre.
O copo meio vazio não é uma coisa má porque de um trago se esvai e mostra um fundo cheio de possibilidades.
Embriagada de sonhos novos é efetivamente aquilo que quero.

Em 2017:
O ano passado [na virada] quando o século XXI era apenas um menor irritante, caí ruidosamente [e perigosamente] de uma cadeira, quando me sentei para descansar.
Um Salazar, pensei.
Sal e Azar. 
Começar o ano novo a cair desamparada de uma cadeira, pensei, não era coisa boa; e não foi.
Gosto de pensar que há coisas que não controlamos e sou [às vezes] supersticiosa.
Foi um ano terrível [e sobretudo incrédulo] que tive consciência de querer despir logo ali, espalhada em frente à lareira, com as pernas no ar e a cabeça dobrada contra a parede, mas não consegui.
Estava caída logo no início, o espanto entrou-me na boca, fiquei sem o fôlego, e falhei todas as barreiras da comprida pista como se fosse um atleta desengonçado, algo deficiente, que se esbardalha logo na primeira e faz cair todas as outras.
Caminhei andrajosa pelos dias e meses, com as roupas molhadas e os joelhos feridos, e cheguei ao fim ofegante, sacrificando-me, exasperando-me, morta para me levantar.

O século XXI, que há poucos dias atingiu a maioridade, deixa para trás o menor irritante.
Faz 18 anos.
Quando fiz 18 anos subi a uma cadeira.
Era adulta, nascia-me da noite para o dia uma maturidade intelectual que me permitia operar muitos dos atos da vida civil: votar, casar, alistar-me em batalhas sangrentas qual exército de bárbaros.
Fui sempre lutadora, sempre inovadora, sempre nova.
Faço outra vez 18 anos.
Quero estrear-me.


Vaslav Nijinsky, o Deus da Dança, disse estas palavras:

«Percebi que algumas pessoas estafam os cavalos e os homens, até o cavalo [ou o homem] parar e cair. Eu e o cavalo decidimos que poderiam chicotear-nos quando quisessem, mas que só faríamos o que nos apetecesse, porque queremos viver.»

É esta a ideia de partida.
Espero recomeçar.
Não posso escapar-me [sempre] de ser chicoteada, porque é assim a [minha] vida, mas posso fazer exatamente aquilo que quero.

Se é para cair, que seja em queda LIVRE!



A Lei de queda livre; Elizabeth Becker nos jogos olímpicos de 1924 em Paris.
Foto Bettman / Getty