Pareceu-me bem achegar-me a vós para deixar algumas palavras.
Poucas, que não quero maçar-vos.
Poucas porque na verdade não tenho muitas.
Tenho no entanto algumas que gostava de deixar aqui plasmadas e que surgiram neste hiato de tempo em que vivi um bocadinho à margem de mim.
Prefácio:
Gosto muito de estrear coisas, de começar de novo. O fim inevitável e sombrio pode ser de repente alegre.
O copo meio vazio não é uma coisa má porque de um trago se esvai e mostra um fundo cheio de possibilidades.
Embriagada de sonhos novos é efetivamente aquilo que quero.
Em 2017:
O ano passado [na virada] quando o século XXI era apenas um menor irritante, caí ruidosamente [e perigosamente] de uma cadeira, quando me sentei para descansar.
Um Salazar, pensei.
Sal e Azar.
Começar o ano novo a cair desamparada de uma cadeira, pensei, não era coisa boa; e não foi.
Gosto de pensar que há coisas que não controlamos e sou [às vezes] supersticiosa.
Foi um ano terrível [e sobretudo incrédulo] que tive consciência de querer despir logo ali, espalhada em frente à lareira, com as pernas no ar e a cabeça dobrada contra a parede, mas não consegui.
Estava caída logo no início, o espanto entrou-me na boca, fiquei sem o fôlego, e falhei todas as barreiras da comprida pista como se fosse um atleta desengonçado, algo deficiente, que se esbardalha logo na primeira e faz cair todas as outras.
Caminhei andrajosa pelos dias e meses, com as roupas molhadas e os joelhos feridos, e cheguei ao fim ofegante, sacrificando-me, exasperando-me, morta para me levantar.
O século XXI, que há poucos dias atingiu a maioridade, deixa para trás o menor irritante.
Faz 18 anos.
Quando fiz 18 anos subi a uma cadeira.
Era
adulta, nascia-me da noite para o dia uma maturidade intelectual que me
permitia operar muitos dos atos da vida civil: votar, casar, alistar-me em
batalhas sangrentas qual exército de bárbaros.
Fui sempre lutadora, sempre inovadora, sempre nova.
Faço outra vez 18 anos.
Quero estrear-me.
Vaslav Nijinsky, o Deus da Dança, disse estas palavras:
«Percebi que algumas pessoas estafam os cavalos e os homens, até o cavalo [ou o homem] parar e cair. Eu e o cavalo decidimos que poderiam chicotear-nos quando quisessem, mas que só faríamos o que nos apetecesse, porque queremos viver.»
É esta a ideia de partida.
Espero recomeçar.
Não posso escapar-me [sempre] de ser chicoteada, porque é assim a [minha] vida, mas posso fazer exatamente aquilo que quero.
Se é para cair, que seja em queda LIVRE!
A Lei de queda livre; Elizabeth Becker nos jogos olímpicos de 1924 em Paris.
Foto Bettman / Getty
Alguém afirmava, podemos tentar escalar a escarpa e conseguir, falhar e cair, ou aprender a "voar".
ResponderEliminarBeijo querida Uva.
Olá, olá!
EliminarAprender a voar só aqui com as minhas palavras.
Aqui é que se voa de verdade.
O resto são cavalos de corridas sobre as quais não perdendo fazer mais apostas.
Abraço!
Bem vinda
ResponderEliminarseu texto parece um pouco masoquista
se é par cair...
...espero que não se mande
ou que a piscina tenha água
Eu sou um bocadinho masoquista...
EliminarAquilo estava cheio de água, mas a água também aleija!
E que seja um ano cheio. De inovação, de fundos de copos tragados e transformados em oportunidades. De ti própria.
ResponderEliminarOh, quase me apeteceu dizer abençoada queda, essa!
Feliz ano Novo, Uva!
:-)
(Devias ser Uva de Essência, e não Passa...)
Querida Susana!
EliminarVenham de lá esses ossos!!
Está boa que eu sei, muito trabalho, que também o teu ano foi daqueles irrespiráveis, mas sei-te bem, pelo menos posso saber de ti.
Desejo-te um enorme 2018 para teres tempo para fazer tudo e ainda trabalhar!
É este ano que partimos as duas para a feira do livro com um troley como o prof Marcelo???
;)