29 de novembro de 2013

DA INCONTINÊNCIA

Uma vez, era eu uma criança, fui com uma malta muita chungosa a um concerto dos Thievery Corporation, e como já tinha bebido umas 80 jolas e umas outras coisas, deu-me ali uma arrepianço e tive de ir fazer pipi.
Logo ali perto, um pinheiro pareceu-me o local ideal, e fui nessa.
Estava eu muito entretida debaixo das pernadas da árvore, quando oiço alguém a dizer: Esses morcegos? Ó pah, esses morcegos já devem ter uns 100 anos!
Escusado será dizer o que aconteceu de seguida…. tinha morcegos idosos mesmo em cima da cabeça.
Uma imagem, vale mil palavras.
 
 

AFOGAM-NOS, COMO FAZEM AOS GATOS...

 
Sou uma rapariga versada em praia. Sim praia, praia mesmo. Na praia houve sempre coisas de que gostei muito e outras que sempre odiei. Destas que odiava, destaco uma, a mais temida, e outra, igualmente má, mas menos radical. A pior era a es...túpida amona. Cabeça dentro de água, cortada a respiração, a vida em suspenso, totalmente dependente da vontade alheia. Um momento a mais, um pânico repentino, e era a morte do artista. A outra, menos mortífera mas igualmente estúpida e desconcertante, era a brincadeira dos maços de cigarros cheios de areia, atirados zunindo para o campo inimigo. A guerra de areia, areia no ar e, claro está, areia para os olhos.
Caros todos: Isto que aqui vos apresento é tão somente, estas duas coisas numa só. Afogam-nos os sonhos, cortam-nos a respiração, atiram-nos areia para os olhos. Querem acabar com a nossa praia, no fundo, e metaforicamente falando, acabar com a maior alegria dos portugueses. Penso, e logo sei que ainda existo, que estes imbecis, ainda não perceberam que aquele sítio onde descansam as suas espreguiçadeiras, não é, de tido, a sua praia. É preciso mete-los ao largo. Sem boia de salvação. Ai Portugal, Portugal, do que é que tu estás à espera?

 

ARREBENTA COM ELES MANEL PARVO!

Quando eu era muito miúda, a minha avó Maria contava-me muitas vezes que havia um senhor lá na terra, no antigo e profundo Alentejo, que comeu até rebentar. O nome dele era Manel, Manel Parvo.
Da minha cabeça pequenina, nasceram, em simultâneo, ondas de comicidade e de terror, ora imaginando o Manel Parvo a comer sôfrego, com os dedos gordos nas mãos besuntadas, e com a grande barriga a crescer logo abaixo dos sovacos, ora imaginando (como a minha avó gostava) que ele rebentava mesmo no meio de uma festa, deixando os comensais todos alagados numa papa de torresmos, vinho e mioleira. O Manel Parvo povoou o meu imaginário durante anos, de tal maneira que a minha expressão "Olha, aquele é como o Manuel Parvo!" é recorrente no meu discurso e é aplicada sempre que noto alguém, como a minha avó notava em mim, agarrado ao prato, ao pote, ao tacho ou ao poder! É no fundo o que este coelho me lembra. O Manel Parvo! Parece-me no entanto (e tenho pena) que o tacho deste coelho (parvo das orelhas), não tem fundo - coisa que não acontecia no Alentejo do Manel, onde o prato era raso - e parece-me que toda esta comida que come sôfrego sem parar (para pensar) é-lhe dada de bandeja, e ele vai comendo, comendo, e espero eu, que seja até rebentar, caso contrário quem rebenta somos nós. Eu por exemplo, não consigo engolir mais nada!

 
 
 

22 de novembro de 2013

O SISTEMA ou a VIDA!

 
 Faz hoje 50 anos que morreu Aldous Huxley, e não queria deixar passar este dia sem umas palavras sobre a sua obra.
Para quem não sabe, e muitos não saberão, este visionário escritor, (apesar de uma doença quase lhe roubar definitivamente a visão - e talvez por isso mesmo) escreveu uma obra-prima denominada “Admirável Mundo Novo”, que publicou em 1932, de impressionante realismo e atualidade, sobre
um hipotético futuro, que está hoje tão presente e é tão fazível.
Esgrimindo diversos ambientes com inexcedível criatividade, dá-nos a provar uma Humanidade vivente numa sociedade condicionada, por um lado e à nascença, através de mecanismos bio-psico-químicos, o que lhes dá diversos graus de inteligência (os Alfas para médicos, professores etecetera, e os Gama para tarefeiros e classes serventes), e por outro lado, uma droga chamada soma (que eu identifico muito com o MDMA ou com o Excstasy ou mesmo com as seitas proliferantes e extremistas), que lhes devolve uma serenidade e um bem estar absolutamente deliciosos, se analisarmos ao que são levados a fazer e em que condições.
Neste livro Huxley descreve-nos uma sociedade totalmente desprovida de valores culturais, sem religião, onde impera a poligamia e a alta corrupção entre os Alfas. Totalmente desaparecido está também o conceito de família e a própria família, o amor e os sentimentos “primários”, cultivando-se o lema "cada um pertence a todos e todos pertencem ao SISTEMA".
Este tema que grita no livro do Aldous Huxley, e a que eu chamo de Progresso Científico = Humanidade Zero, está hoje aqui à porta, bastando ver a degradação da sociedade, do consumo imediato, do prazer do momento, da falta de valores fraternos, da vitória absoluta do material sobre o intelectual e a cultura, a forma como tratamos os animais, a corupção no desporto, e ainda, como andamos todos muito contentes numa ditadura completamente mascarada de democracia, onde quem mais ordena são três ou quarto imbecis, que nos vão corroendo as entranhas e acabarão, no fim, por nos tragar de dentro para fora, qual alimento energético, para terem o que eles acham ser aquilo que ELES merecem.
Vou aproveitar a excelente ideia do escritor, e só peço a esta gente uma coisinha muito mínima, uma minudência mesmo, e que é esta: ou nos bombardeiam de soma, muito soma, imenso soma, camiões e resmas e ondas da Nazaré de soma, ou então este nojo que aqui nos apresentam como sociedade por estes dias, não vai dar resto zero, venham de lá os “secos” que vierem. Basta ler o final do livro e perceber.
O SISTEMA ou a VIDA!

21 de novembro de 2013

COINCIDÊNCIAS

Chego a casa.
Penduro o casaco onde calha e deposito a carteira na secretária do escritório.
Descalço os sapatos e fico obviamente descalça.
Sigo para a cozinha, e pelo caminho acendendo as luzes que encontro por ali.
Ligo a TV. Está outra vez no Panda. A série animada mostra uma espécie de ratazana que diz para outra: " temos de fugir daqui, segue-me!"
Pego no comando que está em cima da
mesa. Carrego aleatoriamente num canal de noticias. Grande confusão no écran, e no rodapé, baila a palavra do momento: MANIFESTAÇÃO! Penso distraída quem será desta vez. Detetives da PJ. Os infiltrados da sociedade. Os ratos da urbe, que nos defendem da podridão, na obscuridade, na emboscada. Naturalmente, franzo o cenho e penso alto: mas por Deus!, que fazem ali os detetives, os infiltrados, os que não podem aparecer e que nem à família dizem o que fazem? No Rossio? Na televisão, dando entrevistas? Ao mesmo tempo, entra atrasado, o V. Diz-me em tom irónico e vagamente: temos de fugir daqui! Invadiram a escadaria do parlamento. Conclusão: vivendo num pais do faz de conta, onde o Canal Panda adivinha os cenários do dia a dia e os detetives e policias atacam a Ordem que defendem e para a qual trabalham, só faltava perguntar-lhe: fugir? Fugir para onde, se estou descalça?
E é no fundo muito isto.

18 de novembro de 2013

SUSHI TIME! OU UMA SEITA DO PIOR...

- Uva, não gostas de Sushi?
- Opá, haa, não é bem isso, quer dizer, é quase isso, mas nem é por isso.
- Isso o quê?
- Isso de comer peixe cru, enrolado em arroz trinca, frio, com sabor a baixa maré, besuntado em mercúrio...

Versa a história antiga, que apareceu um senhor, desses que usam um barrete na cabeça armados em cientistas, que tendo investigado, feito parvo e durante imenso tempo, a estonteante vida do Atum, veio a descobrir que o peixinho era uma besta a comer mercúrio.
Ora eu, incansável pesquisadora e naturalmente curiosa, fui descobrir que toda eu estou, tal como o sushi e o atum, envolta no elemento do terror.
Para começar, tive a grande ajuda da minha mãe. Fã n.º 1 do elemento vermelho. Besuntou-me aquilo nas feridas das pernas e dos joelhos durante anos, e por isso, impediu deliberadamente que os pêlos das minhas pernas - que todas as raparigas têm e adoram tirar em sessões interessantíssimas de depilação, de onde chegam a nascer borboletas e outros animais - nunca me chegaram a nascer, privando-me desse convívio tão importante para o desenvolvimento da minha massa cinzenta.
E por isso sou assim, loira.
Acresce o facto de ter nascido em setembro, regida por Mercúrio. Se os meus pais estivessem mais atentos na hora em que me conceberam, talvez evitassem mais esta parvoíce, mas não. Mais tarde, quando alguém falava do rebento, era sempre nestes termos: esta rapariga parece que tem azougue! Ora não! Se pensar na quantidade de vezes que me obrigaram, ainda menor, a comer arroz com atum, não é difícil prever que toda eu sou azougue, palavra que, pasme-se, é sinónimo de mercúrio.
Voltando ao Sushi.
Eu, rapariga de ascensos gostos e profícuos saberes culinários, provei sushi uma única vez na minha vida – para não parecer saloia – e segundo me lembro, fiquei com uma pasta branca agarrada aos dentes de baixo e uma alga verde aos de cima, que foi comigo para o bairro alto, onde fiquei até às 5 da manhã, a rir-me para toda a gente….
Ontem, tendo merecido em minha humilde casa a prazenteira companhia dos comensais e amigos, fui surpreendida com um jantar de….. Sushi!
Ao fim de alguns minutos de animada preparação, já eu estava em pânico. Só conseguia ver o arroz unidos-venceremos, o peixe morto e cru que jazia inerte na bancada fria, as algas do Pacífico que pareciam estar vivas como enguias, as sementes da Turquia que chegaram provavelmente em vagões de galinhas nitrofurânicas, a faca branca e aguçada de porcelana de geração Ming, e a fruta colhida por indígenas nus e sem dentes…
…. na loucura do delírio, bebo de um trago uma copada de Planalto e fico logo mais calma.
Continuei a vê-los com os olhos esgazeados. Já nada podia fazer contra a seita: um agarrava-se à faca, o outro ao arroz, o outro às algas, e quando dei por isso, tinha a mesa coberta de pauzinhos chineses, origamis e toda uma panóplia de travessas cheias de rolos pretos (sim, parecidos com aquilo) cortados às rodelas, que fui obrigada a consumir, depois me atarem à cadeira com uma corda, qual Atum drogado, que se contorce na ressaca, por mais uma dose do terrível elemento.
Sei que uma seita se agiganta. Os agarrados ao Sushi-Mercúrio, da qual o meu próprio marido é (ou planeia ser – já que viu e fez tudo com muita atenção) faz parte.
Eles andam aí, a espalhar o terror vermelho. Tenham medo, muito medo.

Caros amigos, foi um belo jantar! O Sushi estava divinal. Cof, cof. Obrigada.

PS: O nosso jantar foi feito com Salmão. O elemento Atum foi colocado na história para surtir mais e maior efeito, no entanto, soube há pouco que outro cientista tem vindo a investigar o Salmão….


 

 
 

16 de novembro de 2013

DESPERDÍCIO CULTURAL... OU ESTAMOS EM GRANDE

Dois amigos falando sobre Museus:
- Desculpa se te aborreço com esta temática dos Museus. É uma maçada, eu sei. Quase não interessa, quase não vem à lembrança, passa ao lado, e na realidade é cousa tão importante. Sabes tu?
- Importante? Nunca me interessei por museus, tenho pouco tempo. Oiço dizer que são caros.
- Caros?
- Ó sim, caríssimos. Olha agora por exemplo, o novíssimo Museu N...acional dos Coches (MNC). 35 milhões de euros pousam naquelas paredes ribeirinhas. Não tinha noção que o país ainda tivesse esse dinheiro para gastar em cultura. E que peça de arte.
- Ó não, não me referia a isso. Pensei que falavas nas entradas.
- Pois não achas que são caras?
- Ò não! Não acho mesmo nada. E em boa verdade te digo; estou muito contente com esta preocupação em fazer museus, grandes museus, enormes museus, grandiosos museus. Estou em crer que vamos ficando mais cultos, pois não sabes, mais interessados na nossa história, e agora que falas nisso, posso garantir-te que é de grande valor patrimonial e histórico o nosso Museu Nacional dos Coches (MNC).
- Ai sim? Tenho vaga ideia de ser um dos mais visitados do país, com 200 mil visitas por ano, bem localizado, respirando a plenos pulmões. Funciona muitíssimo bem, dizem. Nunca lá fui.
- Sim, verdade. Ainda vamos tendo cousas boas, mas escuta: quer-me cá parecer que descobriram algo de grande importância, e que está relacionado com esse Museu.
- O quê? Não me digas que encontraram mais coches? Foi assim?
- Sim, fala baixo. Acho que foram aos milhares. Imagina que foram tantos e são de tão grande importância, que foi necessário fazer o novo edifício (quase tão grande como o CCB, mas não chega a ser, e é pena), para os comportar a todos. Sabes tu que um coche não é cousa pouca. Quatro rodas, um arreio....
- De facto, uma grande descoberta. Mas, dizias tu, quanto cobram para entrar?
- Não vai além dos 5,00€.
- Ora fazendo as contas, é grande lucro, não achas tu?
- Ó, sim, sim. Os portugueses estão cada vez mais interessados em Museus.

Desculpem maçar-vos com esta temática dos “museus”.
Pergunto-me a mim própria, sempre com a mesma indignação e em crescendo, quem terá sido o iluminado que projetou e fez nascer um edifício de 35 milhões de euros para lá colocar três restaurantes fast food, a importantíssima área comercial – que precisamos como do pão para a boca – e, vá lá, 15 coches que ao que sei estão p-e-r-f-e-i-t-o-s no sítio onde se encontram? Quem terá sido o luminoso-instruído que roubou 35 milhões à CULTURA para fazer um edifício vazio desde 2012, para lá comportar três tarecos e meia dúzia de caricas, na ideia insana [quiçá se não foi isso que lhe passou pela cabeça], de para lá atrair 8,5 milhões de visitantes como tem por exemplo o Louvre?
E vêm-me, então, outras perguntas à cabeça. Porque não existe responsabilidade penal para estes governantes? Porque se enchem primos, amigos, vizinhos, cunhados e irmãos, com tão grandes repastos de sapateiras e vinho verde, ora fazendo Museus, ora fazendo túneis, ora bailando, sempre, o bailinho da Madeira?
Que interesse tem um museu?
Que interesse temos todos nós?
Calhando, têm ambos cousas que já não existem.
Vida.
Respiremos então senhores, muito fundo. Haummmmmm haummmmmm haummmmm.

15 de novembro de 2013

DÉRIZ NOU LOUVE LAIKE DE FIRSZT...

O meu primeiro post.
Faltam 46 dias para acabar o ano. O que me diz o número 46? Nada.

Talvez a data me traga alguma inspiração para o começo.

Vou ver: 15 de novembro. É uma data com interesse. Encontro uma lista. Ora vejamos o que daqui posso aproveitar:
Yasser Arafat, no exílio, proclama o Estado da Palestina (1988).
Grande dica. Sobre este enigmático tema versava o meu primeiro livro a sério. Êxodos – Leon Uris. Não vamos mal. Sigo o rol.
Um grande número de futebolistas nasceu neste dia; temos pois, este 15 de novembro, rico em dar à luz craques da bola.
Outra dica. Hoje temos seleção. Não vou por aqui. É terreno pantanoso para Uva.
Oiço de raspão no Canal Memória, o José Hermano Saraiva dizer que os portugueses, se há coisa de que se podem gabar, é de ter mãos e pés; mãos para o artesanato, pintura e tecelagem, os pés para o futebol. Não deixava de ter razão. Pontuais no 28 e chutos no rabo da democracia, é o que mais se vê por estes dias. E que belíssimos jogadores.
Não queria despir-me já de preconceitos políticos, afinal de contas a uva tem uma imagem a manter, logo agora que as exportações de vinho sobem em flecha e até parece, pelo alarde dos Sinistros Ministros, que são eles que apanham e levam trôpegas à cabeça, as cestas das vindimas, carregadas de boa uva, para venderem o vinho nas reuniões do Comité. Até parece que os estou a ver. Boina alentejana na mão, camisa de xadrez e um punhado de cabelos hirtos: - V. Exas, temos um vinho ótimo, não o quereis provar?
E o braço que estende o copo, pede logo de seguida um 2º resgate, um aperto de mão, que sim, que se faz o negócio.
Não me detenho mais no tema.
Sigo na busca de um assunto verdadeiramente interessante para desenvolver no meu primogénito. Nada. Tudo coisas sem interesse. Sobe o preço da gasolina, Durão Barroso prepara o regresso. Temos pena.
Fico pensativa com o cursor o piscar na folha branca. 
Tinha gizado todo um plano; ainda ontem me bailava uma história ótima na cabeça. Semicerro os olhos. Tento levar a memória onde ela já não consegue ir sozinha. Não escrevinhei nada, perdeu-se a epifania.
A uva passa dá os ares da sua graça. A memória mirrada, corpo de bacalhau.
Quem me dera ter sempre à mão os homenzinhos do meu banner, enchendo-me a cabeça de coisas cómicas para dizer, sobretudo parvoíces. Precisamos urgentemente de rir da vida, e não o contrário.
No fundo é isto que quero fazer com esta Uva-Passa. Tê-la sempre cheia de coisas parvas e inúteis e espreme-la aqui, para me rir com ela. Para me rir dela. Para me rir de mim.
Nada vi que me prendesse a atenção neste 15 de novembro. 
Só este blogue, agora pela primeira vez publicado. Xiiiinapá!
Voltarei, é certo.
A Uva voltará sempre, mesmo sem nada para espremer...
Ou talvez por isso mesmo.
Cá beijinho.