21 de novembro de 2013

COINCIDÊNCIAS

Chego a casa.
Penduro o casaco onde calha e deposito a carteira na secretária do escritório.
Descalço os sapatos e fico obviamente descalça.
Sigo para a cozinha, e pelo caminho acendendo as luzes que encontro por ali.
Ligo a TV. Está outra vez no Panda. A série animada mostra uma espécie de ratazana que diz para outra: " temos de fugir daqui, segue-me!"
Pego no comando que está em cima da
mesa. Carrego aleatoriamente num canal de noticias. Grande confusão no écran, e no rodapé, baila a palavra do momento: MANIFESTAÇÃO! Penso distraída quem será desta vez. Detetives da PJ. Os infiltrados da sociedade. Os ratos da urbe, que nos defendem da podridão, na obscuridade, na emboscada. Naturalmente, franzo o cenho e penso alto: mas por Deus!, que fazem ali os detetives, os infiltrados, os que não podem aparecer e que nem à família dizem o que fazem? No Rossio? Na televisão, dando entrevistas? Ao mesmo tempo, entra atrasado, o V. Diz-me em tom irónico e vagamente: temos de fugir daqui! Invadiram a escadaria do parlamento. Conclusão: vivendo num pais do faz de conta, onde o Canal Panda adivinha os cenários do dia a dia e os detetives e policias atacam a Ordem que defendem e para a qual trabalham, só faltava perguntar-lhe: fugir? Fugir para onde, se estou descalça?
E é no fundo muito isto.

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