Bem, por acaso depois de ter estado num curso de escrita em Serralves onde não eu, mas alguns dos colegas escreviam mesmo muito bem, uma colega começou a organizar uma compilação dos textos que foi depois publicada pela Chiado Editora. O livro, pelos textos dos outros e pelas imagens, ficou muito especial. Não tivemos de pagar para que fosse publicado e acordámos que o valor dos direitos de autor iria para a AMI - http://www.wook.pt/ficha/atelier-dos-sentidos/a/id/4939877 Eu vejo nestas editoras uma oportunidade de se ter um livro publicado e como me acontece com outros livros, não quero julgá-los pela editora, mas pelo seu conteúdo. Lembrei-me a propósito do artigo que li sobre uma jornalista que para experimentar o que se passa com as editoras enviou um exemplar do livro Aparição de Virgílio Ferreira com outro título para várias das "verdadeiras" editoras e todas o rejeitaram.
O problema destas editoras é que não avaliam o que vai ser editado e fazem-no cegamente, desde que o autor se comprometa a comprar um X de exemplares, numero esse que não só viabiliza, à partida, a edição como dá ainda uma margem de lucro suficiente para não terem de se preocupar mais com o livro. E isto é mau. Primeiro porque, sendo a natureza humana o que é, isso quer dizer logo à partida que o que interessa é passar ao próximo autor que garante uma margem de lucro fácil, portanto o anterior que pagou já não interessa! Depois porque, como apenas interessa essa margem de lucro a filosofia é editar tudo e deixar que o mercado cumpra a sua função de separar o trigo do joio. Mas se o joio for muito mais do que o trigo numa ceara, temos de nos perguntar se vale a pena ir à procura do trigo ou se mais vale largar fogo a tudo de uma vez e recomeçar de novo a semear... ...e editoras como estas enchem o mercado de Joio à procura do seu lucro fácil, assim como o fazem pseudo-editoras discográficas e produtoras de audiovisuais, e o resultado está à vista para quem o quiser ver, com um baixar da fasquia da qualidade em tudo o que vemos, lemos e ouvimos. Mas isto não é um fenómeno local, é mundial... Mas nada disto me choca e é até expectável... ...agora que me mandem um e-mail completamente hipocrita em que se tentam passar por cordeiros quando são lobos a convidar-me para o seu covil para depois me filarem o dente... ...sejam sinceros e assumam o que são! Não são editoras. Prestam serviços de auto-edição em que a qualidade daquilo que é editado depende não só do talento do escritor mas também da sua capacidade de pagar serviços profissionais de design, revisão. Mas, mais grave, não são editoras porque, um autor, ao pagar para editar algo, pode ver isto como último recurso e uma aposta, mas nunca terá a certeza da validade do que escreveu. Para um autor é tão importante ter uma obra sua aceite para edição, como ouvir um "não" redondo. O "não" tem o condão de começar logo a fazer uma pré-selecção entre o trigo e o joio. Quem está mesmo apaixonado pelo que faz engole o não, pensa no que fez de errado, ouve as criticas e trabalha, refaz, melhora, esforça-se, supera-se para que aquilo que faz chegue mais longe. Quem não o está desiste e não se fala mais nisso. Esta é a função de uma editora. Escolher aquilo que acha que pode te um valor comercial de entre o que lhe chega (porque uma obra de arte só o é enquanto não a tentamos vender, porque depois disso torna-se num bem de consumo e como tal sujeito a regras de mercado), apostar, em parceria com o autor, investir e depois comer a relva para que o mundo saiba que aquela obra existe e tem mesmo de o fazer, caso contrário não há lucro.
Para serviços de auto-edição, como os prestados pela Chiado "Editora" há coisas como o CreateSpace que é gratuito, on-line, disponibiliza o livro no mundo inteiro à distância de um click, os autores podem encomendar copias das suas obras a preço de custo + portes, para venda directa, e não retem quaisquer direitos de autores sobre as obras, podendo estas ser disponibilizadas a preços muito mais acessíveis aos leitores... ...e já disse que é gratuito?
Uau deve ter sido a maior resposta que alguma vez recebi e nem sequer foi no meu blogue :) Percebo a ideia e a crítica. Mas se a função de uma editora é escolher aquilo que pode ter valor comercial, tal não implica que tenha qualidade, apenas que ao invés do autor, serão outros a pagar pelo livro que terá um valor comercial. Agora e sobre a função da editora, lembrei-me do editor dos livros de Raymond Carver que "desfigurou" alguns dos seus contos para na sua perspectiva os tornar vendáveis.
É expectável que uma editora estabeleça uma relação de confiança com o autor, uma parceria e que sugira alterações. Caberá ao autor gerir as sugestões, de boa fé, analisá-las e aceitá-las ou não. Aquilo de que falas é de uma imposição pura e simples e mesmo essa pode ser rejeitada pelo autor. Quanto à qualidade... ...aí o mercado decide... ...mas é ajudado por promoção eficaz que dá a conhecer uma obra. Quando sai um romance novo do JRS toda a gente fica a saber. O lançamento é uma efeméride... ...o "Mau tempo no canal", clássico da literatura Portuguesa, nunca esgotou a primeira edição, se não estou enganado da Bertrand, que abriu mão dos direitos de edição e neste momento, se o livro existe, existe pela mão da Imprensa Nacional... ...e falando num clássico da literatura Portuguesa que não esgotou a primeira edição, fica a pergunta: Quantas cópias foram vendidas das cinquenta sombras do cinzento? As pessoas não querem qualidade, querem entretenimento, e é por isso que pagam... ...é por isso que o JRS vende milhares... ...é por isso que o Dan Brown vende milhões...
Não critico, de todo, quem queira abraçar a auto-edição. De todo. No entanto, estas empresas de serviços auto-intitularem-se de "Editoras" e agirem como tal para caçar potencias clientes, levando-os a ter expectativas que não raro saem completamente goradas mexe-me com os fígados!
Mas o que me chateia mesmo nisto é que, após uma anterior troca de "mimos" há uns meses atrás, tenham a coragem e a distinta lata de me ter incluído numa mailing list onde me vêm vender a banha da cobra como se eu fosse parvo! É o cumulo da cara podre! E eu até fui mais ou menos delicado na minha primeira resposta... ...um tudo nada irónico, confesso, mas apenas porque pensei, honestamente, que aquele e-mail era somente a gozar com a minha cara... ...mas quando me responderam, manifestamente a gozar com a minha cara, sem subterfúgios embora nas entrelinhas (com um toque de ironia que, confesso, até apreciei e me fez sorrir) tive de dar a resposta que me pareceu mais directa e correcta... ...e ri-me que nem um perdido enquanto a escrevia! (há algo de sádico em mim, confesso...)
Eina páh...
ResponderEliminar...fui partilhado!
LOL
:)
:) pois foste!!
EliminarE quanto a mim, de forma muito oportuna
Eliminar:))
E partilhou mto bem :)
EliminarBem, por acaso depois de ter estado num curso de escrita em Serralves onde não eu, mas alguns dos colegas escreviam mesmo muito bem, uma colega começou a organizar uma compilação dos textos que foi depois publicada pela Chiado Editora. O livro, pelos textos dos outros e pelas imagens, ficou muito especial. Não tivemos de pagar para que fosse publicado e acordámos que o valor dos direitos de autor iria para a AMI - http://www.wook.pt/ficha/atelier-dos-sentidos/a/id/4939877
ResponderEliminarEu vejo nestas editoras uma oportunidade de se ter um livro publicado e como me acontece com outros livros, não quero julgá-los pela editora, mas pelo seu conteúdo.
Lembrei-me a propósito do artigo que li sobre uma jornalista que para experimentar o que se passa com as editoras enviou um exemplar do livro Aparição de Virgílio Ferreira com outro título para várias das "verdadeiras" editoras e todas o rejeitaram.
É assim mesmo!
ResponderEliminarBeijocas, Uvinha :)
Redonda,
ResponderEliminarO problema destas editoras é que não avaliam o que vai ser editado e fazem-no cegamente, desde que o autor se comprometa a comprar um X de exemplares, numero esse que não só viabiliza, à partida, a edição como dá ainda uma margem de lucro suficiente para não terem de se preocupar mais com o livro.
E isto é mau.
Primeiro porque, sendo a natureza humana o que é, isso quer dizer logo à partida que o que interessa é passar ao próximo autor que garante uma margem de lucro fácil, portanto o anterior que pagou já não interessa!
Depois porque, como apenas interessa essa margem de lucro a filosofia é editar tudo e deixar que o mercado cumpra a sua função de separar o trigo do joio. Mas se o joio for muito mais do que o trigo numa ceara, temos de nos perguntar se vale a pena ir à procura do trigo ou se mais vale largar fogo a tudo de uma vez e recomeçar de novo a semear...
...e editoras como estas enchem o mercado de Joio à procura do seu lucro fácil, assim como o fazem pseudo-editoras discográficas e produtoras de audiovisuais, e o resultado está à vista para quem o quiser ver, com um baixar da fasquia da qualidade em tudo o que vemos, lemos e ouvimos. Mas isto não é um fenómeno local, é mundial...
Mas nada disto me choca e é até expectável...
...agora que me mandem um e-mail completamente hipocrita em que se tentam passar por cordeiros quando são lobos a convidar-me para o seu covil para depois me filarem o dente...
...sejam sinceros e assumam o que são! Não são editoras. Prestam serviços de auto-edição em que a qualidade daquilo que é editado depende não só do talento do escritor mas também da sua capacidade de pagar serviços profissionais de design, revisão.
Mas, mais grave, não são editoras porque, um autor, ao pagar para editar algo, pode ver isto como último recurso e uma aposta, mas nunca terá a certeza da validade do que escreveu. Para um autor é tão importante ter uma obra sua aceite para edição, como ouvir um "não" redondo. O "não" tem o condão de começar logo a fazer uma pré-selecção entre o trigo e o joio. Quem está mesmo apaixonado pelo que faz engole o não, pensa no que fez de errado, ouve as criticas e trabalha, refaz, melhora, esforça-se, supera-se para que aquilo que faz chegue mais longe. Quem não o está desiste e não se fala mais nisso.
Esta é a função de uma editora. Escolher aquilo que acha que pode te um valor comercial de entre o que lhe chega (porque uma obra de arte só o é enquanto não a tentamos vender, porque depois disso torna-se num bem de consumo e como tal sujeito a regras de mercado), apostar, em parceria com o autor, investir e depois comer a relva para que o mundo saiba que aquela obra existe e tem mesmo de o fazer, caso contrário não há lucro.
Para serviços de auto-edição, como os prestados pela Chiado "Editora" há coisas como o CreateSpace que é gratuito, on-line, disponibiliza o livro no mundo inteiro à distância de um click, os autores podem encomendar copias das suas obras a preço de custo + portes, para venda directa, e não retem quaisquer direitos de autores sobre as obras, podendo estas ser disponibilizadas a preços muito mais acessíveis aos leitores...
...e já disse que é gratuito?
:)
Uau deve ter sido a maior resposta que alguma vez recebi e nem sequer foi no meu blogue :)
ResponderEliminarPercebo a ideia e a crítica.
Mas se a função de uma editora é escolher aquilo que pode ter valor comercial, tal não implica que tenha qualidade, apenas que ao invés do autor, serão outros a pagar pelo livro que terá um valor comercial.
Agora e sobre a função da editora, lembrei-me do editor dos livros de Raymond Carver que "desfigurou" alguns dos seus contos para na sua perspectiva os tornar vendáveis.
É expectável que uma editora estabeleça uma relação de confiança com o autor, uma parceria e que sugira alterações. Caberá ao autor gerir as sugestões, de boa fé, analisá-las e aceitá-las ou não. Aquilo de que falas é de uma imposição pura e simples e mesmo essa pode ser rejeitada pelo autor.
EliminarQuanto à qualidade...
...aí o mercado decide...
...mas é ajudado por promoção eficaz que dá a conhecer uma obra.
Quando sai um romance novo do JRS toda a gente fica a saber. O lançamento é uma efeméride...
...o "Mau tempo no canal", clássico da literatura Portuguesa, nunca esgotou a primeira edição, se não estou enganado da Bertrand, que abriu mão dos direitos de edição e neste momento, se o livro existe, existe pela mão da Imprensa Nacional...
...e falando num clássico da literatura Portuguesa que não esgotou a primeira edição, fica a pergunta: Quantas cópias foram vendidas das cinquenta sombras do cinzento?
As pessoas não querem qualidade, querem entretenimento, e é por isso que pagam...
...é por isso que o JRS vende milhares...
...é por isso que o Dan Brown vende milhões...
Não critico, de todo, quem queira abraçar a auto-edição. De todo. No entanto, estas empresas de serviços auto-intitularem-se de "Editoras" e agirem como tal para caçar potencias clientes, levando-os a ter expectativas que não raro saem completamente goradas mexe-me com os fígados!
Mas o que me chateia mesmo nisto é que, após uma anterior troca de "mimos" há uns meses atrás, tenham a coragem e a distinta lata de me ter incluído numa mailing list onde me vêm vender a banha da cobra como se eu fosse parvo! É o cumulo da cara podre!
E eu até fui mais ou menos delicado na minha primeira resposta...
...um tudo nada irónico, confesso, mas apenas porque pensei, honestamente, que aquele e-mail era somente a gozar com a minha cara...
...mas quando me responderam, manifestamente a gozar com a minha cara, sem subterfúgios embora nas entrelinhas (com um toque de ironia que, confesso, até apreciei e me fez sorrir) tive de dar a resposta que me pareceu mais directa e correcta...
...e ri-me que nem um perdido enquanto a escrevia!
(há algo de sádico em mim, confesso...)
:)