Estive a matutar.
Acontece-me amiúde, especialmente quando estou a ler um livro, colocar-me nos pés dos personagens e tentar imaginar o que sentiria eu se estivesse naquela situação.
Ontem, na voraz leitura que tenho dedicado a este livro, um livro excepcional - não fosse ele sobre o meu tema dilecto -, a protagonista, uma jovem professora de Literatura, tenta a sorte num colégio interno, elitista e de grande prestígio, para fugir de um tio abusador que lhe deixou a vida em cacos.
A certa altura, e nos dias que antecederam o início das aulas, nas deambulações que fez para conhecer o colégio, entrou finalmente na sala dos professores.
Ali chegada, senta-se numa pequena mesa, calada.
Está só, apesar da sala cheia de gente.
Subitamente, a jovem professora de Literatura é descoberta por outra professora, Miranda, que resolve dirigir-se a ela, e cumprimentá-la.
Esta descoberta, este interesse que Miranda teve por ela, naquele dia, e depois nos outros todos em que estiveram juntas, foi para mim o único momento de felicidade que encontrei no livro.
E pus-me a matutar.
Há muito tempo que ninguém me descobre.
Gente distraída
ResponderEliminarminha querida amiga
(um livro com um só momento de felicidade
não é nada recomendável)
Talvez encontres mais, mas este foi o único que achei passível, sem duvida, da palavra felicidade.
EliminarOra, desde que te vás descobrindo a ti própria, tudo bem na mesma!
ResponderEliminar:)
Não chega Cuca, não chega.
EliminarQuerida Uva, fiquei a pensar neste teu post, que quero comentar (gosto de posts que me fazem pensar). Acho que, numa vida inteira, não contamos muitas pessoas dessas, das que nos descobrem. E acho que isso acontece porque, se pensarmos bem, são poucas as pessoas capazes de estar atentas aos outros, de olhar e ver, de ouvir, de escutar, de descobrir. Para isso é preciso disponibilidade, tranquilidade, é preciso ter espaço interior para albergar mais alguém. E há pouca gente assim.
ResponderEliminarSe há muito tempo que ninguém te descobre, a lei das probabilidades inclina-se para que em breve alguém te descubra. :-)
O teu comentário li-o ontem. Trez vezes. Tenho muito azar ao jogo e probabilidades já entra no campo das matemáticas.
EliminarSim, sim, sim, a tudo, claro, tu sabes ler-me, sempre soubeste.
Fico assim.
Se houver novidades pois, partilharei tudo contigo.
Por enquanto mantenho-me na toca. Ninguém me viu, e caçadores também não quero.
Que bem dito! Acrescento somente que esse espaço interior por vezes não desenvolve porque forças externas o enchem de toxicidade. Depois.. até pode melhorar mas o veneno causa sempre sequelas.
EliminarLOL
ResponderEliminarAcho que nunca fui descoberto...
...e ainda bem!
:)
Tens que ter sido Gil, todos somos em alguma altura da vida, mas há períodos negros.
EliminarNão nos permitimos descobrir uns aos outros. Em toda a parte e circunstância, fica-se pela ocasião. Que quando parte leva consigo a hipotese de descobertas. E também por isso a postura e os esforços diminuem. Caminhamos para uma sociedade onde se quer descobrir muito pouco, para se pecar na idealização da identidade alheia e respectiva condenação se não corresponder ao imaginado. Por vezes - garanto - perde-se uma coisa melhor do que a idealizada.
ResponderEliminarTalvez tenhas sido descoberta por quem realmente importa, querida Uva.
ResponderEliminarAqui, vamos-te nós descobrindo. E que boa descoberta!
Beijocas repenicadas :)