20 de fevereiro de 2015

Run Uva Run!

Estava a ler este post da Loira e a minha memória acendeu uma luzinha. 
Quando era miúda só corria, não andava. Nunca.
Todos os trajectos que fazia eram a correr.
Da sala para a cozinha, da cozinha para o quintal, do quintal para a rua, da rua para a escola, enfim, uma correria infernal que só parou quando me compraram uns patins, e depois a bicicleta.
Um dia a minha mãe perguntou a uma primita minha se eu já tinha namorado...
- Achas? Eles não a conseguem apanhar!
Ninguém entendia os motivos de tanta correria, mas a verdade é que eu não conseguia estar parada, nem sentada, nem em pé, nem com atenção em nada, e de tudo o que este mundo me podia dar naqueles dias de liberdade, nada se comparava à corrida.
E lembro-me e tenho muito presente ainda, depois de tantos anos passados, de me sentir livre, totalmente livre, quando corria. Corria tão rápido que quase não sentia os pés a tocar no chão.
- Uva, onde vais? 
- Vou correr mamã!
Obviamente que não me custava nada. 
Era uma amostra de gente, uma pluma, um sopro.
Julgo e penso que a sensação de liberdade, de fazer o que se quer com o corpo, sem limites aparentes, sobrepondo a pujança física a todas as outras coisas, é no fundo o que vicia os que agora em adultos correm. É essa sensação de liberdade que os faz continuar a correr, sempre mais, forçando os músculos, os pulmões e as pernas, aproveitando o trajeto para reconquistar a escassa oportunidade de pensar nas coisas da vida, e de estar a sós com o pensamento, oleando a velha e esquecida engrenagem, e com ela o método de viver por objetivos, de superar, de chegar, de conseguir.
No bater do coração.

Tenho saudades de correr.
Um dia corro com isto.
Um dia corro daqui para fora.
Um dia, talvez, quem sabe, volte a sentir a liberdade de ser menina.

16 comentários:

  1. Uvinha, essa liberdade fez com que me apaixonasse pela bici, foi essa liberdade que comecei a pedalar cada vez mais, por sim, a pedalar sou sempre uma criança.

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  2. Entretanto alguém te apanhou mas não te prendeu ;) Quem diria que a menina que corria atrás de tudo e de nada se tornava numa mulher fantástica com as letras nas pontas dos dedos e que bem que as amarras em palavras. e que bem que confinas as palavras em textos.

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    1. As letras nas pontas dos dedos, mas sempre insatisfeita.
      Anda aqui a marinar qualquer coisa..............
      Obrigada Be.
      Fantástica és tu que com as tuas coisas de mãe de macaquito consegues deixar aqui e ali apontamentos de alegria, que nos enchem os dias.

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  3. A minha filhota mais nova também é uma pluma a correr. Lembrei-me dela ao ler este post.

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  4. Daqui do blog, não corres, porque eu, que detesto correr, vou a correr atrás de ti. Anota.

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    1. Corro com o blog e acaba-se a canseira.
      Fico ali num canto a arfar.
      Não deve ser difícil encontrar-me, pelo barulho da pieira que não tenho.
      Depois vais lá ao canto onde estou, toda mirrada como uma Uva Passa, e salvas-me desta asneira.
      Dava uma bela história...
      'A Uva fugitiva e a rapariga das cuecas amarelas' num escaparate perto de si.

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  5. Mas então, mesmo por aqui, não continuas a correr? naquilo que escreves, naquilo que lês, que procuras dos outros, parece-me que nunca paraste de correr, parece-me que mesmo quando as pernas estão quietas, corre-te veloz o pensamento. Imagina que talvez o teu corpo não aguente pernas e pensamento em correria ao mesmo tempo e então teve de arranjar maneira de os pôr a correr à vez, começou pelas pernas, tudo uma questão de logística, portanto. E a liberdade de ser menina, tenho para mim, que é muito mais coisa de pensamento que de pernas.

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    1. Corre-me veloz o pensamento...
      Essa tirada, essa epígrafe, evoca a minha 2ª frase preferida: O pensamento voa e as palavras andam a pé.
      A primeira é: Ah se eu não morresse nunca e eternamente procurasse a perfeição das coisas.
      Ando entrevada da cabeça.
      Correm comigo daqui para fora, estas lentas pernas sinápticas, esta fauna neuronal que não pára de estar... quieta.

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  6. Quando era pequena (ainda mais!) também parecia uma pluma, ou um cisco, de tão leve que era. Por causa disso é que nunca me preocupei, achei que ia ser pluma toda a vida. Vai daí que também tive de começar a correr e a pedalar, ou um dia destes já nem me podia mexer. Eu não gosto de correr, ninguém gosta, mas aconselho toda a gente, é muito mais que liberdade, é aquele tempo nosso que se foi perdendo e nesse tempo tanta coisa podemos ser :)

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    1. O que acontece comigo é que não sei se ainda gosto de correr.
      Talves goste, talvez não.
      Talvez vá ver se isto ainda dá pica...

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  7. Força! Só custa começar , mas vê lá masé para onde corres :))

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  8. Não corras "daqui" para fora, que a malta gosta de te ler (muito) :)
    Beijo Uvinha!

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    1. Obrigada.
      Um abraçinho e espero pelo post do regresso da gaiata pequena!

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