25 de janeiro de 2016

O Polvo

No dia 08 de agosto de 2015, há mais de 7 meses, portanto, desloquei-me a um Notário lisboeta com o intuito de dar inicio ao processo de criação de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) de apoio à criança e à família.
Há mais de 7 meses, não sei se já disse.
Quando alguém pretende criar uma IPSS, seja ela de que natureza for, decerto que não o faz para ficar rico - para isso bastaria comprar um franchising de hambúrgueres gourmet  - mas porque durante a sua actividade profissional, ou social, verificou que havia uma efetiva (e gritante) falta de apoio a um determinado núcleo comunitário, e que para ajudar e para obter ajuda extraordinária, era necessária a entrada de capital estatal, organizado e urgente.
E o Estado Social existe também para essa finalidade, e como não é per si a Grande Muralha da China, está organizado de forma a garantir, através de terceiros, que essa ajuda é efetiva, suficiente, atempada, justa e necessária, permitindo que a iniciativa privada possa também ela ser estendida à população carenciada, tornando-a semi-pública.
É exatamente o que se passa: há iniciativa privada que também interessa à restante comunidade, há vontade de abraçar projetos que a todos beneficiarão, há pessoas em condições de prosseguir com os objectivos, e há urgência absoluta em fazer chegar as iniciativas à população.
E há o polvo.
O Estado Social está para o polvo como os tentáculos estão para os organismos que o compõem, e as ventosas para os colaboradores que neles trabalham. Se este animal extraordinário agir como todos pensamos que deve agir, com astúcia, rapidez, e inteligência, então o Estado Social é um espécime a ter em conta no equilíbrio do ambiente.
Acontece que há tentáculos e tentáculos, há ventosas boas e ventosas frouxas, e até a grande cabeça do animal perde por vezes a tineta, ficando nós sem saber se aquela massa disforme e mole que por ali vemos ao sabor das correntes, enorme e bela, é afinal um polvo ou uma alforreca.
A mim, saíu-me a alforreca, um animal perigoso, que envenena quem lhe toca e que de resto não serve absolutamente para mais nada senão andar a esfregar-se pelas pessoas, causando-lhes uma espécie incurável de urticaria.
E isto a mim já me está a dar comichões.
Para quem não sabe, as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) são primeiramente aprovadas pelo Ministério Público (MP), depois de um longo caminho que compreende, entre outras coisas, a leitura e consequente aprovação dos Estatutos que irão reger a atividade da Instituição.
Os Estatutos, documento que redigi com especial atenção e dedicação, de acordo com os meus conhecimentos sobre a matéria e baseados na interpretação da lei em vigor, foram enviados para o MP ler há mais de 7 meses, não sei se já disse, depois de ter pago ao notário 308,81€ de honorários, mais 277,00€ de certificados, publicações e registos, a pronto pagamento e do meu bolso, isto tudo, atentai, só para as ventosas do polvo me verificarem se os Estatutos estão de acordo com o que pensam os tentáculos e com as minutas que decorrem da cabeça do animal.
7 meses.
Nunca é demais referir que há crianças que começam a andar com esta idade, mas, e há sempre um mas, há ventosas que têm mais de 40 anos disto, mas que ainda não aprenderam a ler.
Nomeadamente Estatutos.

7 comentários:

  1. "Quando alguém pretende criar uma IPSS, seja ela de que natureza for, decerto que não o faz para ficar rico" - Só não concordo contigo neste ponto. Muita gente se aproveita de estar à cabeça de uma IPSS, infelizmente. De resto, concordo com a tua indignação.

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    1. Com as alterações na lei da IPSS, dificilmente um Presidente fica rico por ser presidente de uma IPSS. Há redução de mandatos e de valor de remuneração.
      No entanto a corrupção é latente, podem sempre por-se a adjudicar fornecedores que são empresas de familiares e amigos, mas isso é como tudo.

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  2. Eu estou há mais ou menos o mesmo tempo a tentar criar um negócio e ainda ninguém me conseguiu explicar tudo o que preciso para o pôr a andar. Uma coisa toda a gente sabe: coimas! Muitas e avultadas, caso falhe alguma coisa.

    Será que os tentáculos se cortam com motosserra?

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    1. Sim. Mas são como as lagartixas: cortas-lhe o rabo e ele volta a nascer.

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  3. Devias ter esperado que alguém do polvo, ou ligado ao polvo, te convidasse a abrir a IPSS. Assim, por iniciativa própria, fica tudo muito mais difícil. E, esperemos que concordem contigo, que de facto a comunidade precise realmente desta IPSS que pretendes fundar, ou que não tenham nenhum amigo a idealizar o mesmo projecto.
    Não basta dinheiro. Também é preciso ter amigos/conhecidos nos sítios certos, na hora certa (um conceito que também faz parte da economia...).
    Dito isto, boa sorte! E bons fígados! ;)

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    1. Nem mais. Estamos em Portugal e eu tendo a esquecer-me disso.

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  4. Eu conheço um ex presidente duma coisa desse género na Santa terrinha, que não aceitava as batatas/cebolas/alhos/couves e outros afins, que o pessoal da aldeia oferecia, porque primeiro tinha que vender os dele...

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