Não conheço nenhuma resolução, nenhum acordo, nenhum cessar-fogo, que não tenha partido da premissa de que a humanidade vem primeiro, que as pessoas são afinal aquilo que interessa salvar, nem que sejam essas mesmas pessoas que a breve trecho serão as portadoras das contrapartidas, dos contactos, das finanças ou do poder.
Se é para salvar que se salvem os afetos.
A maior parte desses homenzarrões engravatados, dessas mães autoritárias, irmãos ingratos, colegas ratos, que varrem famílias, empresas, e vidas, tantas, com um vozeirão imenso, veementemente rudes, secos, e maus, desses que acham que tudo o que mexe lhes deve vassalagem, dinheiro ou favores, quebrarão o seu imenso ego contra a parede dos afetos dos outros, que na escuridão se unem, nem que seja para os abandonar.
Uma das minhas colegas contava-me que uma vez, era a filha ainda pequena, precisou de se ausentar com o marido durante duas semanas, e foi, naturalmente, pedir à sogra para lhe ficar com a menina. Que não, que não 'tomava conta de crianças'.
Foi uma sentença que ali ficou lida, julgava a sogra, a uma nora que poderia galgar e tomar-lhe outros dias com a pedinchice da miúda, se lhe abrisse o precedente.
Certo dia, que foi a semana passada, já a miúda se casa para o ano, veio a sogra pedir-lhe que ficasse lá em casa, a ajudá-la, que a senhora que lhe faz o levante e lhe troca a fraldeca precisava de ir à terra.
'Não tomo conta de velhos', assim, sem um afecto, sem necessitar de sentença, assim mesmo, devagarinho, doucement como dizem os francius.
Nesta nossa passagem para a outra margem, convém amar afetuosamente um barco, ou um remo, ou uma bóia, ou muitas bóias, ou muitos barcos.
Todas as pessoas a quem podermos lançar a mão, que lancemos, para lhes dar um abraço; a todos aqueles que de algum modo caminham, ou nadam, ou velejam junto a nós, na travessia, devemos nós prender a mão.
Que nunca nos larguem os amigos, os irmãos, os filhos.
Porque vede: as pessoas perdem-se.
O cavalo da vida, enorme, torna-se furioso, e consome-nos na solidão.
E é um grande problema quando só vemos o grande cavalo na velhice, quando o vozeirão se apaga e o ego esmorece.
'Não tomo conta de ti'.
Se é para salvar que se salvem os afetos.
A maior parte desses homenzarrões engravatados, dessas mães autoritárias, irmãos ingratos, colegas ratos, que varrem famílias, empresas, e vidas, tantas, com um vozeirão imenso, veementemente rudes, secos, e maus, desses que acham que tudo o que mexe lhes deve vassalagem, dinheiro ou favores, quebrarão o seu imenso ego contra a parede dos afetos dos outros, que na escuridão se unem, nem que seja para os abandonar.
Uma das minhas colegas contava-me que uma vez, era a filha ainda pequena, precisou de se ausentar com o marido durante duas semanas, e foi, naturalmente, pedir à sogra para lhe ficar com a menina. Que não, que não 'tomava conta de crianças'.
Foi uma sentença que ali ficou lida, julgava a sogra, a uma nora que poderia galgar e tomar-lhe outros dias com a pedinchice da miúda, se lhe abrisse o precedente.
Certo dia, que foi a semana passada, já a miúda se casa para o ano, veio a sogra pedir-lhe que ficasse lá em casa, a ajudá-la, que a senhora que lhe faz o levante e lhe troca a fraldeca precisava de ir à terra.
'Não tomo conta de velhos', assim, sem um afecto, sem necessitar de sentença, assim mesmo, devagarinho, doucement como dizem os francius.
Nesta nossa passagem para a outra margem, convém amar afetuosamente um barco, ou um remo, ou uma bóia, ou muitas bóias, ou muitos barcos.
Todas as pessoas a quem podermos lançar a mão, que lancemos, para lhes dar um abraço; a todos aqueles que de algum modo caminham, ou nadam, ou velejam junto a nós, na travessia, devemos nós prender a mão.
Que nunca nos larguem os amigos, os irmãos, os filhos.
Porque vede: as pessoas perdem-se.
O cavalo da vida, enorme, torna-se furioso, e consome-nos na solidão.
E é um grande problema quando só vemos o grande cavalo na velhice, quando o vozeirão se apaga e o ego esmorece.
'Não tomo conta de ti'.
Cuidai, enquanto é tempo.
No pavilhão argentino deste ano na Venice Biennale.
Uma obra de: http://claudiafontes.com/home/
não, o mundo não tem um equilíbrio moral.
ResponderEliminarfomos, eu e o meu Irmão, os mal-amados, os Outros, os Teus dos meus Pais para uma das minhas Avós, que tinha os Seus.
quando a senilidade chegou quem é que lá estava? Nós.
os Outros, mas ainda Os dela, choraram imenso no funeral, lágrimas de contrição ou talvez sinceras, mas demasiado rápidas.
não há equilíbrio. talvez seja melhor assim.
Estás decididamente de volta.
E excelente como é usual.
Meu querido, percebo-te totalmente, completamente. Os ingratos que na velhice se debulham em lágrimas, pedindo piedade, não poucas vezes sentem o karma a morder-lhes as canelas.
EliminarHá uma dureza na vida que me faz ficar "encolhida por dentro". Cuidar é um verbo que me é caro. Ver descuidar faz doer.
ResponderEliminarBeijos, Uvinha fujona! :)
Excelente.
ResponderEliminarSe estivesse em verso,
ResponderEliminarseria um poema
(mesmo assim, não sei se não é)
É, Uva, é.
ResponderEliminarSão aqueles velhos que se revoltam contra a ingratidão do mundo, esquecendo que passaram pela vida sempre estendendo a mão para receber e nunca para dar.
Pois, já eu que durante anos e anos me disseram que não era da família, me vejo agora privada da minha vida, para cuidar 24/24 horas. A minha sogra nunca mudou uma fralda que fosse ao neto (nem ao único filho que teve!), não obstante, comporta-se como se tivéssemos obrigação, enquanto o marido faz a sua vidinha faustosa, dizendo que não tem obrigação nenhuma. Mas esse também há-de cá vir parar e aí conversaremos. Se eu não morrer antes, claro. Só se sabe destas coisas quando passamos por elas, os outros, apenas podem imaginar. E ainda bem. ;)
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