Morro de medo de deixar alguém para trás.
Quando me zango muito com as coisas, afasto-me de tal maneira delas que quando me viro nem sequer os meus passos vislumbro.
Depois, apaziguada, ou esquecida, relembro as coisas que fiz por perder e que (agora) me fazem tanta falta.
Volta e meia ponho-me a olhar para o espelho caduco, e pergunto-lhe como fui capaz de deixar escapar as coisas mais básicas da vida.
Umas calças Levis com botões, um Bomber Jacket com um forro quentinho, os meus patins super-sónicos, a minha prancha de windsurf, o meu cabelo cheio de brilho e sem madeixas...
Mas a verdade é que nada disto me faz falta como a falta que me fazem os amigos.
Quando ultimamente me punha a escrever e parava de repente, sem jeito e nem maneira de continuar, lembrava-me sempre daquela vez em que me fui esconder na varanda a chorar, muito aflita, por não conseguir lembrar-me do nome de um único filósofo.
Isto nas vésperas do exame de filosofia.
Passei um verão inteiro sem sair de casa, apesar dos dedos que incessantemente tocavam na minha campainha opondo-se a tanto estudo.
- Deixa esses gajos da mão! Estão todos mortos...
- Tenho de estudar. O verão não acaba ainda...
Nesse verão, quem sabe a quantidade de gente que não conheci, de gente que ficou para trás?
Acordei a chorar numa varanda aberta, virada a sul, um calor infernal, porque deixei ficar para trás a vida de tantos filósofos.
Conhecia-os tão bem como a mim própria, e depois, assim, como que uma bola de sabão que se fina em mil gotas, chorei-os a todos.
Morro de medo de deixar alguém para trás.
Não estamos nunca suficientemente preparados esquecer aquilo que foi.
Às vezes é mesmo preciso voltar atrás.
Não quero abandonar ninguém.
Quero ser aquela miúda simples, de calças de ganga Levis, que voava nuns patins.
Quero ser filósofa mas veraneante, loira mas feliz.
Estou mudada.
Não quero ficar para trás.
O verão não acaba ainda...
Estou muito contente por vos ter chorado a todos, e de me lembrar novamente de todos.
Peço desculpa por ter deixado o tempo correr assim.
Este é o post que escolho para dizer-te como fiquei mesmo feliz por voltar a ver-te/ler-te. Dei logo pelo teu regresso, subiste na lateral do blog de alguém e eu estava lá nessa altura. Tu és uma daquelas pessoas disto dos blogs que, para mim, deixam um vazio quando desaparecem, deixam "a minha bloga incompleta" e acredites ou não, mas é totalmente verdade, várias vezes pensei como estarias tu e desejei que estivesses mesmo bem, e se nessa altura tivesse tido acesso ao teu email tinha-te escrito para saber de ti. Eu não sofro de memória curta, talvez seja por isso que, corra o tempo que correr, desaparecida ou reaparecida, há no meu blogocoração :-) um espaço para a Uva, quando um dia, para esta leitora, os blogs forem só uma recordação, a Uva fará parte dela.
ResponderEliminarEstou emocionadíssima. A rebentar de alegria, a ser tão feliz agora, depois de ler este teu comentário. Ficas já a saber que foi por tua causa que nunca fechei definitivamente os comentários a anónimos. Houve aqui muita coisa triste, mas há tanta gente ainda tão maravilhosa. Tardaste. Senti muito a tua falta. Gosto muito de ti, as tuas palavras são sempre tão bonitas, as mais bonitas, em todo o lado onde decides deixa-las, caramba. Clau, tu és muito linda.
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