11 de maio de 2017

MEDO

Estou a viver uma situação extrema.
Nunca na vida passei por isto, pelo menos a esta dimensão.
É uma catástrofe.

Quando escrevemos bonito para causar impacto e nos sai a frase muito batida: 'na vida a realidade ultrapassa quase sempre a ficção´, escrevemos à sorte. Sabemos que sim, porque conhecemos alguém que nos contou em tempos uma história inacreditável, mas verosímil, mas extrema, mas surreal porque autêntica, mas e nós, que ficção imaginada nos cai agora aos pés de verdade? Que coisas imaginamos nós que pudessem verdadeiramente acontecer?
Quase nada. 
Os sonhos visitam-nos na noite para que nunca os possamos confrontar acordados.

Foram muitas as vezes que imaginei o pior.
Quando a nossa cabeça gira, como louca, quando de repente num minuto tudo muda, quando a palavra é dita, a pedra lançada, a flecha atirada, nada será como antes e não são deuses, pensamentos, ou preces que podem alterar isso.  

Quando o Universo conspira e tu percebes que ele efetivamente conspira, quando se movimenta a olho nu e conseguimos ver as peças que ficaram soltas num redemoinho, cacos por todo o lado, os detritos que se descolaram de nós, e de outros como nós, as artérias da nossa vida escarafunchadas com um catéter rijo e implacável, que tenta à força abrir um caminho, um caminho obstruído, onde nada flui, onde tudo se acumula, os ressentimentos e os sentimentos, os olhos arregalados das pessoas, o medo estampado nos olhos que nunca se fecham, porque o espanto tomou conta deles, e nada restará senão a certeza de que sejam quais forem os caminhos que se abram agora, hão de abrir-se na verdade.

A ficção fica para já acocorada, a um canto, medrosa, espantada, com o tamanho gigante da verdade.
É uma catástrofe.
É uma catarse.

E de repente vem-me à cabeça a musica: "Entre pedras e pedrinhas, entre pedras e pedrinhas, alguma gota há de haver."

2 comentários:

  1. Uva queria só dizer-lhe que adorei que tenha regressado ao blog!! Já tinha tentado comentar mas percebi que não estava aberto a anónimos (até compreendo).
    Agora aproveitando a brecha da qual só me apercebi ao ler a Picante e que não sei se vai manter (acredito que levar com gente odiosa não seja agradável e que queira bloquear todos), queria só mesmo dizer que está gente anónima deste lado que gosta muito de a ler e daquilo que transparece pelo blog.

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    1. Quero agradecer-lhe a empatia de vir aqui dizer-me estas coisas tão sentidas. Acredite que é sensacional.
      A verdade é que somos pessoas e somos sensíveis a tudo o que nos dizem de mal, sobretudo se somos pessoas que vêem o copo meio vazio, mas eu decidi, com um post ao qual chamei de LOBOS, que apesar dos maus comentários, alguns até chocantes, hei de de avançar com a minha vida independentemente das pessoas que querem dar cabo dela.
      Tenho aprendido muito com a vida ultimamente, tenho estado metida num autêntico carrocel e tenho apostado muito na conciliação da minha agenda emocional.
      Deixo o Uva Passa para sempre aberto (como sempre esteve) a anónimos (também mauzões) na esperança que essas pessoas também conciliem as suas agendas emocionais.
      Quero muito dizer coisas e a minha urgência é e sempre será dizê-las!
      Um abraço, grato.

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