6 de maio de 2014

Hoje há caracóis!

Que o ser humano é uma espécie complexa, já todos sabemos.
Podemos levar uma vida inteira à procura da nossa pedra filosofal, o Santo Graal, mas dificilmente chegaremos a uma conclusão. Foram muito poucos os que conseguiram e alguns conseguiram... mal.
Felizmente que isso não nos impede de continuar procurando, da mesma forma que a consciência da nossa própria morte, não nos impede de continuar vivendo.
Veja-se por exemplo o meu caso:
Nasci careca.
Nascer careca nem é assim tão mau, agora ser careca até aos 37 anos é no mínimo, para não dizer uma coisa pior, terrível.
Imaginem o que é chegar ao colégio, de mão dada com a minha mãe a senhora mais cabeluda da família, que nem foi capaz de me emprestar dois ou três cabelos, nem que fosse os que lhe negrejam na barba, para poupar a única filha à vergonha social.
A escola do meu tempo - não é cá como agora, que as mães, armadas em hair-stylists, cortam os cabelos às crianças como se fossem o Eduardo mãos de tesoura versão estagiário incompetente, desses que eu conheço -  era um manancial de cabelos compridos esvoaçantes, bandoletes, totós, trancinhas, merdinhas, cocós, rabos de cavalo e marrafinhas.
Já eu, desgraçada, tive de colar um mísero gancho com cola UHU, diretamente ao couro cabeludo, porque os meus três cabelos que nasceram todos do mesmo lado, estavam entretidos atrás da minha orelha (que também tinha cola para não se despegar da cabeça), tentando passar despercebidos.
É que nem piolhos tive!
A vida escolar foi correndo como pode, enfim, e na 4ª classe lá me nasceram mais três cabelos do lado esquerdo.
Um dia (que eu era careca mas não era muda) chamei gorda a uma colega gorda, e ... zás! no meio da luta infernal fiquei novamente com os três cabelos iniciais. Sofri horrores. Durante meses não fui capaz de me pentear, e andava sempre desgrenhada.
Mais tarde, quando toda as colegas (menos eu) já tinham pelos nas axilas e algumas até no rabo, apareceu a moda da poupa.
Ninguém imagina o que eu sofri para sobreviver à moda dos BROS que enfeitavam  todas as cabeças felizes, essas desgraçadas com cabelo, nos anos 80.
Lembro-me bem de um dia, a minha prima (que tinha uma poupa maior que a onda do McNamara) tentar, coitada, fazer-me uma poupa para irmos ao 1º convívio da escola.
Credo! A coisa correu de tal maneira mal, que três frascos de laca depois, farinha para engrossar?! e verniz...tive de cortar a franja rente, e usar durante o resto do ano letivo, um boné com um  ridículo smile amarelo.
Bom, mas então o que é que isto tem a ver com a descoberta da pedra filosofal? Pois, tem tudo.
Da mesma forma que o Passos Coelho inventou a 'saída limpa' cheia de merda, também o povo (esse ser criativo) inventou as rezas, o Sr. Jesus, o Sr. Deus e os anjinhos.
E as avós que nos criaram a todos, e que foram inventadas por estes...
A minha avó, cheia de pena de não me fazer trancinhas (...), convenceu-me que se pedíssemos com muita força as coisas que mais gostamos, as nossas pedras filosofais, elas acabavam por aparecer.
Por esta altura, e depois de um longo período de anorexia infantil que muito fez sofrer os meus pais, a minha mãe, já desesperada, pediu ajuda a experiente sogra-anciã.
Como vivíamos num quintal lindo cheio de flores pedras, a minha mãe passou entretanto a confecionar aquilo que a vida lhe dava (e não eram limões como ela gostava), que viviam debaixo das pedras do quintal... caracóis!
Ora a minha avó, raposa velha, verificando que também no quintal dela havia uma praga de caracóis difícil de erradicar, também convenceu a minha pobre mãe, que se pedisse muito aos senhores lá do céu, com muita força, a sua menina haveria de gostar tanto de caracóis (como gostava de ter cabelo) e sobreviveria à maldita doença anoréxica.
E foi aqui, nesta confusão de ideias, surgidas entre a minha grande vontade de ter cabelo, a minha avó livrar-se da praga e a minha mãe fazer-me comer qualquer coisa, nem que fossem caracóis, que eu me desgracei.
Os senhores lá do céu, e não os censuro, devem ter confundido as coisas, e aquilo que deveria ser uma pedra filosofal individual, transformou-se numa pedra filosofal tricéfala.
Não, não foi a que apanhei na última passagem de ano, foi outra pedra, igualmente má, mas mais barata.
Aquilo que as maioria das pessoas passa a vida a procurar, eu encontrei. Encontrei foi no sítio errado.
No fundo eu só respondi aos senhores lá do céu:
- Então menina Uva, diga lá como quer o cabelo?
- Aos caracóis.



E é esta a mensagem que eu vos quero aqui deixar:
Tenham cuidado com o que desejam e ... controlem a ala feminina da família, de perto.
Ela pode muito bem desgraçar-vos a vida.

Fora isso, continuo careca, e louca, muito louca por caracóis.
Ultimamente, o que tenho na minha cabeça são minhocas, mas essa história fica para a próxima vez...
O que sei sobre minhocas, não lembra nem ao careca!
  
 

2 comentários:

  1. A aventura ainda não acabou, eu acredito que nesta vida ainda vais conseguir ter uma farta cabeleira com caracóis! rsss

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ai vassourinha, vassourinha, os meus cabelos varreram-se-me todos ainda eu não era nascida...

      Eliminar