13 de junho de 2014

As marcas da minha pele.

Há marcas que nos acompanham desde sempre.
Ainda ontem, olhando a cadência inexorável do rebentar das ondas, me lembrei de ser ali menina.
O lugar era o mesmo, a menina era a mesma, e passando as mãos pelos ombros, como que aconchegando ambas num abraço cúmplice e apaziguador, pude confirmar que afinal há marcas que nos acompanham desde sempre.
Não falo da marca que carrego na pele, e que descubro neste abraço, mais uma vez, por debaixo da mão que desliza no ombro. Falo tão somente nas marcas, que as diferenças na pele, nos deixam sulcadas na alma.
A menina brincava ali, naquele mesmo lugar, no rebentar das ondas.
Mas estava diferente.
A menina brincava vestida...
Naqueles dias, a minha marca na pele era um gigante intransponível, que tudo açambarcava. Como se a marca fosse o meu corpo todo, e o meu corpo todo fosse só, a minha marca.
Compreendo bem aquela menina, despontando para a vida, desejando uma igualdade que não tinha.
Todos os anos, quando chega o verão,  passo por este esquema mental. Está instalado um buzz na minha cabeça que me informa que sim, que carrego a marca e que tenho de a enfrentar, a ela e a todos os olhares, todas as perguntas, agora, como então.
- Isso quase nem se vê.
- Isso já faz parte de ti.
É engraçado como a maioria das pessoas não consegue perceber que 'isto' não é só uma questão de perspectiva visual, de vaidade ou pertença...
Não vale a pena dizerem-me que não se vê. Claro que se vê. Eu vejo. Já não sou menina, já não a posso esconder.
Não posso dizer que a minha marca ocupe agora o mesmo espaço que ocupava no corpo daquela menina, que não ocupa, mas ainda assim gostava muito de não a ter.
E este assumir que não quero mais esta coisa estranha, que se entranha, foi uma coisa nova, foi um passo que nunca tinha dado, verdadeiramente.
Ontem, na praia, despida mas não liberta, entendendo a cadência inexorável do passar dos anos, descobri, subitamente, que se calhar...  talvez.... possa fazer desaparecer isto para sempre.
Ainda ontem lia qualquer coisa sobre borboletas na barriga...
E se fossem no meu ombro?


Há marcas que nos acompanham desde sempre...
... mas não para sempre.

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