18 de setembro de 2014

38

Eu?
Eu nasci gorda. 
Como em tudo na vida, até para nascer fui indecisa. Quarenta e quatro semanas e ainda lá estava, de viola em punho, e ainda hoje, sempre que o motivo é de festa, sou sempre a última a sair. 
Em braços.
Era para ser rapaz, e fui.
Não jogava à bola de tronco nu, como a minha amiguinha J. mas se havia reunião masculina no horizonte da rua, no bilas, nos carrinhos de rolamentos, nos patins, em cima das árvores, dos muros, na rampa de skate, jogando a sirumba, lançando o pião, eu estava lá, porque casinhas, bonequinhas, folhos e saltos altos, faziam-me sono, e eu detestava dormir.
Nasci na cidade mas fui ao colo da minha mãe para o subúrbio. A casinha era minúscula, e os brinquedos que tinha ficavam guardados no armário do contador da água. Não eram muitos, mas também quem precisava deles quando tinha a liberdade?
O meu baloiço voava nas alturas, e lá em baixo, animais espertos e de bigode aprendiam comigo as brincadeiras da minha infancia. As nossas paredes foram verdes, azuis e cinzentas, e ao sábado, depois da praça, fazíamos a limpeza à alcatifa.
Um dia, correndo com a sabrina pela sala, tentando apanhar o gato em vez do pó, decidi passar a alcatifa a ferro.
Ainda hoje tenho a marca daquela palmada. A alcatifa também.
A minha professora chamava-me gata assanhada, mas eu nunca entendi muito bem porquê. Fazia exatamente como me ensinaram os inúmeros gatos que tinha, à vez, a viver lá em casa, e sempre que vinha reguada, eu escondia-me dela, debaixo das mesas da sala.
Não tive irmãos, mas colecionei amigos que preencheram o lugar dos irmãos que não tive.
A minha primeira amiga de verdade foi 'a senhora do lixo'. Coleccionei garfos, cabeças de bonecas, bolas de catchú vazias, e tudo o que ela encontrava na sua extensa e interessante atividade profissional, de varredora. Tenho muitas saudades dela, e se a visse agora, dava-lhe um grande abraço.
Hoje, alguns desses amigos já cá não estão, outros foram-se embora, e outros não quiseram mais brincar. Ficam profundas e duradoiras memórias, mesmo daqueles que queremos esquecer.
Levei porrada de um miúdo orelhudo de 10 anos, durante 2 anos de seguida, e no outro dia fiz-lhe frente. Continua orelhudo e tive pena de lhe bater.
Nunca soube a tabuada, e no meu melhor texto da 4ª classe tive quarenta e seis erros.
Um caso perdido para a escrita. 
Um mundo onde afinal me fui encontrar. 
Disseram um dia à minha mãe, depois de mais uma expulsão compulsiva devido à minha hiperatividade, que eu tinha um ligeiro atraso devido à cesariana.
A essa pessoa, tive o prazer de lhe espetar com o meu atraso, na bagageira do seu Fiat 600 cor de merda, no meu primeiro dia de carta.
Nesse mesmo dia, experimentava o meu pai, depois de muitos anos de trabalho árduo, a alegria de ter o seu primeiro automóvel a crédito, mais brilhante que uma estrela.
Nunca mais me deixou conduzir, e eu até o compreendo, e juro, juro! que nunca mais lhe roubei a chave. 
Daquele carro.
Aos catorze anos mudei-me para a casa nova, e experimentei pela primeira vez o que era encontrar dinheiro na carteira da minha mãe. Não tinha alcatifa e o contador da água ficava na escada. Tive pela primeira vez um quarto, uma cama e uma janela, onde pude entrar em plenos pulmões na adolescência.
Um ano antes passei pela tristeza de perder a minha bisavó. Tenho muitas saudades dela, e se a visse agora, dava-lhe um grande abraço. E trazia-a para casa.
Uns anos depois, há precisamente vinte anos, fui mordida por uma Dobermann. Caramba, que tremo. Rasgou-me as calças novas e roubou-me o encantamento. Ainda hoje morro de medo de cães, mas parece que já estou melhor.
Até me chegarem as pernas ao rabo, que está deveras longe, andei quase sempre virada ao contrário. Entre flics, rodas, esparregatas e mortais encarpados, sobraram-me dois pulsos abertos que não me deixam furar as folhas.E uma dor permanente no joelho que escondo até hoje.
Por causa desta minha capacidade de me esticar, um dia levei a primeira (e única) chapada do meu pai. A culpa foi da minha avó que fez uns feijões horrorosos. Ainda hoje não gosto de feijões, e nunca dei um pum.
Nesse ano fumei o meu primeiro cigarro à mesa, e fumei mais quinze anos depois disso. Hoje percebo que nunca devia ter começado.
Aos vinte e três anos tinha dois empregos e frequentava (às vezes) a Faculdade. 
Dois anos depois, a um mês de defender a minha tese sobre delinquência juvenil, perdi o meu namorado e melhor amigo. Antes de morrer, fez um quatro, e entrou no carro. 
Não gosto de escrever números.  
Tenho muitas saudades dele, e se o visse agora, dava-lhe um grande abraço. 
E beijava-o na boca.
Aos vinte anos comprei  o meu primeiro carro. Sete anos depois vendi-o por quinhentos euros a um cigano. Ainda pago o selo. Religiosamente.
Aos vinte e cinco anos criei a minha primeira empresa e um ano depois já tinha duas. Oito anos depois descobri que meias, só para as pernas, e fiquei descalça.
Namorei bastante, e escolhi o melhor.  
Se não fosse ele, o rapaz dos desenhos, ainda hoje estava encalhada.
Fui a mais de quarenta casamentos, mas a maior bebedeira apanhei-a no meu.
Fui mãe aos trinta anos, depois de fazer aquelas coisas, e hoje, uma menina que tem agora sete, preenche os meus dias, e às vezes as minhas noites.
Parece que foi ontem que vim viver para a minha casa, e é incrível que um dia depois, só pense em vende-la. 
Pelo caminho da vida aprendi que errar é humano, que orgulho não é poder, que mais vale deixar cair, ou dar um chuto no cu, ao que não nos dá prazer.
Aprendi tarde a dizer que não, mas já não vou em cantigas.
Guardo um sem números de vezes a minha viola no saco, mas quando viro as costas, vou assobiando uma moda alentejana.
Por sorte aprendi com a minha avó, que se foi no fim dos dias, 98 anos depois, que a vida deve ser pensada, que o silêncio vence tudo, e que o melhor é ser fona em vez de pedir emprestado. 
Muito por causa disso, tenho poucos bens materiais, mas parece que tenho de comprar mais estantes, para encher de histórias, que não são minhas.
Não sei se fui sempre tão feliz como fui quando era uma atrasada mental, nascida de cesariana, mas faço todos os dias um esforço.
Aos 37 anos rebentou-me a variz da escrita e já consigo alinhar duas frases sem dar erros. A gata assanhada aprendeu a usar as unhas, e não foi para tocar viola.
Por estes dias vi o regresso daquele que sempre me quis bem, na sua ausência, e sei agora o que nunca imaginei antes. Que muitas das coisas que tenho dentro da minha cabeça genética, são dele.
Dentro da minha cabeça, porque fora, é ele que tem afinal os cabelos mais loiros.
A minha mãe, dotada de uma alegria que me contagiou, tem agora 60 anos. O tempo passa, mas a minha mãe nunca largou a viola. 
A vida dos amigos, e dos primos, tão presentes no meu percurso, acompanho-os de perto, mesmo os que teimam em estar longe.
Penso em todos, todos os dias.
Passo pelas janelas e tenho muita pena de não entrar. Já não ouvimos a mesma canção, mas isso é indiferente para quem dançou junto, a vida toda.
Os países ficam e os homens passam.
Em trinta e oito anos, aqueles que passaram por mim a correr, sem olhar para trás, assisti a mudanças conflituosas e encontrei becos sem saída.
Mas como uma gata pujante, dessas que sabem bem onde ir buscar um peixe, salto muros, derrubo cercas, e espero encontrar do outro lado alguma coisa que me faça sorrir, nem que seja um molho de documentos para tirar fotocópias.
Se morresse hoje, morreria triste. Não por tudo o que vivi, mas por não saber, se afinal a casa dos pinheiros, aquela que realmente é a minha preferida, sempre se salvou, se sempre ficou de pé, rememorando aqueles tempos de verão, à volta de uma mesa cheia de gente.
Morreria triste, sobretudo por não saber se no céu há caracóis. 

Hoje sou a menina dos anos.
Como em tudo na vida, até para nascer fui indecisa.
Nasci gorda.
Nasço todos os dias, e a cada dia me convenço, que tudo na vida passa.
Até uma Uva. 

59 comentários:

  1. Muitooooooooooooooos parabéns :)

    (gostei tanto :)

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    1. Obrigada pelos parabéns. Estou tão bem disposta hoje, que é uma pena o tempo estar encoberto... Palmier, o que eu dava agora por um palmier. Grande abraço aqui da Uva Passa. Hic.

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  2. A grande diferença entre uma pessoa que apenas escreve e uma que sabe, realmente, escrever, é, essencialmente, quando nos fala dela. E nesse falar nada é aborrecido, nem nos faz pensar "as pessoas entediam-me".
    Obviamente estás nas segundas.

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    1. Tu não me faças isso, que fico já de peneiras. Muito obrigada por este grande presente. É um grande prazer saber que do outro lado temos pessoas como tu.

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    2. Pois, Rosa Cueca, é isso! E eu como não escrevo muito bem, faltavam-me as palavras para poder explicar " poças, porque é que leio este post de rajada e acho espetacular, e, ao mesmo tempo, há pessoas que, assim que começam a falar delas ou quando ponho as vistas em cima da escrita delas, só me vêm bocejos desesperantes". É por isso, é pela bela da escrita. Já agora, adorei os post sobre o pai da Rosa Cueca.

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    3. Many many thanks barcelence.
      E bem vindo/a.

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  3. Muitos parabéns Uva, que belas memórias aqui tão bem descritas, obrigada por partilha-las. Continuação de uma vida bem preenchida.

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    1. Inesinha, obrigadinhos.
      E para as nossas leitoras vai nada? Tudo! Ip ip hurra! Um brinde à vida de todas nós.

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    1. De nada Mironinho. De nada.
      Havemos de ser ainda muito felizes no mundo das palavras. Até das que não dizemos.
      Um beijo para todos aí em casa.

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  5. Parabéns e continuação! A vida faz-se vivendo e escrevendo para não se esquecer o que é isto de se viver.

    Não a conheço mas gosto muito de a ler. Continue e muitos parabéns! ;)

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    1. Olá! Olá!
      É verdade. A vida é este mar de palavras.
      Continuarei escrevendo, sempre.
      Muito obrigada pelos parabéns. Um abraço aqui desta Uva, que hoje está deveras bem disposta, por tudo e especialmente por estas pequenas coisas, que me escreveu.

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    1. Óóóóóóóó. Linda és tu Fi, com esses teus carcóis, e esse teu sorriso.
      A pessoa vai para se zangar contigo, e pronto. Não consegue.
      Nesta coisas das palavras Fi, é preciso saber, e tu, sabe-la toda. E muito bem.
      Gosto de ti. Pah!
      Ouve lá, precisas de ajuda para pôr esse feed na ordem?

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    2. Ohh. Isto é só fachada, sou pior có deusmalivre :)
      Não sei... Calhando, preciso...

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  7. Muitos parabéns, sem fôlego, depois deste magnífico estendal ;)

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    1. Esta coisa de tirar o fôlego às pessoas ficou-me de pequena. Pergunta à minha mãe, coitada, sempre a correr atrás de mim.
      Hehehehe. Obrigada Izzie.
      Fãzássa do teu blog. Desde sempre. E o bezidróglio novo? Ainda funciona?
      Beijinhos.

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  8. Um beijinho, e muitos parabéns.
    Pela pluma, pelo dia de hoje, por todos os dias. E um ano feliz :)

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    1. Olá miúda! Beijinhos para ti também.
      Essa vidinha?
      Ouve lá, és a ovelha choné ou a porca? Tu vê lá isso! A mala é assim a modos que parecida com a minha. Weeeeeeee.

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    2. Tudo em cima!
      Sou a porca, com cabelo de xoné nos dias húmidos, ou seja, actualmente, sempre!
      E é quase igual à minha, não encontrei tal e qual. A minha é amarela, consegue ser mais gira e féchonabale!

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  9. Muitos parabéns Uva-passa, ainda bem que aos 37 te voltaste para a escrita e com este texto fiquei com a ideia de que te conhecia um bocadinho, por isso um grande abraço e venham muitos, muitos mais anos de escrita e de vida.
    um beijinho
    Gábi

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    1. Olá redondinha! Também és uma Uva?
      Obrigada miúda!
      És muito querida e dás-me conta da cabeça com tanto livro.

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  10. Muitos parabéns. amei. E hoje é só isto. :)

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    1. Olá Rainha! Tanks! Lembraste de quando éramos só 13 numa selfie?
      A multiplicação dos pães é a coisa mais maravilhosa para encher uma barriga vazia.
      Ouve lá, respondi ao teu desafio e nada? Uma noite inteira naquilo?

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    2. Lembro-me quando eramos treze (e ainda assim, poucos mas bons ).
      O desafio? Respondi-te, tu não é que não ligaste puto. Olha aqui o copy past da minha resposta!






      Rainha Ervilha17 de Setembro de 2014 às 13:16

      Saltaste ali a ordem das questões, e consequentemente falhaste duas. Mas isso deve ser uma coisa de loiras (eu perdi mais tempo a verificar a ordem e cada uma delas, do que propriamente a escrever. O desafio não é da minha autoria, mas quando fui desafiada a desafiar, foste na realidade a primeira que me veio à mona. Cumplicidade amarela (entenda-se loira) ?
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  11. Muitos parabéééeééns! Menina dos 38.
    Não importa o que passa nem que isso te entristeça. Passa para todos.
    O importante é viver! Viver a VIDA em Plenitude!
    O que passa? Depois se verá!

    Vive a vida para ti, de ti para ti
    O que quiseres, que te aprouver
    E nunca te sentirás perdida
    Nem da vida esquecida.

    E se alguém perguntar quem tu és.
    Dirás.
    Sou uma filha das estrelas de uma galáxia distante
    Gerada no ventre do Universo e parida pelo vento
    Para o mundo trazida numa bola de fogo iridescente
    Senhora do meu destino, dona da minha vontade..

    E quando o dia findar, calma e doce recordarás, que na vida ocupaste o teu lugar.

    Um Abraço.
    Corvo.


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    1. Dedicado este maravilhoso jogo de palavras, fico até envergonhada das coisas que escrevo.
      O dom é todo teu.
      Obrigada por me acompanhares e me dares, a cada dia, um motivo para continuar.
      Um abraço desta filha das estrelas, parida pelo vento, de cesariana.

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  12. se disser só parabéns, fica escasso, se lhe acrescentar texto soberbo, ainda é pouco, e encontrar o azimute no meio disto é difícil. para todo o sempre não te acabe tal verbo. beijos.

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    1. Desabafos são o que levamos desta vida.
      Que bom ter-te sempre por aí, em rodapé, mas para mim sempre em grande plano.
      Obrigada por tudo.

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  13. Parabéns à única PASSA que me dá agua na boca <3

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    1. Artistas há poucos. Como tu muito menos.
      As tuas mãos são de ouro, como de ouro são as tuas palavras.
      Um cantinho muito especial é ocupado por ti. Parabéns pelo teu trabalho imenso.
      És muito, muito boa.

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  14. Porra Uva, até me arrepiaste, li cada linha e cada entrelinha. Gosto de ti miúda, gosto mesmo.

    Parabéns.

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    1. Olá Loira do meu coração.
      Tás ronhónhó? Chorei tanto a escrever este post.
      Quero agradecer-te publicamente por teres acreditado em mim.
      És o meu farol, serás o farol de muita gente, mas nunca deixes de brilhar.
      Acelera miúda dos cabelos loiros, e sê muito feliz.

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    2. Sim, fiquei ronhónhó e lamechas ontem e a culpa foi tua, a culpa foi do teu post. Quanto a agradecer-me, não tens nada que o fazer, assim que te li pela primeira vez fiquei logo passada, é como na outra vida, esta, por trás do ecrã, há ligações que não têm explicação.

      Agora deixa-me ir embora, lá se vai a minha reputação ;)

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  15. 38!! até na idade somos vizinhos.
    Muito Parabéns.

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    1. Olá! Olá. Tu que és o meu vizinho mais novo, tenho mesmo de te convidar para um jantarinho, para fazer as honras à casa. Muito obrigada pela visita. E pelos parabéns. Se precisares de alguma coisinha, toca. Estou no 38º andar, letra U.

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  16. Parabéns Uva!!! Festeje com muitos caracóis, (li algures que gostava muito), uma vida e tanto, mas não se preocupe, ainda tem muito para viver e escrever! Tenha um dia cheio de alegrias :)

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    1. Nina!!!!! Uma das minhas amigas mais antigas nisto dos blogs. Sem ti este blog não tinha seguido em frente. Enquanto me leres, escreverei. E escrevi. Muitas vezes só para ti.

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  17. Menina dos caracóis, porque te fizeste assim mereces ser feliz! Ai, como eu gostava de ver a cara da tua professora da 4a classe a ler este texto, pá! (sabes, eu sou dessas, das que ensinam, e tive um aluno a quem dei muitos prémios em textos com bastantes erros. Eram cheios de coisas bonitas!)

    Beijos, abraços, e tudo e tudo e tudo, Uvinha! :)))

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    1. Mau Maria! ;)
      Obrigada Maria, por causa de pessoas como tu, dessas que nos ensinam, é que nós somos todos como somos.
      É um prazer ter-te aqui, no meu cestinho. Sou uma Uva mais alegre muito por tua causa.

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  18. Parabéns cara U.
    Fascinante partilha. Obrigado.

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    1. Quiescente.
      Só por isso brindo. Obrigada tens mesmo de dizer ao teu dom de escrever, e todos devemos agradecer por Deus, ou o Diabo, ter encontrado em tanta linha torta, alguém que escreva realmente direito!
      Um homem das letras. Um sedutor.
      Caramba miúdo, onde é que aprendeste a fazer isso?

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    2. Cara U., apenas junto palavras. "Escrever" é algo holístico, é emocionar pelo poder da palavra, é esculpir verbo em emoção, tal como fizeste neste maravilhoso post.
      Beijinho, U.

      ... não sou imune à lisonja, mas sou das ciências exactas, apenas uma outra forma de Beleza ;)
      ... somos da mesma geração, com uma precisão quase milimétrica ;)

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  19. LOS CONSTRUCTORES DE ESTATUAS
    (Pablo Neruda)

    YO soy el constructor de las estatuas. No tengo
    nombre.
    No tengo rostro. El mío se desvió hasta correr
    sobre la zarza y subir impregnando las piedras.
    Ellas tienen mi rostro petrificado, la grave
    soledad de mi patria, la piel de Oceanía.

    Nada quieren decir, nada quisieron
    sino nacer con todo su volumen de arena,
    subsistir destinadas al tiempo silencioso.

    Tú me preguntarás si la estatua en que tantas
    uñas y manos, brazos oscuros fui gastando,
    te reserva una sílaba del cráter, un aroma
    antiguo, preservado por un signo de lava?

    No es así, las estatuas son lo que fuimos, somos
    nosotros, nuestra frente que miraba las olas,
    nuestra materia a veces interrumpida, a veces
    continuada en la piedra semejante a nosotros.

    Otros fueron los dioses pequeños y malignos,
    peces, pájaros que entretuvieron la mañana,
    escondiendo las hachas, rompiendo la estatura
    de los más altos rostros que concibió la piedra.

    Guarden los dioses el conflicto, si lo quieren,
    de la cosecha postergada, y alimenten
    el azúcar azul de la flor en el baile.

    Suban ellos y bajen la llave de la harina:
    empapen ellos todas las sábanas nupciales
    con el polen mojado que imperceptible danza
    adentro de la roja primavera del hombre,
    pero hasta estas paredes, a este cráter, no vengas
    sino tú, pequeñito, mortal, picapedrero.

    Se van a consumir esta carne y la otra,
    la flor perecerá tal vez, sin armadura,
    cuando estéril aurora, polvo reseco, un día
    venga la muerte al cinto de la isla orgullosa,
    y tú, estatua, hija del hombre, quedarás
    mirando con los ojos vacíos que subieron
    desde una mano y otra de inmortales ausentes.

    Arañarás la tierra hasta que nazca
    la firmeza, hasta que caiga la sombra en la estructura
    como sobre una abeja colosal que devora
    su propia miel perdida en el tiempo infinito.

    Tus manos tocarán la piedra hasta labrarla
    dándole la energía solitaria que pueda
    subsistir, sin gastarse los nombres que no
    existen,
    y así desde una vida a una muerte, amarrados
    en el tiempo como una sola mano que ondula,
    elevamos la torre calcinada que duerme.

    La estatua que creció sobre nuestra estatura.

    Miradlas hoy, tocad esta materia, estos labios
    tienen el mismo idioma silencioso que duerme
    en nuestra muerte, y esta cicatriz arenosa,
    que el mar y el tiempo como lobos han lamido,
    eran parte de un rostro que no fue derribado,
    punto de un ser, racimo que derrotó cenizas.

    Así nacieron, fueron vidas que labraron
    su propia celda dura, su panal en la piedra.
    Y esta mirada tiene más arena que el tiempo.
    Más silencio que toda la muerte en su colmena.

    Fueron la miel de un grave designio que
    habitaba
    la luz deslumbradora que hoy resbala en la
    piedra.


    E pronto! Sei que gostas de escultura e de poemas nem por isso... mas dou-te este, no teu dia! :))))

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    1. Gosto mais de escultura do que de poesia, mas Pablo Neruda enche-me o coração de apaziguamento.
      Obrigada Maria.

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  20. Respostas
    1. Olá Inês!
      Hoje pareceu-me pior que ontem, quando o escrevi.
      Ainda bem que gostaste. Ficou um nadinha lamechas e esqueci-me completamente do meu avô, mas é assim, quando escrevemos não podemos pensar muito se não sai tudo muito fabricado e eu não gosto.

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  21. Caramba pah... Tu dás-lhe forte!! (É uma delícia ler-te!!) um grande, enorme, beijo e muitas muitas felicidades. :)

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    1. Nêzinha!! Olá miuda. Ontem já não consegui responder-te. Cheguei a horas pornográficas a casa... mas foi boa a festa, pah!
      Obrigada por tudo, também tens ali a hell of a blog!

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  22. Porra Uva que tu escrevesse lindo pra caraças. Ate me emocionei miúda. Parabéns e que continues a ser como és, porque tu es linda sabias? Abraço!

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    1. Gajona!! Obrigada.
      A minha vida é muito emocionante, nem queiras saber.
      Ontem por exemplo fui a uma inauguração de pintura, onde as pessoas ficaram horas a olhar para as paredes...
      Tive de cutucar a minha filha umas sessenta vezes para a miúda não adormecer em pé.... antes do jantar.
      Eu não sou linda, eu sou LOIRA!

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  23. Posso? Passei por aqui de passagem mas não consigo sair sem antes te dar os parabéns. Emocionante. Adorei.
    Parabéns, também pelo aniversário, Uva.

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    1. Pode, claro! Muito obrigada pelas palavras bonitas e pelos parabéns. Esta Uva agradece, muito.
      Um abraço.

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  24. Adorei! Visitei-te hoje epla primeira vez e adorei, não só este texto, mas outros que tens aqui também. Pra quem dava 46 erros na escola primária... isto melhorou muito!
    By the way... muitos parabéns pelos 38!

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    1. Olá! Ando sempre nas horas! Obrigada pela visita! E pelos parabéns! Um grande abraço!

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  25. Os meus sinceros parabéns... atrasados é certo mas sinceros... adorei o texto... se um dia as nossas vidas se cruzarem tiro o meu chapéu... faço-lhe uma vénia para quem dava tantos erros foi uma grande evolução... Assim evoluíssem os nossos políticos. Seja feliz... por mais passada que seja... nunca perda a doçura que é característica de uma bela e boa Uva... bjs

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    1. Olá João! Obrigada pelos parabéns e pela visita. Vou tentando sempre escrever o que me vai na alma, às vezes sou um bocadinho louca, mas creio que no fundo a minha 'cena' é uma coisa mais séria, com tiradas de humor. Como o Ega. Um grande abraço.

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  26. Oh! Só agora vi isto. Muitos parabéns Uva! Pelo texto muito bem escrito e pelo que ele revela. Está uma delicia.

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