Desenganada

Quem é que eu quero enganar?
Se me engano só a mim?
Escrevo para quem, estas coisas sem sentido?
Faço das mil palavras, uma só imagem, refugiu-me em divertimentos, prazeres platónicos, amigos anónimos, coisas sem expressão.
Por quem me tomo, porque me consumo, me transtorno, se não escrevo tudo, ou se apenas escrevo, me enlevo, me transformo,  nestas coisas sem retorno?
Histórias. Pontos dispersos, dias avessos.
Amanhã é o dia.
Tic tac tic tac.

Porque me sinto eu tão cansada?
Porque estou eu tão fraca, tão sem sentido, tão sem caminho?
Se nada me interessa, nada que me importa, nada me afaga.
Tão sem saída, tão sem começo, sem coisa nenhuma.
Mais um ano, mais um dia.
Mais para quê, com que alegria?
Para quem se escrevem palavras bonitas? A quem contamos sonhos esbatidos?
Por quem choramos nestes dias, sem sol, sem eira e sem beira.
Sem jeiteira.
Tão vagos e infinitos.

Amanhã é o dia.
Amanhã é mais um dia.
Um dia da minha vida.
Uma vida num dia.

Quem é que eu quero enganar?
Se me engano só a mim?
Escrevo para quem, estas coisas sem sentido?
Amanhã é o dia.