26 de setembro de 2014

Designers

Nunca tinha recebido tão ilustre convite.
O meu nome num quadradinho perfeito, chegou-me desafiador à secretária, num desses dias cinzentos da semana passada.
Festa!
O dia nacional de um país tropical, cheio de música e caipirinhas, cheio de jet-set e jat lag, gente bonita, gente importante, embarcadiços, fardados, marinheiros, o Embaixador, a Senhora do Embaixador, os capangas do casal, enfim, muito samba no ar. 
Tudo isto estava ali estampado na minha mão e olhava para mim como que perguntando: queres vir?
Sim, quero muito.
Vamos coração?
Vou ali abaixo à Mango, ou à Zara, umas das duas deve ter um vestidinho leve e barato, que me sirva, tu vestes as calças novas, eu tiro os pelos das pernas, tu calças os sapatos do casamento, eu ponho umas rosetas na cara, e havemos de chegar cedo, para cumprimentar toda a gente, como manda o Protocolo, tu apertas a mão ao Embaixador, eu dou um beijo à Senhora, e entramos confiantes, como se o convite não fosse só um pequeno mas lamentável engano.
Deixei-te ver o convite e confiei-to para que visses a morada, porque essas coisas são sempre estranhas, já se sabe, que esta gente da diplomacia divide-se em inúmeras casas para fugir aos terroristas, e tu, muito contente, havias de organizar a ida, ver tudo no google maps, escolher o melhor caminho, para não darmos a barraca do costume.
E eu vi-te todo interessado, não na festa mas no papel, impresso num Mac ultra moderno, com uma Lucida Calligraphi  impecavelmente desenhada a ouro, e ai que é um Fabriano, e ai que lindo cunho dourado, e isto deve ficar caríssimo, e a perfeição dos espaços, e o pormenor do enquadramento, e rodopiavas e sopesavas o pequeno papel do convite, como havias de siderar os teus lindos olhos na jóia mais linda da rainha.
No dia da festa, atrasados mas contentes, entrámos na carripana velha que pensávamos esconder nos arbustos da Avenida, porque havíamos de sair por detrás de um grande carrão azul, desses com os vidros fumados, para que todos nos olhassem, e vissem um casal-glamour, nos píncaros da beleza, nos antípodas da perfeição.
- Mas não está aqui ninguém!
- Não pode ser. Isto é a Festa Nacional, devia de estar cheio de gente.
- Pois era...
- Mas tu não viste o convite? Caramba, tiveste horas de volta disso!
- Eu vi o convite, era na Embaixada não era?

Não, não era, coração.
Era na Residência do Embaixador.

E assim se chega à festa, uma hora depois, numa carripana velha, já o Embaixador dormia... 

Ditado: Não te cases com um designer mecânico porque cheira a gasolina, casa-te antes com um médico, que te ensina a medicina.

2 comentários:

  1. Os homens distraídos estão todos solteiros, e percebe-se porquê...

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    1. Olá Teresa!
      O meu marido é distraído e só pensa em layouts, grafismo, simbolismo, corel draw e pouco mais.
      Um inferno...
      Espero que ele não leia isto, senão tenho missa cantada logo à noitinha.

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