Cresceste em mim

Quando nasceste, eu não sabia nada sobre isto, de ser mãe.
A tua mãe.
A verdade é que nunca me preparei para o ser, nunca tive esse tempo, ou como dizem, essa premência, como têm os ponteiros do relógio, de andar sempre para a frente, compassados, destinados, a dar a hora certa.
A possibilidade de ser mãe foi sempre um pensamento muito ténue, como o marulhar das ondas na preia-mar, existentes mas indolentes, que vão e voltam a vir, molhar-nos os pés, devagar.
Que sabia eu de ser mãe, se ainda não tinha crescido?
Ah, mas o mar dá voltas às ondas, e de súbito veio a maré alta, fez nascer uma onda muito grande, e deixou na praia junto aos meus pés, a maternidade.
Ainda hoje, a surpresa de ser tua mãe é a expressão mais pura da minha alegria.

Tu sabes como eu gosto de ti. 

Se antes não havia um relógio, agora, a todas as horas, és o meu ponteiro maior.

E está na hora.

Filha:

Estás tão crescida.
Foi tão bom o caminho que fizemos, que quase não percebi onde chegámos.
Esperei muito pelo teu crescimento, por te ver assim, encantada com a vida, com os animais, com a natureza, com a Arte.
Foi tão bom o nosso passeio; ver que afinal a emoção está em ti, e que a podes partilhar comigo, sem que sejas igual a mim.
E eu ensino-te, o que sei. 
Foi tão bom perceber que gosto ainda mais ti, assim, e que à medida que tu cresces a nossa ligação se estreita, e se alarga, e se completa, porque há mais para dizer, para ver, para fazer, e mostrar.
Há mais para partilhar.
Tu sabes como eu gosto de ti.

Quando a minha filha nasceu, não sabia nada sobre isto, de ser mãe.

Agora já sei.
Ser mãe é a recompensa de se dar a vida a outrém.
Ser mãe é poder ver a cada dia, o seu fruto ser alguém.

Filha, cresceste.
Em mim.