De todos os dias da minha vida, aqueles que mais recordo, os mais felizes, os das lágrimas, os que passei com aquelas que sempre foram, e sempre serão, as minhas pessoas, raízes, sentimentos, amor e saudade, foram os que passei cantando.
Nunca poderei esquecer, que não esqueço, as modas alentejanas, o cante alentejano, que tantas vezes cantámos juntos, ora rindo ora chorando, as tristezas e as alegrias da nossa vida e da história do nosso Alentejo, tão lindo.
Sonho, como sonhei sempre, fazer das minhas palavras música, e tal como fez o poeta, dizê-lo cantando a toda a gente, que tudo o que sou se fez no cante, musica que embalou a minha infância, e que nos embalou a todos.
De saudade.
Viva o Alentejo e todos os que o cantam, 'com o sonho no coração e a alma na garganta'.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) acaba de declarar o cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade.
Terra de grandes barrigas
Onde há tanta gente gorda
Ás sopas chamam açorda
E à açorda chamam-lhe migas;
Às razões chamam cantigas
Milhaduras são gorjetas
Maleitas dizem maletas
Em vez de encostas, chapadas
Em vez de açoites, nalgadas
E as bolotas são boletas
Onde há tanta gente gorda
Ás sopas chamam açorda
E à açorda chamam-lhe migas;
Às razões chamam cantigas
Milhaduras são gorjetas
Maleitas dizem maletas
Em vez de encostas, chapadas
Em vez de açoites, nalgadas
E as bolotas são boletas
Terra mole é atasquero
Ir embora é abalar
Deitar fora é aventar
Fita de coiro é apero;
Vaso com planta é cravero
Carpinteiro é abegão
E a choupana é cabanão
E às hortas chamam hortejos
Os cestos são cabanejos
E ao trigo chama-se pão
No resto de Portugal
Ninguém diz palavras tais
As terras baixas são vais
Monte de feno é frascal;
Vestir bem parece mal
À aveia chamam cevada
E ao bofetão, orelhada
Alcofa grande é gorpelha
Égua lazã é vermelha
Poldra ‘Isabel’ é melada
Quando um tipo está doente
Logo dizem que está morto
E a todo o vau chamam porto
Chamam gajo a toda a gente;
Vestir safões é corrente
Por acaso, é por atrego
E ao saco chamam talego
E até nas classes mais ricas
Ser janota é ser maricas
Ser beirão é ser galego
Os porcos medem-se às varas
E o peixe vende-se aos kilos
E a gente pasma de ouvi-los
Usar maneiras tão raras;
Chamam relvas ás searas
Às vezes, não sei porquê
E tratam por vomecê
Pessoas a quem venero
Não quero, diz-se nã quero
Eu não sei, diz-se 'ê nã sê'
Ir embora é abalar
Deitar fora é aventar
Fita de coiro é apero;
Vaso com planta é cravero
Carpinteiro é abegão
E a choupana é cabanão
E às hortas chamam hortejos
Os cestos são cabanejos
E ao trigo chama-se pão
No resto de Portugal
Ninguém diz palavras tais
As terras baixas são vais
Monte de feno é frascal;
Vestir bem parece mal
À aveia chamam cevada
E ao bofetão, orelhada
Alcofa grande é gorpelha
Égua lazã é vermelha
Poldra ‘Isabel’ é melada
Quando um tipo está doente
Logo dizem que está morto
E a todo o vau chamam porto
Chamam gajo a toda a gente;
Vestir safões é corrente
Por acaso, é por atrego
E ao saco chamam talego
E até nas classes mais ricas
Ser janota é ser maricas
Ser beirão é ser galego
Os porcos medem-se às varas
E o peixe vende-se aos kilos
E a gente pasma de ouvi-los
Usar maneiras tão raras;
Chamam relvas ás searas
Às vezes, não sei porquê
E tratam por vomecê
Pessoas a quem venero
Não quero, diz-se nã quero
Eu não sei, diz-se 'ê nã sê'
https://www.youtube.com/watch?v=ySV1phfTWNY
ResponderEliminarOra toma! :)
Ou então este.... Num registo mais tradicional...
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=adOIjc8rdeY
quem é uma Uva muito contentinha, quem é? pelo menos alguma alegria, no meio deste lodaçal.
ResponderEliminarEstou mesmo contente porra!
EliminarMetade das costelas de lá :)
ResponderEliminarNeste momento, as 12 muito felizes e orgulhosas.
Obrigada!
Só metade?
EliminarFraquinha...
Não digas isso ao pessoal do norte, carago!
EliminarBelas botinhas.
EliminarTu não existes :)
Eliminar(auto-prenda de anos)
"Nunca, em toda a minha vida, tinha visto tanto “homem feito” com as lágrimas a correrem-lhes pelas faces, atacados pele felicidade, como hoje vi em Paris. E como, por certo, terá acontecido com todos os amigos do cante. Por esses campos fora. Por esse mundo fora"
ResponderEliminar"Faltam-me as palavras..tamanha é a emoção e o orgulho que sinto..que tem feito e faz com que constantemente as lágimas me corram , nem me deixam escrever ,com esta conquista extraordinária ..merecida.que tanto nos honra!
ResponderEliminarSó me lembro da minha familia,,sobretudo do meu pai que tanto amavam o Cante e onde sempre se cultivou essa tradição.!
Ao meu pai devo o que sei, sobretudo o que sinto....esta enorme paixão ,o facto de estar entranhado em mim,como se fizesse e faz parte do meu A.D.N.!
Obrigado pai!
Um enorme obrigado do fundo do meu coração, a todos que muito trabalharam para isto fosse possível acontecer! Viva o Cante Alentejano...Viva o Alentejo e viva Portuga!!!!!"