Convivo com Bullying quase desde que me conheço.
Primeiro porque era hiperativa e ninguém percebia muito bem que espécie de doença era a minha, que mal da cabeça era o meu, que bicho me mordia daquela seguinte maneira, à força toda, para me transformar num ser ausente, que nunca estava no sítio certo, que batia com as mãos no tampo da mesa, repetidamente, ao mesmo tempo que passava de bochecha para bochecha, sem nunca o engolir, o bolo alimentar constituído pela primeira e única garfada que conseguiam enfiar-me na boca.
Depois a magreza. Saco vazio não aguenta de pé, mas aí é que está, eu não era um saco, eu era um balão. Um balão cheio de ar, onde o peso não jogava a favor da gravidade. E isso dava-me a possibilidade de pairar, de trepar, de correr e desaparecer como que teletransportada, muito antes de inventarem essa coisa a que hoje chamamos 'futuro'.
De seguida, e sempre presente, o facto de ter as orelhitas um nadinha afastadas e um remoinho na franja. Depois porque não quis namorar com o anormal do Vitor e apanhava das boas se não lhe fugia à saída. Depois por não ter um quarto, e não ter onde deitar as amigas. Depois as queimaduras que me comeram a parca sanidade mental da adolescência, e iraram os mais sensíveis.
Depois, bom, depois cresci e fui encontrando outras pessoas sofrendo de males comuns.
Na verdade o que supostamente me estaria reservado, que sofri de Bullying durante tantos anos, seria uma total descrença nos seres humanos, uma desconfiança, um desamor, mas sucede que em mim, como se calhar em muitas outras pessoas que 'comigo partilharam' esta experiência, o Bullying plantou-se-me no coração, mas de pernas para o ar, isto é, virei aquilo ao contrário e deixei a raiz de fora. A raiz do Bullying dá efetivamente para os dois lados, tal é a força com que se agarra a nós. Se estiver com a raiz para dentro, ramifica e apodera-se de tudo, mas se ficar com a raiz para fora, frutifica e dá-nos força, porque comestível.
Mas aquilo é um furúnculo que deixa a sua marca. A pele está livre da doença mas a cicatriz continua a sua saga, ainda que só quando para ela olhamos.
E eu vejo o Bullying muitas vezes, e vejo-o mais vivo que nunca a querer enterrar as suas raízes. Está-lhe na massa do sangue da mesma forma que está na massa do sangue o escaravelho dar balanço na bola de merda.
E não há nada mais malcheiroso do que um Bully a contorcer-se todo, a chafurdar, e a querer enterrar novamente as suas ridículas raízes nos nossos corações.
Vens por isso muito tarde, caro agricultor do mal.
Aqui já existe toda uma técnica que impede bullys de se entranharem, porque aqui só encontrarás redes e muros de compaixão, de pena, de compreensão, barreiras preparadas para as mais mesquinhas raízes.
Entendi, lá muito atrás, quando teimava em usar bonés para esconder as orelhas, e usar as calças do pijama por dentro das outras calças, para esconder a magreza, que quem comete a falta, o erro, a fonte, o acento, que dá opinião travessa, diversa ou controversa, não é afinal quem está em falta, mas sim quem ataca.
E quanto mais me atacas mais eu gosto de ti, porque apesar de ser uma insignificante formiga, a sós com as minhas palavras, tu, qual escaravelho, não me abalas quando empurras a tua bola infeta em direção ao meu terreno arável, porque sabes, ainda te agradeço o estrume.
Plantemos então, meu caro.
Cada qual o seu fruto.
I<3 Uva!
ResponderEliminarCaramba Mirone. A pessoa às vezes perde a cabeça. Apre!
EliminarPois eu faço-te bullying ao contrário! Encho-te de beijos e abraços, posso?
ResponderEliminarFaz, faz, faz, faz, faz, faz, faz, faz, faz.
EliminarAbraço grande Maria.
Falas-me em estrume e falas-me ao coração.
ResponderEliminar:)
Eu não me lembro de ter sofrido bullying - ou por me falhar a memória, ou porque, efectivamente, nunca me tocou a mim. Ou melhor, na parte que me tocou ("trinca-espinhas", "espirra-canivetes" e merdas que eu nem percebia), caguei de tão alto, na altura, que até devo ter emagrecido mais.
~
Agora é diferente. Como já te disse 300.000 vezes, a doença mental singra na net. O bully lembra aqueles doentes a quem era necessário vestir uma camisa de forças, porque agrediam aleatoriamente, em todas as direcções, qualquer pessoa, porque tudo era uma ameaça. Felizmente, hoje há psicotrópicos. Infelizmente, não chegam a todas as pessoas perturbadas.
E que perturbação. Mas eu entendo certas coisas. Entendo que há pessoas que também elas foram batidas, maltratadas, e que nunca conseguiram voltar as raízes ao contrário. Agora, já adultos, com o discernimento totalmente conspurcado, voltam-se contra outros, quando o que fazem é voltarem-se contra elas próprias.
EliminarAbraço de alguém que compreendeu cada palavra sem perceber o todo. Melhor, beijinho porque não conhecendo a pessoa por dentro da Uva, tenho a certeza que se conhecesse só poderia gostar de ti. És brilhante em tudo o que escreves, sai-te da alma, de insignificante não tens nada. Se assim fosse, não terias "escaravelhos"!
ResponderEliminarObrigada Be. Nunca deixes que outros te diminuam. Nunca.
EliminarToda a gente tem valor.
Maravilhoso post!
ResponderEliminarInfelizmente o bullying é cada vez mais frequente junto dos nossos jovens, principalmente o ciberbullying. O problema é que nem todos os jovens usam a m* que os chamam para fazer estrume. Muitos deles entram em espirais de autodestruição, e as automutilação são cada vez mais comuns junto das vítimas.
É muito perigoso sobretudo para quem é mais sensível, ou criança.
EliminarAté para mim, uma mulher feita, não fosse a minha experiência em pessoas invejosas e más, havia de sucumbir ao tanto que me dizem.
Era o que mais faltava Uva, sucumbir ao que os outros dizem.
EliminarUm grande beijinho.
Luta contra o mal?
ResponderEliminarConcordo plenamente.
Os leitores estão deste lado, e não se esquecem de nada. Não quero perceber porque existem pessoas assim. Na minha vida já fui bastante atacada. Quando cresci, em tamanho,aprendi a voltar as costas a essa gente vazia. Também defendi sempre os que não tinham tamanho para se defender. Hoje passo por aqui para me divertir. Mas aquilo que era diversão e foi criado para um escape por alguns, começa a manifestar não ironia mas veneno. Veneno esse que é alimentado pelos próprios. Fecham blogs como se fossem danos colaterais. Tenho pena.
Sempre me olharam de lado por defender os pequenos. Mas nunca me senti sozinha.
Precisamenos de estar cá uns para os outros. Isso é que é.
EliminarUns para os outros.
Um abraço.
Querida Uva,
ResponderEliminarO pirilampo perguntou à serpente: porque me persegues?
A serpente respondeu: porque tu brilhas.
Continue a brilhar, brilhante Uva.
Um beijo,
Outro Ente.
Querido Ente, dedico-te:
Eliminar"O que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre."
Johann Goethe
És uma sobrevivente! Boa Uvinha!
ResponderEliminarTambem eu provei e ainda hoje tenho um gosto amargo na boca quando penso. Infelizmente marca para a vida! Kiss kiss
Marca sim Maria. Mas agora a pessoa está mais preparada para dar conta e defender-se melhor.
EliminarAbraço gigante!
Amiga Uva. Plantamos todos. E somos aqui aquilo que somos na vida. E um escaravelho é um escaravelho. Se fosse pássaro era necrófago. Um beijo.
ResponderEliminarPlantamos todos, uns com raízes podres e outros verdadeiros jardins.
EliminarOutro beijo.
Não percebo,
ResponderEliminarteu texto nem é gordo nem magro
é bem esgalhado
nem insosso nem salgado
é bem temperado
nem meias-tintas nem panfletário
é equilibrado
Não percebo
do que terão medo
(ou será mera maldade?)
É maldade sim senhor,
Eliminareu nunca pedi um beijo
quem me deu foi meu amor.
;) grande poeta me saíste Roger!
És grande Uva!
ResponderEliminar1.74 enorme!
EliminarNão exageremos. À beira da Geena Davis és baixinha... E não, não me referia ao físico.
EliminarUva, tu sabes, já te disse que me dá para gostar de pessoas, mesmo de pessoas que não conheço e já te disse que gosto de ti pelo que de ti adivinho e portanto vamos ultrapassar a parte da lamechice.
ResponderEliminarVou contar-te um pedacinho de um filme que vi noutro dia, apanhei-o por acaso na televisão, daqueles filmes só mesmo para entreter, fiquei a ver e então a uma dada altura num liceu, tudo naquela fase da adolescência onde o Bullying atinge o seu pico máximo, estava um miúdo a ser gozado e mal tratado pelos rufias lá do sítio, o protagonista do filme veio em auxilio do miúdo e ajudou-o a apanhar umas coisas do chão e perguntou-lhe como ele aguentava e o miúdo respondeu, não ligo, eles estão a viver o que vão ser os melhores quatro anos da vida deles. Achei muito interessante, primeiro porque este miúdo do filme, era grande e depois porque normalmente os bullys não costumam ir longe e só ficam com quatro anos de "reinado" para recordarem na vida, a sua coroa de glória em formato de violência. Os bullys devem ter muita merda dentro deles e depois não deve haver quem consiga viver tão cheio de merda por dentro, vai daí, têm necessidade de distribuir alguma dessa sua merda pelos outros.
Clau, e para rematar aquilo que disseste, só podias mesmo acabar em beleza.
Eliminar"Os bullys devem ter muita merda dentro deles e depois não deve haver quem consiga viver tão cheio de merda por dentro, vai daí, têm necessidade de distribuir alguma dessa sua merda pelos outros."
Não é devem, é de certeza.
Eu aos 10 anos levava porrada todos os dias dum orelhudo ainda mais orelhudo que eu.
Soube anos mais tarde que o pai era alcoolico da Forças Armadas e batia nos 4 filhos e na mulher desde sempre, de cinto. Uma coisa demoníaca até ser preso.
Não imagino o que seja levar com um cinto do pai quando se é criança. Aquilo tinha de lhe sair por algum lado. Callhou-me a mim, infelizmente, que foi por quem ele se apaixonou e não teve correspondência. Eu sofri bastante, mas ele sofria mais.
Uva, nem sempre os escaravelhos ganham às formigas e parece-me que tu és uma formiga vencedora. Beijinhos
ResponderEliminarÁs vezes ganham Maria, às vezes ganham. Nas memórias. Abraço.
EliminarCorro o risco de me tornar um bocadinho enjoativa por estar sempre a falar nas miúdas, mas o facto é que dou por mim a guardar coisas que elas me dizem e fazem..que são lições que me apanham completamente desprevenida. Sim, eu também apanhei porrada da velha quando era pequena: Obesa, estrábica com óculos grossíssimos...era o bombo da festa...até o dia em que anos mais tarde arrebentei com o nariz de uma...ensinei esta lição bem cedo às minhas filhas, mas há marcas que ficaram. Há dias diz-me a mais velha:
ResponderEliminarSabes Mummy acho que tu nunca te vês ao espelho como realmente és. Já percebi que só quando vês fotografias com anos é que te apercebes de como és bonita, mas no presente nunca as aceitas, nunca te aceitas como és, estás sempre a pôr defeito....e isso é uma pena mummy, estás a desperdiçar tempo precioso da tua vida em que devias dar o devido valor ao que és.
Obrigada pelo texto Uva:)...mais uma vez spot on!
Escuta, dentro da minha família haviam umas miudas mais velhas que gozavam todos os dias com as minhas orelhas. Todos os dias.
EliminarEu fiquei de tal forma traumatizada (e olha que tenho umas orelhas normalissimas, porque entretanto a cabeça cresceu) que só muito depois do 30 (hã dos 30) é que eu apanhei o cabelo pela primeira vez e enfrentei o mundo. Isto é para veres o que faz o bullying a uma pessoa.
Sobre as minhas marcas, e o que sofri com elas, muito teria a dizer, mas essas continuam escondidas.
Tenho um profundo desprezo por pessoas que conscientemente diminuem os outros só por inveja e maldade. Profundo desprezo. É preciso proteger as crianças disso. Com unhas e dentes.
Sabes o que te digo...ignora. Não percas tempo com quem não merece o teu tempo. Nem as tuas palavras.
ResponderEliminarEu gosto e muito de ti...o resto é merda!
Beijo Uvinha
É muita merda mesmo.
EliminarNão vejo a hora de chegar o verão para ir dar banho a esta tristeza.
Credo.
Quantos são, caralho?
ResponderEliminarMato-os :-)
Manda-os para lá que tenho uma surpresa para eles :-) a caixa de comentários fechada. Criar um email é algo um bocadinho mais trabalhoso, mas há gente que tem tempo para tudo. O mais engraçado e que vai acabar por acontecer, acredita! , é quando essas bestas esquecem-se de fazer logout e acabas por descobrir que são outros bloggers ahahahahahahahahaah depois denuncia aqui, para nos rirmos um bocadinho. :-) já sabes que se for para lhes ir às trombas, meto-me no alfa e ponho-me aí num instantinho :-)
Doida. Gosto muito de ti sabias?
EliminarTu não me digas essas coisas, sou tímida: até corei.
EliminarNem a minha filha gosta de mim, pá... sou uma triste que para aqui ando!
Mas, desta merda de anónimos percebo um bocado, um bocadão proantos...
Ainda (não) vai chegar o dia em que me apresentes alguém que não goste de ti.
EliminarBem, o melhor é sentar-me, ou dormir.
Quando tu fores triste, o mundo será tomado de melancolia.
Pega lá um abraço bem apertado. A inveja é fodida, é assobiar e pensar que não passam de umas grandes mulas.
ResponderEliminarE tu lá tens tempo agora para abraços. Tu pega mas é nos skys (nem sei como se escreve tal coisa, que ignorante caraitas) e aproveita bem essa maravilha.
EliminarCara Uva,
ResponderEliminarUm bem haja para si... Adoro ler a grande maioria do que escreve e há qualquer coisa que transparece na sua escrita que se identifica inteiramente comigo. Confesso que não percebo nada de internet, nem de contas google e afins e por isso não consigo comentar senão como anónima (vou tentar aprender criar uma conta porque não é bonito comentar anonimamente). Como tal, nunca comentei nada nos blogues (muito poucos) que leio religiosamente quase todos os dias... Até hoje... hoje não podia deixar de ser porque me toca profundamente. Calculo que o sentido específico do seu "post" me escape inteiramente, mas o sentido global, esse, diz-me mesmo muito. De facto, toda a minha vida sofri terrivelmente com o bullying, especialmente nos meus verdes anos. Agora, já com 50 anos feitos (xiii tantos anos...), ainda não consigo viver a minha vida normalmente e escondo-me sempre por detrás de uma máscara, que me rouba um bom pedaço das minhas manhãs apressadas. Sem essa máscara nunca conseguiria enfrentar o mundo de cabeça mais ou menos levantada, tais foram as humilhações que sofri (e ainda sofro, embora de forma mais esbatida).
Na verdade, o ser humano consegue ser ignobilmente requintado nos seus ataques à dignidade de outros seres humanos. No entanto, aprendi com o passar dos anos esses ataques nascem essencialmente da inveja e não do desprezo, embora isto possa parecer um contrasenso.
Acredito que esta constatação se aplica totalmente ao seu caso. Será pura inveja da pessoa forte e inteligente que se encontra por detrás do seu blogue.
É pena que existam pessoas cheias de frustrações e de fel e que despejem toda a sua amargura noutras pessoas, mas temos de viver com isso. No entanto, parece-me que a Uva está bem equipada para lidar com elas. É continuar em frente, acenar e não ligar...
Um abraço
Grace
P.S. Desculpe o extenso comentário... Já agora, o meu pecado que me deixou à mercê de todos os bullies com quem me tenho cruzado e que deixaram e vão deixando marcas profundas: um hemangioma (vulgo sinal vinho do porto) na face esquerda, o qual eu consigo disfarçar bem com maquilhagem, mas que limita de forma terrível a minha vida quotidiana.
Cara Grace,
EliminarMuito lhe agradeço o comentário extenso.
Na verdade o meu post era efetivamente para alguém particular, mas para todos os bullys em geral.
Eu defendo-me do bullying com unhas e dentes e às vezes ataco. E vou atacar se o regabofe continuar.
Conheço 2 meninas com hemangioma na face, e muitas outras com hemangioma em outras partes do corpo. Percebo-te 100%.
Menina, menina, quero dizer-te que apesar dos teus complexos, que eu também tenho por ser uma grande queimada, não vão desaparecer, assim como não vai desaparecer o teu sinal e nem as minhas queimaduras, mas escuta bem, isso é só a parte visivel, quem gosta de ti gosta de ti inteira.
Vivendo com esta certeza, viverás com tudo. Mesmo com o desdém e com a ignorãncia dos outros.
Obrigada por aqui passares.
Um abraço
Querida Uva,
EliminarObrigada pelas palavras carinhosas. Na verdade, só quem passa por situações destas consegue compreender as marcas que deixam.
Mas é como dizes, quem gosta de nós, gosta por inteiro, "defeitos" incluídos. Felizmente, tenho amor na minha vida, o que é um verdadeiro bálsamo para mim.
O bullying que sofri ao longo da minha vida, transformou-me numa defensora dos "fracos e oprimidos". Acho até que me tornou num ser humano com mais empatia (demasiada talvez, para minha grande inquietação).
Continua a escrever coisas lindas como tão bem sabes que eu continuarei deste lado a ler avidamente.
Beijinhos e corre com os bullies todos ;))
Grace