Fotografia © Alfredo Cunha / Porto Editora
O anónimo Herberto Heldér, que nunca vi na televisão, que nunca se assomou nas tantas das entrevistas que leio, que nunca, por mais tentativas que fizesse para o ler e reler, entendi, tal era a profundidade do seu delírio poético, morreu ontem aos 84 anos, na sua casa de Cascais.
Não me é simples falar sobre mortes, nenhuma tendência tenho para obituário, mas no caso, como em tantos casos na cultura portuguesa, que morre aos poucos no desconhecido, afastada do plateau da grande turba portuguesa, que parece ter lugar para tudo, menos para as letras e para os artistas que com elas trabalham, merece-me o apontamento.
Não sei o que é ser poeta e ter cá dentro um astro que flameja, mas sei o que é amar a língua, minha pátria, e sei o que é amar as letras, meu leito, prazer e puro desejo, e sei o que é dizê-lo cantando a toda a gente, anonimamente.
Um homem que nos deixa as palavras, é um homem que nos deixa tudo, e a ele próprio.
E isso é o melhor que podemos fazer pelo outros.
Dar-lhes, dar-nos.
Há pessoas que não precisam de protagonismo. Serem elas é tudo o que ambicionam ser. São uma grande lição de vida para todos nós, comuns mortais..
ResponderEliminarPerdeu-se um grande homem, acima do grande poeta.
Fiquei com uma pena imensa de não o entender. Acho que merecia ser estudado para dar a conhecer aos que não o entendiam, a arte dele.
EliminarGostava muito, mesmo.
Sabes como o admiro. Entristeci. Bom que ficam as suas palavras, eternas.
ResponderEliminarBeijo, Uva.
Sei sim Maria. Aliás é um tema antigo este senhor entre nós.
EliminarTu compreendes o poeta, eu nunca o percebi.
Sim, quem nos deixa palavras deixa-nos tudo.
ResponderEliminarOlá Loira! Que saudades de te ver por cá!
EliminarMas continue a tentar ler e reler...talvez um dia consiga entender um verso que seja...nunca se sabe
ResponderEliminarQualquer um deles é como que pedra inquebrável.
EliminarVeja este por exemplo:
Não te queria quebrada pelos quatro elementos.
Nem apanhada apenas pelo tacto;
ou no aroma;
ou pela carne ouvida, aos trabalhos das luas
na funda malha de água.
Ou ver-te entre os braços a operação de uma estrela.
Nem que só a falcoaria me escurecesse como um golpe,
trêmulo alimento entre roupa
alta,
nas camas.
Magnificência.
Levantava-te.
Ler e reler? Ó meu Deus, não consigo. Alguém me explique.
Abraço
SAPOnews,
ResponderEliminar12h01min,
numa mensagem (ignorante e pateta)
informava-me da morte do Poeta.
Sapo parvo.
Os poetas não morrem,
a não ser na cabeça e nas mensagens dos não-Homens
Não morrem nem que os matem.
Eliminareu só soube hoje à tarde. depoisl, através do filho, que faz boas prosas, cá fica a semente.
ResponderEliminarDoce elegia cara U.
ResponderEliminarNão necessitamos entender. A beleza da palavra transcende a consciência.
Recordo um livro deslumbrante, um opúsculo de trinta página de um poeta itinerante, que nunca conheci, que nunca compreendi mas que desperta as mais belas imagens e nos perde num mundo onírico de emoções. A sinestesia de cada frase, de tão bela, torna a compreensão quase irrelevante. É sobre o Mundo. Sobre o que as coisas são e aquilo que poderiam ter sido. Sobre a aparente ausência de uma intencionalidade racional subjacente à realidade. E ainda assim habitamos aquele mundo insano, talvez o nosso mundo.
Beijinho.
Escreves tão bonito, de forma tão pacífica, que me vejo mergulhada num mar de bonomia.
EliminarTu tiras-me do sério. Afrontas-me com a tua tenaz e doce inteligência.
Gosto de ti.