De todas as imagens que me entram olhos adentro todos os dias, a grande maioria de grande violência e terror, sobretudo as
infligidas por anónimos, terceiros e inimigos a outras pessoas quase sempre inocentes, nenhuma delas - talvez porque embruteci, talvez porque aprendi a defender-me com a indiferença -, se compara à imagem da penitencia pela fé.
Rasga-me o peito ver pessoas submetidas à dor, ao sofrimento atroz, ao cansaço, e à destruição consentida da única coisa que lhes resta para lutar pela vida, para fazer frente à vida, e que é no fundo a saúde de um corpo bem tratado, em nome da fé, em nome do medo.
Julgo que é na infância que nos nascem todos os medos. É na infância, aquando de uma explicação mais irónica ou travestida de 'educação', sobretudo na explicação que nos dão os adultos do inexplicável, que se formam os dogmas e os medos que nos acompanham, de forma velada ou não, até à idade adulta.
Lembro-me bem de ser menina e de estar protegida pelos braços da minha avó, ambas encostada à pequena janela virada para a Lagoa, numa manhã de grande temporal. O vento arrancava as pernadas grossas dos pinheiros e as pinhas novas e rijas, cheias de pinhões, batiam com grande estrondo no telhado da casa. Tudo andava pelos ares, tudo lembrava o fim do mundo.
- Estás a ver Uvinha, é o Jesus que está zangado.
- Mas zangado com quem?
- Contigo. Portas-te mal e ele está zangado.
O Jesus estava zangado comigo e eu tremia de medo. E como antigamente havia muitas trovoadas de verão, e nunca ninguém me soube explicar de onde vinham as trovoadas, achei que o Jesus estava sempre zangado, mesmo nos dias em que eu não me portava assim tão mal. É engraçado que ainda hoje morro de medo das trovoadas, suponho que é assim com muitos adultos ainda.
Lembrei-me muito disto porque no sábado estive mais uma vez debaixo de uma grande trovoada.
Em Fátima.
E custou-me muito ver ali, naquele caminho estreito e brilhante, que divide a grande praça central, arrastarem-se de joelhos, ou de bruços, mulheres e homens, velhos e crianças, sob um céu negro e frio, que sobre eles largava a fúria de todos os deuses, e uma chuva muito grossa, como se aquela penitência que resolveram infligir a si próprios fosse de certo modo um mau comportamento, como os que eu tinha quando era criança.
E se não for?
E se não for senão aquilo que pedem os fiéis? E se toda aquela chuva, vinda não sei de onde, pois que toda a manhã brilhou um sol de encher a alma, ali tivesse caído porque assim é que tem de ser, porque só assim se expiam pecados, porque só assim se pedem milagres, porque só assim se pagam promessas?
É aqui que o meu entendimento pára, é aqui que se acende uma luz de presença, a presença da maior dúvida que me perpassa a alma.
Que fé é esta?
Um Deus benevolente que cria e permite o mal, é paradoxal.
Que igreja é esta que aceita e permite (amplamente) que pessoas, quase todas de grande idade e com grande dificuldade física, se arrastem pelo chão, esfacelando os joelhos, sofrendo de dores?
Que diferença faria a N.ª Senhora de Fátima se a promessa fosse apenas e só, uma flor, ou mesmo uma vela, ao invés de três voltas de joelhos à capela?
Baseando-me no que vejo, e no que sinto, julgo que, como ser humano nunca poderei entender o divino, pois que o divino é (e de acordo com a forma como é vivido por estas pessoas que ajoelhadas pedem por algo que não controlam - nem nunca poderão controlar), incompreensível e aterrador.
Santo Agostinho perguntou 'Mas de onde vem o mal se Deus é bom e fez todas as criaturas boas?'
O mal, o medo, o impulso que leva estas pessoas a ajoelharem-se perante algo 'divino' radica tão-somente na ignorância que ainda conservam sobre as trovoadas da vida, no medo que têm da morte, e da fé que acalentam de que talvez possam ser imortais.
Eu acredito que só de pé se consegue vencer o medo.Baseando-me no que vejo, e no que sinto, julgo que, como ser humano nunca poderei entender o divino, pois que o divino é (e de acordo com a forma como é vivido por estas pessoas que ajoelhadas pedem por algo que não controlam - nem nunca poderão controlar), incompreensível e aterrador.
Santo Agostinho perguntou 'Mas de onde vem o mal se Deus é bom e fez todas as criaturas boas?'
O mal, o medo, o impulso que leva estas pessoas a ajoelharem-se perante algo 'divino' radica tão-somente na ignorância que ainda conservam sobre as trovoadas da vida, no medo que têm da morte, e da fé que acalentam de que talvez possam ser imortais.
A imortalidade faz-se nessa mesma posição.
Ter fé é só acreditar nisto.
Como a entendo...eu sou de Fátima e há coisas que também me deixam na dúvida. Contudo, mantenho um respeito enorme pois por detrás do sacrifício, há sempre uma história e um motivo, mesmo que seja discutível. Quanto ao tempo em Fátima, (desculpe a expressão) é assim, uma grande m*****! Ora chove, ora faz calor...ou então está um frio de amputar as pernas!!
ResponderEliminarO drama, quanto a mim, não justifica o sacrifício. Além do que depois do sacrifício fica-se muito pior do que se estava quando só se tinha o drama. Curar aquelas feridas é coisa para levar muitas semanas.
EliminarÉ absolutamente devastador ver aquelas mulheres e homens a arrastarem-se de bruços horas infinitas, pagando promessas absurdas que elas próprias fizeram.
Prometam coisas de amor, prometam flores, voluntariado no IPO, apadrinhamento de animais, acompanhamento a idosos, agora rastejarem de joelhos dias inteiros é coisa para me tirar do sério, ainda para mais crianças a pagar esse tipo de promessas que nem sequer entendem.
Estava um frio de rachar em Fátima no Sábado.
E aquelas alminhas ali andavam de joelhos e de bruços a levar com um frio e uma chuva brutais, para pagar promessas.
Às vezes não é a Igreja, são as pessoas. Já vi um padre, numa aldeia, tentar impedir um idoso de rastejar à volta da capela para cumprir uma promessa e ele não quis (o padre ainda lhe disse para comprar alimentos para uma família carenciada e a promessa ficava paga, mas o homem nem quis ouvir e lá continuou). É claro que "Fátima" é um belo negócio e convém manter as pessoas "mansas" com medo do tal castigo divino.
ResponderEliminarSandra, tem toda a razão quando diz que a Igreja são as pessoas, e sem sombra de dúvida que Fátima é um enorme negócio, chega a ser obsceno. É um negócio sobretudo para os comerciantes (e por inerência os fabricantes de artigos religiosos), empresários de restauração e hotelaria. Mas Fátima não é só negócio, Muito do dinheiro que a igreja recebe é usado em obras desconhecidas de grande parte das pessoas. São incontáveis as casas religiosas que recebem deficientes profundos, doentes, crianças e idosos que ninguém quer. São muitas as famílias ajudadas graças aos donativos dos crentes. Muito daquele dinheiro serve para aopiar missões um pouco por todo o mundo, junto das comunidades mais desfavorecidas. Há ali muito trabalho invisível, nas muitas das vezes invisível porque há uma igreja "dourada" que nos ofusca. Felizmente, parece-me que este Papa nos (sou católica, considero-me parte da Igreja) orienta cada vez mais para longe dessa ostentação e na direcção do que realmente foi a mensagem de Cristo.
EliminarSe o interesse económico no medo divino fosse da Igreja, seguramente as práticas que a Uva descreve seriam proibidas, em vez de tolerar o sofrimento físico, a Igreja pediria contribuições monetárias.
Bem sei o trabalho que a igreja faz junto dos mais necessitados. Os crentes de Fátima fazem oferendas que vão desde elevadas somas em dinheiro, terrenos, sacas de milho, tomate, animais, e muitas coisas que são escoadas para as freiras (em grande número a viver das ajudas exteriores em troca de devoção e rezas) e outras instituições paroquiais ou outras que fazem trabalho caridoso ou de intervenção social. O que não entendo é a necessidade de se arrastarem pelo chão de joelhos. Para o fazerem é decerto porque é tradição, alguém disse que rastejar de joelhos era melhor sacrifício do que uma vela do seu tamanho. Essa tradição, que a mim não me faz sentido, não acrescenta em nada à dura vida dessas pessoas e nem à própria imagem da Igreja, que tenta modernizar-se a cada dia. Pessoas a caminhar desde o Algarve até Fátima acabando por transformar os seus pés numa papa, por algo a que chamam fé, sacrificio, querer, ou porque no desespero prometeram, é algo que não consigo sequer entender. Na realidade o problema é meu e não sinto qualquer sentimento de bonomia perante quem o faz. Nem pena. Só incompreensão.
EliminarJá para não referir os que morrem atropelados pelo caminho. Isto não me faz sentido algum, mesmo sabendo que há pessoas que vivem na total ignorância e na total falta de informação, o que tendo em conta os jovens que participam nesses sacrifícios, não é por aí que a gata vai às filhoses.
EliminarUva, o meu comentário era no sentido de dizer que o "negócio" não ganha nada com as pessoas que rastejam. Se o medo do divino servisse para alimentar o negócio, impunham-se dízimas e outras contribuições monetárias em vez de se permitirem esses sacrifícios físicos ( que, como a ti, também me chocam),
EliminarTambém acho que não ganha, mas a verdade é que aquele caminho estreito e bem polido lá continua para que as pessoas possam ali pagar as promessas e a verdade é que as pessoas têm permissão dos seguranças para rastejar um dia inteiro de volta da capelinha. Acaba por alimentar o drama e mostrar que há pessoas que fazem aquilo porque acreditam que aquilo existe. Acaba por ser um chamariz. Triste mas existente. Mas aquelas pessoas que ali rastejam estão para lá do negócio. Mesmo que as proibissem elas ratejariam noutros locais. Tabem tenho a sensação que se não tivessem medo não pagavam as promessas. Pagam promessas loucas por medo do divino. Pedem promessas loucas por medo que o divino lhes leve o que têm de mais divino, que é a saúde e a vida. É muito sensivel este tema. Muito sensível se não o mais sensivel.
EliminarAtribuo a essa mesma imagem de sacrifício que descreves e que vi muitas vezes em criança, o facto de nunca ter conseguido chegar a acreditar em deus.
ResponderEliminarCom o mundo da maneira que está e da maneira que sempre foi, fica muito difícil acreditar em Deus. Aliás, acreditar em Deus por estes dias e um dos mais difíceis exercícios. Há quem pergunte se há Deus, onde estará ele metido que não vê o que se está a passar. Faria a mesma pergunta se acreditasse, mas sou ateia. Acredito sobretudo que há um Deus em cada um de nós, porque Deus é amor e todos de uma maneira ou outra somos capazes de amar.
EliminarUvinha, terás visto também pequenos cartazes que pedem às pessoas que não rastejem, etc, espalhados um pouco por todo o recinto (da última vez que lá estive vi).
ResponderEliminarO meu avô foi Servita de Nossa Senhora durante quase toda a sua vida, só mesmo nos últimos anos é que, por razões de saúde, deixou de fazer voluntariado no Santuário de Fátima. De Maio a Outubro tirava os dias perto do dia 13 (em agosto nunca passava o aniversário com a família porque os dias 12, 13, 14 e 15, a par do 13 de maio, eram os dias de maior afluência de peregrinos) para receber os peregrinos que chegavam de todo o mundo. Contava que no "lava pés" via pessoas com os pés e joelhos em carne. Eu não percebia e ele respondia-me sempre "Filhinha, tu não conheces o sofrimento daquelas pessoas, os pés em carne viva serão seguramente, o que menos dor lhes causa".
Também já me revoltou muito assistir a essas cenas, tive vontade de proibir expressamente aquelas manifestações, mas percebi que há ali muito sofrimento, muito desespero, que se sobrepõe à razão. Até que ponto pode/deve discutir-se a razão quando o assunto é a fé? A fé é muito mais que crença, eu acredito no que vejo, mas não tenho fé em tudo o que vejo.
Nem todos tiveram a educação que nós tivemos, nem todos conseguem ver aquilo que nós vemos e a forma de expressar a sua fé é aquela. Não gosto de ver aquele sofrimento todo, como não gosto de ver os crucificados das Filipinas. Tal como tu, penso que à Virgem Maria tão valioso é uma oração sentida, como uma singela vela, como dez voltas à capelinha de rastos e uma vela do meu tamanho. Mas tento não condenar, fazem o melhor que podem e sabem.
Não vi Mirone, andava lá totalmente aflita para explicar à ML o que eram aquelas pessoas e o que faziam ali. Houve uma missa na Basílica (muito bonita por acaso) que assistimos por respeito aos colegas da tropa do meu pai. Respeito mais as pessoas do que as religiões em que elas acreditam. Tenho sentimentos estranhos quanto à religião, mas respeito as pessoas religiosas. O sofrimento que as pessoas se impõe, pés em carne viva, joelhos esfacelados, costas vergastadas, cintos de castidade e colchões de pregos, não me suscitam respeito, suscitam-me incompreensão e uma pena imensa de não haver uma alminha que diga aquelas pessoas que aquilo não as leva a lado algum a não ser a mais sofrimento. E depois à desilusão. Condeno quando são crianças. Eu no sábado vi crianças. Fiquei em choque.
EliminarSim. Com imensa tristeza, sim.
ResponderEliminarO Medo, o horror do Medo do Castigo, a forma como, sempre que fui a Fátima, procurei afastar os olhos de Pessoas que, na mais absoluta tragédia, se castigam a si próprias como se isso agradasse a uma qualquer divindade abstracta, tirânica, vil e implacável com os seus filhos. As lágrimas que brotaram por Eles...
A purga (de quê? de sermos humanos?) pela dor do sacrifício? Saciará isso este tão pequeno deus antropomórfico que lhes impingiram desde crianças. E a hipócrita oferta da eternidade em troca da obediência. Deus acima da Família, acima dos nossos Irmãos de viagem neste pequenino planeta?
Os meus Pais são "católicos", se é que a ortodoxia de tal definição se aplica às suas próprias crenças, tantas vezes avessas e críticas da instituição.
Acompanho a minha Mãe à igreja quando ela pretende. Sinto uma certa tranquilidade no silêncio, mas também a sinto na praia com o som das ondas, na serra com a visão das árvores e o chilrear dos pássaros.
Apetece-me arrancar os cabelos quando alguém sobe ao púlpito para recitar o antigo testamento. Ninguém parece prestar atenção ao que está a ser lido. Semelhantes meus alheados em respeito apesar da descrição de enormidades tomadas como lição de moral. Apetece-me gritar que acordem. Que vão lá para fora fazer a guerra, a guerra contra a injustiça, que a façam todos os dias nas suas decisões, que isso é suficiente.
Era tempo do Humanismo, de remover esse horrível foco no divino e na promessa de salvação eterna.
Nada disso confere valor à nossa vida. Fazemos o melhor que podemos e isso é suficiente.
Infelizmente todos os dias observo um mundo tomado a passos largos por todo o tipo de fanatismos.
Talvez não vá acabar bem. Mas isso já nós sabíamos desde o momento em que nos morreu o terno peixinho dourado de aquário e, mais tarde, os Avós na mais infame demência, tornados sombras.
No entanto, talvez possa acabar com um mínimo de dignidade, aquela dignidade que vem da aceitação da nossa existência enquanto seres limitados e frágeis, e da compaixão que ilumina o nosso espírito.
Abraço cara U.
Também concordo que quanto mais realidade nos entra pelos olhos adentro mais fanáticos nos tornamos por tudo o que é ilusão. É uma forma de abstração. A realidade é tao miserável que 'entregar a Deus' parece por vezes o caminho mais fácil. A igreja católica manifesta-se contra o suicídio, mas não se manifesta contra pessoas que se auto mutilam e que podem algumas morrer disso, como morrem. Não entendo.
EliminarGostava de saber onde foram buscar a ideia de que mutilando o seu próprio corpo conseguem vantagem na prece.
Abraço.
Deus nada tem a ver com isso. A isso chama-se ignorância. (quisera crer em Deus. conforta)
ResponderEliminarBeijos, Uva. :)
Eu acho que este Deus não conforta nada, pois que é só sofrimento. O que conforta é uma mesa repleta de amigos e familia, emprego e saúde.
EliminarAbraço Maria!
Imagens que nos partem o coração. Muitas dessas pessoas, agradecem "bênçãos que lhes foram concedidas"
ResponderEliminarpagam promessas que fizeram no maior desespero, talvez por medo, talvez por ignorância ou talvez por aquilo a que chamam fé. Infelizmente nem tudo se consegue explicar racionalmente... O que é certo é que por alguma razão para muitas pessoas desconhecida, essas pessoas acreditam que Deus comanda de alguma forma a vida delas. Até gpsto de ir a Fátima, mas essa parte dispenso, não consigo entender...
E porque não conseguem explicar racionalmente, nem entendem que as doenças se curam com a ajuda dos médicos e de boas práticas físicas, de medicamentos e boa alimentação, acham que se curam porque o divino as curou. O que não conseguem explicar é porque as curou a 'elas' e não curou outros tantos, crentes como 'elas' que mesmo rastejando acabam por sucumbir.
EliminarÉ esta fé que me confunde.
"Eu acredito que só de pé se consegue vencer o medo."
ResponderEliminarTer fé é só acreditar nisso.
(Deus é infinitamente bom, mas também é infinitamente lento)
Ou infinitamente injusto. Depende muito do ponto de vista.
EliminarNo fundo Deus tem umas costas muito largas.
É desculpa para tudo, especialmente para as coisas piores.
Mas o que tem Deus a ver com a estupidez e a ignorância Humana?
ResponderEliminarTêm os pais e os formadores dessas pessoas, têm as condições e o meio em que foram criados, têm as personalidades de cada um mas que raio têm Deus a ver com isso?
Pois então não foi Deus que criou a humanidade? Então ele só é responsável por nos fazer à sua imagem se for uma boa imagem, boa pessoa? Dos ignorantes lava as mãos e culpa a família, que entretanto também foi Ele que criou?
EliminarO que eu gostava mesmo é que me explicassem onde estão (ou a que estão) ligados os devotos de Fátima, senão com Deus, catolicismo, Igreja, Papa, missas, orações, e tudo o resto que gravita ao redor do negócio da fé.
O que eu vejo são pessoas a rastejar e a rezar o Pai Nosso e a Avé Maria, agarrados aos terços e outras tantas. Se isto não tem a ver com o Deus da igreja católica então não sei o que poderá ser.
Tem ideia?
O que talvez quer dizer é que o 'seu' Deus não é 'este' Deus que ouvimos falar os padres, do Céu e do Inferno, do castigo, do medo, e que afinal as pessoas entenderam tudo mal desde os primórdios e andam a fazer sacrifícios para nada.
Na minha opinião é a fé que está distorcida da realidade, mas no fundo as pessoas são livres de se punirem, de rastejarem. de se matarem e até de matarem em nome dessa mesma fé. Só que não.
Uva, não posso de deixar de concordar com o anónimo. Enquanto cristã acredito num só Deus, acredito que o meu é o mesmo dos Muçulmanos ou dos Judeus, simplesmente lhe chamamos nomes diferentes. Há formas distintas de lhe prestar culto, formas distintas de lhe mostrar devoção. E, nesse aspecto preciso, muito sinceramente, acho que ele não é para aí chamado, já que são os homens que escolhem a forma de lhe prestar culto, não é ele quem a impõe.
EliminarQuanto a decisões dos homens, mas que de alguma forma implicam a sua relação com Deus, os padres já não falam de inferno ou de castigo impiedoso há uns anos (ainda que essa imagem esteja enraízada na nossa cultura, foram muitos séculos a falar de justiça divina impiedos), desde o concílio Vaticano II a Igreja Católica tem vindo a reflectir cada vez mais uma visam mais actual do mundo, Vejam-se, nesse sentido, os palavras dos últimos Papas, de João Paulo II e agora do Papa Francisco, que falam num Deus tolerante, que ama a todos por Igual. Evidentemente há um grande caminho a fazer, claro que há, mas é um caminho a fazer por parte dos homens que encabeçam a Igreja, não é por Deus.
A fé é um fenómeno muito íntimo de cada pessoa e por isso há injustiças e actos que não compreendemos.
Evidentemente não concordo com aqueles que matam em nome da fé, mas não vou dizer que o Deus dessas pessoas é odioso.
A fé e as formas que cada homem ou grupo adopta para a manifestar não se podem confundir com Deus.
Uma visão* (Santíssima Trindade que até os olhos me saltam das órbitas :DDDD)
EliminarMirone, não sei muito sinceramente de que falam os padres agora.
EliminarNão sei se a Igreja caminha para uma visão mais tolerante da vida e dos homens. Creio que está tudo mais ou menos na mesma no que a 'temas fraturantes' diz respeito': aborto, casamento homossexual, preservativos, casamento de padres, fertilização in vitro, pedofilia, etc. O novo Papa já não usa Prada e tende a ser mais 'moderno' mas já granjeou muitos inimigos dentro da própria igreja. Mas gosto dele. Parece-me muito empenhado. Mas polémico quando afirma que não crê em um “ Deus Católico” e refere 'eu creio em Deus, mas não em um Deus Católico, não há Deus Católico, há Deus e creio em Jesus Cristo, sua encarnação. Jesus é o meu mestre e meu pastor, mas Deus, o Pai, Abba, é a luz e o Criador. Esse é o meu Ser”.
Talvez seja isto que os padres dizem atualmente que Deus é de todos, até dos que rastejam.
Quando afirmam que Deus não tem nada a ver com isto que vi em Fátima, eu pergunto:
Em que pensam os devotos de Fátima e outros devotos que dedicam a vida à Igreja, à clausura e à contemplação (freiras carmelitas, clarissas, capucinhas por exemplo) senão em Deus?
Esse caminho de que falas Mirone, que deve ser feito pelos homens que encabeçam a Igreja e não por Deus, devem ser baseados em que premissas? Nas dos homens ou nas de Deus? Se for nas dos homens então Deus não é tido nem achado e nem sequer faz grande falta, mas se for nas [premissas] de Deus, então Deus tem tudo a ver com isto e afinal já não é como dizem.
Quais são afinal as premissas de Deus? Porque há tantos entendimentos diferentes baseados numa só palavra?
Obviamente que sei que tens uma mente aberta, és uma miúda de fé, isso é certo, mas há efetivamente coisas na religião católica e outras, que eu não consigo entender e nem consigo perceber, uma delas é a submissão ao divino pelo medo, o tal medo que falo no último parágrafo do post.
Ele existe ainda Mirone. Ele existe e se queres que seja sincera, ele veio para ficar.
Mas se a fé move montanhas e se há quem tenha fé em Deus, então deveria entender-se que Deus move montanhas. Creio que é isto que as pessoas entendem da fé.
Acontece que eu não vejo as coisas desta forma.
Vejo a fé como uma força dentro de nós em nós próprios.
Esta é a minha fé.
Mironinho, obrigada pela tua Santíssima paciência para me aturares nos meus devaneios.
EliminarUva, estamos a falar do mesmo, a fé é uma força que vem de dentro, é uma forma de sentir o mundo.
EliminarProcuro (não procuro muito, mas consideremos que sim) em Deus a explicação para aquilo que não consigo explicar. Consigo explicar a guerra e a fome (e o consequente sofrimento de inocentes) com o ódio entre os homens, consigo explicar algumas doenças, com maus hábitos que o homem tem. Não procuro em Deus um bode expiatório, procuro uma fonte de amor quando nada mais me sossega o espírito.
(Obrigada tu também por aturares os meus. 'Bora brincar lá para fora para desanuviar?)
Gosto de tropeçar em pensamentos como o teu, com o qual me identifico. Vim aqui ler te novamente à mão do nosso amigo Manelito Mau Tempo.
ResponderEliminarO bem é a fé reside dentro de cada um.
Deixo um beijo Uva:)