8 de setembro de 2015
Terminei de ler o Stoner de John Edward Williams
Não tenho jeito nenhum para isto. Só venho falar do livro porque me pediram muito.
E porque sou um amor de pessoa, muito sensível a pedidos desesperados ;)
O livro é bom, que é, mas, ao contrário do que dizem não é propriamente o melhor romance do século XX, e está longe, muito longe disso, apesar das partes comoventes e muito bem escritas.
Sobretudo a última parte sobre a sua morte. Muito bom.
Como sempre aconteceu, um mau tradutor pode despedaçar uma obra, e no caso de Stoner, pelo que me deu a entender, a tradutora trocou demasiadas vezes a palavra instantes (que devia usar) pela palavra minutos, o que fez com que os personagens perdessem imenso tempo (em minutos) a fitar-se, quando toda a gente percebe que se transferíssemos isso para a vida real, de cada vez, por exemplo, que Stoner ia visitar amante e a fitava durante vários minutos à porta, isso seria no mínimo estúpido, porque se ela era sua amante, ele deveria entrar na casa o quanto antes, porque ou era apanhado, ou morria de frio.
E Stoner fitava imenso as pessoas, durante longuíssimos minutos.
A posições dos personagens nas cadeiras ficaram estafadíssimas. Mãos entrelaçadas e ossudas são às pazadas, mas talvez seja normal as pessoas sentarem-se todas da mesma maneira.
E teria preferido uma Grace sentadinha com as pernas muito juntas para dar mais ênfase ali ao escândalo, ao invés de estar de pernas cruzadas para da 'a' notícia, mas entendo o ponto de vista do autor. A gaja estava-se totalmente a borrifar para ele.
Depois achei que o autor tinha ali conflitos do foro capilar e gostei de saber que nenhum personagem, e pela primeira vez num romance, possuía uma farta cabeleira cacheada de longos e brilhantes fios de ouro. Todos os personagens têm o cabelo fino, ora acachapado à cabeça (o termo acachapado é delicioso), ora enrolado sobre o crânio redondo.
E quase todos os homens tinham o crânio redondo e as mãos ossudas, no entanto teria gostado de ver o Lomax com uma ´cabeça de ovo' em vez da cara bonita. Afinal o gajo lixou-lhe a vida toda e merecia ser mais mal tratado além do termo aleijado que fica a pairar durante todo o romance em cima dele.
Querem conhecer a verdadeira megera, a verdadeira mulherzinha num casamento infinito? Leiam o Stoner. Até a mim me dava ganas de a estraçalhar, e depois a ele, por ser um fraco inepto na mão da bruxa.
Havia de ser comigo que eu contava-lhe uma historia assim:
Num dia quente de outono, Katherine esparramada em cima do sofá a fazer o seu inútil ponto de cruz, foi surpreendida por um som diabólico que se desprendia alguras por cima da sua cabeça. Morreu esmaga pelo piano que o marido tinha pendurado na noite anterior, no teto da sala, cuidadosamente, pacientemente, e com a ajuda da sua filha Grace, enquanto ela dormia profundamente no quarto do primeiro andar.
A consistência de algumas personagens não me seduziu por aí além, mas interessou-me e prendeu-me bastante a história (muito certinha com as datas e tal) e estive praticamente o livro todo com ganas de apertar o pescoço a toda a gente, ora a Stoner, ora à maluquinha, a todos, todos.
Deliciosas foram as cenas da lua de mel e da primeira relação sexual.
Vale a pena ler porque acredito que terá sido assim, durante milhares de anos, em muitos casamentos.
Aconselho.
Boa oferta para o Natal.
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Está a apanhar pó na minha mesa de cabeceira há já algum tempo. Ainda não ganhei coragem para o ler.
ResponderEliminarAcho que vou tentar abrir o raio do livro :)
Vocês não limpam o pó lá em casa??????????????????????????????????
Eliminar;))))
(Vais lê-lo de qualquer maneira, mas olha que é fixolas. Para teres uma noção: eu andei 3 semanas a ler /remoer o n.º 1 de 4 volumes do Guerra e Paz. Este li-o em 5 dias. Zás!)
Limpar o pó? Nahhh... adoro vê-lo espalhado por toda a casa :P
EliminarEu embirro com certos livros, a sério. Não imaginas quantas vezes tentei ler o Baudolino do Umberto Eco. Como sou teimosa todos os anos volto à carga mas desisto sempre!
Confirmo que o Stoner se lê francamente melhor que o Baudolino.
EliminarBoa tarde a ambas.
Esse do Baudolino nunca li, mas o Humberto Eco guardo-o num sítio especial do meu coração. Foi com um livro dele 'Como Se Faz Uma Tese' que fiz a minha Tese. Foi uma bela ajuda.
Eliminar*Umberto sem H, claro.
EliminarVou começar a ler agora! Já me falaram muito bem :)
ResponderEliminarSim. Vale muito a pena. Iniciei agora outro da Elena Ferrante e já para começar a mãe morre afogada e no dia do funeral, depois de decidir levar o caixão aos ombros (coisas de homens) aparece-lhe o período de forma abrupta e pujante e enfim, é como te digo, esta autora é assim qualquer coisinha de perfeito.
EliminarCara Uva, que coincidência! Acabei de ler o Stoner há dois dias e não dormi bem nessa noite. Só de manhã percebi que o meu sono disperso se deveu à parte final do livro: mexeu mesmo comigo, deixou-me inquieta, desconfortável...
ResponderEliminarLi em inglês e achei a obra e o autor extraordinários porque, na realidade,para além do retrato de duas eras, ele quase que conta uma não-história (no sentido de que não há nada de verdadeiramente notável, nada que não pudesse acontecer na vida de qualquer um de nós), mas fá-lo de uma forma soberba. E sempre percebi que em Literatura o mais difícil é a simplicidade.
Olá
ResponderEliminarVim atrás deste livro e...acabei por ficar.
:)
Olinda