22 de abril de 2016

Da genialidade

Há um psiquiatra, pedopsiquiatra e psicanalista que eu muito admiro, porque é um génio.
Eu, ao contrário daquelas pessoas que se perdem de amores pelos seres mais belos, mais puros ou mais cómicos, sou uma apaixonada por génios. Se há um génio cómico, se há um génio puro, ou se há um génio belo, também os admiro, mas para mim a genialidade deve ultrapassar a barreira da especialização ou o pendor profissional da genialidade. Não concordo com o engrandecimento de determinado ser humano, se à partida se mostra incapaz de dar frutos, acaso o enxertem noutro local. 
Tenho como convicção, e não largo, que quem só sabe de medicina não é bom médico.

Há na Humanidade um grande número de necessidades. 
Há necessidades que nos são comuns, prioridades básicas iguais para todos, mas não falo especificamente dessas, falo numa necessidade absoluta, que nos norteia e nos organiza; falo da necessidade de identificar as coisas e de certeiramente, e sem rodeios, lhes dar um nome.
Os génios são aqueles que dão o nome às coisas, que agrupam coisas diferentes que se ligam entre si, e as identificam como uma

Na depressão, por exemplo. 
A depressão já foi definida e redefinida por inúmeros estudiosos da psiquiatria. A depressão é isto, a depressão é aquilo. Fica deprimido quem faz isto, não faz aquilo. É uma tão grande panóplia de conceitos que a palavra se esboroa e os deprimidos ficam sem saber o que têm.
Mas o Coimbra de Matos, no seu génio usual, esclarece que a depressão acontece sempre quando estamos numa situação em que damos mais afecto do que recebemos.
E ficamos descansados, a depressão volta a reunir-se numa só palavra, e o deprimido procurará perceber, sozinho ou ajudado, onde lhe falta o retorno do afecto que aplica em demasia.

20 comentários:

  1. Ou então continua sem perceber onde e continua deprimido, mas pelo menos já sabe porquê, o que até pode levá-lo a restruturar-se e tentar ultrapassar o problema que tem!

    O problema do mundo é que temos uma certa tendência para complicar demais o que não percebemos! Quando entramos em modo de descomplicação, podemos não conseguir resolver nada...
    ...mas relaxamos!

    Bom FDS

    :)

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    1. O copo de vinho também relaxa e é descomplicadissimo! Metes o vinho no copo e trau! Já está!

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    2. ...mas não é um bom remédio para a depressão...

      (infelizmente)

      Há coisas melhores que um copo de vinho para isso...

      :)

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  2. Caramba, Uva... É mesmo isso. :/

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  3. ...e sobre a depressão, estou a gostar muito de ler "o demónio da depressão" de Andrew Solomon.

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    1. Venceu o National Book Award em 2001, tendo também sido finalista do Pulitzer em 2002.
      Estranha-me que só chegue agora a Portugal.

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  4. Já "me deprimi", entre o caos que foi a minha vida numa determinada altura, nunca encontrei as razões certas para ter vindo tão depois. Demorei demasiado tempo a admiti-lo e isso deixou-me ir demasiado fundo. Sair tornou-me mais forte e mais fria, visto por este prisma talvez consiga compreender agora que naquela altura talvez "aplicasse afectos em demasia".
    (Vou procurar bibliografia, fiquei com a pulga atrás da orelha.)

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    1. Coimbra de Matos é o supra-sumo da barbatana na questão da depressão. E é um ser humano especial.
      Adoro-o. Tenho muita pena que já esteja velhinho, mas continua a dar aulas e a trabalhar no seu consultório de Lisboa.
      É um génio superior.

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    2. Eu tenho depressão sazonal porque adoro muito o sol e a praia e eles no verão não me dão mimo. Eu adoro-os e eles ignoram-me. O sol chega a estar desaparecido dias e dias. E a praia fica furiosa com as marés vivas, nem me consigo aproximar dela, abraçá-la. E aí deprimo. :)

      É mais ou menos isto:
      Se tiver um namorado e se, a alturas tantas, começa a perceber que lhe está a dar mais do que a receber, deprime. Depressão normal. Na depressão patológica, ultrapassa o comum da reacção, dura mais e é mais intenso; o indivíduo não se apercebe das causas, e não se revolta. A reacção normal face ao abandono é um sentimento depressivo mas também raivoso, «Que raio de brincadeira, porque é que me abandonas, etc, estupor!». A pessoa com personalidade depressiva tem tendência para se culpar a si própria, «Fui eu que fui mau, há pessoas mais interessantes». O paradigma da depressão é a ruptura amorosa. in http://anabelamotaribeiro.pt/28270.html

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    3. O declaração é do Coimbra de Matos numa entrevista a AMR

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  5. Tal qual. Penso exatamente o mesmo que tu nessa questão do toque de génio, para mim também são essas as pessoas verdadeiramente apaixonantes. Há pessoas detentoras de uma quantidade enorme de informação, nem precisa de ser apenas numa determinada área, algumas muitíssimo cultas até, mas depois não têm a mínima elasticidade mental, não conseguem relacionar os factos em amplitude, ficam emperradas no que toca a associação de ideias, é como se fossem grandes armazenadores de informação que depois não conseguem processar dando um resultado efectivamente útil ao conhecimento.
    Bom fim de semana, Uva com sumo.

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    1. Eu venho para responder uma coisa em bom e depois é isto. Fico sem palavras!
      Bom fim de semana amiga genial.

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  6. Eu tenho depressão endógena, será que tenho por sina dar mais afecto do que aquilo que recebo? Ou serão só as minhas hormonas?

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    1. Eu não sou especialista em depressão, mas para mim é claro que a depressão é uma condição complexa, derivada de factores bio-psico-sociais. É também claro para mim que a depressão derivada do bio (por exemplo a depressão pós parto), ou a depressão relacionada com um distúrbio hormonal, pode ser tratada com substitutos hormonais desde que se perceba de que hormonas falamos, e que a parte psico-social se deve essencialmente a aspectos exógenos de adaptação e de como cada um se defende das contrariedades da vida.
      Neste último aspecto, julgo que a depressão advém de um sentimento de culpa, inferioridade, ou mesmo superioridade de encarar o 'eu social'. Se tiveres as tuas hormonas descontroladas elas vão dar sinais ao teu cérebro errados e tu vais ter a noção do exterior também descompensada. É óbvio que a depressão caracterizada de endógena se refere ou coloca a tónica nos factores fisicos e daí se parta para um tratamento médico, mas é quase impossível ter a certeza que a tua depressão é mesmo bio (endógena) e o que se faz actualmente é ir por exclusão de partes. Eu por mim, que tenho tendência a deprimir, no sentido de ficar triste e com um pensamento 'quadrado' ou 'circular' que não me deixa saída, percebo que se receber a atenção ou o mimo das coisas que acho importantes, o merecimento, a justiça etc, fico logo muito melhor, daí ser da opinião que as depressões no geral (deixo de fora os TOC) são efetivamente problemas de aceitação e de ver o copo mio cheio.
      Há depois as doenças mentais, que depois de diagnosticadas já não são relacionadas com a 'depressão', e que são efetivas doenças físicas, problemas no cérebro que requerem tratamentos médicos.

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  7. Mesmo que não esperemos nada em troca do afecto que damos, o coração ressente-se se a dádiva nunca tem retorno. Costuma acontecer com quem esbanja carinho. Os outros habituam-se tanto a recebê-lo que até se esquecem de retribuir!

    Beijocas, Uvinha :)

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    1. E tu deves ser só mel, que eu bem vejo o carinho que tens por toda a gente. E eu aqui cheia de prazer porque gosto de pessoas como tu, que me mimam. Sou tão mimada, credo. Abraços e bom 25 de Abril.

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  8. O Coimbra de Matos é que é o especialista e se é ele quem diz, mas no meu dia-a-dia e da proximidade com pessoas, elas sentem é o contrário que não recebem e querem receber, mas também não as vi a dar (podem é sentir e achar que deram).
    Vejo aguentar melhor quem dá e não recebe, dos que não dão, se calhar a longo prazo o Coimbra de Matos irá ter razão, mas do que vejo, peço desculpa por discordar e faço a minhas palavras as da Maria Eu, estou em acordo.

    Bom fim-de-semana.

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    1. Misha, o CM é um homem com uma grande cabeça. Mas podemos discordar com ele e até devemos,ter sentido crítico também é de génio. Eu é que acompanho o trabalho dele e sou fã porque ele veio deitar por terra muitos dogmas da velha geração. E não é do tipo bota abaixo, ele tem soluções e da nome as coisas. Abraço e Liberdade para todos!!

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