Devido a um comportamento descarado, julgo que nascido de uma intempérie constante entre mim e a autoridade institucional - esta de difícil reconhecimento por ter sido impositiva durante uma grande parte da minha infância - é que tenho grandes discussões com quem amiúde me acompanha.
Sou tão observadora, e ao mesmo tempo tão distraída, que é muito comum que me apanhem de olhos fitos nas pessoas, observando-as, como se estivesse escondida atrás do grosso pano que separa a plateia da cena, ou como se estivesse na posse de grandes óculos de lentes negras.
Este inocente comportamento, que faço sem perceber, é o que se pode chamar de cúmulo da não timidez, isto é, enfrento com um olhar curioso qualquer fulano que passe, sem me importar de ser apanhada.
'Não olhes assim para as pessoas!' é uma frase que já ouvi tantas vezes que, ao fim de tantos anos, resolvi dar-lhe uma certa importância.
Não pensem [que se enganam] que descurar a educação das crianças ou submetê-las a certos ambientes de forma continuada, não as marca para a vida. A melhor maneira de tornarem uma criança num adulto estúpido, muito estúpido, é não lhes explicarem porque raio precisam de se submeter a uma autoridade forjada nos canudos académicos, ou nas vozes afetadas ou cheias de dinheiro, que certas classes as submetem.
A ideia deste trecho, aqui meio perdido no meio do post, é para tentar explicar que quando uma criança não entende a autoridade, raramente se submete, e vulgarmente se revolta. Isto cura a timidez, conotada desde sempre com o medo, mas pode trazer problemas no futuro.
Foi exatamente o que me aconteceu.
Não me revoltei, mas perdi-lhes o medo, ou antes, perdi o medo de as olhar.
Percebo no entanto que é um comportamento incomodativo, malcriado, e invasivo. Há qualquer coisa de sinistro, dizem-me, em ter alguém a olhar-nos pensativamente, curiosamente, como se fossemos animais de laboratório. A maior parte das pessoas vai agora manear a cabeça, colocando-se no alvo dos meus olhos.
Que descaramento!
Está olhar para onde? Nunca viu?
Peço desculpa, distraí-me, há muito que perdi o medo.
Urge pois recolher os olhos.
Mas como é que nos conhecemos a nós, se não nos vemos no espelho dos outros?
Ahh, também já te aconteceu?
E porque toda a gente o faz, mais ou menos dissimuladamente, mais ou menos descaradamente, é que os reality shows têm tanto susexo.
Bom post, é que é mesmo isto.
ResponderEliminar:)
EliminarMas que Uva cusca :))
ResponderEliminarBota cusca nisso, só falta dizer, que sabe ler as palavras nos lábios ahahahahah
EliminarNão sei ler os lábios mas sei ler os olhos.
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