A imagem simples e bondosa do escritor Mário de Carvalho faz-me lembrar um artesão, um oleiro, um trabalhador do campo, azafamado com a criação, com a rega, com as tarefas mundanas e caprichosas da lavoura.
Não sei porquê, mas vejo-lhe nos olhos uma certa humildade, um aqui me tens, uma total ausência de jactância, de convencimento, tão próxima de certos artistas que se sabem artistas.
É só um dois meus escritores diletos. Foi através dele que consegui chegar com melhores cores depois da travessia no deserto, aquando do início da minha viagem literária, em que não sabia exactamente o que ler, o que ler primeiro, como fazer para saber que tipo de escrita se encaixava no meu perfil de leitora.
Ele não sabe mas, acho-o demasiado bom para a sua imagem, e no entanto, sinto-me totalmente enluvada por tantas das sua obras.
Há livros cujas histórias se esquecem. Esses são os livros insuficientes, julgo eu; e depois há os livros que por mais anos que passem jamais os conseguimos esquecer porque as imagens que ficaram são tão fortes que passam a fazer parte das nossas memórias falsas, como se fossem verdadeiras. 'O Varandim' é uma dessas memórias, como se eu própria lá estivesse, assistindo lá do alto ao espetáculo da morte.
O ensaio que lançou para os principiantes na escrita de ficção [Quem disser o contrário é porque tem razão], é um livro brutal, magnificamente bem escrito, cheio de palavras lindas e sedutoras, que todos deveriam ler. Todos os que escrevem e todos os que gostam de ler. É uma escola.
A minha última compra foi aquele que o próprio Mário de Carvalho diz ser o seu melhor livro. E eu sei que quando um homem do campo me oferece um belo tomate ou uma bela alface, foi porque escolheu o melhor.
Não duvido dos homens do campo, e ainda menos dos homens das letras.
O primeiro livro que li foi "Era bom que trocassemos umas ideias sobre o assunto", depois "Um deus passeando sobre a brisa da tarde" depois... viciei. Tão bom, o Mário.
ResponderEliminarDulce/Porto