28 de outubro de 2016

Não sei como é com vocês

Mas eu estou completamente encantada!
A ML cresceu, deixou para trás a imberbe primária, e entrou na escola mais desejada, a escola que eu queria para os meus filhos quando ainda não tinha filhos.
Logo à partida, para quem conhece o sistema de ensino, sobretudo pela experiência de lá ter andado, pensa que sabe o que é mais ou menos possível fazer-se numa escola pública.
Pensa que sabe.
Na minha escola, faltei muitas vezes às aulas para fazer greve de alunos só para ter direito a sentar-me numa sanita, só para ter direito a uma porta fechada enquanto tratava das minhas necessidades, só para ter direito a uma sala que não tivesse pelo menos duas janelas partidas e um estore irremediavelmente estragado. Não tinha consciência de quem seria a culpa do estado daquelas salas, daqueles 'sanitários', daquela Associação de Estudantes. O 'sistema' era o bode expiatório para todos os males escolares, e para a grande fatia de professores que ali reinava, um vagal encolher de ombros enquanto acabavam o cigarro à porta da aula, bastava-lhes para justificar o dolce fare niente da direção, e a certeza de que a fazer-se alguma coisa ali, só se um mecenas despejasse nos buracos do pátio, um grande saco de notas.
Ainda hoje, quando entro na escola da ML, não sei bem que diferenças a separam de outros estabelecimentos de ensino, não sei se aquela escola recebe mais apoios, se arranjou alguma forma de ter mais receita, como é que gere o dinheiro que lhe está destinado no OE, como é que faz, e o que faz, para ser aquela escola. São os professores e uma direção excecional que a alavancam para ser aquilo que é hoje? São os alunos, também eles excecionais, filhos de pais excecionais, que transformam a escola num modelo de escola?
Não. Há também muito disto em várias escolas da cidade, há direções excecionais, há professores empenhados, há alunos muito bons, mas a mística, a mística é que é necessário perceber-se, especialmente pelas outras escolas potenciais de mística.
Para já uma alegria que se nota em tudo o que fazem. Cacifos para guardar tralhas que pesam nas costas; aulas de apoio ao estudo de matemática, português e inglês para alunos com dificuldades e pais inseguros; crianças que se deslocam para a cantina numa liberdade 'encapotada' mas que lhes fomenta a autonomia; uma atenção superior com os pais, envolvidos desde o primeiro dia na escola e diretamente com professores; mails da diretora a dar conta do que se passa com o aluno e o que pensam fazer para o ajudar a melhorar; a ementa da cantina até ao fim do ano letivo, num site da escola que é absolutamente completo, interativo e funcional; uma abertura e um trabalho conjunto, de grande mérito e inteligência, com todas as Universidades das proximidades; protocolos com diversos operadores da cidade, ora oferecendo as primeiras aulas de iniciação à vela, ora atividades tão interessantes como a escrita criativa, o xadrez, a guitarra, as artes plásticas, a esgrima, a patinagem, a multimédia ou o jornalismo, enfim um sem número de ideias com cabeça. Nada parece estar esquecido, da matemática ao hip hop; as crianças podem ter programação, electrónica, design, robótica, animação, entre outras, tudo envolvido diretamente com os pais, numa simbiose que parece que foi ali que nasceu o lema 'como ser uma boa Escola'.
Não, não é um colégio particular, nada disto envolve o meu pagamento, além  das refeições e das atividades extra-curiculares. O que pago pelas atividades da ML agora é exatamente o mesmo que pagava na primária: 90,00€. O espaço é semelhante, o número de funcionários igual, mas a diferença na oferta das atividades é gigantesca. É mesmo incomparável! Porquê?
O contacto com a escola é constante e por email? Já existia email o ano passado. Nunca recebi nenhum. Qual é afinal a diferença. Ordenados? Condições físicas da escola?
Não, que esta é bem mais velhinha, e a outra estava cheia de obras e mimimi.

Acho que é a entrega e o amor que se tem por aquilo que se faz, a motivação dos professores por uma direção competente e crente nas qualidades e nas potencialidades de cada um, e que em algumas escolas é trabalhado ao máximo, e em outras é deixado ao abandono.
É esta a mística. O enaltecimento da pessoa humana, do profissional.
É na motivação das pessoas que reside o segredo: exacerbando aquilo que são as qualidades humanas dos professores e de todos os intervenientes escolares, ao invés de exacerbar aquilo que são as falhas das condições materiais que têm de enfrentar.

E isso a escola da ML tem, e eu estou felicíssima por ela.

12 comentários:

  1. Um bom agrupamento de escolas, com boas direcções, foi a chave do sucesso do meu filho e colegas e amigos que o acompanharam. Aos 19 anos estão praticamente todos os miúdos, que vi crescer, já no segundo ano da faculdade, bem sucedidos e felizes. Das ciência às engenharias, passando pela gestão e ainda por medicina. Faz toda a diferença. Bom percurso para a ML. :)

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    1. Gosto tanto, mas tanto desta escola! Estou completamente embevecida, vamos ver se corre bem e se é exatamente como eu esperava que fosse!

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  2. És tão inocente que até metes dó.
    Queres que eu te adote? Tenho reparado que de dia para dia andas mais carente.
    E aborrecida.
    Sempre a falar do mesmo, sempre o mesmo tema, sempre o mesmo bocejo.
    Olha, bora dar umas pedaladas, fazia-te bem a essa amargura.
    Encontro na minha rua (que tu sabes bem onde é, claro, farto-me de tirar fotos lá, na minha rua, aos pombos e isso). Eu sou a loira. Levo um dos meus 2 fatos BTT, sabes quais são, já me viste aqui com eles, e pelo rabo consegues logo identificar-me. Sou a que o tem maior. A bicicleta também conheces, uma Myca da Specialized, linda de morrer, os ténis são os mesmos, aqueles rosa shock, e acho que te chega. Se Lisboa não é a tua praia - e estejas afinal confusa com a minha rua, naturalmente a pessoa pode tirar fotografias na Vilhena, mas morar na Rovisco Pais, ou mesmo na Estefânia, quem sabe? sabes tu, claro, que tu sabes tudo - passa então na Casa dos Pinheiros, na Lagoa, e pergunta pela Uva. A rapariga que anda numa myca blabláblá, tem cabelo loiro, e escreve umas merdas sem interesse nenhum, blabláblá, num blog.
    Vá, não te acanhes.
    Apresento-te a famosa ML, uma menina que anda numa escola espetacular em Lisboa, uma escola da sua área de residência (e atenta-te a estes pormenores para não dizeres asneiras e não presumires aquilo que não sabes – rigor anónima, rigor) e que é livre na sua intimidade, porque tem uma mãe integra. Vá, agora vai lá para dentro e aproveita para espremer esse furúnculo que tens aí mesmo no meio da testa.
    Não, não é aí, é lá dentro.

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  3. Essa é A escola.
    Também me lembro da felicida que era visitar essa escola e querer frequentá-la :)
    Que bom que a ML terá essa oportunidade.
    Espero que o meu G possa fazer o mesmo daqui a 2anos.
    Bom percurso para a tua ML.
    É um recomeço de coisas boas!

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    1. A escola é super super exigente. É à antiga. E eu que o diga, estas duas semanas não fiz mais nada senão chegar a casa, jantar e meter-me a estudar com ela. E se eu já me queixava dos TPC na primária, bom, agora vou ficar completamente doida. Arrasam qq exemplo anterior. Mas vai valer a pena porque ela está a adorar, super integrada, gosta dos professores, das aulas, e dos coleguinhas e isso é que interessa.
      Ahh e está a adorar a cena das Listas. Tem sido uma animação.

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  4. Não obstante dos profissionais serem bons, sabes que eu sou da opinião de que há certas escolas públicas, que pela sua localização (que acaba por ser privilegiada) sendo frequentada maioritariamente por classe média e alta, acaba por ter "mais atenções"
    Geralmente tendem a ser aquelas escolas em q a malta mente nas moradas, arranja esquemas e cunhas p lá meter os putos. Atenção, sei q n será o teu caso. No teu caso será uma vantagem de te teres mudado p o centro ;) e pelos vistos fizeste a escolha certa :)

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    1. Fiz a melhor escolha da minha vida, estou super feliz, não sei porque não o fiz antes, mas, e há sempre um mas, fiquei pela primeira vez na vida longe da minha mãe. Mudei-me e infelizmente, por ser difícil e eles serem teimosos, não os consigo arrastar para o centro. É pena. Faz-me muita falta.
      A escola da ML não tem alunos só dessa 'gama de pessoas'. Eu sou gama bastante baixa, e a verdade é que ela lá está. E está porque eu mudei a minha vida toda para isso. Foi um investimento.

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    2. Mas sim, também sou dessa opinião, mas acredita que há escolas muito boas, muito bem localizadas, por exemplo a Marquesa de Alorna, ali no Bairro Azul, colada ao El Corte Inglês, onde as casa upa upa, e tem montanhas de problemas com alunos e professores. E se fores ver na net é uma super escola, cheia de boas instalações.
      Depene muito e está muito ligado aos professores, à manutenção dos postos de trabalho dos professores, à carreira dos professores, ao que fazem virados para a comunidade, com o desporto e novas tecnologias.

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    3. Essa coisa das moradas já foi chão que deu Uva. Agora as moradas dos empregos, ou a associação a um Enc. Educ. que more na zona mas que não detenha o poder paternal, sobretudo para escolas com uma grande comunidade jovem, que é o meu caso (vivo na freguesia com mais jovens de Lisboa), passou para 5º plano. Agora é inscreveres as crianças nos agrupamentos logo na primária, teres irmãos na mesma escola, morares lá ou teres contratos de compra e venda na mão, ou apresentação de escritura em teu nome. Moradas da tanga, declarações de Junta de Freguesia e quejandos é tudo ilegível. Por exemplo as escolas da Av. Roma, que são aquelas escolas mais complicada desde sempre, já não aceitam alunos não residentes, se não fosse assim, a escola era só para os empregados da CGD que são cerca de 3 000, do INE e do Ministério da Segurança Social, e os meninos moradores não tinham nunca vaga. Eu sei porque já vi processos contra essas escolas em Tribunal. Já poucos se atravessam nisso. Digo-te eu.

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    4. Me my shit and I, sou a anónima do primeiro comentário. O percurso do meu filho foi totalmente feito no ensino público, começou na creche do Centro Paroquial, uma IPSS, e acabou numa secundária, tudo na linha de Sintra onde bairros problemáticos não faltam.
      Não escolhi turmas nem os melhores, havia de tudo. Calhou os braços fortes das direcções, o trabalho próximo com a polícia, as comissões e em especial com os pais, ter "salvo" muitas crianças. Uma boa associação de pais também e a participação, na verdade, de toda a comunidade escolar. Sentam-se hoje à minha mesa para jantar, amigos do meu filho, brancos e pretos, homens íntegros, bem educados, com a noção perfeita da importância da educação e do trabalho. Cresceu tudo ali, entre a primária e a secundária, são amigos há anos e, embora actualmente esteja cada um já na sua vida, encontram-se todas as semanas, num café cá da zona deles. Estas escolas, e falo em escolas porque o agrupamento foi sempre o mesmo, com aquelas direcções, com aqueles professores, com aquelas pessoas, tornaram todos aqueles miúdos melhores pessoas e grandes adultos onde o peso do bairro social, felizmente, não pesa.
      Os amigos do meu filho são esses, os de sempre, tanto que ainda não lhe sinto grande ligação aos novos colegas da faculdade
      Já me alonguei, entusiasmei-me porque sei perfeitamente o que a Uva está a sentir e é maravilhoso. Tanto para dizer que estas escolas, na linha de Sintra, tinham tudo para serem péssimas, mas tiveram pessoas especiais e competentes que fizeram, a troco de muito pouco, muito. :))

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    5. Anónimo, sei que sim. E ainda bem que assim o é, caso contrário só uma pequena elite teria uma boa escola.
      O que pretendi dizer,e honestamente acredito mm que isso tenha algum peso, é que há um "cuidado acrescido", se assim podemos chamar, com determinadas escolas.
      Uva, olha que ainda há mta cunha com algumas escolas. Aquela da expo, por exemplo, consta que há malta que mora na zona que n consegue vaga e diz que alguns q a frequentam n teriam dto a andar lá.

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  5. Ando por aqui às voltas, e não consigo um comentário acertado.
    É um bom sinal!

    mas encontro uma saída
    nomeio-vos
    independentemente da morada
    membros da APEE
    da escola
    do Bairro da Buraca

    Não estou a fazer ironia!

    Acho que deveria de haver entre freguesias ricas e as outras, uma espécie de partilha de experiências, de testemunhos de dificuldades. Claro que isso não funcionaria... é que nem os pais da escola lá aparecem, quanto mais irem ao uma escola que lhes é estranha

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