17 de julho de 2017

EU ANTES

[Gostava muito de escrever]

Vinha aqui pedir desculpa aos leitores, por não ter aqui nada que se leia.

É infame a publicidade enganosa, tanto quanto o é um blog enganoso.
As pessoas não mudam, mas as vontades, a criatividade, e os interesses mudam muito, e quando a vida se apaga um bocadinho, ou se apaga algum bocadinho da nossa vida, acabamos por nos tornar soturnos, apáticos e sobretudo muito muito baralhados das ideias.
A instabilidade habita em mim e isso faz-me mudar o (meu) mundo.
Eu antes gostava muito de escrever; chegava a ter náuseas agradáveis quando acabava de produzir qualquer coisa engraçada, e ficava logo bem disposta para o dia todo como se tivesse passado num hospital para dar sangue - mas a certa altura fiquei muito baralhada das ideias.
Escrever até podia significar uma passagem pelo hospital mas talvez para limpar o rim preguiçoso, o que é totalmente diferente e bastante mais doloroso.

As coisas que aconteciam no dia a dia da minha vida, da comunidade, do mundo em geral, e que muito logrei em comentar, deixaram de ter a importância de outros tempos, não sei explicar bem isto mas aborreci-me de repente com a Humanidade, talvez tenha sido uma desilusão pequenina que foi crescendo à medida que as bombas foram explodindo, as crianças foram morrendo, e o meu coração apático e pouco nutrido, deixou ali de bater, incrédulo, quando percebeu que talvez todas as palavras do mundo podiam não servir para nada.

Foi quando apaguei as notícias da televisão.
Os cadernos diários aqui da casa, outrora tão catitas e interessantes, outrora tão queridos e partilhados, transformaram-se num monte de matéria de empinar, e já se sabe que isso não é musa nenhuma, nem musa que chegue.
Acabei por me afastar da escrita e dos livros e fiquei também cansada - e esta é uma verdade incontornável - de estar constantemente preocupada em ter uma opinião sobre tudo.

Eu antes gostava muito de escrever, mas atualmente encontro-me muito enjoada (e enojada) de um certo mundo.
E continuo baralhada das ideias, porque eu antes achava muito, e agora não acho nada.

Preciso passar num hospital.
Pode ser que tenha cura.

10 comentários:

  1. «porque eu antes achava muito, e agora não acho nada.»

    partilho na íntegra.

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    1. É qualquer coisa assim, não é? Eu penso que é uma canseira geral da atualidade, das notícias, das falsas notícias, das indignações, mas ainda não consegui perceber exatamente o que é.

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  2. Isto também serve para quando nos apetece dizer que não achamos nada. Eu, agora, também acho menos e menos vezes. Tenho a cabeça a mil noutros lugares. Respondo aos comentários um mês depois. Visito os outros pouco. E? Continuo a ter aquele bichinho da blogo e a gostar de ver-te(vos) por aqui.

    Bejocas gordas, Uvinha :)

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  3. E quando não tiveres nada para achar, podes sempre vir pedir desculpa que até nos lamentos opinas bem.

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  4. Compreendo-te bem e temo que isso seja um vírus e que se esteja a propagar, mas como diz o Impontual, "isto dos blogs é coisa de inverno". Talvez seja isso :)

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  5. É a farsa em a sociedade vive. E o cansaço em tentar separar os factos das mentiras que nos contam. E a impotência perante a tragédia.

    Três quartos dos habitantes deste planeta vivem na mais extrema miséria, vítimas da fome, vítimas da guerra, à mercê da vontade discricionária de ditadores implacáveis.

    O velho 'mundo civilizado' está na mão de rapazinhos, caciques, interesses e corrupção. A esperança de um mundo melhor está a ruir dia após dia. Vivemos uma era de simulacros.

    Infelizmente será sempre a descer, no oblívio da revolução tecnológica e humana que está quase a bater à porta.

    É difícil ser optimista, com a corja de lacraus que assumiu o controlo das nossas vidas.

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  6. É a descrença na humanidade, penso que mais que uma doença passageira, é uma peste galopante, que nos entristece e aniquila.

    Melhoras Uvinha, espero que encontres uma boa equipa médica.

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  7. Saudades do tempo que as opiniões tinham trela. Os donos soltavam-nas em rédea bem curta . E de vez em quando lá punham o acaime.

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