"O tempo dele
Do bacalhau. Há muito que o deixei de comer em restaurantes. Os maus fazem-no mal, os arrepenicados usam o fresco. Sim, já quase não há seca natural, o de cura amarelo é muito caro, vamos ao vulgar de Lineu:
1) A compra.
Seja onde for, o bicho deve ser como um velho beirão : seco, rijo e feio. Dobre o rabo: quanto mais resistir, melhor é o gadídeo. Os pequenos não interessam a ninguém.
2) A demolha. É o processo vital. Todos os erros começam aqui.
Separe as peças ( lombos, asas e rabo) e lave-as do primeiro sal. Depois a 1ª demolha em água fria consiste em três mudas em sessenta minutos. A seguir, frigorífico e mais três demolhas em 24 horas. O processo deve ser rápido e frio. Isto não é sexo, é bacalhau.
A peças grossas por cima, as magras por baixo, como é óbvio.
Antes de terminar, namore com o bicho. Tire uns fiapos crus e prove. O seu gosto pessoal do salgado é que manda. Eu gosto dele bravo.
3) Se para bolos, pataniscas, à Brás e à Gomes de Sá deve ser usado cru, como qualquer alfabetizado sabe, para outras vitualhas ( a bem dizer, poucas) impõe-se o tratamento térmico. Nunca cozer. Nunca cozer. Nunca cozer.
O peixe já foi salgado e seco. Precisa tanto de cozer como o Benfica precisa do Eliseu. Pôr água ao lume e quando ferver desligar. Enfiar lá a posta, tapar e esperar entre 20 a 30 minutos ( consoante a grossura da coisa).
Se quiser o céu, encha uma panelinha de barro com azeite, um dente de alho e um ramo de carqueja. Enfie o nosso amigo lá dentro e dê-lhe duas horas em forno baixíssimo ( 60º) ."
Um bem haja ao Filipe Nunes Vicente, que escreve estas (e outras) delícias no seu blog MÁ CONSCIÊNCIA.
Bacalhau, bacalhau
ResponderEliminarsem espinhas
com muitas batatas
muitas batatinhas
acredite
que até cantei
ao escrever isto
não vou conseguir monitorizar o bicho durante 24 horas para a bendita demolha. Faço batota. Se calhar desgraço-me, a mim, e ao dito cujo que vem cá para casa sempre com muito bom ar! :))
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