13 de novembro de 2017

PANTEÃO (INTER)NACIONAL

Não que eu seja uma daquelas enfermiças agarradas às missas, mas acho que realizar um evento comemorativo no Panteão Nacional, não é uma coisa muito iluminada...
Não sei se é de mim, que não gosto e não me identifico com a temática do Halloween, mas jantar à luz de velas bruxuleantes, num local frio, onde estão vários corpos sepultados, não é de todo a minha praia. Não me é adequado.
Fora esta opinião, que é totalmente pessoal e cultural (em bom rigor é mais cultural do que pessoal), não vejo com maus olhos a mercantilização dos nossos monumentos, porquanto geram receitas, postos de trabalho, movida aos locais de implementação, e ajudam na preservação do nosso património cultural.
Exaspera-me mais uma certa opinião esclavagista e de oportunidade política, que se indigna com a profanação dos locais de culto, mas que não se coíbe de realizar o casamento da filha na Igreja dos Jerónimos, toda ela um cemitério só, ou de fazer, no mesmo local, faustosos jantares para os amigos do partido.

O Panteão Nacional é  um monumento que é visitado anualmente por milhares de turistas. É um negócio que é assumidamente isso mesmo: um negócio. Se entretanto alguém assumiu isso de forma mais arreigada e colocou preto no branco aquilo que estava na zona cinzenta, qual é a grande questão? Que no horário diurno o turistas americano pode enfardar o hambúrguer que leva escondido na mochila, mas depois à noite já não pode lá jantar?

Não consigo entender a diferença entre cem pessoas a jantar no Panteão, e depois milhares de pessoas no cemitério do Lumiar, numa grande festa, aquando do funeral do Eusébio, pisando sepulturas, partindo lápides, cantando hinos de turba claqueira, bebendo cervejas e vinho, importunando os mortos (e os vivos).
Está claro que a maioria dos indignados, sobretudo os da classe política, andou feliz e contente a  passear com a turba excursionista  no cemitério Père Lachaise, onde tirou milhares de fotos aos túmulos de figuras icónicas tais como Jim Morisson e Oscar Wilde, e trincou dois ou três croissants sentados nas escadinhas dos jazigos de Marcel Proust, Amedeo Modigliani ou Auguste Comte.

Eu fico (um bocadinho) mais zangada, e como bem apontou o Rui Tavares no Público, por saber que um Aristides Sousa Mendes jaz em local que não dignifica, nem de perto, as tantas vidas que salvou, mas que um Eusébio, esse que levou milhares a um cemitério como se fosse um grande evento desportivo, foi transladado para o Panteão 2 anos após o seu falecimento, quando por exemplo a nossa maravilhosa Sophia esperou 10 anos por esse reconhecimento.

Prioridades.

15 comentários:

  1. Pena que o vosso muito amado chefe da pandilha geringonceira não pense assim e tenha vindo a correr dizer que era muito escandalizante e indigno, não obstante, claro, só ter acontecido por causa do anterior Governo (#aculpaédoPassos). Ai, espera! Ele só fez isso, não porque de facto o pensasse, mas porque, face à escandaleira que ia nas redes sociais, teve medo de levar outro enxovalho público do Marcelo, não foi? Olha, agora amanhem-se: é indigno, fica assim e já não podem agarrar-se ao "não vejo qual é o mal".
    Só ainda não percebi muito bem quem de facto governa este cantinho: se as redes sociais, se a geringonça.

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    1. Como é totalmente óbvio, sou de esquerda. Nunca escondi nem quero. Sou assim, uma perdida.
      Relativamente ao "nosso muito amado chefe da pandilha geringonceira", como é óbvio, mete as patinhas uma série de vezes. É assim. Um perdido.

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  2. Identifico-me plenamente com a sua opinião.

    O que me parece merecedor de reflexão é: de onde vem realmente esta indignação? Há uns anos decorreu no Panteão Nacional um evento alusivo à saga "Harry Potter" (talvez o lançamento de um dos livros); pode ser falha minha, mas na altura não notei indignação. Será porque o lançamento de um livro é mais aceitável que um jantar? Honestamente, sinto-me mais inclinado a achar que é por o "Harry Potter" não ter a carga política que (mal ou bem) tem sido atribuída ao Web Summit.

    Não me importo tanto com a indignação em si, mas com a incoerência.

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    1. A indignação vem de uma variz literária muito sui géneris que se vê em crescendo nas redes sociais ;)
      Pelo menos escrevem, treinam o português. Mal ou bem a pessoa que se indigna pratica.
      E isso tem uma certa beleza :D

      (Filipe, estava a brincar. Concordo em pleno. É muita incoerência para um povo tão pequeno.)

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  3. De tudo o que li sobre o assunto, foi aqui que encontrei a opinião que me fez acenar assertivamente!
    O que acho sobre o jantarinho de péssimo gosto é que fez as delícias de quem segue religiosamente esta nova tendência da indignação nas redes sociais :))))

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    1. Este tema já passou à história minha cara homónima-na-idade. OUtras indignações mais alto se levantam.
      Pelo menos as pessoas vão sabendo das coisas. Tudo inviabilizado pelas fake news mas lá vão.

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  4. O melhor comentário que li até hoje!Parabéns!

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    1. Eu queria dizer,o melhor post que li sobre o assunto,e não o melhor comentário!

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    2. Obrigada! Mas acho que mais gente partilha da opinião. É demasiadamente óbvia.

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  5. Em suma
    querida Uva
    falta uma política clara
    para o património e p´ra cultura
    agora é a bagunça...

    ...e investidores com olhos gulosos
    cobiçando os Jerónimos
    e
    também
    a Torre de Belém

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    1. A cultura vai de mal a melhor. Quero muito penar nisso.
      Somos no geral, um povo cada dia mais culto.
      É inegável!

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  6. La nave va

    ou, a interminável história dos políticos deste país.

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    1. Olá olá! Meu querido comentador anónimo conhecido.
      Estás boínho?
      Já tens um blog?
      Tenho visto o Desblogue e vi lá coisinhas tuas escritas.... e que tal dar um alento aquilo?

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    2. Ah, querida Uva, falta-me tempo. Também já sugeri à Filipa continuar, mas a malta deve estar ocupada. Logo agora que há tanto a dizer acerca deste pequeno país.
      Beijinho!

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    3. É a seca. Toca a todos.... a mim especialmente. Seca das ideias.

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