31 de janeiro de 2014

Bullying e a proteção do grupo.



O mais recente livro da Tânia Pais, e depois a Febre dos Fenos com um post absolutamente incisivo sobre a maldade e a agressividade gratuita e prepotente que grassa silenciosa e subversiva, trouxe-me à memória tempos antigos. 
Os meus tempos.



Fui uma privilegiada nas andanças do crescimento, aliás,  gozei sempre de confortável popularidade durante o meu percurso enquanto jovem, pelo que raramente estive do lado da minoria, do escolhido, do tonhó, do gordo, do caixa de óculos ou do maricas. 
Estive quase sempre naquela margem onde nos é possível encher o peito de ar, e virar as costas ao agressor. 
Mas o "quase" é vulgar. Todos nós, numa ou noutra altura da nossa vida, sofremos de bullying, e eu, não sendo exceção, sei bem o que isso é.
Mas isso agora pouco importa, porque o que gostava de transmitir, foi a forma que encontrei para me defender dos maus.
Sou filha única, habituei-me cedo a entrosar-me com a maltosa da rua, os malandros, os machorros. Não tinha o irmão mais velho para me proteger e também não tinha o mais novo para amparar.  
Fui uma criança hiperativa até muito tarde, talvez por isso a minha facilidade em comunicar, desencantasse amigos (e inimigos) em todo o lado. 
Isso e uma grande família de loucos.
As regras da "rua" são caminhos escuros. Naquele tempo podias ser popular por vários razões: ou eras bera e malcriado, ou eras bonito e fala-barato, ou eras rico e tinhas a bola. Não tendo nenhuma das acima referidas, tinhas de pertencer ao grupo, qualquer grupo, nem que fossem só 2 pessoas. 
Foi assim com muitos, foi assim comigo.
Os miúdos de agora sofrem horrores na socialização, não sabem "ir brincar com os meninos", não sabem jogar jogos de pares, não sabem fazer quase nada que implique uma equipa. Fechados em casa, com uma família muitas vezes monoparental, não sabem conversar, não sabem fazer um amigo e é-lhes difícil compreender as regras. Basta assistir a uma aula de um qualquer ciclo, para perceber a dificuldade que os miúdos têm em estar em grupo. Eu já vi miúdos ficaram estáticos frente a um grupo de outros miúdos, e voltarem para trás para se agarrarem de novo aos pais. Isso aflige-me imenso.  
Quando um miúdo não conhece as regras de grupo, fica de fora, agacha-se, encolhe-se, e os miúdos pouco sociáveis, individualistas e mais frágeis, são os escravos do futuro. 
Um miúdo tímido fica sempre a perder.  
A timidez é lixada, quiçá umas das características humanas que mais prejudica o desenvolvimento de uma criança. Se não consegue expressar-se ou tem vergonha de o fazer, não partilha, é olhado de lado e fica à margem.
A fórmula para vencer esta característica pode parecer difícil, mas não é assim tanto, se os pais se aperceberem dela atempadamente.
O GRUPO
O grupo é um escudo muito vantajoso, poderoso.  
Uma das melhores formas de proteger um filho tímido, um filho único, ou uma criança sensível, é incentivá-la desde cedo a atividades em grupo - fora do ambiente escolar. Ensiná-la a vencer a timidez é um grande passo para o sucesso. Não há necessidade de ir para o karaté para se defender do perigo; pode ir para o teatro, para a natação, pode fazer workshops de artes plásticas ou de culinária. Ensinar a uma criança tímida as regras do grupo é meio caminho andado para a proteger do terrível bullying.
Muitos pais acham que os seus filhos tímidos devem receber acompanhamento psicológico. Nada disso. O que eles precisam mesmo é de conviver com outras crianças.  
Aprender e viver com/em grupo é o segredo da evolução humana. 
O trabalho de equipa rende muito mais se soubermos desde cedo o papel de cada um. 
A solidão só traz problemas, o autodidata nunca colocou o seu saber à prova e o self made man é normalmente uma grande besta.
O grupo é um forte ensinamento.
O grupo é um gigante intransponível. 
Não te isoles!

4 comentários:

  1. Tudo tão bem, tão escorreito, tão fluente, tão avisado e lúcido - e, de repente, esse erro mais cabeludo que o Toni Ramos. "A solidão só trás problemas"? Não me diga.

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  2. Um erro cabeludo como o Tony Ramos, foi das melhores tiradas do mês.
    Vou reservar, para dar de beber à sede.
    E fico contente de o ver por aqui!
    Não gosto nada da solidão....

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  3. Mas o erro continua lá... não é "trás" (de traseiro) mas sim "traz" (do verbo trazer).

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    1. Que grande memória a sua....
      Este erro já não é só cabeludo como o Tony Ramos, depois de tanto tempo sem correção já é uma Rapunzel em potência.

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