11 de fevereiro de 2014

Finito!

Em 25 anos aconteceu tanta coisa na nossa vida.
Tinha 14 anos quando mudámos de casa. Deixámos para trás uma casinha de 2 assoalhadas com quintal, onde fui uma criança muito feliz, mas onde uma cama na sala, que ficava escondida no móvel da televisão, era já apertada para o tamanho das minhas pernas, e para a intensidade dos nossos sonhos.
A decisão de se comprar uma casa só nossa, foi um passo pequeno para a humanidade, mas foi um mortal encorpado à retaguarda passo gigante para nós!
A nova casa de três solarengas assoalhadas, respirava juventude e contrastava em muito com a cave pequenina e cinzenta que deixámos para trás. Perdeu-se a nespereira, o pessegueiro e os alperces, e o baloiço que tantas alegrias me deu, lá ficou pendurado a baloiçar, com o vento.
Naquele tempo, comprar uma casa era uma coisa muito especial, e foram precisas muitas noites na mesa da cozinha a fazer contas, a projetar, a temer e a sonhar, para que tudo se concretizasse. A minha mãe, verdadeira mentora de todo o plano, transpirava vontade e querer, e foi por ela que mergulhámos nesta loucura. E que bela loucura.
Naquele tempo, uma hipoteca no banco era como lamber uma carcaça com tulicreme. Arranjava-se uma entrada, e o resto logo se via. Havia tempo para deixar tudo em ordem, e lá para o meio, se a vida nos trouxesse, e traria, boas novas, talvez se conseguisse amortizar qualquer coisa.
Foi uma constante amortização, esta que passámos os três, em 25 anos.
A faculdade, a viagem ao brasil no fim do curso, as férias, os penteados novos, os bailes, muitos ténis all-star, e muita coisa que foi adiando justamente e naturalmente, uma amortização que nos parecia ao início, tão fazível.
Durante todo este tempo, a casa que chegou a custar, à época, mais de metade do vencimento do meu pai, que tudo suportou e tudo fez para que nunca faltasse uma renda e para que nunca nos faltasse nada, continua a ser, tantos anos depois,  o meu porto de abrigo.
Em 25 anos aconteceu tanta coisa na nossa vida.
Mas a vida reserva a todos nós, grandes acontecimentos, dificuldades e traições, que vamos colecionando e remoendo, e a nossa casa, que tanto esforço exigiu de todos nós, esteve em grande perigo.
Foi necessário usar de muita sabedoria para conseguir que se mantivesse na família, depois da fúria bancária quase se apoderar de uns pobres e inocentes fiadores, chamados "meus pais".
Felizmente e justamente - que a vida prega partidas mas também trás muitas felicidades - depois de muitas lágrimas e de muitos nervos, os meus pais foram hoje ao banco para finalmente pagar o que restava de uma imensa hipoteca, saldando definitivamente a sua dívida-magna, para se  apoderarem definitivamente da sua alegre casinha.
É uma data memorável esta.
É um objetivo gigante na vida de um casal. Pagar a sua casa com o suor do seu trabalho, gozá-la de pleno direito, e ter a partir de hoje a certeza absoluta que ninguém, por mais miserável que seja, por mais mesquinho que seja, nos pode roubar JAMAIS, o sonho de uma vida!
Parabéns pais!
São um exemplo de perseverança e resiliência.
Que sirvam de exemplo aos muitos, imensos, que andam a brincar às casinhas, com o dinheiro dos outros.
Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


2 comentários:

  1. Lindo!! E foi assim que à 25 anos nos tornámos mais vizinhas!!.... bem pelo menos as nossas janelas comunicam todos os dias!.. que continuem a gozar muitos anos do vosso porto e abrigo!

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    1. Pois foi. De rua e de carteira. Já tu eras uma artista. Beijos

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