10 de março de 2014

Não há nada mais duro que ser órfão do tempo...


Hoje almocei um grande prato de almondegas.
No meio da multidão, que se ajeita numa mesa de 8 lugares, era a única alminha que tinha uma refeição completa de carne, arroz, salada, pão e fruta, confecionada em casa, no domingo, para a ocasião do almoço de 2ª feira.
Fui a última a chegar. Abri a minha marmita, devidamente acondicionada em tuperware, retirei um prato do armário, aqueci a refeição no micro-ondas e coloquei, como faria se estivesse em casa, os talheres, um copo com água e um guardanapo. À minha volta, oito pares de olhos fitam-me, as usual, com ar de quem almoça com o último homem de Neandertal.
É foi assim que subitamente me senti. O tempo passou inexoravelmente por mim, e chego à triste conclusão que não sendo deste tempo, fiquei orfã dele. Perdi o tempo, o meu tempo, no pardacento dos dias.
Os comensais, rapazes e raparigas do seu tempo, não se preocupam no preceito da refeição, e comem diretamente do tuperware umas sanduiches com duas ou três folhas de alface mirrada, umas fatias de pizza fria ou um iogurte de cereais.
Que lhes interessa agora pilotar o fogão ao domingo?
Que lhes interessa a marmita completa e trabalhosa, se têm pizzas saborosamente frias e sanduiches que matam uma fome mirrada por cigarros e bolachas?
Às pessoas do seu tempo, tudo é permitido.
É como se pudéssemos dizer: aos jovens e aos borrachos, põe-lhes Deus o tempo por baixo.

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