29 de abril de 2014

O Porto é uma nação!

A Uva saiu da casca e foi ao Porto.
Há dezanos que não ia ao Porto.
Já não me lembrava o bom que é, estar numa terra que nos lava a alma! É que dizer asneiras a torto e a direito, depois de um ano inteiro de bom comportamento verbal, sabe mesmo bem, caralho!
Mas ir ao Porto não é só parar nos Aliados, descer do autocarro, ensovacar uma francesinha e voltar ainda com azeitona nos dentes. Tão pouco se conhece o Porto em 2 dias. Não que seja grande, ou talvez por isso mesmo é que conhecer os cantinhos todos da cidade leva o seu tempo. E são imensos os cantinhos do Porto.
Pois bem, decidi passar os 40 anos do 25 de Abril na Avenida dos Aliados, só para ser diferente.
Enquanto por Lisboa toda a gente se abespinhava e desgrenhava na Avenida da Liberdade para dar uma beijoca ao bochechas Mário Soares, rumei ao norte pacifico, tristonho, sedento de matar qualquer benfiquista que se abeirasse dos Aliados, e por isso, com uma faca na algibeira, meti um sobretudo na mala, uns euros na carteira, e lá fui eu, com o Senhor meu marido (como manda a lei do casamento - e porque até me faz boa companhia) rumo à maior nação a norte.
Instalei-me num três estrelas magnífico. O quarto, do tamanho da minha casa de banho social, era tão aconchegadinho que de noite não era preciso dizer "chega-te mais para aqui", mas em compensação tinha uma janela do tamanho da minha casa, toda ela respirando Aliados, movida, luz, frio, chuva e bifas de pernas transparentes, mas ainda assim, jeitosas.
O Porto é uma cidade bastante interessante. Os antigos habitantes, os nossos antepassados portistas, fizeram uma coisinha ótima que foi construir tudo que era monumentos e coisas giras para os turistas verem, na mesma praça (ou quase), o que facilita uma pernita já cansada de palmilhar tanta vida. 
Vais ali espreitar a Igreja das Almas, andas dois passo e já estás na Sé, e se olhares em frente toma cuidado com o nariz porque já estás em cima da Torre dos Clérigos. Esta torre magrinha e alta, como eu era, que podes subir e descer, naturalmente, é gira nas horas e permite ver todo o Porto de uma só vez e se esticares bem o pescoço, ainda consegues ver a foz. Se tiveres dinheiro para gastar podes descer logo ali a rua das montras cheias de sapatos e roupas de grife e encontrar perto a livraria Lello uma livraria que era (e ainda é, a mim pelo menos pareceu-me) de um cigano, que de tão espetacular e imponente, com os seus degraus à Benfica, até te esqueces de tirar fotos, mas não te esqueces de deixar lá metade do orçamento da estadia, mais o dinheiro da gasolina, em livros (e por isso vos escrevo ainda do Porto, porque não consegui pagar o hotel e agora não me deixam sequer ir trabalhar... cof cof cof).
Depois, se te sobrou paciência para compras, andas mais uns metros e voi-lá! entras na Via Catarina chiça que nem no Porto me livro da minha sogra, compras uns sapatos daqueles que mais niguém tem, credo que são lindos! e  se te der a fome ou ares de rica, vais ao Majestic-coisa-mai-linda, sentas-te numa mesinha muito romântica e bebes um cimbalino (por dois euros e meio, x2, que dá cinco euros - grandes ladrões), e depois desesperada vais afogar-te no Rio, onde um imenso turbilhão de gente gira, e alguns portugueses, que naquelas barquetas venezianas, que antes transportavam as pipas do vinho, se divertem à chuva e ao vento (mas que se lixe, estamos de mini-férias) e estão tão felizes, mas tão felizes, que até te apetece vestir o fato de treino das risquinhas, calçar os Nike fosforecentes da moda, e ir ter com eles ao barco, para lhes levares um churro e rir muito... de qualquer coisa...  
O que é lindo no Porto é que não precisas de pagar cem euros a uns gajos que organizam maratonas nas pontes, ou cansares as estopinhas para chegares à outra margem do rio de bicicleta (e dois calos no rabo), porque no Porto demoras três minutos a passar a Ponte de São Luiz a pé, porque respiras três vezes e já estás do outro lado, e porque depois encontras logo ali em fente umas caves sinistras, mas com uma coisa muita boa lá dentro chamada Vinho do (O)porto que te fazem esquecer que estes pobres coitados perdem há 3 jogos consecutivos contra 10 tu andas a antibióticos por causa das malvadas bactérias da bexiga e que só podes beber 2 copinhos de seguida.
Mas o Porto é muito mais do que uma avenida e um punhado de monumentos.
O Porto também é o Bulhão.
Mas estava fechado. Pena. Tinha imensas coisas para dizer do Bulhão... enfim.
Retomando: Mas o Porto é muito mais do que uma avenida e um punhado de monumentos.
O Porto também é Serralves. E Serralves é... não sei bem o que é, mas espero deixar aqui um lamiré, só naquela de desabafar e não bater com a cabeça nas paredes pelos 8 oito euros que lá deixei.
Serralves, para mim, é o jardim. Ponto.
Serralves, para mim, é Siza. Ponto.
Mais nada.
Eu bem sei que há um gigantesco movimento pró-'arte' moderna, pró- 'arte' contemporânea, mas ó meus amigozzzz, se acham que encher o  saco plástico do vinho (sim, esse mesmo, o que vem dentro do pacotão de cartão e que entre outras coisas, cheio, também serve para enxotar as moscas), é obra de arte, então vão-se todos encher de moscas e devolvam-me os oito euros que eu paguei à menina da receção, com carinha de saguim, e tenham dó desta rapariga de cultura contemporânea nula, e que não sente qualquer alegria num candelabro gigante feito de tampões menstruais, a menos que estejam cheios de sangue, e isso sim, era uma visão magnífica.
Mas afinal, que tem o Porto de tão maravilhoso, além dos belos jardins de um ricaço qualquer?
Morfes!
Numa noite já entradota e já meio de esguelha, entrámos num restaurante de estudantes, daqueles de mesas corridas, cheios de miúdos aos gritos. Cá fora o menu servia preços catitas para gente da classe média-inferior-low cost, e era perto do Hotel, coisa boa no caso da vinhaça ser forte.
Entrámos desconfiados, e o karma is a bitch!
Fomos servidos por um gajo sinistro, que volta e meia morfava coisas que escondia numa gaveta, e que, de 5 em 5 minutos acertava m-e-t-i-c-u-l-o-s-a-m-e-n-t-e as 120 toalhas das mesas e arrumava as 256.252.625 cadeiras. Pese embora o fato de nunca deixar ninguém sentar-se nas mesas dele (ora porque eram 4 pessoas, só duas, três gordas ou um solitário) deixou-nos sentar, depois de nos trocar três vezes de lugar. Passámos a chamá-lo o "maluquinho das mesas" e tudo ficou a fazer mais sentido, já que aos maluquinhos tudo se perdoa.
Ora este sinistro senhor de carão bigotudo, criou em mim uma desconfiança de merda, e pensei logo em mau serviço, pão duro, azeitonas secas, imperiais finos mortos, copos sujos, baratas na manteiga, lagartas na sopa, olhos de cão sarnento embrulhados nos guardanapos... 
Qual quê! É que nem de longe (e nem de perto), comi alguma vez na vida um pica-pau tão delicioso. Aquela molhenga, a carne tenra, o fino vivinho da silva...Fiquei fã e valeu muito a pena. Restaurante Aviz, para quem quiser deliciar-se.
E no 25 de Abril portista... não vi um único cravo. Suponho que um dos nossos novos helicópteros Kamov, levaram a cravaria toda para Lisboa, para disfarçar a maior concentração de carecas já vistas até hoje a desfilar na Avenida da Liberdade.
Pudera! Quem é quer saber do 25 de Abril com um frio de rachar? Mesmo assim ainda se cantou a Grândola debaixo do chapéu de chuva e alguns turistas ainda dançaram uma ou outra do Vitorino.
Por isso, desengane-se quem pensa que só se passam coisas em Lisboa. Mentira. A baixa do Porto é qualquer coisa de maravilhoso. Levasse eu as minhas plataformas, e era dançar a noite toda. Muito bom ambiente, muita bifa mal passada, e muita gente divertida. Em qualquer canto, musica ao vivo, bifas descascadas, bifas embezanadas, portistas do Benfica, e por ai fora. Um must!
Que belos dias passei no Porto. Não fosse aquela anedota porca e era caso para dizer: vamos todos para o Porto, vamos todos para o Porto? 
Porquê?
Porque o Porto é uma nação! É é pequenita.
E ainda bem, senão não conseguiria andar com meus sapatos novos!! 
 
E aqui ficam algumas da 2521325698 fotos que tirei e que ficaram espetaculares, caralho!
 
 
O Hotel dos Aliados e as minha botas
 
Torre dos Clérigos
 
Livraria Lello (ambas)



 
Serralves com a 'arte' no seu melhor.
 
Uma belíssima 'arte' pós moderna em Serralves...
Serralves ... lindo...

Café Majestic. Um porradão de massa, como podem ver...
Morava aqui gente, mas só de lado...
Aqui está a Praça dos Aliados. Nem um Benfiquista à vista...
 
Serralves. Vale muito a pena.
O sapatinho maravilha!!!

4 comentários:

  1. Verdade, verdadinha! O Puôrtu èi uma naçãum!!! :)

    Bejinhos Marianos à Puôrtu, carago! :)

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    1. E que bela nação. Adorei. Vou voltar. Não apanhei o Bulhão aberto. tsss tsss. Não se admite!Beijos Uvanos.

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  2. Algumas notas:
    - Não é Bulhão, é bolhão , não confundir com as ameijôas à bulhão pato.
    - Quem vai tomar café (já ninguém diz cimbalino a não se alguns velhotes) ao Majestic tem que se preparar para ser chulado, eu sou do Porto e nunca lá pus os pés.
    - A comida do Porto é da melhor (e da zona norte em geral)
    - A avenida dos Aliados ficou uma grande merda desde que resolveram pôr o Siza Vieira a remodelar aquilo.
    E o Porto é mesmo uma nação. :) Aparece mais vezes

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    1. Apareço pois! É do melhor. E digo-te mais: gostava de viver lá. Fosse encontrar lá um emprego e zás!
      Desculpa o pontapé no Bolhão, é que eu por estes dias só penso em marisco...

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