8 de maio de 2014

A Uva foi ao cantinho, matou uma barata e voltou para casa.

Ontem fui comemorar os meus 9 anos de casada.  
Para não fugir à tradição, fomos a um restaurante da berra, o Cantinho do Avillez, e só não saí de lá aos berros porque a rua estava cheia de bófias e ainda me prendiam em camisa de forças.
E perguntam vocês porquê. E eu respondo com esta simplicidade que me é característica:
Porque aquela bodega tem uma cobra  capelo de fio dental e farta cabeleira a abanar o rabo à frente dos clientes para lhes indicar a mesa.
Bom, mas vamos lá ao que interessa e fazer a crítica gastronómica do local, à boa maneira uva-virginiana, que é para isso que me pagam.
Eu nasci no Alentejo de Lisboa.
Quero com isto dizer, que nasci no Hospital de Santa Maria, onde tudo o que era alentejana imigrada na urbe, paria os filhos, alguns deles até concebidos na auto-motora de Beja, mas isso agora não interessa nada.
O que quero dizer, é que apesar de toda a minha finess e elegância Lisboeta, aquilo que eu gosto mesmo, mesmo de comer é pão com azeitonas, chouriça assada e carne frita com migas.
Vai daí que ir comer três caganitas confitadas e um prego com caca guacamole embrulhado num wrapp ou lá o que é, em que a carne vem às tirinhas?! e as azeitonas repousam dentro de uma chávena de café para anões, onde é praticamente impossível enfiar os dedos, é muito giro, tá muito na moda, mas não é para mim.... muito menos para o meu marido, que só me faltou  perguntar-lhe, depois de ver passar a cobra, se precisava de ajuda para por os olhos para dentro.
No meio de tanta informação, o que me chamou a atenção foi na falta de criatividade do Avillez.
Rapaz, aplicar o conceito IKEA a um restaurante onde se paga 200 euros para comer um prego, caramba, ou revês as tuas prioridades ou não me apanhas lá mais.
Trazes-me as coisas para a mesa em peças desmontáveis? Realy? Uma tacinha com a cebola, uma tacinha com a alface, uma tacinha com o coentro, uma tacinha com o pimento, uma tacinha com a carne pica-pau, uma tacinha com molho de tomate com azeite, uma tacinha com molho de pimenta, 2 wrapps dentro de um prato, e agora amanha-te a montar essa merda que eu tenho mais que fazer??
Vá lá, que até não fazes mal as batatas fritas, mas porra! fizeste-me comê-las com a mão??
Bom, eu bem sei que fizeste o restaurante para as tias irem comer escabeche de porco-preto de Andaluzia e mais não sei o quê do cachaço, e não para servires pregos a dois pelintras do pior, mas se é para afugentares a canalha, ao menos afugenta-a com classe, porque teres dois alentejanos dos costados, a comer fígados de aves mortas (à imenso tempo) e atum selvagem embebido em óleo para batatas, o melhor é meteres a gazela que lá tens à porta armada em Pocahontas, com um letreiro a dizer: Alentejanos NÃO!
E já agora, vê lá se lhe dizes para vestir uma cuecas decentes, Ok?
Eu bem sei que o Avillez, áh, o Avillez, esse monstro da cozinha portuguesa, esse píncaro do 'lots of flavour' é um cheff tremendamente profissional, mas se ele puder dispensar o seu pouco tempo para ir ali a Mértola, ou a Nisa, comer uma carne de porco à alentejana, umas migas de espargos e umas azeitonas com orégãos, pode ser que os seus restaurantes sejam enfim um sucesso.
Cá para mim é bago d´uva, ou seja, é pouco, e não fosse a festa do amigo doutor alentejano, já mais à noitinha, e tinha ido para a caminha cheia de fome...
Por falar em Uva. O vinho não era mau, mas estava martelado. E só digo isto porque, por um lado a marca era um "Projeto JA e não-sei-mais-quem" que é de certeza uma mistela feita na cozinha com sobras, e por outro lado,  o rapaz que nos serviu o vinho naquela farda com camisa aos quadradinhos (é mesmo necessário ter toda a gente vestida como se fossem diretamente para a faina da faneca?) tinha todo o ar que quem gostava de martelinhos. Andava ali a disfarçar as olheiras, mas eu (moça versada nas raves de Serpa) percebi logo que a noite tinha sido de arromba.
Em suma, Avillez pá, tu até tens queda, não tens é onde cair, por isso convido-te a ires lá ao meu Alentejo, que há lá muito campo para caíres à vontade.
Thanks V. foi uma noite simples na comida, cara no bolso, mas muito agradável aos olhos, já que quem estava sentado à minha frente eras tu.
Da próxima escolho eu, ok?

9 comentários:

  1. Respostas
    1. Nem te conto, ups já contei...
      Se quiseres comer bem, fala com a Dias Cães que ela diz-te.
      Se for marisco... ai se for marisco...

      Eliminar
  2. AH AH AH AH amei cada letrinha desta história (talvez não gostasse se tivesse pago) !

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Enganam-nos como respiram. É só Marketing, e é pena.

      Eliminar
  3. Para não dizeres que não te ligo nenhuma...
    Ora bem, o meu namorado é chef, e por isso a nossa vida passa-se entre tachos e anedotas destas.
    Esta história nem lhe deve ser estranha mas, ainda assim, vou partilhar no FB porque é um grande abrólhos para muita gente :)
    Bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O teu namorado é chef?? Ai, que agora é que foi... Uma poeta e um chef. Grande dupla!! Se o meu marido fosse chef o meu blog era um blogo-dietas. For sure...

      Eliminar
    2. Pois é verdade.
      O dia em que inaugurarmos o blog de comida com poesia eu comunico :)

      Eliminar
  4. com as idas ao WC tiveste tempo de (tu própria) empratar a comezana? (ou já estás melhorzita? espero q sim). Bj!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tive de empratar e de pagar. Custou-me imenso.
      Estou na fase crónica da coisa, já consegui sair do WC para comer qualquer coisinha ao Avillez.
      Mas foi ir e vir.

      Eliminar