20 de maio de 2014

E o presente para o marido do ano, na categoria 'quase 40' foi?

Um tacho!
 
 
É.
Eu sou assim, má como as cobras uma rapariga despachada.
Não ando cá com mariquices, e áh, deixa cá ver o que o moço merece, e áh,  deixa cá ver se cumpriu os mínimos para levar uma coisinha, vá, mais recreativa, uma coisinha mais ronhónhó, para ele mostrar aos cabeludos lá do escritório.
Já não estou para isto, calha bem. Este ano decidi que não queria vê-lo desembrulhar o presente como quem não espera mais nada da vida,  e soltar-me um sorriso amarelo, esticar-me uns beiços displicentes, como quem diz, já não me surpreendes, fazes sempre como eu gosto, e eu gosto assim, e ainda bem, porque nem de propósito, estive para comprar isto ontem, mas ainda bem que me fizeste o favor de ir comprar por mim, e ai que é tão giro (credo), e ai que cheira tão bem (são azedas não é?), e ai ai ai, e alto e pára tudo!
Isso é que era bom, meu menino.
Posso não ter um único pelo nas axilas, posso até não ter farta cabeleira, mas para te comprar essas coisinhas conárosa tens a  tua mãezinha, a minha sogrinha do coração, que te engendrou muito bem engendrado com um senhor de bigode, numa certa noite de folia amor e que depois (mal contente) te pariu (cheio de alergias, raispartam), e por isso tem o dever ( e isso é pedir pouco, dado os defeitos de fabrico) de te dar e fazer as coisinhas ronhónhós, que tu sabes que a minha mãe (santinha) não fez questão de me transmitir nos genes.
Eu sou a tua Mulher, calmeirona, bruta como as casas, sempre aos gritos, desgrenhada e de cacete na mão, não sou a tua barbie-princesa.
Vai daí que se deu um caso, e só por acaso, fui ao hipermercado.
Acontece que foi justo no dia em que o moço fazia (muitos) anos de nascido. Ia só comprar uma alface, mas de subito que aquilo das bruxas sempre se confirma, senti as pernas possuídas, a levarem-me sabia eu lá para onde, e em passando ali na zona dos utensílios de cozinha, parei, e em parando, olhei, e em olhando... enfim, aquilo ficou-me na retina, e depois nos neurónios e quando mais tarde tentei devolver a Wok à prateleira, na certeza absoluta que a minha sogra havia de me lançar uma praga de 5 meses de trabalhos forçados em frente ao fogão, num nítido volte-face do feitiço contra a minha pessoa (cruzes canhoto, afasta de mim esse cálice), já eu estava numa caixa, com uma senhora amarela que sorria para mim, a dizer: então, quer fatura?
Ainda fiquei a olhar para ela, com aquele ar de incerteza esdrúxula, ou lá o que isso é, mas depois lembrei-me do avental que lhe tinha trazido de Paris, e aquilo era o Universo, só podia ser o Universo a fazer pendant (ai, o que eu adoro fazer pendant) e zás, uma Wok debaixo do sovaco e cá vai ela, de cabelos a dar a dar, para o balcão do cliente, aliviada, por aquilo ter contribuído com mais 20 euros em cartão e ainda ser embrulhado de borla.
E a minha sogra pensa vocês pensam: que cabra!
Oferecer um tacho ao marido, coitado, aquela bondade de pessoa,  o único que a desencalhou, que lhe fez uma filha mesmo sabendo que o gene ruim podia passar para a inocente criança, que iria ter de conviver com aquela família com nome de fruto doce, mas só por dentro, casca grossa, que não pinta a unha, não usa saia, não fala francês, e a paga é esta. Um tacho.
Mas o moço é moço do campo, das gentes simples, um píncaro da humildade, e de beiços estendidos, pronto para mais um ano de felicidade conjugal, braços abertos e sorriso rasgado, recebeu a oferta e disse:
- Caramba! Era mesmo isto que eu queria.
- Ainda bem, meu menino. Agora apressa-te a fazer qualquer coisa de comer, que eu estou cheia de fome. A alface está ali para ser arranjada, no frigirífico. Áh, e comprei-te um óptimo detergente para a loiça.
Resumindo: Se a vida te oferecer limões woks, faz um jantar, convida os teus amigos e brinda.
PARABÉNS MIÚDO!

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