Com uma pêra, dou-lhe um nome de erro
entre mim e tudo, na mão, amadureço
enquanto ela se torna propícia,
amarela ao influxo do vento de estrela para estrela.
O sangue da mão ensombra a fruta na sua volta
de átomos, abala
imagem, arquitectura.
E o espaço que isto cria: a noite
aparece no ar. E dura, leve, tersa, curva,
a linha
do fogo entrecruza
os pontos paralelos: a pêra desde o esplendor,
a mão desde
o equilíbrio, os centros
do sistema geral do corpo, o buraco negro.
Morro?
Escrevo apenas, e o hausto aspira
dedos e pêra, enigma e sentido, ordem, peso, o papel onde assenta
a constelação do mundo com esse buraco
negro e as palavras em torno.
No instante extremo de
desaparecerem.
Se morro, é por exemplo.
Herberto helder
Do Mundo
Assírio & Alvim, 1994
entre mim e tudo, na mão, amadureço
enquanto ela se torna propícia,
amarela ao influxo do vento de estrela para estrela.
O sangue da mão ensombra a fruta na sua volta
de átomos, abala
imagem, arquitectura.
E o espaço que isto cria: a noite
aparece no ar. E dura, leve, tersa, curva,
a linha
do fogo entrecruza
os pontos paralelos: a pêra desde o esplendor,
a mão desde
o equilíbrio, os centros
do sistema geral do corpo, o buraco negro.
Morro?
Escrevo apenas, e o hausto aspira
dedos e pêra, enigma e sentido, ordem, peso, o papel onde assenta
a constelação do mundo com esse buraco
negro e as palavras em torno.
No instante extremo de
desaparecerem.
Se morro, é por exemplo.
Herberto helder
Do Mundo
Assírio & Alvim, 1994
Bertinho, o que é que queres dizer com isto?
É que pela tua saudinha... se há pessoas que me fazem sentir aquela loira do Grabriel, és tu, rapaz.
Olha o teu filho, por exemplo, tão bem explicado, tão escorreito...
Já lhe pedias uma ajudinha, hem?
NB: Parece-me uma coisa maravilhosa, esta pêra amarela, e só por ser assim amarela é que eu gostei dela.
Li o poema 28 vezes e acho que já descobri. :-) HH deu um murro a alguém, chamou-lhe um nome feio, ficou com a mão ensanguentada, trouxe-a de volta ao corpo e teve vertigens que o levam a ver a noite (dores?), de tal forma que se interroga se morre, isto resumido. Mas afinal está a escrever, onde assenta a mão (pêra) que é o buraco negro que ele refere acima, em redor da qual estão as palavras que ele já escreveu e que são constelações (rodeiam o buraco negro, faz sentido :-)) e que se desaparecem é porque ele deixa de as ver, ou seja, foram engolidas pelo buraco negro e ele também vai ser, talvez morra mesmo.
ResponderEliminarPronto, foi o melhor que arranjei.
Muito obrigada, Uva, pelo poema (novo para mim), adorei a alusão aos buracos negros que me fascinam tanto, e obrigada pelo link :-). Um beijinho. :-)
Susana Rodrigues, achega-te aqui à minha beira , e explica-me ...
EliminarTens andado a descansar? ;)
quase nada...nota-se muito? :-)
EliminarAcho que vou estragar toda a beleza (e subtileza, presente) do poste mas...mas, cá p'ra mim o gaijo gosta de gaijas com "corpo pêra". 'Tou fora :D :D :D
ResponderEliminarSórre, sórre e sórre...mas é aquela coisa do rir :)
Não é o rabo que tem forma de pêra? Bom, tanto faz. Para mim o Bertinho é um grande e fundo buraco negro.. Tou fora também. Vamos aí comer uns caracóis? ;)
ResponderEliminarAh Poeta...
ResponderEliminarVês? Ficou-te a imagem de uma pêra amarela no côncavo de uma mão. Basta para um poema. Dele resta aquilo que guardamos, seja uma pêra amarela, uma mão que a segura, ou um buraco negro.
ResponderEliminarBeijinhos, Uvinha! :)
Uma pêra amarela no côncavo da mão havia de lá ficar pouco tempo. Isso era coisa para desaparecer em duas dentadas... e vinha o poeta e ficava sem poema... enfim, ralações, a minha vida são ralações...
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